A aposta da Aceleratech no Brasil: “Seremos a próxima grande nação empreendedora”

Kaluan Bernardo - 7 jul 2015
Pedro Waengertner acelerando novos empreendedores.
Kaluan Bernardo - 7 jul 2015
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No ano passado, a Aceleratech foi eleita a melhor aceleradora da América Latina. A votação foi feita pelos 550 participantes do LATAM Founders, grupo composto por empreendedores e investidores de 19 países. Essa foi a terceira vez que recebeu esse tipo de premiação (as outras duas foram no Spark Awards e no Brasil Founders).

Mas, o que faz uma aceleradora ter reconhecimento? Ou melhor: o que faz uma aceleradora?

Basicamente, é um tipo de empresa que ajuda startups crescerem rapidamente. Isso pode acontecer de diversas maneiras. A Aceleratech, por exemplo, investe entre 20 mil e 150 mil reais em um negócio. Mas, muito mais do que dinheiro, eles oferecem uma rede de mentores, workshops, treinamentos, assessoria, networking, espaço de coworking, acesso a clientes e investidores… tudo o que um empreendedor precisar para alavancar com velocidade.

Um processo de aceleração dura aproximadamente três meses. Durante esse tempo, os empreendedores têm uma agenda cheia, questionam cada ponto de seu negócio, saem às ruas para validar suas ideias etc.

Em troca, a Aceleratech se torna sócia das startups, pegando uma participação de 10% a 15%. É uma aposta: acreditam que, no futuro, uma boa parte dessas empresas terá grande valor de mercado e a aceleradora poderá vender sua participação a novos investidores. São os chamados exits.

Fundada em 2012, a Aceleratech já trabalhou com 47 startups dos mais diferentes tipos: de aplicativos de motos a inovações em agrobusiness. Seu portfólio está avaliado em 150 milhões de reais, mas, nos próximos três anos, a expectativa é de chegar a 1 bilhão. Até o dia 31 de julho, eles estão com as inscrições abertas para a sétima turma de startups.

Os números parecem de outro mundo para uma empresa iniciada há três anos, mas não são. Eles fazem parte do jogo de apostas em negócios de alto impacto. Pedro Waengertner, co-fundador da Aceleratech, diz:

“Nós só procuramos startups que possam conquistar mercados bilionários e que queiram criar algo que melhore, no mínimo, dez vezes a vida das pessoas”

Tocar uma aceleradora é um grande desafio. Mas, na carreira de Pedro, isso foi uma busca constante. Gaúcho e filho de funcionários públicos, ele demorou para ter contato com o empreendedorismo. “Não existia essa cultura em casa. Por outro lado, meus pais, ex-hippies, sempre me incentivaram a buscar o que me fizesse feliz”, conta. Nessa procura, acabou cursando publicidade na ESPM de Porto Alegre. Em 1997, entrou na Conectt, uma então jovem empresa de desenvolvimento tecnológico, da qual tornou-se sócio e responsável pelas vendas anos depois. “Foi quando descobri o que é pressão”, diz ele.

UM DESAFIO POR DIA

Além de seguir com a rotina pressão e o estresse de Vendas, Pedro aceitou um desafio, para ele, ainda maior: lecionar. O convite veio de seu orientador de TCC na pós-graduação, também na ESPM. “No começo, dar aula era uma verdadeira tortura. Nos três primeiros anos, eu não dormia, tinha dor de barriga antes das aulas. Mas continuei porque sempre segui a filosofia de me colocar em zona de desconforto, de encarar o que mais me dava frio na barriga”, conta. Só depois da terceira turma é que foi se tranquilizando e pegou gosto pela coisa. Atualmente, Pedro é coordenador do núcleo de marketing digital da ESPM e segue na área acadêmica fazendo mestrado em psiquiatria na Unifesp.

A busca por desafios também trouxe mudanças. Encarregado de abrir um escritório da Conectt em São Paulo, Pedro mudou-se para a capital paulista. Foi quando começou a cuidar de investimentos e inovação na empresa. “Estava de saco cheio de vender, queria colocar negócios em pé”, diz ele. O ano era 2010 e Pedro estava estudando startups e as novidades que vinham dos Estados Unidos. Nesse meio tempo, um ex-colega da pós-graduação o apresentou a Mike Ajnsztajn e Ilson Bressan, que estavam criando a Zuppa, uma plataforma de reserva para restaurantes. Em uma conversa despretensiosa, Pedro deu uma série de dicas e insights sobre o negócio. Uma semana depois, foi convidado a tornar-se o terceiro sócio na startup.

Trabalhando apenas com capital próprio, os três levaram mais de seis meses para colocar a empresa de pé. “Cometemos uma série de erros”, lembra Pedro. Mesmo com alguns tropeços, a Zuppa deu certo e começou a ganhar boa parte do mercado nacional de restaurantes. O Peixe Urbano, que estava decolando na época, tornou-se cliente e, pouco depois, comprou a startup. Os números da negociação não são revelados, mas, segundo Pedro, renderam uma boa grana aos sócios.

Depois que a venda foi realizada, Ilson foi trabalhar no Peixe Urbano. Pedro e Mike ficaram pensando qual seria seu próximo passo e decidiram que investiriam em novas startups. Aportaram em dois negócios: um é o site Startupi, o outro não pode ser revelado porque foi vendido em termos confidenciais. “Queríamos investir com mais impacto e maior escala”, conta Pedro. Nessa época, olhando para os EUA, ele e Mike viram que estava nascendo o modelo de aceleradora. No Brasil, também começavam a surgir as primeiras, como a Wayra e a 21212.

Pedro Waengertner e Mike Ajnsztajn, sócios da Aceleratech.

Pedro Waengertner e Mike Ajnsztajn, sócios da Aceleratech.

“Decidimos que iríamos fazer isso aqui também. Mas sabemos que, no Brasil, uma aceleradora precisaria ser bem diferente. Abrir uma empresa aqui é muito mais difícil, é como se estivéssemos em um planeta onde a gravidade é muito maior”, diz ele. Por isso, desde o princípio eles conceberam que a Aceleratech teria um componente maior de educação, funcionando quase como uma escola de startups.

Em 2012, a aceleradora nascia em parceria com a ESPM, que ofereceu a infraestrutura nos primeiros anos do novo negócio. Inicialmente, o capital investido nas startups vinha do bolso dos próprios fundadores, em parceria com alguns investidores convidados. Em 2013, eles receberam investimento do fundo Acelera Partners, com capital da Microsoft Ventures, Qualcomm Ventures e Performa Investimentos, que investem em conjunto com a aceleradora. Das primeiras acelerações, também vieram muitas experiências, como ele lembra:

“Percebemos que era fundamental o empreendedor já ter o negócio rodando, não adiantava apenas ter uma boa ideia. Não fazemos o milagre de consertar uma empresa, seria muita prepotência. Quem faz a mágica é o empreendedor. Somos só o anabolizante”

A Aceleratech também faz parte do programa federal Startup Brasil, que oferece 200 mil reais a startups selecionadas. “Para nós, o mais legal do programa é que ele nos traz algumas companhias que estavam fora do nosso radar”, diz Pedro. Segundo ele, a cada dez empresas aceleradas, três vêm pelo programa.

ACELERANDO AS ACELERADORAS

O Startup Brasil também foi particularmente útil para articular as aceleradoras em si. Antes dele, os responsáveis por elas nunca tinham sentado em uma mesa para discutir suas dificuldades e aprendizados. Dessas conversas, nasceu a Associação Brasileira de Empresas Aceleradoras de Inovação e Investimento (ABRAII), da qual Pedro é presidente.

A ideia é justamente educar o mercado e reforçar a importância das aceleradoras. “Acontece muito de um cara ter um espaço de coworking, uma graninha sobrando, e já chegar achando que é uma aceleradora. Não é assim. É um negócio que demanda investimento, que leva seis ou sete anos para dar retorno. Por isso, quando alguém quer participar da Abraii, a primeira coisa que fazemos é uma sabatina para saber se há condições de acelerar outras empresas”, diz ele.

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Demoday da Aceleratech, uma espécie de “festa de formatura”, onde os empreendedores apresentavam suas startups a potenciais investidores.

Apesar de acreditar que o tempo médio para uma aceleradora ter retorno é de cinco a sete anos, Pedro tem boas perspectivas para Aceleratech. Em três anos de operação, eles já realizaram dois exits. Há mais três fechados para este ano, além de outros dois em “negociação avançada”. O executivo diz que, se fechar os cinco exits neste ano, a Aceleratech já pagará sua operação. Das 47 empresas aceleradas até o momento, oito faliram e 70% já estão faturando.

COMO PAGAR AS CONTAS?

Além da venda na participação societária das aceleradas, eles contam com outro modelo de negócios para fechar as contas. No ano passado, criaram a AceleraCorp, um braço de aceleração corporativa focado em aproximar startups de grandes empresas. O trabalho é feito em três etapas. Na primeira, a AceleraCorp seleciona as startups que são interessantes para determinada corporação. Na sequência, ajudam no casamento entre a grande companhia e a pequena empresa. Por fim, eles aceleram a startup para a empresa. É quase como se fosse uma “aceleração sob demanda”. Pelo serviço, eles cobram uma mensalidade e a AceleraCorp já tem cinco clientes, entre eles Natura e Intercement. A ideia é ajudar as grandes empresas se aproximarem de negócios inovadores sem precisar interferir neles, por uma razão simples, Pedro diz:

“Os mesmos fatores que matam a inovação dentro da corporação podem matar a startup. Por isso, tomamos o cuidado de acelerá-la fora da empresa”

Pedro percebe, apesar de estar inovando e ajudando outros a inovar, um mau humor em relação ao país que, diz ele, não é de hoje. “Aqui, nós somos otimistas. Acreditamos de verdade que o que estamos fazendo, junto com os outros agentes do ecossistema de startups, vai salvar o Brasil. Vamos salvar a economia do país. Os efeitos ainda não estão claros porque é cedo, mas as coisas ainda vão mudar muito”, afirma. “Daqui cinco anos estaremos com outro país graças ao trabalho sendo feito hoje. O impacto econômico será enorme.”

O otimismo segue em ritmo acelerado: “Acredito que o Brasil será o expoente de inovação na América Latina. Temos um mercado gigantesco, empreendedores querendo fazer coisas impactantes, e problemas a serem solucionados em todos os lados”. Para Pedro, é a combinação desses três fatores que faz do nosso país uma das grandes nações empreendedores. E é o que poderá fazer da Aceleratech, ao apostar na inovação brasileira, um negócio bilionário.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Aceleratech
  • O que faz: Acelera startups para conquistarem mercado mais rapidamente
  • Sócio(s): Pedro Waengertner e Mike Ajnsztajn
  • Funcionários: 8
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: Agosto de 2012
  • Investimento inicial: NI
  • Faturamento: NI
  • Contato: (11) 3262-4118
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