A Divertix aposta na proximidade para inovar em um setor dominado pela tecnologia: o de ingressos

Tania Menai - 21 ago 2017Débora e Luiz Eduardo, os criadores do Divertix, na bilheteria do Teatro das Artes, no Rio.
Débora e Luis Eduardo, dois dos criadores da Divertix, na bilheteria do Teatro das Artes, no Rio.
Tania Menai - 21 ago 2017
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Teatro é teatro. Cinema é cinema. Por isso, sites de ingressos devem funcionar separadamente para cada arte. Esta é a mensagem que os administradores de teatro Luis Eduardo Gomes Fontenelle de Araújo e Débora Finkielsztejn, 46, gostam de sublinhar — e por saberem tanto do que estão falando, eles colocaram no ar há poucos meses um empreendimento que inova ao ir além do mero aparato tecnológico para vender ingressos. A Divertix é uma plataforma de venda de ingressos de teatro – e só de teatro. E isso é muito, como veremos. A dupla de empreendedores tem mais de 20 anos administrando casas de teatro de sucesso no Rio de Janeiro, incluindo o Teatro das Artes, no Shopping da Gávea. Eles conhecem a fundo as dores e as delícias dos bastidores e bilheterias da Segunda Arte. Por isso bolaram um business sob medida para atender as necessidades de específicas de produtores, atores, donos de teatro e público. É mais que simplesmente vender o ingresso, como no cinema.

Trata-se de uma matemática cheia de variáveis. Como eles contam, quando o drama acaba no palco, começa no fechamento de contas — sempre aos domingos. É um certo malabarismo, pois há quem pague meia, há quem pague inteira, há ingressos com promoção, há cadeiras dedicadas a não pagantes, há quem compra na bilheteria, há quem compre pelo site, há quem compre para hoje, há quem compre para daqui a três semanas, há quem desista na véspera e tem direito a reembolso. Há de tudo. E tudo tem que estar computado em um sistema que feche a conta — e remunere atores, produtores e casa de espetáculo numa cadeia bem mais artesanal, de relacionamentos pessoais e diretos, do que a existente nos cinemas.

A Divertix funciona e é uma novidade bem-vinda para os amantes e profissionais do teatro porque seu software vai além de vender ingressos: forma planilhas e esclarece números muitas vezes complexos para quem se dedica exclusivamente à arte.

Luis Eduardo, engenheiro de formação, conta que o dono do teatro age como “um sócio” da produção em cartaz. A peça não paga aluguel pelo espaço; paga uma porcentagem da bilheteria. Por isso, é crucial ter casa lotada. “O sonho de qualquer dono de teatro é só ter peça boa”, diz ele, e fala sobre o comportamento do público de teatro:

“O público escolhe uma peça primeiro pela qualidade, segundo pela localização. Ninguém sai de casa por causa do site de ingresso”

Débora, que é filha de uma administradora de casas de espetáculo como o Teatro das Artes e o Teatro dos Grandes Atores, completa o raciocínio: “Um consumidor só vai lembrar do site de ingresso se tiver uma má experiência. Se for boa experiência, ele nem lembra. Então prefiro que nem lembre da gente”.

O Divertix se assemelha a um site de compras de ingresso convencional. O diferencial está na relação com o produtor de teatro e os artistas.

A Divertix se assemelha a um site de compras de ingresso convencional. O diferencial está na relação com o produtor de teatro e os artistas.

Para conceberem o negócio, Luis Eduardo e Débora se uniram a mais dois sócios, com habilidades complementares às deles. Marcel Faddoul Correa, vindo do site Ingresso.com, e Afonso Nogueira, especializado em software. Os sócios investiram economias próprias na empreitada (eles não revelam o valor).

COMO FUNCIONA

A plataforma cobra 20% do valor do ingresso como taxa de conveniência e limita a compra de seis unidades por pessoa, para evitar a atuação de cambistas. O sistema, que segundo os sócios segue se aprimorando, já provou-se eficiente e rentável nos quatro teatros em que está operando. Eles citam como exemplo a recente produção da atriz Mônica Martelli, “Minha Vida em Marte” custa 100 reais (sem contar a taxa) e é um sucesso de bilheteria.

O próximo passo é dividir o conhecimento com outros teatros, aumentando a presença da Divertix na cidade do Rio de Janeiro, primeiramente, para só depois expandir. Entre as vantagens para a casa que usa o sistema é que ela passa a receber suporte, consultoria e usufrui da principal vantagem: toda a informação fica armazenada em nuvem. Este é o maior diferencial em relação aos outros sistemas de sites de ingressos, que impõem a necessidade da casa implementar um servidor em cada bilheteria, e consequentemente, ter por perto mão-de-obra especializada (e cara) para apagar incêndios em caso de pane.

“Como rodamos na nuvem, consigo resolver remotamente qualquer engasgo do site, em qualquer teatro”, afirma Luis Eduardo. A Divertix dá baixa dos ingressos vendidos online em tempo real, sem risco de venda dupla pela bilheteria. Ele menciona, porém, outros fatores que tornam o aparentemente simples ato de vender ingressos online muitas vezes um desafio: “Há o complicador do fechamento: a venda de um ingresso para daqui a duas semanas, pago em cartão. Este pagamento só entra em 30 dias. Sem falar que a Lei do Consumidor permite a troca com 24 horas antes do evento desde que a compra ocorrido a menos de sete dias”.

CINEMA GANHA COM PIPOCA. TEATRO QUASE NÃO GANHA DINHEIRO

Para entender a trama em que a Divertix está atuando é importante olhar para o negócio do teatro. A diferença entre cinema e teatro é simples: no cinema, os donos da sala ganham dinheiro com a pipoca. No cinema, o dinheiro das bilheterias vai para o distribuidor e produção do filme. Fora isso, há diversas sessões por dia, durante a semana toda. No teatro, não. A bilheteria é tudo. É o tesouro e também o problema. Luis Eduardo e Débora dizem que é comum terem de fazer malabarismos para a conta fechar. Eles falam que, neste mercado, teatros sem patrocínio fixo “só pagam as contas quando a casa está lotada”, ao contrário daqueles que levam nome de grandes empresas e, por isso, garantem as contas de manutenção sem depender do público.

Os finais de semana são dias de trabalho mais pesado para os sócios. Além de administrar o software em si, Luis puxa dali também indicadores da saúde financeira das produções. “Trabalhar em teatro vai além da venda de ingressos. Com o nosso software, consigo fechar até o último centavo da bilheteria, mas também aprendo sobre a saúde de cada produção. Assim, prevermos os riscos e acertos caso a peça volte para o meu teatro”, diz ele, e prossegue: “No teatro as mesmas peças voltam, com outras produções e outros artistas. Sempre vai haver O Mágico de Oz e Chapeuzinho Vermelho. Mas com a Divertix a gente tem a noção do que deu certo nas vezes anteriores, pelo histórico do software, e podemos nos programar melhor”.

COMO PROSPERAR ARTESANALMENTE COM UMA CONCORRÊNCIA DE LARGA ESCALA

Um dos próximos passos do business, dizem eles, será oferecer promoções, mas sem que isso comprometa o rendimento financeiro da casa de teatro. Aí não é o software que traz as lições, mas o traquejos dos anos a fio neste mercado. Por exemplo: em peças infantis, nas quais as crianças sempre estão acompanhadas, promoções de desconto nunca feriram o caixa. No entanto, segundo a dupla, sites de compras coletivas, prejudicam as contas do setor teatral nas peças de adulto. Para entender melhor: quando um ingresso custa 100 reais, são 50 reais pela meia-entrada. Quando um site de compras coletivas faz acordo diretamente com a produção da peça – e não com os donos do teatro — cobra 40 reais do cliente, mas só repassando 30 reais para o teatro. O dono do teatro, portanto, fica com 30 reais e tem de reservar um certo número de cadeiras apenas para tal promoção, sem a garantia de que elas seriam, de fato, vendidas. Essas cadeiras só seriam liberadas uma ou duas horas antes do show. “Todo mundo deixa de ganhar”, diz Luis Eduardo.

“A ideia inicial destes sites era divulgar a peça e incentivar a compra. Mas no final, a perda financeira para o teatro é tanta que vale mais a pena pagar um anúncio e pronto. Os interessados veem de qualquer forma, pagam inteira ou meia, sem intermediários”, conta Débora. O sócio complementa, lembrando que peças de grande sucesso não fazem promoção do gênero:

“Quando o show é bom, o público não economiza”

Nos últimos dois meses de operação, a Divertix vendeu 4 000 ingressos. É pouco, por um lado. Mas é muito, por outro. Só o fato de estarem operando nesse mercado já provocou uma mudança positiva em relação, por exemplo, à remuneração das casas que fazem as tais promoções de compras coletivas. Luis Eduardo e Débora sabem, sentem na pele, o quanto pesam os custos de operação de um teatro (e ele é fixo, com ou sem promoção). Também sabem que o clichê não é à tôa: o show tem que continuar. Mas, nos teatros em que a Divertix opera, se o ingresso é vendido a 40 reais no site de compras coletivas, 100% desses 40 reais são repassados ao teatro. É pouco, mas é muito. Porque teatro é drama, mas também pode ser mais justo e… divertido.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Divertix
  • O que faz: Plataforma de venda de ingressos exclusivamente para casas de teatro
  • Sócio(s): Luis Eduardo Gomes Fontenelle de Araújo, Débora Finkielsztejn, Afonso Nogueira, Marcel Faddoul Corrêa
  • Funcionários: 4 (os sócios)
  • Sede: Rio de Janeiro
  • Início das atividades: abril de 2017
  • Investimento inicial: NI
  • Faturamento: 4 000 ingressos vendidos em dois meses
  • Contato: atendimento@divertix.com.br
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