Agricultura e desmatamento – a produção de alimentos tem culpa?

Fernanda Cury - 28 ago 2015
A produção agrícola alimenta o Brasil –e ocupa apenas 7,6% do território nacional
Fernanda Cury - 28 ago 2015
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Embora o Brasil seja um país extenso, o maior da América do Sul, com 8,5 milhões de km2, o que, em tese, significa terra de sobra para o plantio, boa parte do território abriga ecossistemas que devem ser preservados, como a Amazônia (a maior floresta tropical do mundo), o Pantanal e as áreas de Mata Atlântica.

E aí surge o dilema: como manter a produção agrícola a todo vapor sem perder de vista a preservação do meio ambiente? As palavras-chave são otimização e eficiência. Para dar conta de alimentar uma população crescente, é essencial investir no aumento da produtividade nas áreas agrícolas. Resolver problemas socioambientais, aumentar a safra e a renda do produtor rural, elevar a oferta de alimentos e consequentemente provocar a queda dos preços. Tudo isso utilizando áreas restritas, mas muito mais produtivas.

Agricultura X desmatamento

Não tem jeito: basta falarem em desmatamento que logo alguém aponta o dedo para o setor agrícola, o mais dinâmico de nossa economia. O problema é que esta acusação não se sustenta diante de uma simples observação: a produção agrícola no Brasil ocupa apenas 7,6% do território, porcentagem ligeiramente superior à dos aglomerados urbanos (4,4%). Além disso, temos a maior faixa de mata nativa preservada do globo. “Apesar de sermos conhecidos pelas taxas de desmatamento na Amazônia, o Brasil ainda preserva grandes porções de floresta nativa. O Mato Grosso, por exemplo, é o estado número 1 em produção agrícola, e ainda assim mantém 60% da cobertura nativa. A própria Amazônia mantém intacta 85% de sua área. Por outro lado, somos os campeões na produção de soja, milho, algodão e carne, e ocupamos a segunda posição na produção de arroz”, diz Oswaldo Carvalho Jr, pesquisador associado do Earth Innovation Institute.

Mesmo já produzindo muito em uma pequena área, o agronegócio brasileiro ainda tem um grande desafio pela frente – e quem diz é um estudo recém-publicado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em parceria com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura). A agricultura mundial terá de ampliar em 80% a produção de alimentos até 2050 para atender 9,7 bilhões de pessoas. O setor agrícola brasileiro aposta que a maior parte desse crescimento (95%) virá com o aumento de produtividade nos 7,6% da área utilizada e somente 5% será advindo de novas áreas agricultáveis.

Desmatamento em queda

Entre 1996 e 2005, graças ao desmatamento em escala, o Brasil foi palco de uma crescente ameaça ambiental global. Durante este período, foram desmatados 19.500 km2 de floresta por ano, enquanto os setores de soja e gado se expandiam. Porém, de lá pra cá o país vem adotando medidas revolucionárias para reverter este quadro: a taxa de desmatamento diminuiu 70%, sem que a produção de soja e de gado deixasse de crescer.

Nos últimos anos, pesquisas e estudos desenvolvidos por empresas do setor de agronegócio e até mesmo pelas instituições de ensino têm gerado produtos e oferecido suporte aos produtores para a redução dos impactos negativos – e, em contrapartida, promovido boas práticas, a conservação do solo e a otimização da produção agrícola. “Várias tecnologias foram desenvolvidas nos últimos anos, como o melhoramento genético e o plantio direto, a utilização de novas ferramentas, como o geoprocessamento, além da implementação dos sistemas produtivos integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e a Agricultura de Precisão”, conta Oswaldo.

Tecnologia e otimização

A alternativa para seguirmos reduzindo, de forma equilibrada e cada vez mais, tanto a taxa de desmatamento quanto os índices de fome no Brasil é aliarmos o aumento da produtividade no campo ao uso consciente do solo. “Temos ótimas medidas disponíveis, como a adoção de boas práticas agrícolas, com plantio direto, rotação de cultura, manejo integrado de pragas, e a intensificação da segunda safra, a safrinha de milho, girassol, algodão e trigo após a soja”, enumera Oswaldo.

Outro fator que promete favorecer cada vez mais a redução do desmatamento é a aplicação da Agricultura de Precisão, que otimiza o potencial produtivo, além de reduzir o impacto ambiental. Através da sua implementação é possível aproveitar terras até então consideradas improdutivas, sem agressão ao meio ambiente. Os investimentos no melhoramento e no cruzamento de plantas para a criação de sementes híbridas, com grande potencial produtivo e maior resistência às pragas, também são fortes aliados.

Com a eficiência agrícola todos ganham: o produtor rural, com maior safra e menor custo na produção; o consumidor, com alimentos mais baratos e abundantes; e o planeta, com a proteção de seu ecossistema.

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