Se há cada vez mais boas ideias saindo do papel e tendo sucesso, é de se esperar que o mercado de venture capital também esteja aumentando. E é o que parece, finalmente, estar acontecendo no país: segundo levantamento da Anjos do Brasil, somente os investidores individuais colocaram 620 milhões de reais em startups em 2013. Para se ter uma ideia do tamanho da novidade, 40% dos anjos investiram pela primeira vez ano passado.
Mas apesar de o dinheiro e as ideias estarem mais abundantes, a forma com que elas se conectam ainda pode — e precisa — ser melhorada. É o que aposta o Broota, primeiro serviço de “equity crowdfunding” ou “investimento colaborativo” (no aportuguesamento preferido) do País. O site foi lançado em 11 de junho usando, justamente, um financiamento coletivo.
Através do Broota, os investidores podem comprar participação em empresas nascentes, mas desembolsando um valor bem menor do que o normal. Usando a sua própria plataforma, o Broota captou 200 mil reais— ou 15% do valor da empresa — para dar início às atividades, com o capital de 28 investidores. Muitos investiram menos de 10 mil reais.
“A gente traz um benefício muito grande para o investidor: como ele precisa colocar menos dinheiro que coloca hoje, ele pode fazer mais investimentos. Se uma empresa precisa de 400 mil reais, no passado o investidor precisaria colocaria 100 mil reais, no mínimo. Hoje eu digo que ele pode colocar 25 mil reais, e os outros 375 mil reais serão atraídos através de co-investidores. Desse montante, o investidor-líder recebe uma taxa de sucesso se o negócio for bem-sucedido daqui a 5 ou 10 anos”, explica o porto-alegrense Frederico Rizzo, fundador do Broota.
O próprio Broota se beneficiou desse efeito de rede, típico das plataformas colaborativas da internet. Frederico conta que demorou alguns meses para convencer os primeiros investidores, mas no fim da campanha, quando faltava 30% para chegar à meta, espalhou a ideia no Facebook e LinkedIn. “Em 5 dias fechei o que faltava, tive reuniões com investidores assinando cheques de 5 a 15 mil reais, gente que nunca vi na vida, sem nem me conhecer e com poucas informações no site. Não tinha detalhamento financeiro. Eu consegui ver bastante confiança, porque eles viam os outros investidores que haviam entrado.”
A surpresa veio também pelo relativo pouco histórico de Frederico na área. Depois de se formar em Administração Pública na FGV, em 2002, ele resolveu ser empreendedor social em Grajaú, na periferia de São Paulo. Fundou a ONG Vento em Popa e usou a sua experiência com vela para ensinar esportes náuticos e desenvolver outras ações de educação e comunicação para adolescentes da área, onde construiu uma casa para ficar perto da comunidade. O projeto durou 5 anos.
Logo depois foi para a Mãe Terra, empresa que vende produtos naturais e orgânicos. Nos quase 5 anos lá, foi gerente financeiro e de suprimentos, e desenvolveu um programa de sustentabilidade, em que informava ao consumidor o histórico e o impacto de diversos produtos, resíduos e emissão de gases.
Depois desses dois longos compromissos, Frederico passou dois anos fazendo um MBA na Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Foi só lá que se aproximou dos fundos de investimentos, e se interessou em pesquisar mais sobre o assunto. De volta ao Brasil, fez estágios na Natura e na ideiasnet. A ideia de um negócio “com propósito” estava fixa em sua cabeça, e a experiência com investidores do ideiasnet ajudou a germinar o Broota.
CLIMA FAVORÁVEL
Nos Estados Unidos, o conceito de investimento colaborativo já está forte com serviços como o Crowdcube e AngelList. Por aqui, não havia nada parecido. O Catarse já é uma referência no crowdfunding, mas os propósitos são diferentes, “complementares”, na visão de Frederico: “Uma das melhores formas de validar um produto é colocá-lo em um site desses pra ver se há a demanda”, diz. Mas para constituir a empresa e colocar a ideia no mundo, levantar um capital que sustente a empresa por um certo tempo pode acelerar as coisas, e aí entra a intermediação do Broota.
Frederico e os sócios esperam um faturamento de 300 mil em um ano. O modelo de receita é tradicional: recebe uma taxa em cima das captações bem-sucedidas, que gira em torno de 5% a 7,5% — parte paga pela empresa, parte pelo investidor. O Broota também ajuda na papelada, modelos de contrato e regularização com a CVM.
O cofundador entende que a sua startup é mais uma, entre tantas, iniciativas para democratizar o acesso aos fundos, pessoas e serviços que dão o empurrão inicial para as empresas. Tudo muito novo no País. Ele enumera: a 21212, aceleradora mais badalada, tem apenas 3 anos. O Startup Brasil, programa do governo de aceleração de startups, surgiu em 2012. É um ambiente muito recente, e o seu acesso ainda está restrito a algumas pessoas e círculos.
“Para ter acesso a essas startups ou tem que ter tempo de ir aos eventos — a demoday da 21212 é no meio da tarde — ou fazer parte de uma associação, que tem mensalidade, ou ter cursado tal faculdade. O que a gente vem fazendo é desintermediando isso, queremos tirar da panelinha e mostrar boas oportunidades pra quem quer que seja, pra multidão”, afirma.
O QUE QUEREM OS INVESTIDORES?
Neste primeiro momento da empresa, o foco está em atrair investidores. No futuro o Broota pode ser aberta a qualquer pessa com capital, mas por ora os financiadores são pessoas já com alguma experiência, com aportes anteriores. “Quando houver uma quantidade boa de investidores bons, informando suas causas, sua disponibilidade de capital, aí vou conseguir atrair as empresas”, diz Frederico. Os investidores chegam não apenas com o capital, mas com mentoria e com causas.
“De fato, muitas das startups precisam mais de tempo do que dinheiro”, avalia Ricardo Glass, que investiu 5 mil reais no Broota e pretende participar ativamente da vida da empresa, usando sua experiência em mentoria. Ricardo vê que as empresas que são financiadas pelo Broota tendem a ganhar muito mais do que dinheiro. Como elas precisam construir um plano de negócio sólido e informar cada passo, elas amadurecem mais rápido. “A gente espera que quando elas se dispõe a captar, as empresas estão dispostas a atuar em um nível de governança, de report, maior. Elas passam a ter um compromisso com o mundo, desenvolvendo uma disciplina. Isso contribui pra elas conseguirem fazer um negócio sustentável”, diz Ricardo.
Como muitos dos investidores que estão na plataforma Broota, Ricardo está interessado não apenas com o retorno do investimento, em quanto o negócio pode escalar, mas em qual o impacto ele terá na sociedade. Frederico quer que pelo menos 50% das empresas que passem pelo Broota tenham métricas sociais, busquem impactos sociais de forma pró-ativa. “Eu vejo muito investidor que quer participar, mas que não está muito importado com o retorno financeiro, sabe que se perder faz parte do jogo, mas traz um valor pro impacto social ou ambiental como eu não conhecia.” Para ele, o Broota foi bem-sucedido justamente porque os investidores queriam fazer parte da missão.
“Existe uma responsabilidade das empresas na construção do mundo, e eu procuro hoje relacionar os meus investimentos com empresas que têm uma visão responsável. Posso apoiar iniciativas incríveis. E com um ticket pequeno, com riscos menores”, diz Ricardo. O investimento, é claro, não precisa ser coletivo.
O Broota mal completou 3 meses e já tem bons números: 15 startups buscando capitalização e 300 investidores cadastrados. Há muitos planos para o futuro, em um mercado que deve movimentar, segundo as projeções de Frederico, R$ 800 milhões em 10 anos. Mas Frederico admite que não tem certeza de como a plataforma vai se desenvolver, e isso não o preocupa tanto. “As plataformas pivotam depois. Há uma série de serviços que, uma vez com a rede forte, podemos começar a explorar depois, gerando outras fontes de renda: modelos de recrutamento, avaliação, relação de investidor…” O que for necessário para ligar semear boas ideias, está valendo.
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