Na segunda semana de fevereiro, Carol Piccin, uma das fundadoras da Matéria Lab, embarca para Holanda, rumo à cidade de Utrecht, para participar da edição 2015 da Material Xperience. A feira, que reúne expositores do mundo inteiro, é referência em inovação e tecnologias ligadas à produção e ao uso (e reuso) de materiais. A experiência faz parte de um projeto que Carol toca em parceria com Eduardo Giacomazzi, cujo objetivo é estreitar a relação com a Materia, uma materioteca holandesa. A ideia é iniciar um relacionamento que, mais pra frente, possa resultar na realização de eventos desse tipo no Brasil.
A Matéria Lab é o novo empreendimento de Carol, em sociedade com Tânia Kulb. Carol já foi sócia da Sistema Ambiental, seu primeiro negócio, e da Matéria Brasil. A Matéria Lab foca em materiais e tecnologias que contribuam para uma economia mais consciente e sustentável. A empresa atua junto a designers, arquitetos, engenheiros e indústrias na criação e desenvolvimento de produtos e projetos sustentáveis, e tem a missão de contribuir com a transformação do modelo de produção e consumo no país por meio da pesquisa e da inovação de materiais e de sua aplicação no mercado.
Munida de um grande acervo de materiais, catalogados com informações sobre suas caraterísticas, funcionalidades e modos de uso, entre outros aspectos, Carol fala de outras formas de atuação da Matéria Lab, como análise de ciclo de vida e rotulagem ambiental. Entre as propostas da nova empresa, está uma forma de as marcas se comunicarem melhor com seus clientes e de tornarem o conhecimento acerca dos materiais que utilizam acessível a todos, fazendo com que as pessoas possam escolher de forma consciente e transparente que produtos ou serviços utilizarão, a partir de um critério de sustentabilidade.
Da mesma forma, segundo Carol, as empresas têm que assumir a responsabilidade pelo que elas colocam no mundo – de modo eficiente e proveitoso para elas. “As empresas precisam saber sobre os componentes que colocam no ciclo de produção, para que, no final dele, os resíduos possam entrar novamente no ciclo, agregando valor à cadeia de produção. Se você não sabe o que tem ali, você não sabe como retornar ao ciclo os materiais que utiliza. Essa é a inovação que propomos: colocar produtos melhores no mercado, para que possam voltar à natureza ou ao ciclo de produção, gerando ganhos para todo mundo”, diz Carol.
A Matéria Lab trabalha com o conceito de Ecologia Industrial – uma das tendências deste mercado para a diminuição do impacto ambiental da produção de bens. “Estamos fazendo um estudo sobre resíduos de uma estação de tratamento de efluentes em uma fábrica. O resíduo, depois do tratamento, vira lodo. Descobrimos que esse lodo, misturado à areia e às cinzas, que são resíduos de uma outra indústria, pode formar tijolos. A possibilidade de criarmos novos produtos, utilizando resíduos de duas empresas é o que chamamos de Ecologia Industrial”, diz Carol.
No Brasil, segundo Carol, isso ainda está muito no começo. “Ainda nem começamos a descobrir as inúmeras oportunidades que temos no que tange à criação de novos produtos utilizando resíduos industriais ou no desenvolvimento de materiais com tecnologia aplicada. Ainda precisamos de muito trabalho nas universidades, em parceria com o mercado, para a criação de novos materiais que solucionem demandas do sistema produtivo e, ao mesmo tempo, causem menos impacto ambiental, sejam menos tóxicas, sem deixar de garantir qualidade, aderência, cores etc”, diz ela.
O Matéria Lab, além dos serviços prestado a seus clientes, também desenvolver projetos proprietários. “É o caso da Horta na Caixa, ideia concebida por mim, pela Bruna Riscali e pelo Max Petrucci, colaboradores do Matéria Lab, que une saúde, bem-estar, boa alimentação e uma discussão sobre a origem dos alimentos”, diz Carol. “Além de estimular as pessoas a terem suas próprias hortas, produzindo alimentos saudáveis sem impactar o ambiente, a horta na caixa traz uma oportunidade de brincarmos com novos materiais para a criação das caixas, tratando-a como um objeto de design”.
Carol é otimista quanto ao futuro do planeta e dos negócios. “Estamos próximos do momento em que vamos ter que escolher entre nos afundarmos nas consequências de um mercado que até hoje pouco se preocupou com as questões ambientais ou mobilizarmos todos os setores da sociedade para a perpetuação de um novo modelo de negócio que precisará contar com a participação ativa de cada um de nós na criação de uma cultura de produção e de consumo mais consciente e mais saudável”, diz ela.
DE EMPREENDEDOR PARA EMPREENDEDOR
Que apps de produtividade todo empreendedor devia usar?
Cada empreendedor deve usar aplicativos que tenham conexão com sua área e seu dia-a-dia. Gosto do BikeSampa e do SPVeg. O My Fun City é bem legal também, avalia questões urbanas como trânsito, pegada ecológica etc. Tem um app, que se chama CommuteGreener, que dá dicas do nosso impacto e calcula nossa produção de carbono. Não usei tanto ainda, mas é bem legal.
Que sites/perfis de negócios e inovação todo empreendedor devia seguir?
Gosto de seguir as materiotecas do Brasil e do Mundo, para ficar antenada nos novos materiais e nas novas pesquisas. Sigo o site do Planeta Sustentável da Editora Abril e recebo informativos sobre sustentabilidade em geral de vários sites. O aplicativo deles é um Manual de Etiqueta Verde e dá dicas de como mudar hábitos. Bem legal.
Que livros de negócio todo empreendedor devia ler?
Estou lendo agora “Cradle to Cradle, criar e reciclar ilimitadamente”, de Michael Braungart e William McDonough, sobre ciclo de vida de materiais e produtos.
Que eventos de inovação e negócios todo empreendedor deveria frequentar?
Eu vou agora para a Material Xperience, uma feira/congresso sobre materiais e tecnologia em Utrecht, na Holanda. Vou com o Edu Giacomazzi, meu parceiro que está fazendo a ponte entre a Materia, uma materioteca Holandesa e a gente, MateriaLab.
Com esta série HP/Intel no Draft, vamos falar das ferramentas e tecnologias usadas pelos inovadores. Do lifestyle e dos novos jeitos de trabalhar dos game changers brasileiros. Dos novos espaços de trabalho e dos novos jeitos de gerir dos nossos makers. Do como pensam e como fazem negócios os empreendedores criativos do país.