Como a Profile inventou uma maneira de transformar frustração em oportunidade para pequenos negócios

Luisa Migueres - 5 jul 2017Rodrigo Cunha, CEO da Profile PR, comanda o workshop que passa as principais noções de relações públicas a pequenos empreendedores. (Foto: Renan / Divulgação)
Rodrigo Cunha, CEO da Profile PR, comanda o workshop que passa as principais noções de relações públicas a pequenos empreendedores (foto: Renan Fernandes).
Luisa Migueres - 5 jul 2017
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Parece um contrassenso: uma agência de PR oferece uma oficina em que ensina os principais macetes de seu ofício para donos de pequenos negócios que não podem pagar para contratá-la. Certo ou errado? Inovador, no mínimo, e é isso que a Profile, empresa de PR que nasceu dentro da LiveAD (uma das primeiras agências de publicidade a atuar com redes sociais no Brasil), começou a fazer isso este ano, baseada na crença de que o conhecimento deve ser democratizado e que empresas não precisam guardar a sete chaves o seu know-how.

Assim surgiu o Workshop de Comunicação da Profile, um intensivo, com duração de 12 horas, em que pequenas empresas aprendem conceitos básicos de comunicação de marca. A ideia é que, um dia, elas possam se tornar clientes da Profile. Mas isso não é o mais importante.

No fim de maio, o Draft participou da última edição do encontro, que reuniu sete empresas, entre elas a agência The Mob, a aceleradora de negócios sociais Quintessa e a marca de moda sustentável Pano Social. A oficina é dividida em sete blocos e quatro atividades: uma dinâmica de introdução (para quebrar o gelo e apresentar os negócios de cada empresa); um exercício de definição de missão e visão dos negócios; uma prática de redação e uma simulação de entrevistas à imprensa. Rodrigo Vieira da Cunha, CEO da Profile fala dessa proposta:

“Criamos o Workshop para aumentar a eficiência da comunicação dessas empresas participantes. Ele é uma jornada de aprendizado e cocriação”

O local pode variar, mas a última oficina aconteceu na LiveWork, espaço alugado em São Paulo, no Jardim Paulista. O início, às 8h30, apresenta alguns dos principais clientes atendidos por eles: Vox Capital, Artemisia, Geekie, Sympla, TED, ThoughtWorks, Taqe, Red Bull, entre outras. Ao descrever os clientes, Rodrigo aponta para o fato de que todos compartilham uma forma inovadora de trabalhar em seus respectivos setores. É este filão que a Profile quer atingir – negócios relevantes e influentes, que tenham impacto social, ambiental e criativo. Porém, nem todos que atendem a estes princípios têm caixa para contratar a agência. Daí veio o problema, e a inovação.

No workshop, empreendedores e startups aprendem os conceitos-chave de Relações Públicas.

No workshop, empreendedores e startups aprendem os conceitos-chave de Relações Públicas.

“Sabemos que empresas em estágio inicial não têm orçamento para fazer o trabalho de fôlego de relações públicas. Elas vinham até nós, mas a conta não fechava”, conta Rodrigo. A solução, portanto, foi criar essa forma mais acessível de entregar um serviço, compartilhando os principais pontos do trabalho de RP e contatos de jornalistas. Ele diz:

“Hoje em dia não é difícil conseguir um contato. A gente não quer vender relacionamento, mas sim autonomia”

Ele prossegue: “Não preciso fechar maus negócios vendendo isso. Prefiro que a empresa cresça e, naturalmente, precise profissionalizar o PR e me procure”. Um workshop, por mais intensivo que seja, jamais irá resumir todo o trabalho de uma agência de Relações Públicas. Ainda assim, é preciso uma dose de coragem, outra de generosidade, para compartilhar conhecimentos básicos e também alguns macetes do ofício. É exatamente isso que acontece. O que rege os conteúdos apresentados por Rodrigo e sua equipe serve a um objetivo: ajudar as empresas participantes do evento a criarem uma comunicação mais estratégica. Além da teoria, elas irão, na prática: formatar as mensagens que querem passar, redigir suas principais missões e descobrir como transmiti-las a veículos de imprensa ou nas suas próprias redes on e offline.

PAUSA NAS ENTREGAS DE ROTINA PARA CRIAR UM PRODUTO NOVO

A versão piloto do workshop foi exclusivamente direcionada a ONGs, e serviu para conquistar o apoio da Artemisia, aceleradora de negócios sociais, que pagou por uma segunda edição, direcionada às startups que está acelerando no momento. Agora que já se tornou um produto oficial da casa, os interessados devem se cadastrar (neste link) para saber as datas das próximas edições. Em agosto, ela acontece no dia 16. O investimento é de 650 reais por pessoa – e até quatro pessoas da mesma empresa podem participar ao mesmo tempo da experiência.

A linha de raciocínio dos criadores do workshop – Rodrigo e a facilitadora (e sua mulher) Mari Camardelli, da Altos Eventos – partiu da identificação do propósito de cada participante. Primeiro, as empresas precisam descobrir o porquê, o como e o quê do seu negócio, para definir suas principais mensagens. Depois, devem descobrir quais territórios de comunicação e quais públicos-alvo precisam ser explorados via imprensa e influenciadores. Esse exercício se encerra o “olhar para dentro”, e abre caminho para que Rodrigo exponha uma visão geral do que significa um trabalho de Relações Públicas hoje em dia, e quais são os canais e influenciadores mais estratégicos para cada negócio.

Essa estrutura é o que, na opinião dele, mais demanda tempo e energia da equipe da Profile PR – que soma sete pessoas. Ele diz que, antes do Workshop, há uma preparação prévia, que busca entender como deve ser a lista de contatos a serem compartilhados com as empresas participantes. No dia, Mari, a única integrante de fora da Profile, atua como facilitadora.

Ainda que seja pago, o Workshop não representa uma receita expressiva para a Profile. Por ora, não teria como ser diferente. “Talvez no futuro, se conseguirmos fazer um por semana, ele poderá ter um peso maior no nosso faturamento”, diz Rodrigo. Por enquanto, a meta é fazer mais duas edições até o fim deste ano.

COMPARTILHAR CONHECIMENTO NÃO É DAR UM TIRO NO PÉ

Investir em Relações Públicas, ou Comunicação em geral, não é prioridade para muitas startups, pequenos empreendedores e profissionais liberais, pois alocar verba é uma tarefa ainda mais difícil quando o faturamento do negócio é baixo. “Uma agência de comunicação sempre será necessária para criação de estratégia, mas a nossa meta aqui é que eles sejam minimamente autossuficientes”, Rodrigo conta.

Oferecer uma capacitação a pequenos negócios com um workshop, então, não seria uma forma de cobrar menos por um serviço que já se faz dentro de casa? Não na visão de Rodrigo, Mari e o restante do time da Profile. Ele diz:

“Cansamos de sair de reuniões com empresas com as quais a gente queria muito trabalhar, mas que não tinham orçamento”

Para o idealizador do serviço, o mercado de RP está “tão igual há 30 anos” que a necessidade de criar algo novo era – e continua sendo – algo urgente: “A nossa frustração virou motor de inovação”.

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