Ontem à tarde, na sede da Germinadora, no bairro paulistano de Vila Mariana, aconteceu a primeira reunião presencial dos fundadores do Movimento Brasil + Empreendedor. A iniciativa é horizontal, não hierárquica, e busca construir uma pauta comum pró-empreendedorismo com sugestões para serem implementadas em todas as esferas públicas e nos três poderes.
Cerca de 20 membros do grupo, que tem 183 participantes, estiveram presentes e pelo menos outros 40 acompanharam a reunião por streaming. O encontro tinha o objetivo de se analisar, em conjunto, a primeira compilação do documento que vem sendo construído de forma colaborativa e em rede desde o início de dezembro. Entre os presentes estavam o diretor executivo da Associação Brasileira de Startups, Guilherme Junqueira, o investidor Túlio Severo, a jornalista e professora Paola Tucunduva, o escritor e blogueiro e consultor Nei Grando, e o editor do Startupi, Diego Remus.
Draft conversou com o idealizador da iniciativa, Marcelo Pimenta, que é fundador do Laboratorium, professor de inovação da pós graduação da ESPM e blogueiro do Estadão PME. Em 1996, junto com o André Boger, Marcelo criou a Conectt, em Porto Alegre, uma “startup” de marketing interativo que unia comunicação e tecnologia. Depois, formou a Plena Consultores, que fazia Gestão do Conhecimento. Em 2010, surgiria o Laboratorium: foi quando Marcelo decidiu dar uma guinada na carreira para empreender na intersecção da inovação com o empreendedorismo.
Na entrevista, concedida por email, Marcelo fala sobre o que pode ser feito para alavancar o empreendedorismo no país, os próximos passos do movimento “Brasil + Empreendedor” e como outros empreendedores podem contribuir.
DRAFT – Como surgiu a ideia de criar Movimento Brasil + Empreendedor?
Marcelo – O B+E surgiu numa conversa com o João Kepler e o Túlio Severo. Vimos que nas últimas eleições muitas lideranças assumiram publicamente candidaturas que estavam comprometidas com “causas empreendedoras”. Esses candidatos estavam em diferentes estados, fazendo propostas para diferentes esferas. Passado o 2º turno, decidimos convidar quem quisesse a redigir uma pauta comum de sugestões e reivindicações que pudessem inspirar/provocar/apontar ações de estímulo ao empreendedorismo inovador em todo o Brasil. Ao todo, 183 pessoas se prontificaram a ajudar e desde lá estamos cocriando o documento: uma iniciativa plural, apartidária e não hierárquica.
DRAFT –O que a iniciativa pretende se tornar?
Marcelo – Acredito que seja um fórum, uma arena, um hub de CPFs cidadãos que acreditam ser possível simplificar processos, trocar experiências, gerar conhecimento, modernizar estruturas para incentivar a economia digital, do conhecimento, criativa, inovadora. Somos um grupo de trabalho voluntário, autogestionado, formado por muitos dos empreendedores mais ousados do país, mas seria precipitado dizer onde isso vai dar. Nossa ideia é usar a cultura startup no nosso modo de nos organizar. A meta agora é fechar um documento, que será um MVP (Minimum Viable Product, ou seja, uma primeira versão, mesmo que inacabada mas já viável) para ser entregue às autoridades como forma de estimular um Brasil + Empreendedor. Já revisamos a primeira versão. Estamos trabalhando a partir dos pilares presentes no estudo da Endeavor que incorporamos no nosso grupo, são eles:ambiente regulatório, acesso a capital, mercado, inovação, infraestrutura, capital humano e cultura empreendedora. Finalizaremos a redação até 22 de janeiro. No dia 6 de fevereiro teremos o lançamento oficial do documento, em uma mesa que será realizada durante a Campus Party. Até lá todos os membros vão agendar entregas para as suas redes de contato (com prefeituras, governos do estado, ministérios, legislativo etc).
DRAFT – Fale mais sobre esse processo.
Marcelo – O Juan Bernabó, da Germinadora, vai ajudar na classificação de indicadores para que possamos priorizar as iniciativas. Também o Cláudio Nascimento, da Prefeitura de Olinda, já viabilizou a entrega do documento ao Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Municipais de Ciência, Tecnologia e Inovação. O André Gomyde, Diretor Presidente da Empresa Companhia de Desenvolvimento de Vitória (ES) e atual presidente do Fórum já confirmou que ao receber o documento vai fazê-lo chegar aos 150 municípios membros da entidade.
DRAFT – De que maneira as três esferas do poder público podem alavancar o empreendedorismo?
Marcelo – Muita coisa pode acontecer nos municípios. O estímulo à inovação, à descoberta de vocação que seja capaz de gerar mercado para toda uma cadeia, é algo que começa nas cidades. Gramado não nasceu sendo o polo turístico que é hoje. O Porto Digital transformou o bairro do Recife antigo gerando milhares de empregos em Pernambuco. A semente não precisa estar na prefeitura, mas é no município que tudo começa. O SEED mudou a cara de Belo Horizonte no ecossistema startup brasileiro, e é um programa do Governo do Estado de Minas Gerais. Já o Governo Federal concentra as questões ligadas a importação e exportação de equipamentos, macro política econômica – incluindo tributos federais, estímulo e medidas efetivas para a desburocratização dos processos. A verdade é que há espaço em todas as esferas – e não só no poder Executivo. Muito pode ser feito também no Judiciário e no Legislativo. Nossa ideia é realmente poder atingir todos esses poderes, nas diferentes instâncias.
Draft – O Brasil é um dos países com mais burocracia e impostos do mundo. As iniciativas governamentais já existentes, voltadas ao empreendedor, aliviam este cenário em alguma medida?
Marcelo – Seria um desrespeito ao trabalho de muita gente deixar de apontar avanços, como por exemplo o Empreendedor Individual (que hoje já conta com mais de 4 milhões de empreendedores formalizados) ou ainda a ampliação de muitas categorias profissionais no Simples, incluindo serviços de consultoria, a partir de 2015. Mas o esforço ainda é insuficiente. É possível fazer bem mais, em todas as esferas, na escola, no município, nos estados e no país.
Draft – Há caminhos positivos já experimentados por aqui e que deveriam estar sendo replicados?
Marcelo – Sem dúvida. A Endeavor acaba de lançar o Índice das Cidades Empreendedoras. Neste documento, que mostra o levantamento de diferentes aspectos em 14 capitais brasileiras, podemos identificar que enquanto é possível abrir um negócio em Goiânia em 32 dias, em Porto Alegre temos o índice vergonhoso de 245 dias. Sem dúvida a prefeitura da capital dos gaúchos tem o que aprender com os goianos. Como esta, existem dezenas de outras experiências que merecem ser contadas e podem inspirar comunidades a descobrirem sua vocação empreendedora. A história de Santa Rita do Sapucaí é emblemática. A criação do Inatel, em 1965, transformou a região no Vale da Eletrônica, um polo de tecnologia que hoje é referência em todo o mundo. A incubadora do Inatel foi criada em 1985, são quase 30 anos de incentivo do empreendedorismo tecnológico. O Sebrae, com o Prêmio Prefeito Empreendedor, vem reconhecendo e valorizando as prefeituras que mais se destacam. Para mapear essas iniciativas, uma das ideias que surgiu ontem foi a criação de uma plataforma, ao estilo do Banco de Tecnologias Sociais, de iniciativas empreendedoras que possam ser replicadas.
Draft – E fora do Brasil? O que outros países estão fazendo e que poderíamos aplicar no nosso país no enfrentamento dessas dificuldades?
Marcelo – Há muitos exemplos, desde que se entenda que cada caso é um caso. Não podemos nos enganar achando que um “copy and paste” do Vale do Silício vai ser a solução para nossos problemas. Mas é preciso aprender com quem está experimentando para trazermos as melhores práticas. Ontem mesmo, durante nosso encontro, um grupo de professores do Chile acompanhou a reunião – e coincidentemente foi o Startup Chile (acredito) o primeiro programa de incentivo de um governo federal na América Latina. O caso da Estônia, que criou o governo 100% “paperless”, também é inspirador.
Draft – Como está sendo a experiência de gerar uma proposta de pauta autogestionada, sem donos, e horizontalmente?
Marcelo – A autogestão é sempre uma aventura. Tenho tido muitas experiências nesse sentido, não só em iniciativas corporativas, mas também na sala de aula, o que dá um pouco mais de segurança. Mas está sendo bem bacana, o time é muito qualificado, é um aprendizado constante e o espírito é esse, aprender a cada interação.
Draft – Quais são os principais participantes envolvidos na iniciativa? O que mais o surpreendeu neste processo?
Marcelo – Para não cometer nenhuma injustiça, prefiro mostrar quem ficou responsável por cada pilar. Apesar muitos gente terem podido participar ontem, eles vão se inserir nos subgrupos nos próximos dias.
AMBIENTE REGULATÓRIO
Editor: Moacyr A. Alves Junior
Redator: Nicolas Hassenstein
ACESSO A CAPITAL
Editor: Nei Grando
Redatores: Mariel Moura, João Kepler, Pierre Schurmann
MERCADO
Editor: Guilherme Junqueira de Farias
Redator: João Kepler
INOVAÇÃO
Editor: Marcelo Pimenta
Redatores: Paola Miorim, Paulo Alexandre, Angel Júnior
INFRAESTRUTURA
Editor: Tulio Severo Jr
Redator: Alysson Queiroz
CAPITAL HUMANO
Editora: Paola Tucunduva
Redatores: Genésio Gomes, Paola Miorim, Almir Neves
CULTURA EMPREENDEDORA
Editor: Juan Bernabó
Redatores: Paola Miorim, Paulo Alexandre, Almir Neves
SISTEMATIZAÇÃO
Hiran Murbach
O que mais vem me deixando animado nesse processo é o fato de que estamos tendo contribuições de todo o Brasil. Durante a reunião, transmitida pela internet, estavam bastante ativas as turmas do Piauí, do Recife, do Mato Grosso, de Alagoas, mostrando que de Norte a Sul há quem acredite e queira trabalhar por um Brasil + Empreendedor.
Draft – Já é possível destacar uma ideia ou pedido central, que caracterize a pauta do Brasil + Empreendedor?
Marcelo – Se fosse preciso sintetizar em uma palavra, seria a SIMPLIFICAÇÃO. Mas ainda é precipitado fechar isso, pois nos próximos dias ainda vamos ganhar qualidade no documento.
Draft – De que maneira as pessoas, empreendedores ou não, podem contribuir com esta iniciativa?
Marcelo – Nossa página do Facebook traz as novidades, e no nosso site estão todas as informações e formulários através dos quais qualquer um pode dar sugestões e interagir com o grupo.
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