Maria Juliana Giraldo, 34, colombiana, cresceu e estudou em Miami, onde se formou em Marketing e Negócios Internacionais pela Florida Atlantic University. Começou a carreira na agência de publicidade BBDO, de lá, atendendo a Pepsi para a América Latina. Foi assim que conheceu Letícia Meira, publicitária paulistana, com quem tinha muito contato em decorrência do trabalho com o cliente.
Foi Letícia quem convidou Maria a se mudar para o Brasil, para integrar o time da agência Lew, Lara que atendia a Natura. Maria veio para São Paulo em 2007. E se apaixonou pela cidade. “São Paulo é muito rica culturalmente, uma mistura de culturas e de línguas, um lugar em que os roteiros não acabam nunca”, diz Maria.
Em março de 2010, Maria foi para a Endeavor. Faltou propósito para que ela continuasse fazendo publicidade. “Queria usar aquelas habilidades incríveis da comunicação, de uso da emoção, da inteligência, do humor, da construção sofisticada de mensagens, para outros fins”, diz Maria.
Karen Kanaan, que cuidava do marketing e da comunicação na Endeavor, levou Maria para o mundo das ONGs – em que o objetivo último é não precisar mais existir. Uma mudança e tanto de ares. Maria conta que Rodrigo Teles era o diretor e aquela era uma época de pensar grande.
“Eu encontrei no Endeavor a causa que estava procurando. A nossa meta era mudar a mentalidade de um país inteiro. Queríamos transformar negócios em cultura”, diz Maria, que ri ao lembrar que chorava todo dia no trabalho, “ao ver aquelas pessoas trabalhando com emoção, acreditando de verdade no que faziam”.
Maria montou a área de PR da Endeavor. E ampliou seu próprio escopo de atuação – criando, montando, vendendo e entregando projetos. “Nós trabalhávamos muito, tínhamos 600 parceiros”. Aos poucos, Maria foi percebendo que o Endeavor estava voltado para o empreendedorismo de alto impacto. E que ela talvez estivesse interessada num empreendedorismo de menor escala, mas que fizesse mais sentido em sua vida.
Nesse meio tempo, conheceu Carla Mayumi, sócia da Box 1824, por meio da pesquisa O Sonho Brasileiro, que Carla conduziu no final de 2010. Carla estava naquele momento, em meados de 2011, montando a Box+, núcleo de inovação da Box 1824. Já havia quatro pessoas trabalhando – a Box+ chegou a ter nove profissionais. Carla convidou Maria para participar. E Maria topou.
“O Núcleo acabou se dissolvendo um ano depois. Não teve o retorno financeiro esperado. Iniciativas inovadoras enfrentam tipo de situação: clientes estabelecidos sabem que precisam mudar, desde que não precisem mudar muito. Há muito medo do risco. São poucas as empresas realmente comprometidas com a disrupção”, diz Maria, que ficou até o fim e que cita Pepsi, Fiat e Whirlpool como marcas que souberam ousar.
A Box+ acabou em agosto de 2012. Mas o fim da empresa não arrefeceu a verve empreendedora de Maria. Ao contrário: ela continuou em contato com Carla e, de agosto de 2012 a maio de 2013, dedicou-se a lapidar uma ideia de negócio. “Eu pensava – não vou desistir. É agora ou nunca. E combatia a ansiedade desse período de incertezas, em que o dinheiro só saía, com muito yoga”, diz. “O empreendimento é uma jornada pessoal em que você se conhece muito. Você descobre aquilo em que realmente é bom, e precisa admitir aquilo que não faz bem”.
“O empreendimento é uma jornada pessoal em que você se conhece muito. Você descobre aquilo em que realmente é bom, e precisa admitir aquilo que não faz bem”.
Num trabalho para a Pepsi, Maria trouxe ao Brasil John Thackara, da plataforma Doors of Perception, um pensador de design, sustentabilidade e inovação social. Foi aí que descobriu a The Lavin Agency, uma agência de palestrantes diferenciados e inovadores. Maria percebeu que na rede de relacionamentos que ela e Carla tinham aqui no Brasil havia muita gente disruptiva também. Por que não ter um bureau de conferencistas inspiradores por aqui também? Nascia ali a The Mob.
“Era tudo que eu queria e sabia fazer – sou muito social, venho de comunicação, conecto pessoas naturalmente, fiz minha carreira disseminando ideias”, diz Maria, que assina como “Legendary People Connector” em seu perfil no Facebook. “Passamos então a desenhar a empresa e a montar nosso time de palestrantes, com fazedores, transformadores, gente com projetos sólidos e grandes histórias a contar”.
A The Mob está completando um ano e agencia mais de 20 palestrantes ligados à nova economia. Gente como Natália Garcia, do Cidade para Pessoas, Edgard Gouveia, do Instituto Elos e do programa Guerreiros sem Armas, além do próprio John Thackara – que vem ao Brasil em outubro desse ano – em decorrência da parceria que a The Mob fechou com a The Lavin Agency para projetos realizados no Brasil. Em 2014, a The Mob realizou mais de 20 eventos. Para clientes como Fundação Telefônica, Itaú, Fiat, Heineken, Votorantim e Unilever.
“Estamos acostumados ao modelo do empreendedor herói, às trajetórias de superação com final cor de rosa. E, no entanto, há infinitos jeitos de empreender. No final, o que importa é uma coisa só: ser feliz fazendo o que você faz”.
A The Mob é uma sociedade de Maria e Carla Mayumi, com divisão igualitária de cotas. Carla ajuda criativamente, na solução dos briefings. Mas quem toca o dia-a-dia da empresa, da prospecção às entregas, é Maria, que trabalha na maior parte do tempo em regime de home office. É uma empresa sem funcionários – Maria e Carla contam apenas com uma assistente administrativa e uma contadora, que trabalham em regime parcial de tempo. O investimento inicial da empresa foi de 7 mil reais – dinheiro aportado por Carla, que custeou a produção do logotipo, do site e dos cartões, além de uma viagem a Nova York para uma reunião com a The Lavin Agency.
Mas palestra é só um dos formatos oferecidos pela The Mob. A partir do briefing do cliente, Maria monta uma solução customizada – que pode ser um workshop, um bate-papo, uma dinâmica. A The Mob ganha 20% do cachê dos seus agenciados e também se remunera pela criação e conceituação de um evento. “Nesse primeiro ano, conseguimos bater nossa meta de faturamento. Ficamos 10% acima, na verdade. A gente tinha que entender se tinha mesmo um negócio. E aprendemos que, sim, definitivamente temos um negócio”, diz Maria.
Maria ganha hoje um terço do que ganhava trabalhando numa agência de publicidade. E só começou a receber da empresa depois de 6 meses. Durante esse período, viveu das próprias economias, fez trabalhos freelancers e, sobretudo, mudou seu padrão de vida. Trocou um pouco de consumo por mais alegria no trabalho e na vida.
“É fácil tomar essa decisão – porque eu acredito. Tem empreendedor pragmático e empreendedor apaixonado. Eu pertenço ao segundo time”, diz Maria. “Estamos acostumados ao modelo do empreendedor herói, às trajetórias de superação com final cor de rosa. E, no entanto, há infinitos jeitos de empreender. No final, o que importa é uma coisa só: ser feliz fazendo o que você faz”.