Juan e Alejandro Carri são filhos de pai argentino e de mãe uruguaia. Juan tem 25 anos, nasceu em São Paulo, no Brasil, e largou a faculdade de Economia da USP no 3º ano. Alejandro tem 28, nasceu em Buenos Aires, na Argentina, se formou em Medicina também pela USP e trabalha como ortopedista no Hospital das Clínicas. “Aqui é assim mesmo, uma mistura bem engraçada”, diz o irmão mais novo, Juan, rindo das diferenças entre os membros da família.
É justamente essa variação de culturas, gostos e estilos que faz o estúdio Leaf, criado em 2012 para confeccionar óculos de madeira, ser o que é hoje: um ambiente criativo em que todo mundo tem a sua vez. “Aqui tem gastrônomo, médico, contador, professor de geografia, publicitário… O diploma nunca disse nada para a gente. O que precisa aqui é ter vontade de aprender e vontade de não querer fazer algo monótono”, afirma Juan.
A Leaf como é hoje, um estúdio focado na criação de óculos feitos à mão, foi um “acaso”. Em 2011, depois de ver um vídeo de uma loja americana que comercializava produtos de madeira, Juan quis comprar um par de óculos para uso pessoal. Percebeu que importar o acessório ficava inviável devido ao alto valor das taxas no país. “Não ia arriscar 700 reais numa armação de óculos. Eu nem era muito fissurado nisso”, conta. Resolveu fazer seus próprios óculos, e percebeu que tinha muito a seu favor. Por começar pelas referências da infância.
Quando criança, Juan, o irmão e o pai velejavam muito. Os garotos foram criados, desde cedo, num ambiente cheio de ferramentas, barcos, vidros e madeiras, o que deu a Juan uma familiaridade precoce com trabalhos manuais. Depois de ver o quão absurdo era o custo da importação, ele pegou uma folha de madeira e um Ray Ban velho para servir como molde e, num fim de semana, conseguiu montar seus próprios óculos, o número 1.
“Aí, começamos a brincar todo fim de semana. Nosso objetivo era dar um jeito de melhorar a peça que a gente tinha feito, mas para uso pessoal. Em nenhum momento pensamos em criar uma empresa. Eu já trabalhava em uma startup que tinha e-commerce de vinho e turismo e meu irmão estava acabando de se formar em Medicina”, lembra Juan.
Os finais de semana pesquisando como fazer e aperfeiçoar a peça passaram a ser muitos. O hobby crescia e Juan e Alejandro atinaram que, talvez, seu círculo de amizade gostaria de ter óculos iguais aos deles e que, talvez também, aquilo poderia se tornar um negócio lucrativo. Os Carri decidiram fazer um teste: produzir 10 unidades do produto num quartinho em casa para comprar a primeira máquina da Leaf. Conseguiram vender para 10 amigos próximos. “Vendemos óculos por 250 cada os amigos, e falávamos: ‘Olha, um dia, se der certo, vocês podem pegar um óculos de graça na nossa loja’. Mas eles compraram só porque eram amigos mesmo, ninguém acreditou que daria certo”, conta Juan.
A produção, cada vez mais acelerada, no quartinho de casa não agradou a mãe dos até então artesãos de fim de semana. Era barulho, bagunça e o varal cheio de óculos secando o tempo todo. Para não sacrificar mais o conforto da família, os irmãos resolveram dar um passo maior: alugaram um espaço na Galeria Ouro Fino, na Rua Augusta, em São Paulo, para dar continuidade ao trabalho. No começo de 2012, Juan deixou o emprego na startup em que trabalhava para se dedicar full-time ao novo negócio:
“Eu já sabia que não queria trabalhar com Economia. Sabia que queria tentar uma coisa nova. Larguei o meu trabalho. Pra mim, ou alguém se dedicava integralmente ao projeto, ou aquilo não sairia do papel”
Alejandro continuou empregado e trabalhando como médico (permanece até hoje), mas Juan juntei as economias na época e teve ajuda do próprio Alejandro para pagar parte do aluguel, nessa fase da empresa. O espaço tinha pouco mais de 30 metros quadrados e dois andares: um para a produção e outro para a loja. Juan era o único “funcionário”. Meteu a mão na massa, cumpriu horário, colocou toda a experiência com contratos, contabilidade e outros pepinos que tinha aprendido no trabalho anterior em prática, e seguiu produzindo. No início, montou uma loja no Facebook (hoje com mais de 150 mil curtidas) e começou a divulgar seus produtos.
Em fevereiro e março de 2012, o espaço na Ouro Fino foi usado apenas para produção. A Leaf só abria sua primeira loja em maio, mas a primeira grande venda aconteceu antes disso. Ainda em fevereiro, loja de design Mixtape encomendou 60 peças. Eles aceitaram o pedido assumindo um grande risco, que neste caso foi compartilhado com o cliente inaugural. “Fui sincero, disse que não tinha condições de produzir se eles não nos adiantassem uma parte do valor total para comprarmos os materiais e ficarmos tranquilos com um ou dois meses de aluguel. Eles toparam. Hoje, eu os considero o nosso primeiro investimento. Mas nunca tivemos um valor investido formalmente na Leaf. Foi tudo muito orgânico”, conta Juan.
A Leaf começou a bater asas depois de entregar este pedido. Montou o site, investiu pesado na atualização de suas redes sociais (a fanpage e o Instagram são cheios de personalidade) e, assim, conseguiu trazer muita gente para a loja física. Os modelos são produzidos com madeira certificada e custam por volta de 350 reais. Há uma série especial, com aplicação de pedaços de palhetas de violão (isso mesmo!), com modelos por cerca de 450 reais. Todas as lentes são da marca Carl Zeiss, com proteção UV. Além dos óculos, há acessórios como capas para iPhone e tablets.
Juan conta que, depois do quarto mês de Leaf, a marca já era autossustentável financeiramente. “Mesmo para comprar maquinaria e tudo mais, já nos virávamos. Não precisamos injetar mais dinheiro. A gente sempre foi muito pé no chão quanto a isso. Sabíamos que não poderíamos fazer um investimento grande na empresa porque iríamos ferrar com a nossa vida. Era um mercado muito incerto, ninguém falava de óculos de madeira, e o nosso produto não estava 100% redondo”, conta Juan.
“Hoje a gente é convicto que foi muito melhor ir fazendo as coisas com calma do que ter recebido um milhão de reais na mão e ouvir um ‘estruturem-se aí’, porque provavelmente teríamos gastado muito mal a grana”
O percurso, porém, não estava livre de acidentes, como num dia quando, por conta de um vazamento de água, a loja-estúdo da Galeria Ouro Fino amanheceu inundada. Com produtos e maquinário perdidos, eles amargaram o primeiro grande revés, que os levou a se instalarem durante um mês na garagem de um amigo, até encontrarem um novo local para o estúdio.
Três anos depois, a Leaf já viveu uma história de dois anos em uma casa bem maior, de 180 metros quadrados, na Rua João Ramalho, em Perdizes, e acaba de se mudar para um novo endereço no mesmo bairro. Três anos depois, a loja online continua sendo o principal meio de venda dos óculos. Três anos depois, os funcionários cresceram para 15. Eles são das mais diversas profissões, mas têm em comum a mesma vontade de fazer acontecer dos donos.
“Tenho um ponto de vista de que tudo se ensina, pode-se aprender tudo. Gosto de trocar conhecimento, trocar ideia é uma coisa muito rica. Se a pessoa tem força de vontade e quer fazer diferente, ela não chega aqui, faz cinco óculos e vai embora”, diz Juan.
São essas pessoas, às quais Juan já se refere como amigos, que dão o toque humano à Leaf, distinguindo-a das outras marcas. O etapa de produção com o maquinário é simples: basicamente em cortar a madeira bruta em lâminas. O resto é todo feito manualmente: curvatura, colagem e armação para o encaixe da lente. “Brinco que se o cara brigou com a esposa no dia anterior e for fazer um óculos, vai sair bem pior. Mas isso, na verdade, faz parte do meu modelo de negócios”, diz Juan. “Se eu tivesse só máquinas em vez de gente, não teria esses problemas, mas a qualidade dos produtos seria infinitamente inferior ao que é hoje. É assim que a gente pretende continuar.”
Três anos depois, Juan e Alejandro também comemoram o expressivo faturamento de 2014 (que foi de 1,2 milhão de reais). Mas agora, com a mesma tranquilidade que preferiram crescer sem investimento externo, eles focam em um modelo de negócios simples e ambicioso: querem diminuir a quantidade de produtos à venda, para terem uma vitrine com cada vez mais qualidade e exclusividade, como o fundador argumenta: “Se a Leaf virar uma fábrica, a gente perde toda essa essência humana. Ninguém aqui acredita que crescer em quantidade é o caminho para desenvolver a empresa. Pra gente, faz sentido melhorar o produto e, se um dia a quantidade tiver que diminuir e consequentemente o preço aumentar, este será o caminho. É uma decisão culturalmente delicada, mas a gente acredita que é um modelo de negócios interessante para se seguir”. Óculos não vão faltar para eles enxergarem o futuro.
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