Lourenço Bustani acaba de completar 36 anos e está no meio de muitos processos importantes, pessoal e profissionalmente. Este ano a Mandalah, consultoria de inovação criativa que ele fundou ao lado de Igor Botelho, completa 10 anos de uma jornada que começou com os dois sócios meio que “pregando no vazio”, ao propor para grandes empresas que trabalhassem para, além de gerar lucro, provocar impactos positivos para a sociedade com as suas ações. Isso em 2006, antes da crise mundial de 2008, antes do Brasil ser a “bola da vez” no mundo, antes de tanta coisa…
Naquela época, ele era mesmo um moleque que queria mudar o mundo. Filho de diplomatas (seu pai, José Mauricio Bustani, teve uma atuação notável no desarmamento químico mundial), Lourenço é desses cidadãos globais: nasceu em Nova York, morou no Uruguai, no Canadá, na Holanda, na Philadelphia (onde se formou em ciência política e administração), em Boston, novamente em Nova York (lá, trabalhou em uma consultoria de gestão e, depois, de branding). É o mais novo de três irmãos, um deles mora em São Paulo e a outra, em Londres. Em 2004, firmou residência no Brasil. Trabalhou na Voltage, onde conheceu Igor. Dali, eles partiriam para a criação da Mandalah, “protegidos” pela ignorância e coragem que só os jovens empreendedores são capazes de ter, além de uma intuição certeira e rara, como o mercado e o mundo perceberiam.
Em 2012, veio o boom: Lourenço foi aclamado, pela Fast Company, como “uma das 100 pessoas mais criativas no mundo dos negócios”, muito por conta do projeto da Mandalah para Nike, visando integrar a marca aos moradores do Rio antes e depois da Copa do Mundo. Nesse mesmo ano, o amigo Igor se desligou da Mandalah para tocar outros projetos e Lourenço passou a ser visto como uma espécie de personificação do discurso da empresa que criara. Inovador, evoluído, equilibrado. Isso pesou, o fez olhar para si mesmo, se questionar e se forçar a caminhar em direção ao ideal que vendia por aí: ter mais consciência, mais conexão com o universo, com as consequências do que somos, falamos, pensamos. Não à tôa, “consciência” foi a palavra mais dita por ele em sua conversa conosco (13 vezes), atrás de outras que também revelam o que importa para ele, “energia” (9), “inovação” (6), “processo” (6), “evolução” (4 vezes). É por aí.
Lourenço falou com o Draft na sede da Mandalah, que fica em uma casa na Vila Madalena, em São Paulo, e tem como mascote um imenso golden retriever chamado Shivah. A Mandalah tem 15 funcionários no Brasil (além da capital paulista, estão no Rio de Janeiro e em Fortaleza) e mais 30 nos escritórios internacionais, em Nova York, São Francisco, Tóquio, Cidade do México e Berlim. Até pouco tempo, Lourenço costumava viver numa eterna ponte aérea global, numa rotina frenética de CEO (embora a Mandalah não nomeie cargos), principal líder, representante e salesman ao mesmo tempo. Agora, finalmente, ele começa a concluir um processo iniciado há dois anos: passar o bastão da empresa. Algo difícil para qualquer fundador, mas que ele diz ser facilitado pela confiança e performance dos seus sócios Tom Moore, Victor Cremasco e Sérgio Andrighetti. São eles que levarão a Mandalah adiante. Lourenço ainda trabalha nos projetos, mas saiu da gestão, largou a dianteira. Em paralelo, ele está envolvido em novidades, como a empresa de eventos HED (Human Experience Design) e a mentoria Diálogos, prestes a entrar em operação.
A sala de Lourenço fica no terceiro andar do sobradinho mandaleiro. Da janela é possível ver a copa das árvores e o telhado das casas do bairro. Do seu laptop sai uma música infinita, transcendental, com cítaras e mantras. Lourenço tem o cabelo comprido, olhos claros, nariz pronunciado, malas e colares no pescoço, um jeitão meio de guru. E tem tempo: pensa bastante antes de responder, subverte perguntas, explica suas ideias. Leia a seguir.
A Mandalah nasceu para mostrar para as empresas que é possível unir grana e propósito. Essa missão mudou ao longo do tempo?
Essa nem foi a missão fundadora da empresa. Inicialmente a gente estava muito movido pela intuição, queríamos apenas humanizar o olhar das empresas, e por isso batíamos muito na tecla do “h” do nosso nome, que é o Humano. Depois de amadurecer um pouco enquanto empresa, percebemos que este olhar humano leva a uma conciliação entre as considerações pragmáticas, como o lucro a curto prazo, e as questões voltadas a uma visão de médio e longo prazo, que é o propósito. Esta é a nossa narrativa. Em 2010, batizamos isso de “inovação consciente”. Quando abrimos a Mandalah, em 2006, nem consultoria de inovação a gente sabia que era. Fazíamos pesquisa de comportamento humano. Pouco a pouco, as empresas nos deram o mandato de traduzi-las em estratégias. Depois, essas estratégias começaram a se encorpar e vimos que éramos uma consultoria de inovação, mas não qualquer inovação. Para nós, algo só é inovador se necessariamente melhora a vida das pessoas. Por isso qualificamos como inovação consciente. Não é só o novo pelo novo.
Nesses 10 anos as empresas melhoraram ou pioraram?
Não é tanto melhorar ou piorar, é uma questão de evolução. As pessoas estão mais conscientes e isso as leva a ter melhores intenções. Hoje, têm mais conhecimento do contexto macro, percebem melhor que quando decidem investir aqui ou ali, lançar esta ou aquela campanha, estão desencadeando uma série de processos que geram impacto de alguma natureza, em algum grau. Nesse sentido, as empresas, o mercado e a sociedade como um todo estão muito mais conscientes a respeito dos impactos das atividades comerciais das empresas. E, do lado do cidadão, ele também está bem mais consciente da procedência do que consome, do descarte, da própria formulação do produto. Isso está em todo lugar.
Você acaba de completar 36 anos. Tem algo que queria ter sabido aos 26, em relação a negócios?
É engraçado, porque aos 26 a gente não pensa sobre o que não sabe. Olho para trás e percebo que, naqueles dois, três, primeiros anos da Mandalah, eu nunca parei, por um segundo, para cogitar a possibilidade daquilo não dar certo. E não foi por teimosia. Foi ingenuidade mesmo. Como eu nunca tinha empreendido antes, e como era jovem, não tinha sido testemunha de tantas tentativas fracassadas de startups. Para mim, estávamos com uma proposta de valor incrível, com pessoas muito preparadas e isso era a fórmula para o sucesso. E eu meio que fui, junto com o Igor (Botelho, cofundador da Mandalah), e sem olhar para trás.
E há o momento também, não? Como a crise de 2008 influenciou a trajetória da Mandalah?
Diria que acelerou o processo de amadurecimento da empresa. Uma crise abre espaço para reflexões, e nessas reflexões você passa a ficar mais predisposto a uma visão mais sistêmica, mais humana, o que condiz com o que a Mandalah tem a oferecer. Mas a gente começou em 2006, antes de um contexto de crise global, numa época em que tudo o que a gente falava era apenas bonito.
Tenho muito a lembrança de ser visto como um moleque, recém-chegado dos Estados Unidos, que quer mudar o Brasil e ganha uns tapinhas nas costas
Eu sentia que estava propondo algo legal, mas que aqueles caras não compactuariam comigo. E eu era mesmo um moleque. Mudei muito mais do que a Mandalah nesses 10 anos. E mudei muito em função da Mandalah. A empresa me puxou para uma busca pessoal de proporções incomensuráveis. Ela tem a sua própria áurea, representa um ideal e, por isso, te puxa a uma busca por coerência, por aquilo que você representa, te faz correr atrás. Sempre enxerguei o reconhecimento da Mandalah como um chamado. Peraí, ela está sendo reconhecida? E eu? Como está o meu trabalho? Quão aterrado estou? Quanto eu me conheço? Quão coerente sou com esses princípios que estou acelerando no mercado? É uma jornada muito interessante, pessoalmente falando.
Como você vê o ano de 2016, no contexto econômico do Brasil e do mundo?
Tenho mixed feelings em relação a este momento e a esta terminologia que a gente está se viciando em usar. É preciso ter um certo cuidado, porque crise, escassez, são modelos mentais. Todo mundo diz que o Brasil está em crise. Não acho. O Brasil esteve em crise, sabe quando? Quando saiu na capa da revista The Economist com o Corcovado decolando, quando ganhou a sede das Olimpíadas, quando ganhou a sede da Copa do Mundo, quando recebeu grau de investimento das três principais agências. Digo isso porque crise é você viver na ilusão.
Crise é surfar uma onda que não existe. O que estamos vivendo agora é uma verdade, uma realidade. Há que se celebrar esse momento
É o momento mais verdadeiro da história moderna do nosso país. Que assim seja! Um momento de limpeza, de purga, e de passagem, mas pelo menos estamos saindo do campo da ilusão e isto não pode passar batido. Então a crise não é bem uma crise. Estamos vivendo as coisas tais como elas são de verdade. É isso. Marqueteiros políticos presos? Isso é verdadeiro. Empresários presos? Verdadeiro. Ex-lideranças do Executivo sendo investigadas? Verdadeiro. Tudo que está acontecendo agora é verdadeiro, independente de quão crível seja a cúpula prestes a chegar no poder. A gente tem que honrar esse processo, tem que celebrá-lo, saber que é bom para o nosso futuro. E digo “bom” numa visão de médio e longo prazo, porque o rito de passagem em si, a limpeza em curso, a paralisia da economia, o desespero de quem não trabalha e a fuga de talentos do nosso país, é realmente bem complicado e doloroso de se testemunhar.
Temos que pensar que isso é uma evolução então?
A gente está evoluindo. Quando que na história desse país discutiu-se tanto ética? Na escola, no trabalho, na imprensa, na rua, no boteco? Só se fala de ética, mesmo que num contexto de escassez. Como a gente pode achar que isso é crise? Isso é a nossa libertação. São momentos que retrospectivamente vamos olhar como os anos dourados do nosso país, por termos despertado a nossa consciência coletiva enquanto nação. É claro que em termos de PIB, investimentos, desemprego e inflação, a situação está deprimente. Mas é o nosso sacrifício para os que virão na sequência. E lembremos que a história desse país se conta muito além de um período de resultados macroeconômicos ruins. Ela se conta através de períodos longos, gerações sucessivas e prosperidade no sentido mais amplo da palavra.
E na Mandalah, como vocês passaram o último ano?
A Mandalah tem um tamanho que a deixa menos suscetível a flutuações de mercado, então não é porque há uma recessão que precisamos demitir. Outro ponto é que nosso trabalho vem justamente tentar libertar essas empresas de amarras que não permitem que elas olhem para coisas de longo prazo, então faria sentido a gente ter uma correlação positiva num momento de recessão.
Não à tôa, 2015 foi o melhor ano da história da Mandalah. Isso porque aqui dentro a gente se compactuou e mantivemos uma postura muito positiva. Tivemos cuidado para a nossa energia não se dissipar em coisas não prioritárias. A gente falava, verbalizava, coisas positivas. E tivemos um ano muito próspero, não só financeiramente. A cultura interna da Mandalah nunca foi melhor, a integração das pessoas, o trabalho em equipe. Isso de crise ou não crise é um state of mind.
É importante a gente se dar conta da responsabilidade que temos toda vez que nos posicionamos em relação à crise. As palavras que usamos, a postura que temos
Então, se o contexto está mais difícil lá fora, isso não precisa nos contaminar. Por outro lado, é mais um chamado para a gente se posicionar. É hora de manter a cabeça erguida, o olho desperto, a mente presente, o pé no chão, e parar de ficar no mimimi, que isso é energia desperdiçada.
Quais são, então, os projetos mais bacanas que vocês estão fazendo?
Respeitando a confidencialidade, posso falar de alguns deles. Um tem a ver com endereçar a problemática do saneamento básico no Brasil. Vamos conectar o propósito de uma marca, da Kimberly-Clark, com esse assunto a partir de uma missão social que co-criamos com eles. Outro projeto é global, para uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo, e tem a ver com usar a tecnologia como ferramenta de empoderamento feminino. Uma plataforma, peer-to-peer entre mulheres.
Outro é um projeto para a C&A, com implicações de longo prazo para a empresa, mas não posso falar mais neste momento. É mudança de paradigma. Há ainda outro, no Hospital Oswaldo Cruz. Há anos a gente queria e não conseguia entrar na área de saúde. Lá, estamos fazendo um trabalho de comunicação importantíssimo. Temos também o projeto com a Mars, do universo de pet care.
A Mandalah tem dois cases clássicos, o de mobilidade na GM e o de esporte em comunidades do Rio para a Nike. O tempo passou e fica a pergunta: algo mudou nessas empresas? Ficou um legado real?
Não dá para julgar legado de acordo com o nosso nível de consciência hoje, em 2016. Mas dá para julgar de acordo com onde estávamos quando esses projetos foram entregues, em 2010. Nesse sentido, se você falar com qualquer grande liderança da GM na Ásia, na América Latina, nos Estados Unidos, onde durante anos a gente desenvolveu uma série de projetos, todos vão referenciar a Mandalah como uma consultoria que ajudou a migrar de um paradigma de motores para um paradigma de mobilidade. Talvez só isso já valha.
Na Nike também. Depois daquele projeto, em 2014 a gente ajuda a reposicionar a área de sustentabilidade global deles, chamada Better World, uma vez que sustentabilidade passou a ficar dentro do guarda-chuva de inovação. Agora, toda inovação passa pelo filtro da sustentabilidade. Foi um projeto envolvendo Japão, Inglaterra, Estados Unidos, Brasil e China. É algo bem simbólico.
Quais são os desafios agora? Que pontos você busca alcançar?
Vou te falar… (nesse momento, as maritacas da vizinhança começam a fazer uma algazarra) Estamos muito focados no impacto do que fazemos. Mudou o tipo de demanda que está vindo para nós. Finalmente, estão entendendo a que veio a Mandalah. Estão simplesmente mandando a gente fazer! Estamos num ponto em que a gente tem só que agradecer e ralar. Hoje já somos recebidos de outra forma no mercado. As prospecções estão fluindo melhor, são menos dolorosas, menos demoradas. Temos menos um trabalho de convencimento e mais um trabalho de expor coisas já feitas. A gente está saindo da adolescência. A Mandalah está virando gente grande e por isso que eu saí, em janeiro, da gestão do dia a dia da empresa.
E como é deixar de ser o principal líder da empresa que fundou?
É tudo uma coisa só. Percebi que eu precisava redefinir meu papel, não só no contexto da Mandalah mas enquanto profissional. Estou há 15 anos fazendo consultoria e acredito que minha vida se fará a partir de outras histórias também, não só essa. Sinto que tenho outras sementes para plantar, outras missões para cumprir. E hoje existe uma equipe super engajada, com gás, e que está levando maravilhosamente bem. Há dois anos estou preparando essa passada de bastão. Nos últimos cinco projetos que fechamos eu não participei da prospecção nem tive contato com o cliente. Isso porque a Mandalah ganhou corpo próprio. Sempre batalhei por isso. A percepção de que eu era a empresa é equivocada. Os resultados são gerados por causa de uma equipe.
O papel do líder é também inspirar, validar a cultura, apontar a direção. O quanto disso você ainda faz?
Ainda tenho o prazer e o papel de despertar nas pessoas que trabalham comigo esse senso de superação dos seus próprios limites, do seu próprio potencial. Cutucar, amorosamente, as pessoas a respeito dos recursos culturais, sociais e intelectuais que acumulamos por termos uma vida privilegiada no Brasil. Esse é um fato.
Estudamos em escolas boas, temos boas estruturas familiares, conhecemos lugares inspiradores, absorvemos cultura, viajamos o mundo. Isso tudo é oportunidade, são grandes privilégios. Estamos fazendo jus a isso?
Como canalizar isso? É engraçado como a Mandalah transforma as pessoas que passam por aqui, e sou um exemplo vivo disso. A partir de 2012, quando recebi o reconhecimento em nome da empresa, na Fast Company, isso foi puxando cada um de nós para sermos mais e melhores. Hoje chegamos a um lugar. Estou mais feliz comigo mesmo hoje que em 2012, mas percebo que essa história já não é minha tanto quanto já foi. Há nove anos vivo em função da Mandalah e vejo que preciso abrir espaço na minha própria vida, para que outras coisas aconteçam. Ao tomar a decisão de sair da gestão e atuar apenas nos projetos, abro espaço para outras pessoas preencheram e contarem a história da Mandalah de agora em diante. Estou no meio desse processo. Não poderia estar mais grato.
A Flag tem 5% da Mandalah. Por que você vendeu essa fração da empresa?
Por um motivo que infelizmente não se materializou. A gente ia se juntar numa nova sede, queríamos que as pessoas se misturassem. Um problema na fase de desenho de projeto e também o momento de mercado acabaram não permitindo que a Flag procedesse com o plano. Não fizemos a mudança, mas minha relação com o (Roberto) Martini transcende a das empresas. A gente compactua muito. Estamos muito próximos em diversas frentes, já viajamos para tantos países juntos, já fomos pra Davos, México, Estados Unidos, já fizemos o projeto com o Kobe Bryant juntos, o projeto com o Russel Brand, estamos fazendo um projeto agora com uma gigante da América Latina…
No Brasil há uma certa mitificação do empreendedorismo, como se fosse a única opção de realização. Isso é benéfico ou prejudicial?
Será que é algo restrito ao Brasil? Nos EUA existe uma glorificação do empreendedor, ainda mais no Vale do Silício. Mas não sei se é bom ou ruim.
Qualquer ímpeto para empreender tem de estar aterrado em realidade. Se você está empreendendo dentro de uma visão ilusória, vai se dar mal
Mas é legal estimular nas pessoas um pouco da iniciativa própria, pois a gente é muito complacente, no Brasil. O jovem sai meio acomodado e conformista das faculdades, pois elas não dão esse empurrão para mudar o mundo, para se apropriar do mundo, da comunidade. As instituições brasileiras de modo geral, família, governo e escolas, precisam amparar um pouco mais esses jovens, para terem mais sucesso nessas iniciativas.
Se você tivesse um milhão de dólares para investir, em que investiria?
Talvez seja algo muito específico, mas no pessoal da Polifonia. Investiria nesse formato que está suprindo a lacuna das escolas e das faculdades, pois fomenta nas pessoas o protagonismo criativo. Uma criatividade que muda conceitos, trazendo aptidões multidisciplinares voltadas à prática e não à teoria, e também ampliando o leque de alunos para pessoas de diferentes idades, diferentes classes sociais, diferentes regiões do Brasil. Isso cria um contexto de aprendizagem mais real, menos bolha, e capacita pessoas para saírem de lá verdadeiramente aptos a deixar um marco, fazer alguma coisa importante.
Se pudesse dar três dicas de administração para um jovem empreendedor, quais seriam?
(pensativo) Estude. Viaje. Divirta-se.
Agora falando em rotina, como é um dia típico seu?
Por muitos anos, de manhã até a noite, eu tinha coisas para fazer, pessoas para ver, vivia em hotéis, aeroportos, reuniões pelo mundo. Agora estou abrindo brechas e deixando o universo sinalizar. Sigo nos projetos da Mandalah e em coisas, como a HED, que estou tocando, e há também uma volta às minhas raízes familiares. Meus pais são diplomatas, acabaram de se aposentar e estão ao Brasil depois de 20 anos. Eles moram no Rio, então estou com uma residência lá. Para eles também é interessante, porque estão aposentados, é um momento existencial complicado. Eu ser solteiro, não ter filhos e poder ficar mais presente é muito legal. É um processo importante e estou nele.
Conta mais sobre a HED, o que é?
São experiências imersivas que facilitam que você se conecte com a sua essência. Um delas são as baladas matinais, as festas Wake, com yoga, dança e comida saudável, e que terminam às 9h30, quando o dia começa. A festa é feita por doações desinteressadas, então não tem energia monetária, é para todo mundo se enxergar na mudança e pensar em como vamos viver nossas vidas nas grandes cidades. A HED é sobre criar contextos verdadeiros, experiências humanas, para você sair mexido, inquieto.
Você sempre acha um espaço para meditação. Em que medida isso o ajudou?
Foi a minha salvação. Encontrar formas de aquietar minha mente e me encontrar no vazio, fico emocionado em constatar que consegui me desprender do meu eu ansioso, atropelado, hiperativo… Eu era isso. De certa forma, talvez isso tenha tido um papel nos primeiros anos da Mandalah, pois quando as coisas eram colocadas na minha frente, nada me tirava do meu caminho. Hoje realmente já sinto uma certa tranquilidade, especialmente em momentos adversos. Antigamente uma notícia ruim me levava a um lugar sufocante. Hoje consigo perceber um pouco os movimentos energéticos e me resguardar um pouco.
Meditação é para todos?
Meditação é uma forma de se silenciar. Pode ser correr no parque, tocar piano, cozinhar, ver um bom filme. Cada um à sua maneira, mas é importante se observar e observar o contexto. Para isso acontecer é importante ficar em silêncio, contemplar a vida e a sua existência nela.
Meditação é uma prática, portanto tem que ser recorrente. É como escovar os dentes, ir na academia
Ela é talvez a coisa mais escalável do mundo, porque você não depende de ninguém, é de graça, você só depende da sua mente.
Como você se projeta daqui a 10 anos?
Não consigo. Tudo que tenho feito de busca, de autoconhecimento, tem me ensinado a não desperdiçar energia em projeções de futuro, que são ilusórias. Só quero saber como fazer jus ao milagre de estar vivo aqui e agora. Estou com 36 anos e tenho muito o que aprender ainda. Também entendo que o tempo é curto, no sentido macro, e tudo que recebi dessa vida, e da Mandalah, vem com uma responsabilidade de devolução.
Como transformar gratidão em ação?
Tem uma frase, uma música do Chandra (Lacombe, líder espiritual), que diz: “é dando que se recebe”. Esse conceito de reciprocidade a gente coloca em cada ação, entendendo que a vida é resultado de tudo que a gente sempre recebeu e sempre deu. No fim, tudo se equaciona. Existe um conceito na tradição xamânica, o ayni, que é de reciprocidade, diz que todos os fluxos energéticos do mundo são uma reverberação uns dos outros.
Haja consciência.
Claro, e essa consciência é o que estou buscando, todos esses anos. Sou aprendiz dessa jornada. Sei que tenho um estilo de vida no qual estou aprendendo, mas também sei que estou canalizando os recursos que acumulei ao longo da minha vida para ser útil para o mundo, ser útil para o Brasil. Toda a minha história de vida – nasci em Nova York, vivi no Uruguai, no Canadá, morei na Holanda, em Philadelphia, em Boston – aconteceu por causa do Brasil, foi o que o governo brasileiro me proveu, pela carreira de diplomata dos meus pais. Cadê o ayni nessa história? O que eu trago para o Brasil? A Mandalah é uma parte disso, sim. Mas será que existe uma outra forma de eu atuar dentro desse contexto político, do país? Não sei, estou investigando. E não é uma devolução pelo que recebi, não é porque me sinta devedor. É porque essa é a nossa condição natural, e a gente se esquece disso, mas nossa única condição próspera e sustentável é a gente se enxergar no outro e servir ao outro.
Como você imagina que as pessoas vão se lembrar de você?
(pensativo) Fez valer. Passou por aqui e fez valer. Acho que é isso.
Entre a morte da mãe e o nascimento da filha, Eduardo Freire vivia um momento delicado quando empreendeu a consultoria FWK. Ele conta como superou os percalços e consolidou sua empresa mergulhando no ecossistema de inovação.
Bruna Ferreira trilhava uma carreira no setor financeiro, mas decidiu seguir sua inquietação e se juntou a uma amiga para administrar um salão de beleza. Numa nova guinada, ela se descobriu como consultora e hoje ajuda empresas a crescer.
Filha de missionários, a colombiana Lina Maria Useche Kempf veio viver em Curitiba aos 12 anos. Ela conta como cofundou a Aliança Empreendedora para impulsionar a prosperidade por meio do estímulo a microempreendedores de baixa renda.