por Dagomir Marquezi
Há 20 anos combato os dragões do tecno-pessimismo. Comecei em 1997 numa coluna para a revista Info, e quando ela infelizmente foi extinta, passei para a VIP (ambas da editora Abril). Juntei o material dessas duas décadas num livro, digital como minha alma.
Nesses 20 anos defendi (meio que inconscientemente) uma tese: a de que o avanço da tecnologia só nos fez bem. Eu sou o anti-Black Mirror. Cansei de ver alertas e previsões apocalípticas apontando nossa “desumanização” como decorrência do avanço tecnológico. Como um ghostbuster, enfrentei uma legião de fantasmas regressistas: “as pessoas estão perdendo suas vidas com celulares.” “Um livro de papel ensina mais que o mesmo livro em formato digital.” “As redes sociais vão acabar com o contato humano.” “Crianças expostas a videogames se tornam assassinos.” “A internet destruiu o jornalismo.” Etc, etc, etc.
Culpar a tecnologia pelos nossos males é como culpar as armas pelas mortes que provocamos
O progresso provoca vertigens e medo. E isso não é nenhuma novidade. Os luditas quebravam máquinas na Inglaterra há 200 anos tentando brecar a Revolução Industrial. Vivemos hoje coletivamente o mito de Prometeu. Conquistamos o fogo do imenso poder proporcionado pela combinação digitalização+internet. Mas todos os dias uma águia “humanista” vem nos comer o fígado com a mesma visão nostálgica do mundo.
Eu sei que organizações extremistas usam redes sociais para arregimentar psicopatas em escala global. Eu sei que tem adolescente sem dormir, sem comer e sem tomar banho há quatro dias jogando algum game violento sem conseguir parar. Eu sei que hackers malandros invadem contas e roubam dinheiro de inocentes. Mas esses casos minoritários justificam a pregação analógica?
Fui otimista durante os 20 anos em que escrevi as colunas reunidas em Alma Digital. E a cada dia vejo que tinha razão nesse otimismo. Nenhuma das grandes previsões pessimistas se realizou. (Alguém se lembra do bug do milênio?) Infelizmente a Info não existe mais para que eu possa narrar em suas páginas a próxima etapa: a era dos robôs. Eles são o próximo alvo das patrulhas da marcha-a-ré. “Robôs vão roubar nossos empregos.” “Robôs são perigosos e poderão controlar a Terra.”
É aquela história: multidões são atropeladas no trânsito todos os anos e ninguém liga muito. Mas basta que o carro-robô da Google dê uma batidinha num poste para que vire notícia e pessoas alertem para os perigos que a tecnologia traz.
Não sou um profeta para julgar se num futuro próximo os humanos serão escravizados e exterminados pelos robôs de uma corporação chamada Cyberdyne como na série Exterminador do Futuro. Ninguém garante que isso não vá acontecer. Posso parecer aquele sujeito da manjada piada que pulou do vigésimo andar e quando chegou à altura do terceiro pensou: “até aqui, tudo bem”.
O que eu posso dizer é que, pela minha idade, vivi plenamente a era analógica. Redigi centenas de páginas em máquinas de escrever, já tive que destravar fita cassete com caneta Bic, já lambi selo, já mandei telegrama, já limpei vinil com o cotovelo. Não tenho saudade de nada disso. Minha alma se adaptou a esse ritmo veloz e a essa overdose diária de informação e cultura. Era o sonho que eu tinha quando não ainda haviam computadores.
Foram 20 anos de alegrias. A tristeza vinha exatamente quando o desktop quebrava e eu tinha que ir atrás de técnico (um ritual patético descrito num dos capítulos do livro). Estou otimista como sempre e ansioso pelos próximos 20. Pronto para implantar gadgets no meu corpo e virar um ciborgue.
Dagomir Marquezi, 64, vive de escrever. Já trabalhou com algumas das principais publicações brasileiras. Roteirista de cinema, TV e animação. Autor de teatro, ganhou o principal prêmio de dramaturgia do país (Funarte 2004). Escreve sobre tecnologia há 20 anos. É autor de sete livros auto-publicados na plataforma Kindle/Amazon, dois deles para o mercado internacional.
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