Melius vem do latim e quer dizer “melhor”. Daí veio o nome da startup fundada pelo economista mineiro Israel Salmen, 28, com seu amigo de faculdade Ofli Guimarães, 31. Considerado um dos principais programas de recompensa do mercado, o Méliuz foi lançado em 2011. É um programa de fidelidade que, em vez usar o sistema de pontos, devolve aos usuários o benefício em dinheiro.
Funciona assim: o site do Méliuz disponibiliza cupons de desconto de diversas lojas online, como Netshoes, Walmart e Submarino. Se o usuário usa o cupom e faz a compra, recebe parte do valor gasto de volta em sua conta bancária, enquanto a Méliuz fica com uma comissão (sua fonte de receita). Esse estorno é o chamado cashback (“devolução de dinheiro”) e varia caso a caso, dependendo do que é acordado com cada parceiro. Começa em 2%, há ofertas com 10% ou 20% mas, em algumas ocasiões, pode chegar a 80% do valor da compra. Sim, você adquire um produto e depois recebe boa parte do que gastou de volta.
À primeira vista, parece ilógico um e-commerce ter alguma vantagem pagando uma taxa para anunciar descontos e devolvendo parte do valor da compra ao comprador. Mas o dinheiro “perdido” na ação é justificável pelo volume de transações realizadas, e pela economia gerada com outras estratégias de marketing.
Israel conta que, por exemplo, uma loja online pode deixar de investir em mídia digital (banners e vídeos de anúncios em portais) para oferecer seus produtos na Méliuz. Para a loja não há diferença, pois o dinheiro já seria usado, de qualquer maneira, para aumentar as vendas.
As vantagens para o cliente são evidentes. Para o Méliuz, também. Após seis anos de operação, atualmente o site tem mais de 1 000 e-commerces parceiros, espalhados em diversos setores: moda, beleza, turismo, eletrônicos, eletrodomésticos, alimentação, serviços digitais etc. O ano passado foi o melhor da história da startup, que recebeu os prêmios de “Startup do Ano” e “Melhor equipe fundadora”, no Startup Awards durante a CASE 2016.
O PRIMEIRO NEGÓCIO FOI ENGOLIDO PELA TECNOLOGIA
Israel nasceu em Governador Valadares, interior de Minas Gerais. Super jovem, começou a arriscar os primeiros passos como empreendedor. Aos 13, desenvolvia sites com as tecnologias mais modernas que existiam na época. “Aprendi tudo sozinho, fuçando em fóruns e participando de comunidades na internet”, diz. Aos 14, desenvolvia sites sob encomenda para os comerciantes e músicos da cidade, criava logos, escrevia os textos e fazia toda a diagramação. “O que eu mais gostava era o reconhecimento de quem comprava. O prestígio que eu recebia me deixava feliz.”
Aos 15, juntou-se com um de seus primos mais velhos e lançou a Galeria Gospel, uma plataforma digital que disponibilizava downloads gratuitos de fotos em cultos e eventos religiosos. “Minha família é evangélica e desde criança frequento a igreja. Um dia, percebi que ninguém fotografava profissionalmente esses encontros. Então, resolvi lançar o projeto, como aqueles portais que cobriam baladas, só que para eventos religiosos”, conta Israel.
Enquanto cuidava da estruturação do site, seu primo era responsável pela área comercial. Eles rentabilizavam o negócio por meio de anúncios de pequenas empresas. As fotografias eram tiradas por amadores ou freelancers, que aceitavam o trabalho em troca de visibilidade ou acesso aos eventos. Em um ano, a Galeria Gospel já estava em quatro cidades: Governador Valadares, Belo Horizonte, Guarapari (ES) e João Pessoa. Quando completou 17 anos, Israel teve de se mudar com a família para a capital mineira e o negócio morreu. De qualquer modo, já não sobreviveria muito. “As redes sociais e os smartphones começaram a ficar populares e ninguém mais precisava da gente para fotografar”, diz.
NOVOS HORIZONTES E UMA NOVA IDEIA
Já adaptado a Belo Horizonte, o jovem empreendedor decidiu estudar Economia na UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. Foi lá, ainda na primeira semana de aula, que conheceu seu futuro sócio na Méliuz, Ofli. Israel conta que estava começando a se interessar pelo mercado financeiro. “Queria entender como funcionava a bolsa de valores e como fazer investimentos em ações. Um dia, o Ofli viu que eu estava lendo umas apostilas sobre o assunto e me contou que não só investia, como já havia ganhado dinheiro e comprado o primeiro carro”, diz.
Meses depois, a amizade também se tornou uma sociedade e os dois abriram uma gestora de investimentos. Israel permaneceu em Belo Horizonte. Ofli mudou-se para São Paulo, trocou o Economia por Direito e saiu à procura de grandes clientes para a empresa. “No começo foi bem difícil. Eu tinha 19 anos e zero experiência em vendas. Não era fácil convencer um cara rico a investir numa empresa de dois moleques sem barba, sem um terno bem cortado e sem experiência”, conta ele. Depois de três anos, eles já tinham conseguido alguns milhões sob gestão. Mas, apesar do êxito, havia uma insatisfação pessoal, diz Olif:
“O mercado financeiro é muito cruel. Eu tinha sempre tem a sensação de que alguém estava perdendo. Isso não me fazia bem”
Quando se formaram na faculdade, decidiram vender a empresa para um grupo de São Paulo. “Foi uma venda que deu um respiro, mas poucos meses para decidirmos o que fazer da vida. Era bem frustrante. Nossos amigos de faculdade estavam entrando em empresas grandes e nós dando o primeiro passo de novo”, diz Ofli.
Era início de 2011. Buscar emprego – sem nunca sequer ter feito um estágio – não parecia a melhor opção. A dupla começou a por no papel algumas ideias que tinham. E foi com base numa frustração pessoal que os sócios começaram a modelar o conceito do novo negócio.
Algo que fosse “melhor” do que apostar e ganhar enquanto outros perdem no mercado financeiro. Que fosse “melhor” também porque fazia que todos os lados pudessem sair ganhando. Juntos, eles acharam a oportunidade a partir de um problema cotidiano. “Usávamos diversos programas de fidelidade. E estávamos frustrados, porque demorava muito para juntar pontos e trocar por algo, na maioria das vezes, inútil. Então, decidimos pensar em um sistema que devolvesse dinheiro de verdade para os clientes”, conta ele. Daí veio a ideia de atuar no ramos dos programas de fidelidade, com o diferencial do cashback. O conceito estava pronto, e eles tinham acesso relativamente fácil a investidores. Tudo, enfim, parecia melhor.
RECEBER INVESTIMENTO PODE SER UMA FURADA
Antes mesmo de lançarem a plataforma, eles conseguiriam um investimento-anjo de 400 mil reais, com um antigo cliente da gestora financeira. Mas, a experiência não foi boa, diz Ofli:
“Não adianta ter investimento e não saber como usá-lo. A gente não sabia nada sobre o mercado que estávamos entrando. Eu nem sabia o que era startup”
A primeira versão do site foi lançada em setembro de 2011. Nos seis primeiros meses de atividade, além do sistema de cashback, a ferramenta fazia um comparativo de preços entre as lojas parcerias. Porém, segundo Israel, a conta não fechava: “A gente faturava pouco e tinha um gasto muito alto. Quanto mais soluções tecnológicas implementássemos ali, mais trabalho teríamos. Decidimos focar somente no serviço de cashback”.
A fim de aprimorar os conhecimentos, já em 2012, a dupla decidiu participar de algum processo de aceleração e mentoria. Eles se inscreveram no Startup Chile, passaram, e em outubro daquele ano mudaram-se para Santiago. Ali, nos meses seguintes, trabalharam num coworking com mais 150 pessoas. Mas, daquela vez, diz Israel, foi diferente: “Recebemos o equivalente a 80 mil reais e focamos 200% no negócio. Descobrimos que, com a estratégia certa, não precisa de muito dinheiro para evoluir”.
Ele não revela o faturamento da Méliuz, mas gosta de dizer que já foram devolvidos mais de 23 milhões de reais para os clientes — 15 milhões de reais somente em 2016. Também chama a atenção a quantia total movimentada com as vendas na plataforma, usando a ferramenta de desconto e cashback que eles criaram.
No primeiro ano de operação, em 2012, a plataforma movimentou 700 mil reais em vendas. No ano seguinte, um salto para 30 milhões de reais. Em 2014, 160 milhões de reais, no ano seguinte o dobro: 320 milhões de reais. Por fim, em 2016, foram espantosos 1 bilhão de reais. Tudo em vendas online, com desconto e cashback para quem comprou.
É visível que 2016 não foi nada mau para a Méliuz. Além de quase triplicar o volume movimentado, a startup colecionou também alguns marcos importantes. Ainda no início de 2016, Israel e Ofli foram convidados para integrar o time de empreendedores Endeavor. Ao longo do ano, o quadro de funcionários quadruplicou (chegou a 75, divididos em dois escritórios: um em Belo Horizonte e outro em Manaus).
A Méliuz — que já havia recebido investimentos-anjo de gente como francês Fabrice Grinda, fundador da OLX, e o brasileiro Julio Vasconcellos, fundador do Peixe Urbano — negociou o primeiro aporte “Série A” com fundos brasileiros e internacionais. Por razões contratuais, o valor é mantido em sigilo. Apesar das conquistas, Israel diz manter os pés no chão e o foco no bem-estar do negócio:
“Não estamos construindo algo para, simplesmente, ganhar dinheiro. Amo o que faço e me vejo trabalhando com isso nos próximos 40 anos”
Ele prossegue: “Se eu conseguir manter a cultura e o progresso do time, com certeza, serei feliz”. E o trabalho continua. Recentemente, a Méliuz começou a oferecer o benefício do cashback também em lojas físicas. Neste caso, o foco é atuar em redes de supermercado. “Este é um caminho para aumentar a quantidade de vezes que o usuário utiliza o nosso serviço. Afinal, as pessoas precisam comprar comida e produtos de uso pessoal quase toda semana”, diz Israel. E segue, buscando honrar o “melhor” negócio que está disposto a criar.
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