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Como a Escola Convexo aposta no empreendedorismo social para desenvolver lideranças: e dá certo

Luana Dalmolin - 19 nov 2015 Onília e Bruno, da Escola Convexo.
Onília e Bruno, da Escola Convexo.
Luana Dalmolin - 19 nov 2015
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No final de outubro, uma cooperativa de mulheres da comunidade Chapéu do Sol, localizada no bairro Belém Novo, na zona rural de Porto Alegre, lançou a primeira leva de azeites aromatizados criados em parceria com um restaurante local, o Mantra, e com estudantes da escola pública Nehyta Ramos, no espaço ConvexoLab, que funciona dentro da unidade escolar. O produto já conta com uma rede de distribuição que envolve mais de 25 restaurantes. E é só o começo. Outros negócios estão sendo desenvolvidos pela cooperativa, um deles voltado à confecção de colares têxteis e outro para produção de trufas de chocolate. Todos eles contam com apoio e a parceria de comerciantes da região e são fruto do encontro com a Escola Convexo.

Mas, para entender essa história é preciso voltar no tempo. Em 2013, a escola Nehyta Ramos,que funciona na comunidade Chapéu do Sol, participou de um projeto-piloto do que viria a ser a Escola Convexo, um negócio social criado para melhorar os índices de educação e gerar renda em comunidades pobres a partir da lógica do empreendedorismo. Na época, a proposta era reativar uma horta escolar, demanda apontada pelos próprios alunos como uma prioridade. De lá até agora, o negócio amadureceu e expandiu sua área de atuação para além do Chapéu do Sol: foram criados mais dois laboratórios da Convexo, o Lab Vila Flores, que funciona na zona central da cidade, e o Lab São Leopoldo, que fica na região metropolitana de Porto Alegre. No total, atendem cerca de 80 alunos.

A ARTE DE TRANSFORMAR PROBLEMAS EM OPORTUNIDADES

A metodologia da Convexo parte da identificação de um problema local, que é visto como uma oportunidade para desenvolver soluções sustentáveis para a comunidade. Foi assim que surgiu a cooperativa de mulheres Chapéu do Sol, por exemplo. Os alunos da Nehyta Ramos, que têm entre 7 e 17 anos, realizaram uma série de entrevistas com suas mães, irmãs, tias e avós, mulheres que em sua maioria são chefes de família, cuidam de crianças pequenas, e sofrem com a falta de vagas nas creches da região. A partir da elaboração de um censo, ficou claro que a prioridade por ali era a criação de um projeto de geração de renda para essas mulheres. Daí, nasceu a cooperativa. Hoje, do total das vendas dessa cooperativa, 10% vai para a manutenção dos labs da Escola Convexo.

Os estudantes participam de oficinas três vezes na semana, sempre no contraturno escolar. Todo projeto desenvolvido por eles parte de um diagnóstico da realidade local, e a partir daí os professores, ou facilitadores contratados pela Convexo trabalham conteúdos curriculares de Português e Matemática desenvolvendo competências de Comunicação e Lógica. Tudo isso tendo o empreendedorismo como espinha dorsal. “Nosso ciclo educacional tem duração semestral e é composto de quatro movimentos que vão desde o mapeamento das necessidades até a formalização de negócios dentro da comunidade em que estamos inseridos”, conta Bruno Bittencourt, 25, co-fundador da Escola Convexo.

Alunos da Neyta Ramos, num dos projetos da Convexo: todos partem de problemas da comunidade e tratam de criar soluções via empreendedorismo.

Alunos da Nehyta Ramos, num dos projetos da Convexo: todos partem de problemas da comunidade e tratam de criar soluções via empreendedorismo.

Bruno e Onília Araújo, a idealizadora da Convexo, se conheceram em um programa de empreendedorismo da UFRGS. Tanto um quanto outra já eram empreendedores antes de embarcar no novo negócio, mas nenhum deles tinha ligação direta com a área da Educação. Bruno, hoje mestrando em Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade na UFRGS, era sócio de uma agência de marketing, a Klavo, e Onília, estudante de psicologia, é dona de uma empresa de contabilidade, a I.CON Inovação Contábil. Para promover uma real transformação social, eles entenderam que investir na educação seria o ponto-chave.

A história de Onília é prova disso. Filha mais nova de uma família pobre de sete irmãos, ela foi a única a ingressar em uma universidade. Ela conta que o estalo para apostar na ideia da Convexo aconteceu em 2013 quando sua mãe e sua grande companheira ficou gravemente doente e faleceu:

“Minha mãe sempre procurou ajudar quem precisava. De repente, me dei conta de que eu já tinha a minha empresa, era bem-sucedida, mas não estava fazendo nada além de cuidar do meu negócio”

Ela diz que não queria fazer parte de uma ação assistencialista, de uma solução pontual: “Queria abrir caminhos para que as pessoas pudessem trilhar suas próprias histórias de sucesso”.

Desde o início, o objetivo da Convexo era desenvolver uma tecnologia social que tivesse a resolução de problemas da comunidade como base para o aprendizado. E isso só seria viável com o envolvimento de todos: estudantes, professores, famílias e — mais adiante eles veriam — empresas. Por isso, a ideia inicial do modelo de negócio estava centralizada na figura dos mentores, pessoas de realidades e formações diferentes que, a partir de uma contribuição simbólica de 10 reais, se integrariam ao negócio para contribuir com ideias e trocar experiências, inspirando assim os alunos e ajudando a criar novos projetos para a comunidade.

Apesar de terem conseguido trazer para perto um grupo de mentores voluntários — hoje pouco mais de cem pessoas exercem este papel e recebem todo mês um report do que foi desenvolvido em cada uma das aulas com depoimentos dos alunos —, eles perceberam que isso não seria suficiente para manter o negócio.

“Sonhei o modelo ideal em que todas as pessoas interessadas em fazer a diferença se juntariam à Convexo. No primeiro ano, não conseguimos um número suficiente de mentores. As pessoas não estavam preparadas para o modelo”, conta Onília. Foi aí que ela tomou a decisão de fazer um novo aporte no projeto, valor de 100 mil reais, além dos 20 mil iniciais — usados para a elaboração do plano de negócio e divulgação da Escola, que contou com a presença do educador José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, em junho de 2013. Era preciso mostrar na prática que a metodologia traria resultados. Foi assim, em 2014, foi inaugurado o primeiro ConexoLab na escola Nehyta Ramos.

O DIFÍCIL PERCURSO ATÉ COMPROVAR A EFICÁCIA DO MODELO DE NEGÓCIO

Para Onília e Bruno, se 2014 foi o ano de modelar o negócio e testar a metodologia, 2015 foi o ano do amadurecimento e de ampliar as fontes de renda do negócio. Pela primeira vez, a Escola Convexo foi bater na porta das empresas com o curso “Eu: Ecossistema Único”, que estende a tecnologia social desenvolvida dentro das escolas para as empresas, com o objetivo de desenvolver competências pessoais e de equipe, a partir da troca desses dois mundos.

Alunos e mentores (ao todo há mais de 100 na Convexo) na escola Nehyta Ramos.

Alunos e mentores (ao todo há mais de 100 na Convexo) na escola Nehyta Ramos.

Foi assim que nasceu o terceiro lab, que funciona em uma escola municipal na cidade de São Leopoldo (RS). Seis executivos da empresa multinacional alemã Gedore, que fica ao lado da escola, participam hoje do curso. Dessa parceria, inclusive, vem a maior parte da receita do projeto. Para o próximo ano, a ideia é propor um modelo mais sustentável e contínuo, como explica Onília: “Queremos um lab patrocinado em que o contrato preveja que 20% da verba seja destinada a melhorias da escola pública, deixando um legado”.

Já o segundo lab, que começou a funcionar em agosto deste ano no bairro Floresta, zona central de Porto Alegre, conta com outra forma de financiamento. O negócio, que funciona dentro de um espaço cultural, conta com a participação de alunos de escolas públicas e privadas, sendo que esses últimos, cerca de 13 jovens, pagam uma mensalidade de 200 reais por mês.

“Ali é um território com muita discrepância social, uma espécie de Morumbi de Porto Alegre”, afirma Bruno, fazendo um paralelo com o bairro paulistano em que casas de luxo estão bem perto de favelas. “A questão comum a todos é a violência urbana, e por consequência a segurança pública. Por isso, esse foi o problema central identificado pelos alunos para desenvolver o primeiro projeto”, conta ele. Depois de 300 entrevistas realizadas com moradores e comerciantes do Floresta, os estudantes decidiram apostar na revitalizacão de uma praça que fica próxima ao centro cultural. O projeto está em fase de estruturação.

Para Onília, um dos grandes aprendizados até o momento, além do de manter as convicções apesar dos tropeços, é “rodar tudo ao mesmo tempo”. Ela exemplifica o que diz:

“Percebemos que só conseguiríamos rodar a espiral fazendo tudo ao mesmo tempo: cursos, cooperativa e atividades nas escolas, tendo o lab como ponto de conexão. Se isolássemos uma inciativa, correríamos o risco de cair no assistencialismo”

DESDOBRAMENTOS E A BUSCA POR NOVAS FORMAS DE FINANCIAMENTO

Além dos cursos empresariais, a Convexo está estruturando um programa de treinamento para professores, o Catálise, a partir da experiência prática que adquiriram nas escolas, em palestras e com a participação em eventos e feiras voltados a esse público. Para rodar a primeira turma do curso em 2016, eles também negociam parcerias com universidades.

A participação em feiras de empreendedorismo é outra forma de expandir a atuação do negócio. No início deste mês, eles estiveram no Salão do Empreendedor do Sebrae para uma oficina junto a estudantes e professores. Como resultado de dois dias de trabalho nasceu o Projeto Espiral, que pretende realizar ações para transformar a realidade social da cidade de Erechim (RS) e região.

O próprio modelo de mentoria deve ser remodelado para o ano que vem. A cota de 10 reais paga pelos mentores será revertida em pontos, que poderão ser usados para comprar os produtos fabricados pela cooperativa de mulheres Chapéu do Sol. É uma forma de retroalimentar financeiramente o negócio. “Queremos também um lugar físico para essa cooperativa e já começamos a conversa com o poder público”, diz Onília. E segue rodando tudo ao mesmo tempo.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Escola Convexo
  • O que faz: Desenvolve lideranças em escolas de comunidades carentes por meio do empreendedorismo
  • Sócio(s): Onília Araujo e Bruno Bittencourt
  • Funcionários: 120 mentores
  • Sede: Porto Alegre
  • Início das atividades: 2013
  • Investimento inicial: R$ 20.000
  • Faturamento: R$ 20.000 (por mês)
  • Contato: [email protected]
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