por Luis Otávio Barrionuevo
É isso. O fato de não ser uma cidade cosmopolita, estar fora da correria e da competitividade a qualquer preço, mas próxima o suficiente de Toronto (uma cidade destacada no cenário global de negócios), traz uma excelente perspectiva para a região de Waterloo, em Ontário, Canadá.
Este modelo de cidade de interior, com uma cultura familiar e características únicas — por exemplo, pode-se parar na calçada em frente à prefeitura e tomar um café, respirar ar puro e trocar idéias com alguém que você conheceu ali, naquele momento — gera muitas oportunidades e motiva os empreendedores recém-chegados.
A Região de Waterloo foi colonizada por comunidades vindas da Alemanha em 1800 trazendo uma cultura de qualidade de vida e empreendedorismo já naquela época. Hoje com população de aproximadamente 520 mil pessoas, compreende as cidades de Kitchener, Cambridge e Waterloo e outros pequenos condados. Está situada no sudoeste da província de Ontario e a aproximadamente 100 quilômetros de Toronto, dentro da península Canadense projetada estrategicamente no leste dos EUA.
Como quase todas as cidades no Canadá, Waterloo segue o padrão nacional: limpeza, organização, planejamento urbano, serviços públicos, cumprimento às leis, segurança — tudo funciona e de forma inteligente. A corrupção e a lei da vantagem não são ingredientes aceitáveis nesta comunidade.
Áreas verdes e parques de preservação servem como conectores das regiões da cidade, verdadeiros “caminhos verdes” que cruzam a cidade em múltiplas direções. Quem busca qualidade de vida e oportunidade de empreender se identifica facilmente com a cidade, que tem eventos culturais diários, várias atividades esportivas e de lazer, além de um sistema de educação público e gratuito de qualidade. Waterloo está em contínuo movimento.
Outra diferença gritante: aqui o governo investe com motivos claros. E todos acompanham
A arrecadação de impostos é fácil de entender, simplificada, não penaliza o empreendedor e tem um propósito único: investir no desenvolvimento, na infraestrutura e prover serviços de qualidade para a comunidade. O orçamento é transparente e voltado aos setores em destaque na região, dos quais pode-se destacar Educação, Saúde, Tecnologia e Manufatura.
A idéia é gerar um círculo virtuoso com investimentos em instituições e organizações comprometidas com o desenvolvimento econômico, inovação e atração de talentos e grandes corporações como Google e Amazon, mantendo incentivos para grandes organizações empregadoras como OpenText, SunLife, Manulife e Toyota.
No entanto, essencialmente na região de Waterloo, vemos empresas especializadas desenvolvendo produtos de altíssima qualidade, sempre com muita inovação e espírito empreendedor e que se transformam em referência global. É o caso da Kei-Kuntz, que se desenvolveu em Kitchener e produz cromados que equipam luxuosas marcas de automóveis no mundo como Rolls Royce, Bentley, Harley Davidson, Mercedes-Benz, Jaguar, entre outras.
Nos últimos dois anos, mais de 10 startups em Waterloo se tornaram especialistas em um novo produto ou serviço de referência global
E mais: receberam investimentos entre 20 e 120 milhões de dólares cada uma, por meio de iniciativas privadas e parcerias de negócios. Se considerarmos o corredor Toronto-Waterloo neste mesmo período, mais de 30 empresas receberam investimentos acima de 20 milhões de dólares. E já é possível mapear uma nova geração de pelo menos mais 20 novas startups com perspectiva de receber investimento igual ou superior.
O recente orçamento anunciado pelo Primeiro Ministro Justin Trudeau prevê 950 milhões dólares para criar o que ele chama de “estratégia de superclusters“, colocando a região de Waterloo como principal beneficiária.
A notícia é boa também para quem vem de fora. No final do ano passado o governo anunciou que criará um processo mais rápido emitir vistos para talentos globais com alto conhecimento e habilidades específicas que estiverem em alta no mercado canadense.
As universidades também são foco de altos investimentos do governo, atraindo estudantes de diversas partes do mundo, o que faz girar toda a economia local, desde o comércio em geral como indústrias de alimentos, transporte e o mercado imobiliário que se destaca no Canadá e tem crescido em curva exponencial.
Todo este movimento gera impostos e caixa para o governo, ou seja, investir em infraestrutura e educação é um excelente negócio
Outra consequência disso é que o corredor Toronto-Waterloo já gerou mais de 200 mil postos de trabalho na área de tecnologia, em poucos anos de desenvolvimento esta região já representa a metade do tamanho da força de trabalho existente no Vale do Silício, na Califórnia.
Por aqui, as instituições de ensino também são comprometidas com a inovação. University of Waterloo, Wildfrid Laurier University e Conestoga College são reconhecidas por investirem fortemente em inovação, proporcionando educação e infraestrutura para gerar múltiplas gerações de empreendedores.
Nesta perspectiva, incubadoras e aceleradoras de negócios como Velocity, Laurier’s LaunchPad, Accelerator Centre e o David Johnston Research and Tecnology Park (que está lançando este ano um Centro de Excelência em Sustentabilidade), proporcionam o ambiente ideal para instalação de novas startups e empresas globais como SAP, CISCO, AGFA.
Neste mesmo ambiente está, por exemplo, a RemixPod, startup que produz Podcasts e adiciona “beats” de ritmo ao seu Podcast favorito criando uma nova perspectiva e energizando o consumo de Podcasts.
Aqui existe uma competitividade colaborativa. Uma instituição desafia e ao mesmo tempo apoia iniciativas de outras
Os resultados alcançados em qualquer ecossistema empreendedor são sempre um reflexo do comportamento das pessoas que nele atuam. Em Waterloo também é assim, porém com um diferencial importante: a forma colaborativa e única de empreender de quem vive aqui.
A abertura do Canadá para o imigrante e a proposta de diversidade como ingrediente fundamental para a inovação e o desenvolvimento criativo, têm gerado resultados de curto prazo e projetam uma expectativa de ganhos futuros ainda maior para as próximas gerações.
O relacionamento interpessoal tem sido tratado quase como algo que as pessoas possuem, desenvolvem e vendem. Mas em Waterloo isso é muito mais profundo: relacionamento interpessoal transborda em conteúdo e ação. Desde a compra na feira nas manhãs de sábado até reuniões de negociação para o desenvolvimento de parcerias empresariais estratégicas, o comportamento é focado em desenvolver uma empatia, gerar uma nova conexão pessoal, criar oportunidades para ampliar os laços de relacionamento, sem preconceitos ou discriminações. Aqui tudo é muito transparente. Agir com transparência é a atitude primordial para construir uma relação de confiança e gerar novas perspectivas. Vejo, sinto, um verdadeiro networking em discurso e prática.
O Vale do Silício é só uma inspiração. Empreender em Waterloo tem sua essência nas pessoas e no desenvolvimento e uso de tecnologia como meio para inovar em negócios
Waterloo tem atraído a atenção de estudantes, cientistas, profissionais, empreendedores, empresas e organizações de diversas partes do mundo. As universidades e instituições governamentais estão organizadas e preparadas para receber os estudantes internacionais e integrá-los à comunidade. O respeito à diversidade permite a troca de conhecimentos e o crescimento individual, a riqueza de experiências compartilhadas neste ambiente gera uma nova visão muito mais ampla e real sobre os problemas da sociedade globalizada. Além disso, estimula o empreendedorismo e permite a criação de soluções inovadoras para os problemas mais complexos que se apresentam no mundo.
Por isso, não tenho dúvidas: os próximos unicórnios nascerão aqui, sob o frio do Ártico, e não sob o sol da Califórnia. Waterloo é tudo que um empreendedor pode esperar de um ecossistema inovador.
Luis Otávio Barrionuevo, 45, é brasileiro, CEO e fundador da LBarrio Digital Business Consulting, Mentor e Orientador na LaunchPad, incubadora da Wildfrid Laurier University em Ontário, no Canadá.
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