“Uma plataforma para encontrar os melhores vídeos da web por meio de batalhas viciantes.” É assim que Gian Martinez, co-fundador da Winnin, define a proposta do negócio que se transformou em uma curadoria coletiva de tudo o que existe no YouTube, Vimeo, Vevo e por aí vai. Na prática, a ideia é simples. As pessoas assistem a conteúdos de um determinado assunto e, em seguida, elegem o melhor. Os próprios usuários podem criar as temáticas das “lutas” e escolher os concorrentes que entrarão no “ringue”. Vale tudo: vídeos sobre “as maiores zebras do futebol”, “os filmes mais esperados do ano” ou até mesmo algo mais geek, como “o personagem mais épico dos games”.
Olhando assim, de fora, pode até parecer um negócio não muito promissor. Mas a história de como a empresa surgiu (foi planejada quase que sob encomenda pela Coca-Cola) e os números de audiência que alcançou em um ano de existência (já tem 10 milhões de usuários) convida a um mergulho mais profundo. Como Gian conseguiu isso?
Não foi com um daqueles insights que surgem diante de um problema que precisa ser solucionado – e que geralmente inspiram a maioria das startups. De certa forma, para criar a Winnin, Gian simplesmente revirou o seu próprio passado. Juntou a veia empreendedora herdada dos pais com tudo o que aprendeu, ensinou, conquistou e produziu em seus 30 anos de vida — tendo passado boa parte da vida profissional em agências de publicidade e no núcleo de inovação da gigante mundial.
Fruto do casamento de um italiano com uma colombiana, o co-fundador da Winnin viveu a infância e a adolescência em diferentes países. Os pais moraram um tempo na Colômbia e ele nasceu lá. A família mudou-se para o Brasil em 1986, quando ele tinha dois anos. Seu pai, um renomado designer e ilustrador de livros infantis, decidira empreender por aqui. “Ele e a minha mãe são pioneiros da comunicação educativa e desde aquela época estão à frente do Crianças Criativas, um projeto que estimula o aprendizado a partir da leitura e brincadeira”, conta Gian.
Com o sucesso do projeto, seus pais se tornaram praticamente nômades e passaram a disseminar suas metodologias educacionais pelo mundo. Gian quase perde a conta ao listar os países em que viveu entre os nove e 15 anos. “Acho que foi Peru, México, Austrália, República Dominicana… Tiveram outros, mas foram passagens bem rápidas. Às vezes, ficávamos um ou dois meses num lugar e já tínhamos que mudar de novo”.
Aos 17, Gian decidiu que iria fazer faculdade no Rio de Janeiro. Entrou na PUC para estudar Publicidade e ali conquistaria, enfim, os primeiros melhores amigos de sua vida — e também conheceria a sua futura esposa, Neca Ponichi. Logo no início da graduação, decidiu que precisava trabalhar. “Comecei em uma loja de shopping vendendo calça jeans. Mesmo sabendo que era temporário, fiz questão de levar a sério. Não importa o que você faz ou onde está, sempre tem algo importante para aprender”, conta.
Logo depois, começou a estagiar na premiada agência de comunicação NBS. Ele sorri ao lembrar dos “perrengues” pelos quais precisou passar. “No primeiro mês eu basicamente pagava para trabalhar. Mas aí fui conquistando o meu espaço. No segundo mês, já tinha um vale-transporte.” Pausa para uma risada. “A partir do quarto mês, comecei a ganhar um dinheirinho.”
Ainda na faculdade, foi convidado para trabalhar na JWT. Lá ficou dois anos, até se formar e se desenvolver na área de planejamento. A NBS então, percebendo a evolução do ex-estagiário, decidiu trazê-lo de volta. Dessa vez, com um bom salário, para ser supervisor de planejamento das marcas não alcoólicas da Coca-Cola. “Uma das primeiras coisas que inventei foi o conceito de laranja caseira do suco Del Vale”, diz.
De 2007 a 2013, ele trabalhou dentro da própria Coca-Cola, no cargo invejável de Gerente de Excelência Criativa. Liderava um time incumbido de solucionar um dos principais desafios da marca frente à era digital: idealizar projetos inovadores que fugissem da publicidade convencional. Iniciativas como o Coletivo Coca-Cola e a máquina Sprite Shower nasceram lá. A posição que ocupava, e os projetos que fazia, acabariam o levando para outro caminho:
“Um dia, percebi que há tempos eu levava uma vida de empreendedor, porém inovando dentro de uma corporação. Decidi que era hora de fazer algo que fosse realmente meu”
O processo de saída foi cauteloso. A estabilidade financeira do publicitário era o contrapeso dentro de casa. Sua esposa – sim, a que ele conhecera nas cervejadas da faculdade – estava decolando com uma produtora de filmes aspiracionais de casamento. O negócio deu tão certo que, em pouco tempo, se transformou na série Chuva de Arroz do canal GNT. Gian, enfim, estava financeiramente resguardado para fazer o mesmo.
Pais empreendedores + esposa empreendedora = empreendimento? Mais ou menos. A principal influência de Gian para decidir montar a própria empresa foi ele mesmo. Ou melhor, tudo o que aprendera, principalmente, dentro da maior fabricante de refrigerantes do mundo. Nessa época, acredite, o conceito do que viria a ser a Winnin nem mesmo existia. Gian não tinha a menor ideia do que iria fazer. Apenas tinha certeza de que faria isso. “Cheguei a um ponto em que eu estava aprendendo muito mais com a minha equipe do que ela comigo. Já não fazia mais sentido estar lá”, reflete.
Decidido a empreender, o futuro ex-funcionário Gian enviou um e-mail com suas ideias para alguns contatos globais da Coca-Cola. Por sorte ou competência, a carta caiu na caixa de entrada de David Butler, VP de Inovações da companhia. “Ele respondeu dizendo que tínhamos muito assunto para conversar”, conta. A conversa mudaria o futuro do então empreendedor sem empreendimento.
QUANDO SEU EX-CHEFE TE ENCOMENDA UMA STARTUP
Com a mentoria e liderança de Butler, a Coca-Cola havia colocado recentemente em prática o Coca-Cola Founders, um programa de investimento em startups. Mas, diferentemente de uma aceleradora convencional, este projeto nascia com o desafio de atrair profissionais cascudos: a marca queria encontrar primeiramente os “jockeys” para, posteriormente, escolher os “cavalos” com os quais trabalharia. Era tudo o que Gian precisava. “Mostrei que poderia criar um negócio dentro dos pilares que a marca buscava”, conta ele. Foi só aí, sob encomenda, que a Winnin começou a nascer.
As premissas para a startup a ser acelerada eram relativamente simples: apresentar uma solução que tivesse apelo global e ser um produto do qual a Coca-Cola, além de investidora, pudesse ser tornar cliente. Além disso, Gian precisava encontrar um sócio à sua altura para ajudá-lo na operação. Regra da casa: todos os business da Coca-Cola Founders são gerenciados em duplas.
Gian foi a campo e não demorou muito para conhecer Wilton Pinheiro, um engenheiro de computação formado pela Unicamp que entendia bem sobre a arte de empreender. Um ano mais velho que ele, o expert em códigos já havia fundado algumas empresas promissoras. No dia 1 de abril de 2014 (eles juram que não é mentira), a Winnin saiu do papel. O investimento inicial veio da Coca-Cola – outra regra da casa. O valor do aporte é sigiloso, mas a empresa chega a investir até 1 milhão de dólares nas startups de seu programa.
Hoje, com um ano de operação, Gian tem bons números para comemorar: “Já passamos a barreira dos 10 milhões de usuários”. O crescimento acelerado se deve a parcerias bem amarradas. O Porta dos Fundos, por exemplo, promove uma batalha por semana e, dessa forma, consegue obter mais de 1 milhão de visualizações reapresentando conteúdos antigos – até então, praticamente mortos.
A Winnin trabalha com uma espécie de patrocínio conhecido como Native Advertising. “Por meio do conteúdo, ajudamos as marcas a se conectarem com os jovens de forma mais relevante”, diz Gian. Além disso, ele também entrega aos patrocinadores uma inteligência de base para potencializar os resultados. Clientes como McDonalds, Bom Negócio e Coca-Cola (claro) já aderiram à novidade. Faturar, no entanto, não é a preocupação de Gian no momento. “Se conseguirmos sustentar a curva de crescimento que estamos tendo nesse primeiro ano de vida, chegaremos ao patamar de centenas de milhões de usuários. É nesse momento que vai fazer sentido focar as energias no modelo de negócio e gerar receita em escala”, afirma ele.
Além dos sócios, a startup tem oito funcionários que se dividem entre tecnologia, marketing e conteúdo. E o time deve crescer em breve. A empresa, que fica no Rio de Janeiro, está prestes a inaugurar uma segunda sede em Los Angeles, na Califórnia. O mundo começa a ficar menor para a startup criada sob encomenda pelo inovador corporativo. “O mercado brasileiro sempre estará em nosso foco”, diz ele. Mas não esconde uma ambição do tamanho de uma Coca-Cola: “Queremos virar referência global em curadoria coletiva dos melhores vídeos da internet”.
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