Em dois anos, o Mais Asas mudou de foco, de cidade, foi acelerado e pagou dívidas. Agora, está com novo fôlego

Lia Vasconcelos - 22 fev 2017
Isabella Cunha e Bernard Biton, os sócios da +Asas, trocaram o Rio por São Paulo para acelerar o negócio de roteiros turísticos e focaram em clientes corporativos.
Lia Vasconcelos - 22 fev 2017
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Mais Asas nasceu como uma empresa que oferecia roteiros turísticos temáticos (de bem-estar, cultura, esporte e gastronomia) para quem visitasse o Rio de Janeiro. Quando foi tema de uma reportagem aqui no Draft, em setembro de 2014, a proposta inovadora parecia promissora. De lá para cá, porém, algumas coisas mudaram.

Hoje, a empresa continua buscando oferecer atividades que vão além de conhecer lugares diferentes das cidades, mas está focada no mercado corporativo e no público local das capitais fluminense e paulista. Nesse meio tempo, sofreu uma troca de comando e, também, de endereços (saindo do Rio de Janeiro para São Paulo).

O Mais Asas saiu no Draft lá atrás, em 2014 (clique na imagem para ler a reportagem).

O Mais Asas saiu no Draft lá atrás, em 2014 (clique na imagem para ler a reportagem).

A publicitária carioca Isabella W. Cunha, 31 anos, continua no comando da startup, mas não mais acompanhada por João Pedro Lemos, que decidiu voltar a trabalhar com educação e tornou-se investidor-anjo do Mais Asas. Em seu lugar, entrou o administrador Bernard Biton, 33, que por sinal chegou a eles depois de conhecer a startup aqui no Draft.

O modelo de negócio, que era simples e previa uma receita oriunda de pessoas físicas, agora é mais complexo. Funciona em três partes: o +Asas escolhe anfitriões apaixonados por um tema específico; organiza o roteiro sugerido por eles e, por último, ajuda a empresa a escolher uma experiência que dialogue com o seu propósito.

Isabella conta: “Criamos experiências exclusivas do +Asas, em vez de oferecer aquela quantidade enorme de roteiros”.

Hoje, quando o usuário entra no site, tem a opção de escolher uma experiência, que pode variar entre 100 reais e 10 mil reais (de acordo com a exclusividade e dificuldade de realização). Quando ela atinge um número mínimo de interessados para ser realizada, um e-mail é enviado a eles, que têm alguns dias para decidir se querem participar.

“Em vez de termos um monte de datas abertas, sem garantia de fechá-las, estamos liberando para que as pessoas digam que estão interessadas”, conta Isabella.

Já a venda para empresas é feita de forma diferente: elas definem quais experiências querem realizar, quantos participantes serão e qual data gostariam. O +Asas confirma a disponibilidade do anfitrião e marca o roteiro. Também há roteiros criados exclusivamente para empresas. Normalmente, essas experiências são oferecidas em ações de incentivos, de CRM ou para encontros com influenciadores. Neste formato, já foram atendidos clientes como Nissan, Corona, Google, Uber, Airbnb, Coca-Cola, Farm e Audi.

UM NOVO SÓCIO PARA ARRUMAR A CASA

Isabella e Bernard foram apresentados por um amigo em comum. Após um primeiro encontro que durou três horas, alguns meses depois ela o convidou para entrar de fato na empresa. No período, Isabella segurou a onda sozinha, inclusive as dívidas que tinha. Ela fala a respeito:

“Nessa fase, o negócio não estava rendendo, mas insisti, consegui reforçar a equipe e continuamos”

Assim que assumiu o posto que ocupa hoje, Bernard a ajudou a fechar um grande contrato com a Mastercard, em dezembro de 2015, que deu fôlego para a empresa. Na mesma época, Isabella recebeu uma proposta de trabalho tentadora, mas declinou e preferiu arriscar seguir à frente do próprio empreendimento: “Quando dividimos melhor as tarefas, pagamos as nossas dívidas e começamos a crescer novamente”.

A maré positiva se estendeu até abril de 2016, quando o Mais Asas foi aceito em um programa da ACE. Em uma semana, eles se mudaram para São Paulo e até hoje estão instalados no escritório da aceleradora, na Avenida Paulista. O período de aceleração e validação de negócio durou 10 meses.

Depois disso, no entanto, a startup não avançou para a fase em que as empresas oferecem participação da empresa em troca de investimento – por isso, agora, ela irá deixar a casa nova.

Como se sente o empreendedor que, depois do processo de aceleração, não segue para a fase seguinte? Bernard diz: “Nos transformamos em uma startup de tecnologia e, agora, estamos prontos para escalar”.

MUDAR DE CASA PARA AMADURECER

Acostumada a se aventurar na natureza, Isabella diz que estranhou o novo escritório paulista: “Demorou um tempinho para nos adaptarmos, mas agora não queremos voltar para o Rio tão cedo”.

Ela conta que a mudança não impactou o caixa, mas mesmo assim eles economizaram o que puderam nas contas pessoais. Este ano, Bernard vai retornar ao Rio, enquanto a Isabella seguirá em São Paulo para focar na expansão.

A empresa ainda vende "experiências", mas agora foca nos mercados corporativo e local.

A empresa ainda vende “experiências”, mas agora foca nos mercados corporativo e local.

O Mais Asas conta, atualmente, com uma rede de 55 anfitriões cariocas e paulistas – as pessoas que montam e guiam as experiências, de acordo com seus profissões ou hobbies –, um colaborador responsável pelo conteúdo (alocada no Rio), e em breve a equipe terá um diretor de operações e um estagiário.

QUERO SER BOOTSTRAP

É uma opção dos sócios só aceitar investidores alinhados com seus valores, por isso eles usaram recursos próprios para investir em tecnologia, aquisição de tráfego e pessoas. Bernard conta que, na sua opinião, sobreviver com bootstrapping é motivo de orgulho:

“Seria mais fácil se tivéssemos um investidor injetando altas somas na empresa, mas nos orgulhamos de estarmos assim há mais de três anos”

A grande parte do público que embarca nos roteiros é de residentes da capital fluminense – 80%, de acordo com os sócios.

“Tivemos um boom durante as Olimpíadas e a Copa do Mundo”, diz Isabella. Em 2016, o Mais Asas atendeu entre 15 e 20 empresas e 700 pessoas e fechou o ano superando a meta de 420 mil reais de faturamento, segundo os sócios.

Isabella e Bernard contam que têm conseguido viver com o trabalho no Mais Asas, e têm expectativa de que a empresa continue crescendo e amplie o número de cidades atendidas.

Atualmente, eles oferecem 16 experiências São Paulo e 54 no Rio de Janeiro, e todas estão expostas na plataforma.

“Agora vamos fazer um rodízio, deixar entre 25 e 30 experiências visíveis para consolidar a demanda”, diz Bernard.

Escaldada com os altos e baixos, Isabella está ciente de que não há garantia de que o negócio vá dar certo. Ela conta que o medo de “morrer na praia” é menos intenso, hoje em dia.

“Meu único receio é não conseguir viver da empresa. Mas tenho hábitos, como a meditação, que me ajudam a enfrentar a pauleira que é empreender no Brasil”, diz, confiante no poder de suas asas.

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