Santo de casa faz milagre? A Runrun.it. surgiu para por fim à bagunça dos próprios sócios

Marina Audi - 13 nov 2015Da esquerda para direita: Franklin Valadares, Antonio Carlos Soares e Patrick Lisbona, fundadores da Runrun.it
Franklin Valadares, Antonio Carlos Soares e Patrick Lisbona: amigos antes de fundadores da Runrun.it
Marina Audi - 13 nov 2015
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Eles estiveram juntos, os três, pela primeira vez, no dia 2 de junho de 2004, no Mineirão, quando o Brasil venceu a Argentina por 3 a 1, em um jogo das Eliminatórias para a Copa do Mundo. A história deles começa bem antes, mas, ao vivo e a cores, eles se viram mesmo no estádio de futebol! Aos 41 anos, os sócios da Runrun.it Antonio Carlos Soares, CEO, Patrick Lisbona, CFO, e Franklin Valadares, CTO, têm como visão de longo prazo ser a empresa brasileira de software de maior sucesso no mercado internacional.

A ambição deixa de soar presunçosa quando vemos os números. Operando desde fevereiro de 2013, hoje a startup tem 40 funcionários e 100 000 clientes em 127 países, incluindo EUA e Austrália. Resultados como esse só acontecem quando se tem um bom produto em mãos. Neste caso, uma plataforma de colaboração que faz gestão de pessoas, gerencia tarefas, controla prazos de entrega, afere produtividade e, com isso, melhora a credibilidade das empresas.

O software não precisa ser instalado nas máquinas, pois é acessado pela web. Para usá-lo paga-se uma mensalidade que varia conforme o número de usuários e a capacidade de armazenamento – de um mínimo de 99 reais, para cinco pessoas, até 1.600 mensais para 100 pessoas. “As grandes corporações já usavam esses sistemas, há uma década. Só que eram projetos milionários, com anos de implementação, conduzidos por empresas do porte da Oracle. Com o cloud computing esse tipo de solução ficou disponível a qualquer tipo de empresa, em qualquer lugar do mundo, a um preço extremamente baixo”, conta Antonio Carlos, o AC.

O cérebro por trás do software é Franklin, que destaca uma série de pequenos diferencias em relação a outras ferramentas disponíveis no mercado. No Runrun.it não se pode apagar comentários e isso acaba com o “não fui eu quem pediu isso”. O software distribui e prioriza tarefas de acordo com o fluxo de trabalho definido dentro da própria equipe. Todas as informações são criptografadas. Possui ainda, integrado ao sistema, um timetracking que pula horas inúteis e mostra quanto tempo as pessoas dedicaram às tarefas. “É um conceito de gestão muito fluido e pragmático: ‘Eu preciso que você faça isso, depois preciso que você faça aquilo.’ Depois de definida a prioridade, o sistema recalcula as datas de entrega automaticamente, o que dá clareza aos gestores, no dia a dia”, diz o criador.

ALGUNS FRACASSOS E UMA ATRAÇÃO PERMANENTE PELO EMPREENDEDORISMO

Só que antes de acertar a mão com o Runrun.it, Franklin quis empreender sem saber nada de finanças, o que segundo ele foi um de seus piores erros. Em 1998, o mineiro, publicitário formado e programador por vocação, criou um delivery de comida pela internet, o PedeTudo.com. A falta de clientes levou à quebra do site, dois anos depois, e Franklin foi parar na área de inovação e novos produtos da Telemig Celular – atual Vivo Minas. A carreira corporativa estava garantida, mas o sentimento de que seu futuro não estava ali o incomodava. Em 2007 ele enfim voltaria a se arriscar, indo para a Aorta, uma desenvolvedora de aplicativos onde já estavam AC e Patrick. Franklin fala da mudança:

“O empreendedor tem uma coisa no DNA… Ele não sabe direito por que quer construir coisas! É mais arriscado, é mais difícil e parece um suicídio financeiro”

A jornada de AC e Patrick até a Aorta se iniciara em 1998, quando AC entrevistou o futuro sócio para uma vaga de emprego. Formado em Administração de Empresas, AC era consultor do Monitor Group. Ele conta que a entrevista com Patrick foi única: “A gente dava pouquíssimo tempo para a pessoa ler um caso complexo, em inglês. O entrevistador entrava na sala antes do tempo combinado, para pegar o cara na pressão e ver como ele reagia com informação parcial. Quando eu entrei, o Patrick estava de pernas cruzadas, olhando pela janela, ao invés de desesperado, anotando tudo. Pensei que ele tinha desistido!”.

Que nada! Patrick tinha lido e abstraído os dados mais importantes. Ele vinha da experiência na fábrica de sorvetes Mambo Jambo, instalada na fazenda de sua família em Jundiaí (SP), que existiu de 1994 a 2000. “Quando me formei em Economia, queria fazer alguma coisa diferente, não apenas trabalhar no negócio familiar. Fiquei na Monitor quase dois anos, mas estava bem claro que não era aquilo que eu queria fazer”, conta.

AC sentia algo parecido. Ia bem na carreira de consultor, trabalhava em Boston, tinha sido aceito para fazer MBA na Columbia University: “Saber em qual andar em qual sala eu estaria trabalhando dali a dez anos era um horizonte extremamente limitado. Eu não sabia o que eu queria fazer, mas sabia o que não queria!”. AC e Patrick saíram da Monitor em final de 1999 e juntaram-se, meses depois, para fundar uma consultoria especializada em mídia e telecomunicações. Ele conta:

“Trocar uma coisa certa pela incerta é algo que eu faço até hoje. Está em mim”

Patrick e AC emplacaram na Editora Trip um projeto de turnaround, captaram dinheiro e, por exigência do investidor, deixaram a recém-fundada consultoria e tornaram-se sócios da Trip. Durante os sete anos em que estiveram por lá, eles contam que a editora aumentou treze vezes o faturamento, passou de 15 funcionários para mais de 200 e transformou-se na maior especialista em publicações customizadas do país.

Em 2002, entra nesta história a figura de Gustavo Ziller – representante e parceiro da Trip em Belo Horizonte – que aproximou, virtualmente, Franklin de AC e Patrick. Franklin sugeriu que o programa de rádio Trip FM fosse transformado em conteúdo para celular, via SMS. Desse trabalho conjunto entre a editora, Gustavo e Franklin, surgiu o Trip sem Fio, serviço de conteúdo em SMS.

A editora ia bem quando, em 2007, AC e Patrick insistiam em migrar todo o conteúdo para a mídia digital, às vésperas da implantação das redes 3G no Brasil. A ideia não foi adiante e, por acreditarem que o mercado se revolucionaria com a chegada da nova tecnologia, os dois venderam suas participações na sociedade com a Trip e aceitaram o convite de Gustavo para se associarem à Aorta, que tinha grande proximidade com os mercados digitais.

A Aorta foi a primeira desenvolvedora de aplicativos do país a vender na AppleStore.

A Aorta foi uma das primeiras desenvolvedoras de aplicativos do país a ter produtos na AppleStore, em 2007.

Lembra que Franklin estava assustado com a possibilidade de ficar preso em algemas de ouro numa Telecom? Então, Gustavo juntou os três talentos para alavancar o desenvolvimento de produtos. A Aorta foi uma das primeiras empresas do Brasil a postar um aplicativo na loja virtual. O trio tocava várias iniciativas ao mesmo tempo, enquanto sonhava em ter apenas uma que tivesse potencial para se transformar em algo valioso e escalável.

À medida que a Aorta conquistava clientes, internamente ela crescia de forma desordenada. Quando finalmente estavam maduros para receber um investimento, veio a crise mundial de 2008 e as linhas de crédito secaram. Foi um momento muito difícil, em que os sócios pararam de retirar o pro labore.

Além disso, havia problemas de organização: “Cada mudança de escopo e prioridade representava para a TI realocar equipe e repensar o projeto, o que causava atrasos”, conta Franklin. E gerava uma dificuldade operacional imensa: “Ficava até difícil de mensurar se estávamos tendo lucro ou prejuízo com os projetos que vendíamos”.

QUANDO AS DIFICULDADES DE UM NEGÓCIO INSPIRAM A CRIAÇÃO DE OUTRO

Foi aí que Franklin teve a visão de desenvolver um sistema simples para gerir tarefas. Os demais sócios foram unanimemente contra o desenvolvimento da plataforma dentro da empresa! Então, virou coisa pessoal… um projeto de final de semana. Um ano depois, Franklin chega e diz: “Criei uma coisa que vai me ajudar a lidar com vocês! Vocês ficam mudando as prioridades, zoneando a área de TI e, depois, me enchem a paciência dizendo que a área não produz! Vou provar que a minha área não produz por conta da bagunça!”

Ele prometeu que seria possível entender o impacto da bagunça, saber quais projetos eram deficitários e, assim, gerir melhor a empresa, “desde que a gente mesmo seja o usuário cobaia do sistema”. Proposta aceita, e assim nasceu o Runrun.it, que se espalhou como fogo pelas equipes da Aorta, pois dava mais previsibilidade de quando as coisas seriam realmente entregues. “Até pessoas que saíam de lá e iam para outras empresas me pediam para continuar usando o sistema”, conta Franklin.

No começo de 2012, a Aorta foi vendida para o PontoMobi, do Grupo RBS. Paralelamente, AC e Patrick foram convidados para se tornarem empreendedores residentes do Monashees Capital. Eles deveriam escolher um negócio para investir e explorar. O até então “produto do Franklin” – que já era usado por 100 empresas, informalmente – era a escolha óbvia. Como não investir num produto que é sucesso antes mesmo de ser lançado?

Seis meses depois, a Runrun.it recebeu um investimento de 1,1 milhão de dólares, sendo 90% da Monashees e o restante do 500 startups. Franklin precisou mudar-se para São Paulo com a família para integrar a equipe inicial de cinco pessoas que começariam a operar o Runrun.it no modelo Freemium. “Era o mais adequado porque o mercado precisava ser criado com o menor atrito possível. Então, deixávamos as pessoas experimentarem e usarem, gratuitamente, até cinco usuários. O primeiro plano pago – para 10 usuários – custava 20 reais. A gente precisava saber se as pessoas estavam dispostas a pagar. Não queríamos uma barreira de valor. Queríamos ocupar o mercado”, conta Patrick. Em dois anos e meio, o mercado se acostumou com o software e os preços aumentaram.

Hoje, o Runrun.it evoluiu para uma plataforma bem mais ampla que entrega mais valor e está prestes a ser lançada como aplicativo off-line, que permitirá o acompanhamento do que acontece na empresa, onde quer que o gestor esteja. Os sócios aguardam a hora certa de mudar o modelo de negócio para o Free Trial, que Patrick considera o mais adequado, mas exigirá um esforço maior para aumentar a base de clientes pagantes. É tudo uma questão de prioridades — e de organização. Run!

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Runrun.it
  • O que faz: Plataforma para Gestão de Equipes e Projetos
  • Sócio(s): Antonio Carlos Soares, Patrick Lisbona e Franklin Valadares
  • Funcionários: 40
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2013
  • Investimento inicial: R$ 1.100.000
  • Faturamento: NI
  • Contato: help@runrun.it
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