Strider: uma agritech que cresce 18% ao mês vendendo software para produtores rurais

Marina Audi - 27 dez 2016Os sócios-fundadores da Strider: Luiz Tângari, CEO, Gabriela Mendes, ‎growth hacker, e Carlos Gonçalves, CTO.
Os sócios-fundadores da Strider: Luiz Tângari, CEO, Gabriela Mendes, ‎growth hacker, e Carlos Gonçalves, CTO.
Marina Audi - 27 dez 2016
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Em dado momento da conversa com Luiz Tângari, 41, cofundador e CEO da Strider, ele pede desculpas por não ter uma história romântica de ligação com a terra para contar. Ao contrário, ele conta que a criação da startup, que combina geolocalização e big data para ajudar o produtor rural a gastar menos com agrotóxicos, resulta de um processo estritamente racional. Pode até ser, mas sua história é boa mesmo assim, pois trata de um empreendedor serial (ele já tinha tido duas startups) que passou dois anos pesquisando até encontrar uma empreitada que atendesse a dois pontos: ter um produto global, que funcionasse no mundo inteiro, e atuar numa área em que estar no Brasil significasse uma vantagem competitiva. Ele encontrou isso na terra, na agricultura, que somada à tecnologia tem sido um terreno fértil para as agritechs.

Engenheiro elétrico, Luiz fala do estudo de cenário que fez e diz que atualmente o produtor rural enfrenta muitas dificuldades em relação a custos, por diversos fatores: o regime de chuvas está mais imprevisível (alô, aquecimento global), os defensivos baratos e tóxicos estão sendo banidos (o que é positivo, por razões óbvias, mas menos lucrativo), e os fertilizantes para sementes de alta performance exigem um ambiente muito mais controlado. Ele conta que a chave para reverter isso, é gerenciar as fazendas da forma mais profissional e eficiente possível.

Se não é possível atacar os dois primeiros fatores, o terceiro é o campo aberto em que a Strider atua: controle de custos. Luiz afirma que o item que mais pesa no orçamento de uma fazenda é a compra de defensivos agrícolas (uma lei, aprovada em março, passou a chamar agrotóxico de produto fitossanitário, mudança apenas nominal). Ele diz que, na cultura de soja o custo com defensivos equivale a um terço do total da produção, na cultura de algodão, metade, e na da cana-de-açúcar, um quarto.

Aí que entra o produto global que ele vislumbrou: uma tecnologia de software e hardware que otimiza o monitoramento e indica ao agricultor onde usar o defensivo. O carro-chefe da startup chama-se Strider Crop Protection: uma ferramenta que usa informação georeferenciada, imagens de satélite e sensores para controlar o uso de defensivos (ou “fazer o controle fitossanitário”) em culturas de café, algodão, cana, soja ou frutas.

Hoje, 100% da receita da startup vem da venda do SCP: o valor da licença de uso anual é calculado de acordo com o total de hectares e tem um tíquete médio de 50 mil reais. Com o produto, nos últimos três anos os clientes da Strider economizaram mais de 10% em insumos, diz Luiz. Isso equivale a 3% no custo geral de produção. Se levarmos em conta que uma fazenda lucrativa tem, geralmente, margem de 10%, aumentar três pontos nessa margem não é pouco.

Monitoramento de plantação de café com o Strider Crop Protection.

Monitoramento de plantação de café com o tablet Strider Crop Protection.

O SCP funciona assim: um tablet é usado pelo técnico agrícola como estação de trabalho para coletar dados. Ali, ele tem descritas as atividades a fazer e o caminho que deve seguir na fazenda. A interface é baseada em mapas e o sistema é configurado conforme indicações definidas pelo agrônomo da fazenda. Pelo aparelho é possível tirar fotos, fazer amostragem e coletar informações sobre a população de pragas.

“A gente sincroniza esses dados no sistema, coloca as informações em um mapa da fazenda e pinta em vermelho as áreas de risco para o produtor ver onde ele está perdendo dinheiro e saber onde tem de disparar os movimentos de aplicação de defensivo”, conta Luiz.

COMO O ENGENHEIRO VIROU STARTUPEIRO DE AGRITECH

Para entender a complexidade da Strider, é preciso rever a jornada profissional de Luiz Tângari como criador de empresas de software sempre ligadas a tecnologia emergente. Mineiro, ele cursou engenharia elétrica na UFMG e formou-se em 1998:

“Sempre soube que ia empreender, mas na época não era uma decisão tão fácil. Empreender era coisa de desempregado, não tinha essa onda de startup de hoje”

Luiz abriu sua primeira startup em 1999. Chamava-se Infoquest e fazia infraestrutura de internet para provedores. “Como eu tinha acabado de me formar, cometi todos os erros possíveis e, mesmo assim, a empresa foi bem”, diz, bem humorado. A Infoquest tinha por hábito trabalhar com projetos customizados, o que impedia a empresa de escalar no modelo americano.

Por volta de 2004, Luiz passou a fazer projetos de automação de força de vendas com a Palm (fabricante de palmtops, dispositivos de mão, comprada pela HP em 2010) quando começaram a aparecer os primeiros smartphones. O divisor de águas, ele conta, foi um projeto da Nokia para migrar aplicativos de palmtop para smartphone. “Quando vi aquilo, percebi que tudo ia mudar naquele mercado. Era um computadorzinho com um potencial enorme de ruptura”, conta. Foi quando ele decidiu, então, criar uma nova empresa para desenvolver plataformas de software para smartphones que aproveitasse a capacidade dele como uma ferramenta de mídia.

O software identifica e aponta as áreas mais sucetíveis a pragas, otimizando o trabalho do agricultor.

O software da Strider identifica e aponta as áreas mais sucetíveis a pragas, otimizando o uso dos defensivos.

Assim surgiu a Meritia, que chegou a servir 30% do tráfego de internet mobile, no Brasil. Luiz abriu sua segunda startup sozinho e, depois, chamou Guilherme Carvalho para se associar a ele. “Uma das minhas bobagens grandes é não ter levado o negócio para os Estados Unidos. Fizemos muitos apps, fomos um player importante no mercado”, conta Luiz.

Outra grande ruptura que ele destaca é a chegada do iPhone 3G no Brasil, no fim de 2008. Apenas dois anos depois, em 2010, é que Luiz se deu conta de que esse mercado se consolidaria com o mercado de comunicação em geral. Estava na hora de fazer a transição e apareceu uma oportunidade de vender a Meritia.

Luiz havia se comprometido a ficar na empresa para fazer a transição, mas os novos compradores o liberaram um ano antes do previsto. Assim, um dia ele acordou e se perguntou o que faria dali por diante. Foi quando atinou para as duas premissas que o levariam à terra.

AGRONEGÓCIO. PORQUE É UM NEGÓCIO, EM PRIMEIRO LUGAR

Em 2013, depois de dois anos de pesquisa, Luiz chegou ao agronegócio, área que não conhecia, e fundou, junto com Carlos Gonçalves e Gabriela Mendes, a Strider. Neste primeiro momento, o investimento inicial foi de 500 mil reais, que ele tirou do próprio bolso. “Essa é a vantagem de estar no segundo ciclo como empreendedor”, diz. No ano seguinte, em 2014, a startup recebeu mais 4 milhões de dólares, em duas rodadas de captação.

Hoje, com três anos de operação, a Strider tem 1,2 milhão de hectares monitorados pagos para controle de pragas (o maior número do mundo, diz Luiz), em 500 fazendas ativas, 5% delas no exterior: EUA, México, Bolívia e Austrália. O faturamento estimado para este ano é de 25 milhões de reais.

Praga na cultura da soja, em Mato Grosso.

Praga na cultura da soja, em Mato Grosso.

A agricultura está mudando no mundo inteiro, por pressão ambiental e por pressão de custo, para se tornar mais global. Luiz conta que, como este é um mercado que não tem muitas barreiras internacionais – uma fazenda brasileira funciona praticamente do mesmo jeito que uma fazenda no Texas, na Austrália ou na Ucrânia –, fica fácil de exportar. Por sinal, no momento, a expansão da Strider nos EUA é mais rápida que aqui.

Além do Strider Crop Protection, há poucas semanas a startup lançou um segundo produto, chamado Space: uma solução de diagnóstico via satélite que aponta onde há perda de biomassa na área plantada (ou seja, onde a plantação está morrendo). Em breve, diz o empreendedor, estará disponível o terceiro produto da Strider, chamado Tracker: uma ferramenta de rastreamento de ativos, que indica a posição das máquinas no campo, em tempo real, permitindo uma ação mais integrada e otimizada delas.

Com novos produtos a caminho, Luiz segue vez cada mais mais à vontade na terra. Ele quer ver seu negócio prosperar ainda mais, não só em faturamento, mas em quantidade de hectares cobertos e monitorados. E fala de seus muitos desafios. O principal, diz, está na abordagem comercial, porque ninguém nunca vendeu software para produtor rural:

“É difícil explicar que o software vale a pena e que se paga. Nosso principal concorrente é o cara não usar nada e ficar do jeito que está”

A Strider domina o mercado, ainda que tenha apenas 1,2% de market share. Cada vez mais acostumado aos ciclos de plantio e colheita, Luiz sabe que ainda há muita terra para desbravar.

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  • Projeto: Strider
  • O que faz: Software para controle do manejo de pragas e aplicação de defensivos agrícolas.
  • Sócio(s): Luiz Tângari, Carlos Gonçalves e Gabriela Mendes
  • Funcionários: 40
  • Sede: Belo Horizonte
  • Início das atividades: final de 2013
  • Investimento inicial: R$ 500 mil, depois U$ 4 milhões (em duas rodadas)
  • Faturamento: R$ 25 milhões (estimativa para 2016)
  • Contato: [email protected]
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