17 mil metros quadrados cheios de tecnologia, inovação e talento no Sul do Brasil

Bruno Leuzinger - 7 out 2015
A única SAP Labs do Hemisfério Sul ocupa um prédio no Tecnosinos com certificação verde do US Green Building Council
Bruno Leuzinger - 7 out 2015
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“Sou do extremo sul da Índia, do estado de Kerala. Se você olhar para Porto Alegre no mapa, eu venho da mesma região correspondente no meu país”, diz Dennison John, de 41 anos. A correlação geográfica parece curiosa, mas é compreensível: Mr. John – ou Denny, como é chamado pelos funcionários – vive e trabalha há seis anos em São Leopoldo, na área metropolitana da capital gaúcha. Ele é presidente da SAP Labs Latin America, braço de pesquisa, desenvolvimento e suporte da SAP, a gigante alemã de softwares empresariais.

Premiado em dezembro como o melhor parque científico e tecnológico do país pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o Tecnosinos surgiu em 1999 – o nome atual data de 2009 – no âmbito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Atualmente, concentra 75 empresas de setores como tecnologia da informação (TI), comunicação e convergência digital e energias renováveis e tecnologias socioambientais, que somam 6.000 empregos diretos e movimentam R$ 1 bilhão por ano. É lá que funciona, desde 2006, a primeira unidade SAP Labs do Hemisfério Sul.

SAP Labs  Latin America

“Todo mundo fala da complexidade de se fazer negócios no Brasil, da complexidade de se calcular os impostos no Brasil”, afirma John. “A solução para isso está sendo desenvolvida nos nossos laboratórios”. Ele se refere a uma iniciativa recente da SAP Labs Latin America, criada em conjunto com parceiros de soluções fiscais e pensada sob medida para as empresas submetidas ao peso do kafkiano sistema tributário brasileiro: um software denominado Tax Declaration Framework (TDF). A ferramenta oferece aplicações para o gerenciamento de tributos em alta velocidade, com base na plataforma SAP HANA (leia mais abaixo).

O desenvolvimento de tecnologias pensadas para o contexto brasileiro tem sido o foco dos esforços da SAP Labs Latin America. Desde a sua implementação, o centro se dedicou a projetos como localizações para emissão de nota fiscal eletrônica e soluções para o setor do agronegócio. Recentemente, a SAP Labs Latin America firmou uma parceria com o Grêmio: além de ser um dos grandes clubes do futebol brasileiro, o Tricolor gaúcho se tornou o primeiro da América Latina a adotar uma ferramenta de análise de dados em tempo real para monitorar a performance dos jogadores. O acordo prevê também a modernização da gestão administrativa do clube por meio de um software da SAP. No horizonte próximo da SAP Labs Latin America estão aplicações relacionadas à Internet das Coisas (troca de dados entre eletrodomésticos, peças de vestuário, meios de transporte e objetos em geral interligados a dispositivos mobile via rede mundial de computadores); em julho, uma olimpíada de inovação entre universitários promovida pela SAP Labs Latin America se concentrou exatamente nessa linha de pesquisa.

Com 15 anos de empresa, John foi efetivado presidente da SAP Labs Latin America em março. A sede ocupa um edifício de 17 211 m², com certificação verde LEED Gold do US Green Building Council. Sensores minimizam o gasto de eletricidade otimizando o uso da luz natural, há medidores de energia individuais para cada sistema elétrico e uma estação de tratamento permite o reuso da água na irrigação dos jardins. Redes e gazebos, chás e frutas se encontram à disposição dos funcionários – hoje são 648. “Estamos crescendo organicamente, conforme as nossas necessidades”, diz John. “Hoje temos capacidade para 900 pessoas”.

Quem está lá não quer sair. Em agosto, o ranking Great Place to Work, divulgado pela revista Época, posicionou a SAP Labs Latin America em sétimo lugar entre as melhores multinacionais de médio porte para se trabalhar no país. Antes, em maio, a revista Você S/A apontou a empresa como uma das 35 melhores para se começar a carreira – em 2014, a publicação já a premiara como a melhor empresa de TI do país para se trabalhar. Segundo a SAP Labs Latin America, a empresa tem aprovação de 90% dos funcionários (a maior taxa entre os 15 SAP Labs do mundo). A média de idade é de 29 anos; um terço tem mestrado, doutorado ou alguma pós-graduação.

Mesmo assim, atrair mão-de-obra qualificada continua sendo uma questão complicada. Uma estratégia recém-adotada é despertar o interesse pelo universo de TI em quem ainda não tem idade para ter carteira de trabalho. Por meio do programa Young Thinkers, a empresa estabeleceu uma parceria com o Colégio Sinodal de São Leopoldo para capacitar professores a transmitir conteúdos didáticos ligados ao tema a alunos do ensino médio e fundamental, entre 10 e 18 anos. “Precisamos de mentes jovens, arejadas, pessoas tecnicamente qualificadas”, afirma John.

O momento da economia brasileira não assusta muito o presidente da SAP Labs Latin America. “Dois ou três anos atrás, a Índia enfrentou desafios similares e agora voltou a crescer”, diz. Ele vê mais semelhanças do que diferenças entre os dois países do BRICS. “Criatividade é um ponto em comum. São dois países inovadores, há muitos empreendimentos surgindo”. Para catalisar essa onda empreendedora, a  SAP Labs Latin America pôs em andamento o Startup Focus, um programa global de aceleração de startups por meio do uso de tecnologia SAP. O pontapé inicial foi um fórum realizado em julho, que contou com 200 participantes, startups, empresários e aceleradoras.

A SAP no mundo

Fundada em 1972 em Weinheim, no estado de Baden-Württemberg, no sudoeste da Alemanha, por cinco ex-funcionários da IBM, a hoje quarentona SAP não dá sinais de cansaço – pelo contrário. Ao fim do primeiro ano, a empresa tinha nove pessoas na equipe e uma receita de 620 mil marcos alemães (algo como 1 milhão de euros, considerando-se a inflação acumulada no período). Hoje, soma 75 mil funcionários, subsidiárias em 130 países, 300 mil clientes em quase todas as nações do globo e receita anual de 17,5 bilhões de euros.

O desempenho da SAP foi turbinado nesta década por uma inovação chamada HANA, uma ferramenta analítica de alta performance que surgiu como um banco de dados super rápido em 2011, evoluiu e se tornou uma plataforma aberta para dezenas de aplicativos de gestão. Sua tecnologia in-memory mantém os dados na memória de trabalho e permite análises hiperprodutivas de volumes descomunais de informação em alta velocidade. Em outras palavras, a plataforma simplifica e otimiza o manuseio de dados, potencializa seu alcance e transforma a geração de um simples relatório em uma experiência de Big Data em tempo real.

Por meio do SAP HANA Cloud Platform, empresas podem criar funcionalidades personalizadas para atender as suas demandas. Resolvida a fincar os pés na computação em nuvem, entre 2011 e 2014 a SAP se lançou em aquisições astronômicas: incorporou companhias como Success Factors (de softwares de gestão de RH, por US$ 3,4 bilhões), Ariba (gerenciamento de fornecedores, por US$ 4,3 bilhões) e Concur (administração de despesas e viagens corporativas, por US$ 8,3 bilhões). “Neste momento, nós somos a maior companhia de computação em nuvem do mundo, com 80 milhões de business users”, afirma John.

 

 

 

 

 

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