Gisela Blanco, que assina este texto, é jornalista mestre em Business Innovation pela University of London.
Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
BUSINESS MODEL CANVAS
O que acham que é: Algo bem moderno que as startups fazem no lugar de um plano de negócios.
O que realmente é: Ao contrário do plano de negócios, que detalha tudo sobre a empresa, desde a análise da concorrência às projeções financeiras, um modelo de negócios se concentra em como uma organização funciona, o que vende, de que forma, quem compra e quanto dinheiro isso rende. O Business Model Canvas, que em bom português significa modelo de negócios canvas, é uma metodologia para construir este modelo, dentre várias outras existentes. O que a diferencia é que esta é bem visual (daí o nome “canvas”, que em português significa quadro ou tela) e bem prática, permitindo que se construa e altere qualquer item. Isso explica o sucesso entre as startups, que nascem e crescem rápido e a todo tempo precisam mudar algo no modelo de negócios (ou até ele todo, ao fazerem o que é conhecido como pivotar). Na prática, o canvas funciona assim: em um quadro ou folha de papel, o esquema da empresa é desenhado com nove blocos, cobrindo as quatro áreas mais importantes de qualquer negócio: clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade financeira. O ideal é que esse esquema fique à vista o tempo inteiro, para que sócios e funcionários da companhia possam ver e sugerir mudanças no dia a dia. Como no design thinking, aqui também é comum ver muitos post-its colados: para alterar um tipo de cliente, por exemplo, basta amassar um papel amarelo e trocar por outro.
Quem inventou: O escritor, pesquisador e empreendedor suíço Alexander Osterwalder, que criou o método baseado em suas próprias pesquisas na Universidade de Lausanne sobre vários tipos de modelos de negócios, e nas contribuições de mais 470 pesquisadores e empreendedores de 45 países. Hoje, Osterwalder viaja o mundo dando aulas e palestras sobre o Método Canvas. Nessas apresentações, não é raro vê-lo literalmente queimando planos de negócios, que ele considera ultrapassados e muito menos úteis do que o modelo canvas.
Quando foi inventado: Em 2008, quando Osterwalder lançou o livro Business Model Generation, com a proposta do canvas. O livro foi traduzido para 30 línguas e vendeu mais de 1 milhão de cópias. Fez sucesso não só pelo método que ele traz, mas também pela forma como o apresenta: com design moderno, bonito e divertido, cheio de imagens e infográficos.
Para que serve: “Quando um empreendedor está testando uma nova ideia de negócio, é comum ser aconselhado a fazer um plano de negócios, listando qual vai ser a receita, os custos etc. Um monte de coisas sobre as quais ele não faz a mínima ideia. Em contrapartida, o modelo de negócios é ágil, permite que você teste e mude o tempo todo, inove”, afirma Gérman C. Alfonso, professor da Fundação Dom Cabral e sócio da consultoria Nodal, que assina o prefácio da versão brasileira do livro de Osterwalder. “É um modelo útil em qualquer momento e que deve ser mantido na parede o tempo todo para ser alterado usando só post-its, nunca escrevendo diretamente nele”, diz.
Quem usa: Grandes empresas como 3M, Ericsson e Deloitte são citadas na versão original do livro. Na edição brasileira, organizações Globo e Votorantim entraram na lista das que usam o business model canvas. Dentre as startups, não é exagero dizer que todas usam ou em algum momento vão ter que usar o método ou formas adaptadas dele. “Em um elevator speech, por exemplo, o empreendedor não tem tempo para contar o plano de negócios. Já o canvas, é fácil de mostrar”, diz Gérman Alfonso Ruiz.
Efeitos colaterais: Com o sucesso do método, surgiram vários outros parecidos, simplificações e adaptações, que podem tanto ajudar quanto confundir os empreendedores. Há modelos com menos blocos (cinco ou quatro em vez dos nove originais), e outros específicos para gerência de projetos, para administrar a própria carreira, para projetos sociais e por aí vai.
Quem é contra: A maior controvérsia em torno do modelo canvas é se ele realmente deveria substituir o plano de negócios. Hoje, boa parte dos administradores experientes acreditam que não: plano e modelo de negócios são coisas diferentes e cada um tem sua função específica. É o que pensa Maria Rita Bueno Spina, da Anjos do Brasil. “É preciso saber que tudo isso são só instrumentos, que a gente usa dependendo do momento e da necessidade”, afirmou ao Draft em uma reportagem sobre investimento em startups. Segundo ela, todo tipo de plano funciona apenas como um guia, para que possa ser adaptado de acordo com a necessidade. Gérman Alfonso Ruiz acredita que negócios inovadores, tecnológicos, deveriam sempre fazer antes um modelo de negócios canvas. “Em um próximo estágio, já com a empresa mais madura e o modelo validado, faz mais sentido escrever o plano de negócios”, afirma. Afinal, as funções de um e de outro são mesmo diferentes: um plano tradicional, para ser apresentado a investidores, costuma levar em conta, por exemplo, a concorrência e o ambiente externo (a economia do país e do mercado). Coisas que não fazem parte de um desenho do modelo de negócios.
Para saber mais:
1) Leia o livro Business Model Generation, de Alexander Osterwalder.
2) Conheça o site do livro, que tem textos, imagens e vídeos com exemplos, além de um aplicativo para ajudar a fazer canvas.
3) Assista essa palestra da Endeavor com o empreendedor Marcelo Salim explicando como inovar em modelos de negócios.
4) Fique atento sobre o que não fazer nesta apresentação sobre modelos de negócios que fracassaram.
Veja aqui mais verbetes desta série.