Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
GERAÇÃO X
O que acham que é: A geração de fãs da série Arquivo X.
O que realmente é: A geração dos nascidos entre 1965 e 1978. Apesar de não existir consenso, essa é a janela de tempo adotada pela maioria dos especialistas e que, obviamente, influencia também na classificação etária-comportamental das gerações anteriores (Veteranos e Baby Boomers) e posteriores (Y, Z e Alpha, das quais falaremos nos próximos Verbetes Draft).
Luiz Arruda, consultor sênior da WGSN Mindset, diz que muito se discute sobre as divisões exatas das gerações. “Há discordâncias entre teóricos e profissionais de marketing, mas consideramos relevante para o mercado a linha do tempo que vai desde a Geração dos Boomers, entre os anos 1946 e 1964, até a Geração Alpha, de 2010 a 2014.”
Gustavo Pessoa, psicólogo, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP e cofundador da Talent Matching, diz que, em geral, uma geração é compreendida por contraste em relação à anterior e por um agrupamento de características que refletem as mudanças sociais encapsuladas à época de seu desenvolvimento. “A Geração X carrega em si mais individualismo do que a os Baby Boomers. É uma geração que busca a recompensa pelo mérito, respeita a hierarquia e está disposta a trabalhar duro para conquistar desafios”, diz. Já na esfera dos relacionamentos, a Geração X é mais afetiva e progressista que a anterior, “influenciada pelo clima dos anos 1960, começou a abandonar o conservadorismo advindo do fim da Segunda Guerra”. O Telegraph apontou, numa reportagem, os personagens do seriado Friends como um exemplo bem claro da Geração X.
De acordo com Arruda, a Geração X passou por rupturas mundiais significativas, como o movimento hippie, o pós guerra e a polarização da Guerra Fria. No Brasil, o Golpe de 1964, a ditadura militar e o movimento “Diretas Já”, com a abertura política. “Além disso, a Geração X vivenciou o avanço da tecnologia e dos meios digitais. Viu nascer o computador, o celular, a internet. Hoje, chegam aos seus 40 e 50 anos e já construíram suas carreiras, tópico muito importante em suas vidas”, diz, e prossegue afirmando que os X buscam segurança e estabilidade, são pragmáticos e ainda acreditam na ideia da construção de uma carreira “linear”, equilibrada com a vida pessoal. “Atualmente, estão preocupados por perder o espaço no mercado de trabalho para profissionais mais jovens e flexíveis.”
Como a classificação comportamental de um grupo não considera as individualidades, é natural que muitos X se identifiquem apenas parcialmente (ou quase nada) com as características de sua geração. Outro ponto a se considerar é que a proximidade com a geração posterior ou anterior também influencia na auto-identificação. A Geração X, hoje, compreende aqueles que têm entre 38 e 51 anos. As diferenças podem ser grandes.
Quem inventou: “William Strauss e Nile Howe são os autores mais emblemáticos desse movimento nomeador das gerações, mas existem muitos outros”, afirma Pessoa. Arruda diz que o termo “Geração X” foi criado pelo fotógrafo Robert Capa, cofundador da Agência Magnum em Paris. Um texto da BBC, em 2014 fala como uma série de entrevistas feitas por uma jovem repórter inglesa, Jane Deverson, com jovens britânicos no início dos anos 1960 foi publicada no livro Generation X, de Charles Hamblett, um sucesso de vendas. Já o Telegraph faz referência à Capa mas diz que o nome pegou mesmo graças o livro Generation X: Tales for an Accelerated Culture, de Douglas Copeland, sobre americanos chegando à vida adulta no fim dos anos 1980.
Quando foi inventado: O movimento que classifica gerações se fortaleceu a partir das revoluções industriais do início do século e da formação da linha de produção. O material de Robert Capa é de 1950, o livro de Charles Hamblett e Jane Deverson, de 1964 e o de Copeland, de 1991.
Para que serve: Classificar gerações tem diversos fins. “Para entender os funcionários e administrá-los, para entender os consumidores e assegurar mais vendas”, diz Pessoa. Para Arruda, classificar e definir gerações é uma parte importante do cotidiano da rede que envolve marketing, agências de propaganda e consultorias de negócio e tendências. “Elas balizam uma série de escolhas estratégicas e criativas e são relevantes para a definição mais acurada dos públicos-alvo, além da adequação das estratégias de mercado, produto e comunicação”, diz. Uma vez conhecidas as principais características, desejos e demandas de cada target, fica mais fácil traçar um “caminho” assertivo e relevante até eles.
Quem usa: Profissionais de marketing, agências de propaganda, consultorias de negócio e tendências. Governos também, nas áreas educacionais e de saúde, por aplicarem estratégias de acordo com a faixa etária do público atendido.
Efeitos colaterais: Toda classificação é uma generalização e, por isso, é impossível abarcar a complexidade de todos os indivíduos. Arruda ressalta que enxergar alguma característica geracional como “fraqueza” ou “ponto negativo” é algo que depende do ponto de vista. “Afinal, o que é melhor: ter um raciocínio linear ou não linear? Ser mais focado ou multitarefa?” Por sua vez, Pessoa diz que a rebeldia e a busca pela liberdade características da Geração X trouxeram muitos benefícios mas, por outro lado, elevaram o nível de tensão do mercado, pois acirraram a competitividade e formaram a primeira grande geração de workaholics.
Quem é contra: O mercado pode ser contra no sentido de que “deve” à Geração X recompensas individuais (na geração anterior o mercado era mais coletivizado; os sindicatos eram mais fortes as pessoas se identificavam com as empresas, na qual “faziam carreiras” de décadas). Nas esferas social e pessoal, é aqui que surgem, segundo Pessoa, os confrontos geracionais já que os X acreditam ter direito à liberdade de expressão e lutam por ela. “É a geração que valoriza a assertividade e acredita que cada um precisa ser valorizado pelo que é. Isso terá uma consequência direta em seus filhos, da geração Y, que acabam sendo supervalorizados”.
Para saber mais:
1) Leia, no Salon, Generation X gets really old: How do slackers have a midlife crisis?. O texto fala como essa geração reage aos problemas econômicos e à nostalgia que, como diz o subtítulo, nem Winona Rider pode salvar (embora o texto tenha sido escrito em 2013, antes de Stranger Things).
2) Leia, no The Atlantic, A Politics for Generation X. O autor explica por que os jovens adultos americanos de hoje são os menos politizados da história e propõe medidas para acordar essa geração.
3) Leia, na Forbes, Generation X: Once Xtreme, Now Exhausted. O texto traz uma série de dados de mercado para, depois, linkar para uma foto de 1990 da Time cuja chamada de capa é: “Laid back, laid blooming or just lost? Overshadowed by the baby boomers, America’s next generation has a hard act to follow.”
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