Verbete Draft: o que é Smart City

Isabela Mena - 29 mar 2017
Parece o Big Brother, mas é o centro de operações da prefeitura do Rio de Janeiro. A cidade foi recentemente considerada uma Smart City. O desafio, por óbvio, é tornar realidade a ideia de que a tecnologia trará mais qualidade de vida aos cidadãos (foto: George Soares/divulgação).
Isabela Mena - 29 mar 2017
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

SMART CITY

O que acham que é: O mesmo que Fab City.

O que realmente é: Smart City (Smart Cities, no plural) são cidades que utilizam a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) em favor da “inteligência” coletiva dos cidadãos, das empresas e do governo. Segundo Rene José Rodrigues Fernandes, professor e gerente de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV-CENN), o conceito também engloba cidades que possuem uma visão progressista de sua gestão e que buscam sustentabilidade social, ambiental e econômica. “Esse é o conceito majoritariamente utilizado mas, por ser algo novo, ainda existe controvérsia em relação à definição”, afirma.

Javiera Macaya, coautora do livro Smart Cities — Transformação Digital de Cidades, pesquisadora do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG-FGV) e analista do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), também diz que não há uma definição consensual e que o elemento importante de uma Smart City é a visão holística que abrange indivíduos, instituições e tecnologia. “As Smart Cities são um conjunto de soluções para problemas urbanos que, por meio do uso de Tecnologias da Informação e Comunicação, permitem ofertar soluções mais rápidas, eficientes e com maior capilaridade, possibilitando o acesso mais fácil e rápido a serviços urbanos pela população”, diz ela.

Vale ainda diferenciar Smart City e Fab City. Esta última, de acordo com Heloisa Neves, fundadora da We Fab (uma consultoria maker que aplica colaboração a processos de inovação e implantação de Fab Labs), e professora do Insper, uma Fab City é uma cidade que resolve adotar metas — redução de carbono, minimização da produção de lixo e relocalização da manufatura, por exemplo — para fazer com que a vida dos cidadãos possa ser melhor. “Para isso, utiliza laboratórios do tipo Fab Lab, nos quais se prototipam ideias e conectam pessoas.”

Quem inventou: Não há um inventor. Segundo Macaya, o surgimento do conceito de Smart City não é claro. “Mas está relacionado à rede urbana de TIC, à propriedades de TIC na cidade e aos Living Labs urbanos.”

Quando foi inventado: “O conceito está atrelado às ideias do Novo Urbanismo (década de 1980) e à era Pós-Digital”, conta Macaya.

Para que serve: De acordo com Fernandes, para mostrar projetos de cidades que buscam agregar as TICs na melhora da qualidade de vida de seus habitantes, seja com monitoramento de trânsito e da segurança pública, com canais que facilitem o atendimento cidadão (como os SACs informatizados), com a digitalização do pagamento de tributos, a facilitação de burocracias na obtenção de alvarás etc. “Cidades que possuem uma ligação mais “inteligente” entre suas redes tendem a ter um crescimento sustentável mais acelerado”, diz o professor.

Quem usa: Barcelona, Londres, Copenhagen, Estocolmo, Cingapura e Yokohama são os exemplos mais conhecidos de Smart Cities. Em Nova York, todo o sistema de atendimento ao cidadão digital é concentrado em um único canal. Em 2013, o Rio de Janeiro ganhou o título de Smart City do ano na Smart City Expo World Congress. O Centro de Operações Rio (COR) é sua grande vitrine, montado para congregar sistemas de informações e processos de 30 agências do governo municipal e permitir monitoramento e resposta rápida a emergências.

Macaya conta que empresas de tecnologia como Cisco, IBM e Telefónica e agências multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), através da Iniciativa de Cidades Emergentes e Sustentáveis (ICES), são as principais apoiadoras dos projetos de Smart Cities. “Um exemplo é o de Águas de São Pedro, no interior do Estado de São Paulo, que recebeu o projeto de Smart City da Telefónica. No caso da ICES, há oito cidades brasileiras recebendo o apoio do BID para identificar as áreas prioritárias de atuação locais, incluindo soluções de Smart City.”

Fernandes diz que as experiências de Smart Cities são, em sua grande maioria, capitaneadas pelo poder público em parceria com empresas de TICs, Thinks Tanks e outros, que provêm tecnologia e conhecimento. “Geralmente são parcerias público-privadas nas quais as empresas prestam serviço para o poder público. Há, ainda, casos em que as TICs são desenvolvidas pelo próprio governo, mas são mais raros.”

Efeitos colaterais: Risco de gentrificação e de exposição indevida ou mau uso dos dados dos cidadãos.

Macaya diz que a gentrificação seria resultante de uma distribuição não homogênea das tecnologias mas que não chamaria a questão exatamente de efeito colateral e, sim, de ponto de atenção. “Se a política pública for desenhada abrangendo esses pontos, tais efeitos podem ser contornados ou minimizados.”

Fernandes fala que a questão da privacidade (segurança) da informação e da vigilância, nas cidades inteligentes, é algo bastante levantado. “A partir do momento que estamos todos ligados em rede, ficamos suscetíveis a ataques e vazamentos de dados pessoais e informações sigilosas”, diz. Ainda segundo o professor, muitas das informações dos cidadãos estão sob o controle de empresas privadas, que podem usá-las em seu favor. “Em última instância, o controle dessas informações poderia levar ao controle do cidadão e consequente ao enfraquecimento das democracias. No cinema e na televisão não faltam exemplos que mostram cidades e países se tornando plutocracias ou caindo nas mão de grandes corporações.”

Quem é contra: “É difícil haver quem tenha um posicionamento contrário às Smart Cities, principalmente porque elas oferecem uma ampla gama de soluções para a vida urbana. Há posicionamentos críticos, porém, sobre a consideração da privacidade e da propriedade dos dados”, diz Macaya.

Para saber mais:
1) O jornal inglês The Guardian, tem um link sobre Smart Cities com dezenas de reportagens sobre o tema. Clique e acesse textos escritos a partir de maio de 2015.
2) Leia, no Computerworld, Just what is a smart city? O texto parte da questão sobre a falta de consenso conceitual (“há muitas definições nebulosas”) e fala sobre Smart Cities ao redor do mundo.
3) Leia, no TecMundo, Smart cities: como a tecnologia pode melhorar sua cidade nos próximos anos. Um dos pontos interessantes do texto é apontar para o fato de que as cidades são diferentes entre si e o projeto de Smart City não pode ser engessado.
4) Leia, no SmartCity Business, Empresa italiana cria smart city para famílias de baixa renda no Brasil. A cidade em questão é São Gonçalo do Amarante, no Ceará, primeira Smart City social do mundo.
5) Leia, na Business Insider, THE SMART CITIES REPORT: Driving factors of development, top use cases, and market challenges for smart cities around the world.

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