A história de sucesso do Dodge Dart no Brasil não está ligada somente à superioridade tecnológica do modelo frente aos seus rivais de época ou por ele ter se tornado, há 50 anos, o carro nacional com o motor de maior cilindrada, título que perdura até hoje. De acordo com os apaixonados pelo clássico, o “Dodjão” transformou-se em ícone por ser um veículo que tem alma.
“Não é um carro. É como se fosse uma pessoa. Quem tem, possui uma ligação extremamente forte com ele”, garante o colecionador Lincoln Gomes, que, assim como o Dart, celebrou em 2019 seus 50 anos.
No caso do automóvel, o lançamento ocorreu em outubro de 1969, quando as primeiras unidades saíram da linha de montagem da então Chrysler do Brasil S.A., em São Bernardo do Campo (SP).
“Dos meus 50 anos, nada menos que 48 estão ligados ao Dodge. Meu pai comprou um Charger R/T zero quilômetro em 1972. Eu tinha dois anos e, desde então, me encantei pelo veículo. Prova disso é vista numa foto em que estou dentro dele e com um enorme sorriso no rosto. ‘Crescemos’ juntos até meus dez anos, quando meu pai infelizmente o vendeu”, lembra o gerente de vendas.
O enorme afeto de Gomes por aquele Charger R/T branco fez com que ele se tornasse ainda mais fã do modelo. “Lembro de ir com o meu pai na loja para vendê-lo e, na ocasião, eu disse a mim mesmo que, quando crescesse, compraria um Dodge Dart igual. E foi exatamente o que fiz em 1999. Encontrei, digamos, um irmão gêmeo com direito a placas que remetem à Chrysler, à versão do carro e ao ano de fabricação (CRT-1972)”, conta o hoje presidente do Chrysler Clube do Brasil.
Outra paixão pelo Dart nascida na infância é vivida por Fábio Pagotto, que também cresceu dentro de um Dodge. “Lembro com muito carinho do Dart 1975 que meu pai teve, porque eu, à época com 11 anos, dormi dentro do carro quando ele chegou à nossa casa. Era um veículo incrível, muito mais forte e muito mais rápido que os outros que tínhamos no Brasil. Nas viagens em que fazíamos, o Dodge deixava todos para trás. Para uma criança, olhando por cima do ombro do pai o velocímetro aumentar a velocidade, era muito emocionante. Isso fez eu me apaixonar pelo carro”, explica o engenheiro, que preserva até hoje o Dart 1979 azul que comprou em 1986.
“Ele me traz muitas lembranças boas, além do prazer pelo som peculiar do motor V8 e pela ótima sensação ao volante. Dirigir o Dart é uma terapia, pois ele não é apenas um automóvel que leva você do ponto A para o ponto B. O motorista ‘veste’ o Dodjão, sente o coração bater mais forte e acaba se apaixonando mesmo”, descreve o autor do livro Dodge – Esportividade e Potência.
Em 12 anos de fabricação no Brasil, o Dodge Dart teve 93.008 unidades produzidas. Destas, nada menos que 106 fazem parte da extensa coleção do empresário Alexandre Badolato, que se diz sortudo por ser do mesmo “ano/modelo” de criação do clássico. “Nasci em 1970 e, assim como meus amigos Lincoln e Fábio, eu vivo e respiro Dart desde sempre. Acredito que ele seja tão amado no país por causa do enorme abismo existente entre o Dart e os carros do Brasil até então. Ele era absurdamente diferente, muito mais potente e tecnológico. Além disso, foi primeiro carro da indústria automobilística brasileira a ser atual em relação aos veículos vendidos em países mais desenvolvidos”, ressalta o colecionador e criador do Museu do Dodge, localizado em Campinas (SP).
No acervo de Badolato, há raridades como o último Dart fabricado no Brasil e o modelo 1979 que pertenceu ao seu avô.
“Foi o Dart em que passei a minha infância e que meu avô tinha desde zero quilômetro. Ele havia sido vendido, mas felizmente o recuperei e o preservo guardado no museu. Qual é o meu favorito? A resposta que sempre dou é: ‘o próximo que eu comprar”, brinca.
E quem pensa que carro de coleção não roda está muito enganado; roda, e muito! “Faço longas viagens com os meus Dart, porque, além da emoção que sinto por todas as boas histórias que o Dodge me proporcionou na vida, ele ainda é um modelo bastante confortável para os dias de hoje”, afirma Lincoln Gomes, dono de 11 Dodjões atualmente. “O Dart tem mecânica simples, é espaçoso e gostoso de dirigir”, complementa Badolato. “Há ainda a satisfação pelo contato com as pessoas nas ruas. Todo mundo olha para o Dart e quer conversar. Várias amizades surgiram por causa do carro”, destaca Pagotto.
No que depender dos colecionadores, a paixão pelo Dart será sempre transmitida para as próximas gerações. “Minha filha saiu da maternidade a bordo de um Dodge Charger RT 1972 verde. Na festa de aniversário de seus 15 anos, ela exigiu ser levada com esse mesmo modelo”, revela Gomes. “Meu filho mais velho gosta bastante do Dodjão, cresceu dentro de um, assim como eu, e hoje em dia até o dirige. Foi contaminado por esse amor”, conta Pagotto. Que venham os próximos 50 anos de muitas histórias de amor pelo Dart!
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