“The future is female” não é apenas um slogan de camiseta. Segundo o relatório “Empreendedorismo Feminino no Brasil”, divulgado pelo Sebrae em março de 2019, as mulheres são hoje 34% do universo de 27,4 milhões de donos de negócios no Brasil. Ano a ano, elas têm ganhado força e presença no mercado, mas o cenário ainda é desigual. A pesquisa também mostra que, na média, empresárias mulheres com CNPJ pagam taxas de juros mais altas do que os homens, mesmo com inadimplência menor.
Ao longo de 2019, publicamos no Draft dezenas de histórias de empresas comandadas por mulheres, entre Startups, Negócios Criativos e Negócios Sociais. Para fechar o ano, compilamos 12 dessas histórias, uma de cada mês (aliás, é legal notar que nove repórteres mulheres assinam dez dessas reportagens).
Confira nossa retrospectiva:
Em janeiro, no primeiríssimo dia de 2019, apresentamos a Nuwa, um clube de negócios e coworking para mulheres em Porto Alegre. Colegas de faculdade, as publicitárias Gabriela Teló e Gabriela Stragliotto brincavam que um dia abririam uma empresa juntas. Seguiram trajetórias distintas, até que convergiram no ideal de ajudar outras mulheres a desenvolverem seu potencial empreendedor. “Tenho a sensação de que o mercado não leva os negócios femininos a sério”, explicou Gabi Teló. “É preciso mudar isso.” (Leia nossa reportagem sobre a Nuwa).
A advogada carioca Patricia Antonini sofreu durante anos com a obesidade e o efeito sanfona. Recorreu a cirurgia bariátrica, reeducação alimentar, nutricionistas e exercícios físicos para finalmente vencer a luta contra a balança.
Inspirada por sua própria reinvenção, Patricia (que hoje mora em Miami) empreendeu a Lean2gether, um programa de coaching para saúde. Contamos sua história em fevereiro. “Eu adoro o que faço, sem pieguice. Não é trabalho, é uma missão.” (Leia nossa reportagem sobre a Lean2gether).
Em março, contamos a história de Kátia Teófilo. Durante duas décadas, enquanto emendava empregos administrativos, ela alisava seus cabelos crespos — um hábito que começou na infância, por ser alvo de chacota.
Ao se tornar mãe, Kátia entendeu que precisava se aceitar e servir de exemplo à filha, Eloisa. A mudança a inspirou a fundar o Império dos Cachos, um salão em Jundiaí (SP) especializado em cabelos crespos e cacheados. “Nunca me senti tão realizada profissionalmente.” (Leia nossa reportagem sobre a Império dos Cachos)
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Taynara Alves se apaixonou por química na primeira aula do Ensino Médio, numa escola estadual no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo.
Esse encanto determinou seu futuro profissional: ela está à frente da InQuímica, startup (apresentada aqui em abril) que desenvolveu uma solução líquida para purificar frutas, legumes e verduras, removendo até 85% dos metais pesados oriundos de agrotóxicos. “No topo da lista de mais contaminados, estão o pimentão, o tomate e o morango.” (Leia nossa reportagem sobre a InQuímica)
Natural de Bauru (SP), Ana Laura Coffani sonhava em seguir carreira corporativa numa multinacional. Mas os sonhos mudam… Sua história apareceu aqui em maio: Ana Laura hoje é a CEO da Guni, uma rede social para o público universitário criada por ela com colegas do curso de Administração da USP, em Ribeirão Preto (SP).
“Para os próximos cinco anos, o objetivo é passar de quatro milhões de usuários, 70% dos alunos de graduação em cursos presenciais no Brasil.” (Leia nossa reportagem sobre a Guni).
Formada em Fisioterapia, a goianiense Polly Ramos manteve por dois anos seu consultório até reconhecer que estava infeliz. Contamos sua história em junho.
Estilista “por observação” (ela cresceu vendo a mãe costurar vestidos de noiva), e notando a velocidade com que sua filha, Alice, crescia, Polly criou a Mi, uma marca de roupas para meninas em que cada peças tem uma sobra de tecido no forro, que pode ser descosturada para esticar seu tamanho. “Estimulamos o consumo consciente.” (Leia nossa reportagem sobre a Mi).
Na infância, em Araraquara (SP), Mariana Pavan adorava desmontar objetos. Cresceu, virou engenheira ambiental e trabalhou por cinco anos no Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, em Manaus. Sua vida deu uma guinada: hoje, Mariana está à frente da Agiliza Lab, que realiza workshops de hidráulica, elétrica e pintura em São Paulo, com foco no público feminino.
Publicamos sua história em julho. “Dá para sentir a alegria no ar quando as alunas montam e fazem funcionar uma tomada!” (Leia nossa reportagem sobre a Agiliza Lab)
Em agosto, contamos a história de Cristina Leonhardt. Com 15 anos de bagagem na área de P&D de grandes empresas, a engenheira de alimentos gaúcha trabalhava como autônoma quando viajou a Fortaleza, em 2016, para dar um workshop.
Foi aí que conheceu seu sócio, Dafné Mota. Juntos, empreenderam a Tacta Food School, uma escola de cursos práticos com foco na indústria alimentícia. “A grande sacada foi compreender bem este mercado, perceber suas lacunas e atuar em cima disso.” (Leia nossa reportagem sobre a Tacta Food School)
Dani Junco trabalhava numa agência de marketing voltada à indústria farmacêutica quando começou a se questionar sobre que tipo de mundo deixaria para o filho, Lucas. Assim, em 2016, ela fundou a B2Mamy, uma aceleradora de negócios comandados por mães empreendedoras.
Apresentamos sua história em setembro, mês de abertura da Casa B2Mamy, um espaço baby friendly em São Paulo para trabalho, reuniões, eventos e trocas de experiências. “A B2Mamy atrai mulheres com ‘sangue no olho’, que querem fazer algo real.” (Leia nossa reportagem sobre a B2Mamy)
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Durante um estágio em uma companhia de concessão de infraestrutura, em 2017, a sul-matogrossense Evelin Mello foi apresentada pelo seu chefe ao conceito de Negócios Sociais. No ano seguinte, recém-formada, a engenheira civil fundou a Digna Engenharia Social.
A empresa, que foi pauta em outubro, realiza pequenas reformas, com preços acessíveis, na periferia de Campo Grande (MS). “No mercado de engenharia civil, é difícil encontrar quem queira trabalhar com pequenas reformas.” (Leia nossa reportagem sobre a Digna Engenharia Social)
O florescente mercado em torno da cannabis medicinal foi pauta em novembro. Entre outros negócios, abordamos a Dr. Cannabis, uma plataforma online que conecta pacientes que precisam de tratamento à base de cannabis e médicos dispostos a prescrevê-los.
Formada em Relações Públicas, Viviane Sedola está à frente da empresa, fundada em 2018. “Há mais de 45 mil médicos no Brasil hoje. Ter só cerca de 1 100 aprovados pela Anvisa para receitar esses medicamentos é uma proporção muito pequena.” (Leia nossa reportagem sobre a Dr. Cannabis)
Publicitária e cientista social com pós em marketing, Claudia Pires trabalhou por duas décadas no mercado corporativo, até decidir empreender um negócio social.
Contamos sua história em dezembro. Claudia é a fundadora da So+ma Vantagens, que estimula a reciclagem por meio de um programa de pontos, que podem ser convertidos em benefícios (como alimentos ou cursos). A So+ma mantém unidades de coleta em São Paulo, Curitiba e Salvador. “Somos uma fintech em que a atitude é o meio de pagamento.” (Leia nossa reportagem sobre a So+ma Vantagens)
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Feliz 2020!
Lívia Müller tinha estabilidade financeira, mas faltava felicidade em sua vida. Ela pediu a separação e se encontrou no empreendedorismo, produzindo as peças e amuletos da Freya Joias, que celebram divindades femininas.
O Brasil é um país de leitores? Tainã Bispo acredita que sim. Ela migrou de carreira, criou duas editoras independentes (a Claraboia, que só publica mulheres, e a Paraquedas), um selo editorial e um serviço de apoio a escritores iniciantes.
Empresas são feitas por pessoas e às vezes também precisam “deitar no divã”. Depois de deixar a ONG feminista Think Olga e a startup Think Eva, Jules de Faria hoje toca o Estúdio Jules, que ajuda marcas a redescobrirem sua razão de ser.