Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
VEGANUARY
O que acham que é: Um meme zoando veganos no começo do ano.
O que realmente é: Veganuary é um trocadilho em inglês — formado a partir do acrônimo das palavras vegan (de veganismo) e january (janeiro) — criado para convocar pessoas a manter uma alimentação estritamente vegetariana durante todo o mês de janeiro. A ideia é que o hábito se mantenha pelo resto do ano (ou da vida, quem sabe).
Cunhado por uma ONG inglesa de mesmo nome, e que propõe o desafio em seu site, o termo Veganuary já se popularizou como prática independente e freestyle. Há um mundo de conteúdo nas redes, principalmente em hashtags e páginas no Instagram.
Segundo Camila Secches, endocrinologista especializada em nutrologia, desafios como o Veganuary ou a Segunda Sem Carne são úteis por proporcionarem um contato inicial com a dieta. “Muitas vezes é por meio desses artifícios que a alimentação vegetariana estrita é desmistificada e percebida como prazerosa e benéfica para a saúde”, afirma. “Com apenas um dia de dieta vegana à base de alimentos integrais e naturais é possível perceber melhora na disposição, no raciocínio, no aspecto da pele e dos cabelos, no funcionamento intestinal e na qualidade do sono”.
Pelo rumo que as coisas estão tomando no mundo, principalmente em relação à crise climática, o Veganuary parece ser mais que uma promessa furada de ano novo. Diante do alto número de participantes em 2019, o jornal inglês The Guardian intitulou uma matéria de “Year of the vegan?”. Pouco tempo depois, a The Economist mandou um “The year of the vegan” na seção The World in 2019. Não sabemos ao certo, mas parece pergunta e resposta.
Para os que se sentem compelidos a salvar o planeta mas têm medo de trocar o fim do mundo por inanição, Secches diz ser um mito a ideia de que o vegetarianismo estrito é incompleto em nutrientes. “A dieta vegetariana, mesmo sem orientação profissional, reduz o risco de doenças crônicas responsáveis pela maioria das causas de morte no Brasil e no mundo. Ou seja, um vegetariano precisa menos da ajuda de um médico ou nutricionista do que um onívoro, ao contrário do que se pensa.”
Origem: A Veganuary é uma organização sem fins lucrativos que propõe a experiência da dieta vegana no mês de janeiro desde que foi fundada, em 2014. Seus objetivos são conscientizar a população sobre a crise climática, evitar o sofrimento dos animais e melhorar a saúde da população por meio da alimentação.
Sua influência é mundial e o número de inscritos no desafio vêm praticamente dobrando a cada ano. Em janeiro de 2019, o site recebeu mais de 250 mil inscrições de 193 países. No Reino Unido, o esforço foi coletivo e 500 marcas, restaurantes e supermercados promoveram a campanha. Também foram lançados mais de 200 novos produtos e cardápios veganos. Para este ano, a projeção é que o número de inscritos chegue a 350 mil.
Participar da experiência na página da ONG é gratuito e tem lá suas vantagens: a inscrição (que pode ser feita em inglês, alemão, espanhol e português) dá direito ao download da edição 2020 do “Celebrity Cookbook” (as receitas são variadas, mas as celebridades são pouco conhecidas, pelo menos por aqui) e ao recebimento diário de e-mails com dicas e informações que servem também de estímulo durante a jornada vegetal.
O que é o quê: Hoje, basicamente, há quatro categorias de dieta: onívora, pescetariana, ovolactovegetariana e vegana (ou vegetariana estrita).
A onívora permite o consumo de carnes (boi, porco, frango), peixes, frutos do mar, ovos, mel, leite e derivados (queijo, manteiga, iogurte etc.); a pescetariana exclui carnes (de boi, porco, frango) e permite peixes, frutos do mar, ovos, mel, leite e derivados (queijo, manteiga, iogurte etc.); a ovolactovegetariana, popularmente chamada apenas de vegetariana, exclui carnes (boi, porco, frango), peixes e frutos do mar e permite ovos, mel, leite e derivados (queijo, manteiga, iogurte etc.).
A dieta vegana (ou vegetariana estrita) exclui o consumo de carnes (boi, porco, frango), peixes, frutos do mar, ovos, mel, leite e derivados (queijo, manteiga, iogurte) e permite alimentos vegetais como verduras (alface, couve, rúcula, brócolis, escarola), legumes (abobrinha, beringela, chuchu e outros), frutas (maçã, banana, laranja), cereais (arroz, trigo, aveia, milho), leguminosas (feijões, grão-de-bico, soja, lentilha, ervilha), oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas e sementes de girassol, abóbora, linhaça), tubérculos (batata, cenoura, inhame, mandioquinha), cogumelos (shitake, shimeji, portobello, paris), algas marinhas (kombu, nori, arame, wakamé, ágar-ágar) e óleos (azeite de oliva, óleo de coco, girassol, linhaça, soja).
Nos parênteses dos alimentos vegetais estão apenas alguns exemplos de cada tipo.
Quem encara: Pessoas dispostas a ações individuais para combater a crise climática; defensores dos direitos dos animais e contra o especismo; pessoas em busca de alimentação plant based (vegetal).
Segundo um estudo publicado em meados de 2018, na Science, evitar carnes e laticínios é a atitude mais eficaz que cada pessoa pode tomar individualmente para reduzir o impacto ambiental no planeta. Sobre o tema e com dados e gráficos, o The Guardian publicou a matéria “Avoiding meat and dairy is ‘single biggest way’ to reduce your impact on Earth” (link no item “Para saber mais”).
Percalços: Vegana há três anos, Secches elencou três desafios que provavelmente irão aparecer no caminho de quem pretende adotar uma dieta vegana e sugeriu atitudes que podem ajudar:
Desafio 1: O maior deles é o sociocultural já que tanto refeições do dia a dia (em família ou no trabalho) como jantares comemorativos, almoços de negócio e happy hour com amigos, entre outras circunstâncias, associam o convívio social a refeições que incluem carnes, ovos, leite e derivados.
— O que fazer: Planejar. Em casa, oferecer modificações para pratos tradicionais. Ao sair, propor restaurantes veganos e/ou locais em que há opções veg no cardápio.
Desafio 2: Críticas e questionamentos das pessoas que se preocupam com nossa saúde. A informação equivocada de que precisamos de alimentos de origem animal para termos boa saúde é mundialmente difundida e aceita. Dessa forma, é preciso força para manter a decisão sobre a dieta.
— O que fazer: Informar. Compartilhar estudos e reportagens de fontes confiáveis. Ser resiliente. E ter paciência.
Desafio 3: Adaptar as refeições antigas para o veganismo, aliando saúde e prazer. Parece simples, mas pode ser o passo mais difícil já que estamos condicionados a enxergar a carne como alimento principal e os legumes, grãos e cereais como acompanhamento. Quando vegetais assumem o protagonismo, pode ser bastante difícil repensar a culinária no início.
— O que fazer: Pesquisar. Tanto on como off-line, há centenas de receitas e ideias de pratos, sobretudo dos que comemos no dia a dia. Há também dicas de planejamento de pratos nutricionalmente equilibrados que ajudam a não sucumbirmos aos industrializados e processados. O desafio pode exigir um grande esforço de adaptação.
Há ótimas receitas (entre mais simples e mais elaboradas) nos sites Papacapim, Presunto Vegetariano, Diário de uma Vegana, e nas contas @logoeu_veganapobre, @vegana.bacana e @virandovegana (este último, para ideias de pratos simples), no Instagram. Há muitos outros.
Indústria: É cada vez maior e variada a oferta de restaurantes e produtos veganos industrializados. Estão nessa até mesmo Mc Donald’s e Pizza Hut. Há uma versão vegana da maionese Hellmann’s, sem contar as versões de carne elaboradas pelas chamadas Foodtechs.
É um mercado milionário e promissor e que tem gerado muitas críticas. De um lado, aponta-se o processamento e o baixo valor nutritivo em alguns alimentos, de outro, o chamado Vegan Washing (apropriação do veganismo por indústrias que fazem testes em animais e produzem produtos de origem animal, entre outros motivos). Há uma terceira voz, que considera importante as anteriores mas acredita serem um mal menor diante da crise climática.
Para saber mais:
1) Leia, no Guardian, Year of the vegan? Record numbers sign up for Veganuary.
2) Leia, em The World in 2019, da The Economist, The year of the vegan.
3) Leia, no Guardian, Avoiding meat and dairy is ‘single biggest way’ to reduce your impact on Earth.
4) Leia, no site do Modefica, Veganuary: 5 Dicas Que Vão Te Ajudar a Estender Sua Resolução de Veganismo Para Além de Janeiro.
Junto com a temperatura global e o nível dos oceanos, a crise climática faz subir a demanda por profissionais que ajudem a preservar o meio ambiente. Entenda quais são os empregos disponíveis na área e as habilidades procuradas pelo mercado.