A TV de trocentas polegadas, o faqueiro chique, o fogão de última geração… Utensílios e eletrodomésticos são presentes bem-vindos para quem está juntando as escovas de dentes. Mas por que não elevar o sarrafo? Por que não ajudar o casal querido a financiar o seu cafofo novo?
Lançada em agosto de 2019, a Mude.me quer dar um chacoalhão na mesmice das listas de casamento: em vez da TV e do faqueiro, os noivos usam a plataforma para pedir contribuições em dinheiro, devidamente usadas para dar entrada no novo imóvel. Há valores sugeridos, mas cada convidado desembolsa quanto lhe der na telha.
O negócio faz mais sentido quando se sabe que por trás está uma incorporadora, a Cyrela. A ideia saiu da cabeça de Guilherme Sawaya, hoje diretor de Transformação Digital da empresa e CEO da Mude.me. Ele explica:
“É chato pedir dinheiro de casamento. Então, quando você tem um motivo forte, como uma casa, isso agrada aos noivos. E os convidados se sentem animados em dar um presente maior para contribuir com esse sonho”
Com quatro funcionários fixos, a Mude.me está instalada no escritório da Cyrela, em São Paulo, e também oferece unidades de incorporadoras parceiras. “Nosso objetivo é conseguir um valor para pagar a entrada, que varia de 7% a 20% do preço do imóvel.”
A SACADA DO NEGÓCIO VEIO DURANTE UMA EDIÇÃO DO SXSW, EM 2017
Na Cyrela há 12 anos, Guilherme ocupava até novembro do ano passado o cargo de gerente de e-business e inovação, responsável pelo marketing digital da empresa.
A epifania que deu origem à plataforma aconteceu em 2017, enquanto ele participava do South by Southwest, ou simplesmente SXSW, o hypado festival de entretenimento e tecnologia realizado todo ano em Austin, capital do Texas.
“Entendi que não era só o marketing que estava mudando, mas o comportamento das pessoas, e assim surgiam milhões de oportunidades. Comecei a observar o poder do coletivo, as vaquinhas, as mobilizações nas redes sociais… E pensei: como usar isso para fazer com que mais pessoas consigam comprar um imóvel?”
O intraempreendedor passou o ano seguinte desenvolvendo um plano de negócios, recebido com entusiasmo, segundo ele, dentro da Cyrela. A partir de 2019, o trabalho se concentrou em desenvolver a tecnologia do site e construir uma rede de parceiras.
O INVESTIMENTO DA INCORPORADORA SERVIU PARA DAR O PONTAPÉ INICIAL
Para colocar o negócio de pé com um portfólio mais parrudo, a Mude.me fez parcerias com outras 16 incorporadoras, como Vitacon, Trisul e Living, que oferecem uma parte de seus inventários no site.
Além de hospedar a equipe da Mude.me, a Cyrela bancou a estruturação do negócio e a operação até aqui:
“O capital inicial veio 100% da Cyrela, num investimento de 400 mil reais relativos aos 12 primeiros meses de funcionamento da Mude.me. O fato de a Cyrela ter um grande nome no mercado ajuda a abrir portas e tornou fácil a conversa com outras incorporadoras”
Um fator de atração para essas empresas é que, para incluir seus imóveis no site, as incorporadoras não têm nenhum custo adicional. O lucro da Mude.me vem depois, de uma taxa cobrada sobre a venda de cada imóvel, de 2,5% do valor total.
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Guilherme despista sobre o faturamento, mas diz que por ora ainda é baixo: como a plataforma é recente e o planejamento de um casório costuma ser longo, são poucos os casais clientes que já chegaram de fato ao altar e fecharam a compra de seu imóvel.
“O grosso [do faturamento] vai acontecer a partir do segundo semestre de 2020. Aí sim esse valor passará a ser relevante.”
POR ENQUANTO, A MAIORIA DOS IMÓVEIS ENCONTRA-SE NA CAPITAL PAULISTA
Desde o lançamento, em agosto, 337 casais já cravaram na plataforma a sua escolha de imóvel (a ser parcialmente financiado pelos convidados). Outras 200 e tantas unidades estão disponíveis por ora no site, com faixas variadas de preço. A maioria dos imóveis fica na capital paulista; há opções também no interior do estado.
A divulgação tem sido feita por redes sociais. A estratégia a partir de agora deve englobar o offline, apresentando a Mude.me em shoppings e feiras de casamento.
“Nas pesquisas que fizemos, vimos que existe uma aderência grande em várias classes sociais, desde o cara do Minha Casa Minha Vida até o de alto padrão. Para todos eles, comprar um imóvel após o casamento é um desejo grande”
O site atende casais gays e héteros (ainda bem, né? Afinal, estamos em 2020…). Os noivos criam uma página para o seu casório; além das informações do evento, dá para adicionar fotos e contar a historinha de como se conheceram. Também é possível disparar convites pela página, adicionando parentes e amigos a partir dos contatos de WhatsApp e redes sociais.
Uma ferramenta ajuda a planejar a organização da cerimônia, sugerindo faixas de preços (quanto você quer gastar?) e uma proposta de cronograma, com tarefas mensais. Os noivos podem detalhar o que precisam de decoração e alimentos, e a plataforma “corre atrás” de orçamentos de profissionais na região onde se dará a festa, colocando as duas pontas em contato.
PELO SITE, O CONVIDADO PODE “COMPRAR” UM PEDAÇO DA SUÍTE OU DA SALA
Na hora de escolher o apartamento, os noivos entram na plataforma e definem a cidade e a região onde querem viver. O site lista opções de preço, metragem, número de dormitórios e de vagas na garagem, e o nome da incorporadora responsável.
Pelo site, dá para montar uma lista com os imóveis preferidos e agendar visitas (presenciais) antes de decidir por esse ou aquele.
Para acessar a plataforma, todos precisam de login e senha, inclusive os convidados. Estes podem interagir com o site ajudando a “completar os cômodos” da casa nova:
“O site abre uma lista de presentes, mostrando cada cômodo do apartamento. Então o convidado pode dar, em metros quadrados, um pedacinho da sala de estar, da suíte, da varanda gourmet… E ainda conhece melhor o prédio onde os noivos vão morar”
Caso o valor arrecadado fique abaixo do esperado e o casal decida recuar da compra naquele momento, dá para sacar a grana, economizar mais um pouco e dar entrada em um imóvel no futuro.
Outra possibilidade: se os noivos se interessarem por uma casa ou apartamento que não esteja disponível no site, dá para fazer o upload de fotos e incluir informações a respeito no perfil. Assim, o crowdfunding será direcionado à compra desse imóvel.
A IDEIA É CUSTOMIZAR MAIS AS PÁGINAS E NÃO SE LIMITAR A CASAMENTOS
Um plano para o futuro, diz Guilherme, é que cada casal possa customizar sua página da Mude.me de forma mais completa. Essa seria uma demanda de “pessoas de alto poder aquisitivo”, que desejam uma identidade visual única permeando tudo ligado à cerimônia — inclusive o site.
“Nesse caso, as opções personalizadas que oferecemos não são suficientes. Então fizemos uma parceria com a Just Married, empresa especializada em sites de casamento. A partir daí, os noivos terão a possibilidade de criar uma ‘máscara’ totalmente customizada para a sua página”
Também sem calendário definido, outra aposta será diversificar o “momento de atração” dos presentes para atender clientes que não têm uma cerimônia de casamento em vista, mas já estão noivando, mudando de cidade ou simplesmente indo morar sozinhos — e gostariam de uma ajudinha para comprar a casa própria.
“Por enquanto, ainda trabalhamos somente com o casamento, pois é a ocasião com maior potencial de arrecadar dinheiro”, diz o CEO da Mude.me. “Mas talvez ainda em 2020 a gente comece a focar nesses outros momentos.”
Inovação aberta não é anarquia, exige processo. Ricardo Sanfelice, diretor do BV, conta como o banco — que em 2023 quadruplicou os contratos com startups — vem transformando a cultura interna e gerando receita através de novos negócios.
Lançada em 2019, a Housi recebeu investimento da Redpoint eventures, já administra 3 bilhões de reais em imóveis para aluguel em São Paulo e tem a meta de chegar a mais sete capitais nos próximos meses. A startup foi gestada dentro da construtora conhecida pelos prédios com unidades compactas – e que, paralelamente, acaba de inaugurar, na capital paulista, o primeiro hotel-cápsula do Brasil.