O paulistano Gianpaolo Papaiz, 25, foi preparado para seguir os passos do avô: o italiano Luigi Papaiz, que em 1952 fundou a empresa que leva seu sobrenome, talvez a mais conhecida do ramo de cadeados e fechaduras do Brasil.
Em busca de algo que lhe fizesse sentido, o rapaz, porém, resolveu trilhar seu próprio caminho. Gianpaolo é o fundador da Protto, que “mistura tecnologia e design para recriar objetos familiares e transformá-los em uma porta de entrada para a cultura maker”, segundo a definição do site.
No fim de 2019, a empresa lançou seu primeiro produto, a luminária Alva. Mais do que o objeto em si, diz Gianpaolo, o carro-chefe da Protto é a experiência. As peças vêm em uma caixa, com o manual de instruções, e a montagem cabe aos clientes.
“JOGARAM NO MEU COLO ESSA HISTÓRIA DE CONTINUAR OS NEGÓCIOS DA FAMÍLIA”
Gianpa, como o rapaz é conhecido, faz parte da terceira geração da família Papaiz. Estudou no colégio italiano Eugenio Montale, em São Paulo, e, mais tarde, ingressou no curso de administração do Insper por influência da família.
“Sou meio italiano, meio nordestino [por parte de mãe], e desde pequeno fui escolhido para seguir os passos do meu avô Luigi, assim como meu pai seguiu. Meu irmão é artista, nunca quis saber disso, então sobrou para mim”
Além da Papaiz, a família era dona da Udinese, que fazia componentes para esquadrias. “Quando estava na faculdade, fiz um estágio na Udinese”, diz. “Passei por todas as áreas da empresa, aprendi bastante… Mas não me conectava com aquele negócio.”
Em 2015, ano em que finalizou o estágio, a Papaiz e a Udinese foram vendidas para o grupo sueco Assa Abloy. Em meados de 2016, Gianpaolo, ainda cursando administração, começou a trabalhar na KPMG, mas continuava se sentindo um estranho no ninho.
COM UMA NAMORADA, SENTIU O PRIMEIRO GOSTINHO DE EMPREENDER
Enquanto os amigos estavam se estabelecendo em empresas grandes, Gianpa conta ainda não via muito sentido no curso e nos estágios que fazia.
“Pensei em entrar em um programa de trainee, mas tinha dificuldade com dinâmicas em grupo. Foi uma fase negativa. Comecei a me frustrar, a me fechar e a me distanciar dos amigos”
O que salvou a maré baixa foi a decisão de uma (hoje ex) namorada, que na época resolveu abrir um e-commerce de moda praia.
“Ela me convidou para ajudá-la e foi aí que eu tive o primeiro gostinho de empreender.”
O então casal começou a se aventurar, por conta própria, a desenvolver o site, buscar fornecedores, clientes, tocar a parte financeira…
Depois dessa experiência prática, ele deu vazão, no fim de 2017, a seu gosto por informática, revendendo peças de computador. Mas ainda sem planejamento nenhum. “Eu apenas comprava as peças online e revendia.”
UMA CONSULTORIA AJUDOU GIANPAOLO A SAIR DA ZONA DE CONFORTO
Por essa época, ele ingressou em um programa de treinamento da DZN, empresa de consultoria para startups. A ideia inicial era buscar orientação para continuar vendendo peças de computador.
“Mas, logo na primeira reunião, me perguntaram se eu estava aberto a novas oportunidades e eu disse que sim.
“Eles montaram um cronograma, diziam apenas ‘esteja em tal lugar, tal hora’. Eu não tinha a menor ideia do que ia fazer em cada atividade. Numa delas, fui parar numa balsa havaiana e tive que acampar numa praia deserta de Ilhabela. Era para me tirar da zona de conforto, mesmo!”
O empreendedor diz que começou a se soltar, viu sua comunicação interpessoal melhorar e decidiu até fazer um curso de teatro para não-atores.
O PRIMEIRO CONTATO COM A ROBÓTICA SE DEU NUMA CAMPUS PARTY
Já “mais solto”, destravado, ele teve no começo de 2018 seu primeiro contato com a robótica, na edição daquele ano da Campus Party, em São Paulo. E se encantou pela cultura maker.
A identificação que faltava a ele em relação aos negócios da família (e outros por quais passou) sobrava em meio a robôs, peças tecnológicas e plaquinhas eletrônicas que serviam como “cérebro” para novos projetos colaborativos.
No último dia da Campus Party, ele comprou um kit do Arduino, pequena placa eletrônica, de código aberto, que roda em todos os sistemas operacionais e serve para a criação de projetos interativos.
“Comecei a fazer projetinhos em casa com o Arduino… E foi um ciclo natural querer mostrar a outras pessoas que elas também eram capazes. Eu queria quebrar a barreira de que a tecnologia era para poucos. Mostrar que você pode, sim, aprender de forma simples”
Gianpaolo começou a entender que poderia transformar esse desejo em negócio. E dessa percepção nasceria a Protto.
O EMPREENDEDOR SE INSTALOU NUM ANTIGO GALPÃO INDUSTRIAL
Após experiências aprimorando o conceito da empresa e estruturando o branding, Gianpaolo criou o primeiro produto da marca, a luminária Alva. Entre gastos com consultorias e parcerias a fim de fazer o projeto-piloto rodar, o investimento inicial foi de 800 mil reais, com recursos da família.
(Quer se ligar na cultura maker? Leia também: Saiba como funcionam os laboratórios de inovação – Fab Labs – espalhados pelo Brasil. E como você pode usá-los)
O empreendedor se instalou com mais duas pessoas e uma estrutura enxuta em um espaço amplo, um galpão industrial em Diadema, no ABC Paulista, que no passado abrigou as fábricas da Papaiz e da Udinese.
Feita a partir do Arduino, a Alva tem componentes cortados a laser e sensor de temperatura. Desde meados de 2018, foram meses em desenvolvimento até a luminária ser lançada, já no finzinho de 2019.
A MONTAGEM PODE SER UMA CHANCE DE CONEXÃO ENTRE PESSOAS
O empreendedor crê que a Alva é mais do que “uma simples luminária”. O grande barato, na visão dele, é o processo coletivo de montagem:
“Inicialmente desenvolvi uma experiência de montagem individual. Mas, quando fiz o teste de mercado, 90% das pessoas que testaram tendiam a chamar outras para montarem juntas. Então vi que tinha um potencial muito forte para ser um momento de conexão entre pais e filhos, ou casais…”
A montagem da Alva leva de 6 a 10 horas, segundo o empreendedor.
“Soa até estranho, porque a gente normalmente pensa que a tecnologia afasta as pessoas, mas, no caso da Alva, ela integra. Já teve um pai que [ao montar o produto] envolveu o filho mais velho na parte elétrica e o outro, na eletrônica.”
A FALTA DE BENCHMARKING FOI UMA DAS DIFICULDADES
Mas por que, afinal, uma luminária?
“Eu sabia que tinha que fazer algum kit e que tinha que ser algo simples para que as pessoas entendessem do que se trata”, diz Gianpaolo. “E, nesse contexto maker, é comum que se crie luminária, algo que quase todo mundo tem em casa.”
A primeira dificuldade do negócio, diz, veio no bojo do próprio conceito, incluindo aí a falta de um benchmarking.
“Eu não sabia se as pessoas queriam algo mais complexo ou mastigado. Explicar o conceito era complicado. Muita gente achava que eu vendia uma luminária, quando, na verdade, eu vendo a experiência”
Segundo ele, não importa se produto final é uma luminária ou uma estante, mas como a pessoa conseguiu absorver o processo.
O GOSTO PELA EXPERIÊNCIA PODE AJUDAR NAS TAREFAS COTIDIANAS
Lançada no fim de 2019, uma Alva custa 680 reais e está à venda (somente) online. Segundo Gianpaolo, a montagem traz benefícios que vão além da satisfação de se construir algo do zero, de maneira coletiva.
“É comum ter que remontar. Você tem ali cabos positivos, negativos, então precisa prestar atenção para não errar”, afirma. “Mas errar e remontar fazem parte dessa aprendizagem. Sem contar que você se sente apto a resolver problemas reais do cotidiano, como ter que trocar um lustre.”
O empreendedor sustenta que é como uma mudança definitiva de visão.
“Eu olho [hoje em dia] para um celular, por exemplo, e começo a imaginar como são construídos. Isso desconecta um pouco da ideia de tecnologia somente como consumo, quando as pessoas compram os aparelhos sem ter a ideia de como eles funcionam”
E ele vai além dos objetos: “Depois que comecei esse processo da Alva, é até engraçado, mas posso dizer que me arrisquei mais na cozinha! Isso não tem nada a ver com eletrônica, mas com o gosto pela experiência.”
UMA IDEIA: CRIAR PROGRAMAS PARA ESCOLAS SEM ESPAÇO MAKER
Até meados de 2020 Gianpaolo pretende lançar o próximo item, ainda em estudo. E fala em outros produtos maker que podem vir por aí: “Algo como uma estufa, ou um bebedouro para pets… Ou um sistema automático para regar plantas.”
Outro ideia é inserir a Protto no universo educacional, criando programas de educação para escolas que não tenham seu espaço maker.
A startup ainda não tem números fechados de faturamento, mas prevê comercializar mil Alvas até dezembro. Gianpaolo, porém, tenta enxergar para além dos números.
“Minha ideia é criar um ecossistema maker em volta da Protto. Hoje a cultura maker ainda é associada à necessidade: a pessoa não tem dinheiro e acaba fazendo algo sozinha. Quero chegar a um ponto em que ela vai preferir fazer por conta própria, em vez de comprar pronto”
Tudo pelo prazer da experiência.
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