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Como o setor de food service, gravemente afetado pela pandemia, pode se reinventar? É o que o SancaThon pretende responder

Cláudia de Castro Lima - 30 abr 2020
Maratona tecnológica voltada para o canal que prepara e serve alimentos une USP a empresas como a Cargill e a BRF, está sendo realizada 100% online e tem como objetivo trazer soluções aplicáveis ao mercado. Foto: rawpixel.com
Cláudia de Castro Lima - 30 abr 2020
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Os organizadores da maratona tecnológica SancaThon, agora em sua terceira edição, já tinham pensado em toda a estrutura para a realização do evento. O tema, alimentação, já estava sendo cogitado. Mas então a crise provocada pelo novo coronavírus no mundo todo se mostrou muito mais séria do que imaginávamos – e tem o isolamento social como principal medida, por enquanto, realmente segura para controlar sua disseminação.

“Com a pandemia, veio a impossibilidade de realizar a edição física”, afirma Matheus Jacobsen, aluno da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo e um dos líderes da iniciativa. E, com esse baita limão na mão, os organizadores espremeram aquela limonada.

Primeiro direcionaram o desafio para um canal altamente impactado pela Covid-19, o food service, que engloba estabelecimentos que preparam e servem alimentos fora do lar, como restaurantes e bares. Depois, pensaram em uma edição 100% online do evento, que é realizado em conjunto com a Cargill e tem como parceira, entre outras empresas, a BRF – por intermédio do BrfHub, seu braço de inovação aberta.

A definição do desafio, “Como ajudar empresas do setor de food service a criar novas realidades e prosperar após o choque gerado pelo coronavírus, considerando os novos comportamentos do consumidor?”, é, segundo Beatriz Benedetti, gerente executiva de Inovação da BRF, de extrema relevância.

“Com todos os impactos gerados no setor de alimentação, o canal de food service é certamente o mais afetado com a restrição de circulação social. As pessoas tiveram que se voltar para a alimentação dentro do lar”, analisa. “O tema foi acertadíssimo.”

Um evento de inovação que inovou

Um dos banners do Sancathon: expectativa era de até 300 inscritos, mas 500 pessoas se interessaram

Adaptações foram necessárias para que o SancaThon acontecesse virtualmente. “Assim como nos negócios, essa transformação não significa fazer a mesma coisa e só alterar para uma ferramenta. Precisamos repensar e aprender muito rápido para garantir uma boa experiência a todos os envolvidos, e, principalmente, um ótimo resultado final”, diz João Alexandre Carvalho, consultor de Inovação Digital da Cargill para América Latina.

Em vez de reuniões presenciais e debates em modernas salas de coworking, as tarefas do SancaThon serão realizadas em plataformas como o Shawee (escolhida para a gestão da maratona), o Discord (para formação de equipes e mentoria) e o Trello (para a imersão nos conteúdos).

O caráter virtual do evento gerou um “efeito colateral” surpreendente: a heterogeneidade dos inscritos. “Nossa meta de inscrição era de 200 a 300 participantes, mas foram 493 inscritos no fim”, alegra-se Matheus. “O mais bacana é que vieram inscrições de todo o país. Elas não se restringiram aqui ao estado de São Paulo ou à região Sudeste. Tem participante do Nordeste, do Norte, do Sul e até gente que está fora do Brasil, em países como Estados Unidos e França.”

Os inscritos foram organizados em quatro perfis genéricos: food service, desenvolvedores, Marketing/UX/UI e negócios. “Na verdade, o perfil é muito mais diverso que isso. Há desde estudantes universitários até pessoas com mais de 30 anos de mercado no setor. Essa diversidade toda aumenta nossa expectativa”, diz João Alexandre.

Objetivo é achar soluções que sejam implementadas

O SancaThon já passou por seu aquecimento, entre 25 e 28 de abril. Neste warm-up de imersão, eles tiveram acesso a conteúdo on-demand e lives, para que entendessem bem o contexto do setor e pudessem eleger um problema que os interessasse. “A julgar pelas perguntas, os grupos estão trabalhando bastante”, afirma João Alexandre. “Nos primeiros dias foi possível perceber como é impressionante o poder de colocarmos várias organizações com um objetivo comum e a busca compartilhada por soluções.”

Começou no dia 28 de abril a primeira fase de desenvolvimento de projetos. “Nela, os participantes têm acesso aos mentores, que vão contribuir, com toda a experiência que têm, com as soluções que os grupos estão desenvolvendo, não importa qual seja ela”, explica Matheus. Depois, os times têm até o dia 4 de maio para entregar o projeto final e fazer o pitch – também, claro, virtualmente.

Nesse discurso de venda, eles devem entregar o protótipo do negócio, a versão funcional para os jurados avaliarem. A primeira banca vai selecionar, entre as melhores soluções, até 20 equipes para seguir para a próxima fase. “Diferentemente de vários hackathons, teremos uma pegada muito prática, para de fato causar impacto e trazer essas soluções para o mercado. Não queremos parar em uma premiação. Queremos essas soluções resolvendo os problemas que estamos enfrentando atualmente”, diz o estudante da USP.

“Portanto, começa depois do pitch uma segunda fase do SancaThon, voltada para a validação dessas ideias, desses projetos, com teste, experimentação”, afirma Matheus. Uma semana depois, uma nova banca deve avaliar os projetos e selecionar os três primeiros colocados, que vão ganhar premiação em dinheiro (que varia de R$ 1 mil a R$ 2,5 mil), além de cursos e ingressos para eventos de inovação aberta.

O papel dos parceiros

Para João Alexandre, ao convidar parceiros para o SancaThon, os idealizadores pensaram em empresas e organizações de toda a cadeia e que pudessem se complementar. “A BRF é um parceiro muito complementar a nós como indústria”, afirma. “Além disso, o trabalho que vêm fazendo com o BrfHub é referência em inovação aberta. Estamos numa jornada muito semelhante e podemos aprender muito juntos.”

O time do BrfHub apoia o evento com mentorias, como parte do júri e também contribui com a premiação das equipes, além de fornecer conteúdo. “Como uma das principais indústrias do setor, nós temos uma grande responsabilidade em relação ao food service. É um canal relevante para o setor e, muitas vezes, onde acontece o primeiro contato do nosso produto para o consumidor final”, diz Beatriz. “A expectativa é grande em relação aos resultados e aos possíveis insights e soluções que podem sair tanto para os operadores quanto para a BRF depois da crise.”

Sobre o momento em que vimos, João Alexandre é enfático: “Acredito que, como ecossistema de inovação, estamos experimentando um pouco da disrupção que vendemos aos negócios”, afirma. “O alto grau de incerteza reduz o apetite a investimentos de risco. Por outro lado, temos um alto apetite para testar novos modelos e um grande problema para transformar em oportunidade e ajudar o mundo a prosperar.”

O executivo ressalta que qualquer afirmação a respeito de como será o futuro agora não é real. “Mas poderia ser, depende do que faremos com esse cenário que estamos traçando”, avalia. “Então, entramos de cabeça nesse desafio para criar cenários possíveis com vários atores do mercado juntos. Notamos que algumas mudanças em curso se aceleraram, como delivery, dark kitchens e transformação digital. Outras novas surgiram, como questões de higiene e saúde. O que deve definir mesmo o futuro é o comportamento das pessoas após o choque. Estamos tendo experiências impensáveis com o trabalho remoto, por exemplo, que podem nos mostrar que talvez a gente não precise viajar tanto, nem ir tanto ao escritório, e isso altera também a forma como comemos.”

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