Contemplar a natureza, beber um chope no bar, sentir o aroma do pãozinho quente na padaria, ouvir o barulho do mar. Tudo isso faz uma falta tremenda em tempos de pandemia de Covid-19 e de isolamento social, única medida que, por enquanto, se mostrou eficiente no combate à disseminação do novo coronavírus.
Mas, segundo uma pesquisa feita pela cRio ESPM, think tank que analisa comportamentos relacionados ao Rio de Janeiro, o que mais os cariocas sentem falta é de dar um abraço nos parentes e amigos. Embora o estudo tenha sido feito apenas na cidade, não deve ser exagero dizer que ele provavelmente reflete o estado de espírito da maioria das pessoas do país.
“Particularmente, para os povos latinos, o contato físico através de abraços e beijos são sinais de afeto muito comuns. Em tempos de isolamento essa rápida mudança no dia a dia impacta e modifica a organização de uma sociedade”, afirma Ana Luiza Borges, gerente de operações de EAP & Wellness da Optum, empresa de serviços de saúde e inovação parceira da Sodexo na gama de soluções de Bem-estar e Saúde.
Todos nós nos perguntamos nesse momento: diante dessa nova organização, como manter nossa saúde mental durante e, principalmente, depois da pandemia? Que espécie de mundo vamos poder encontrar?
Ana Luiza conta que já é possível observar alguns efeitos do isolamento social em nossos comportamentos. “A mudança na rotina das pessoas, o medo do momento e a incerteza sobre o futuro geram um aumento de sintomas de ansiedade, que podem ser preocupação excessiva, sensação de agitação e inquietude, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, alterações de sono, encurtamento da respiração e palpitações, entre outros”, afirma.
Ela explica que há algumas estratégias que podemos usar para diminuir e controlar a ansiedade. “Por exemplo, controlar o acesso excessivo à informação, manter uma rotina em casa, com horários e algumas tarefas definidas e usar as redes sociais para aproximação entre as pessoas, familiares e amigos”, explica. “É igualmente importante preservar a qualidade do sono e da alimentação e ser compreensivo consigo mesmo e o outro.”
Muitas pessoas se encontram numa corda bamba entre querer manter-se informadas a respeito da doença e do avanço dela e a sensação de desamparo ao justamente ouvir essas notícias. “A exposição à informação é sentida diferentemente de pessoa para pessoa. É importante se conhecer para avaliar se ela está sendo prejudicial”, diz a executiva.
“De maneira geral, é suficiente checar as notícias uma vez ao dia para se manter informado e seguro. Você pode escolher um momento do dia para tal e deve priorizar as fontes oficiais de informação como a OMS ou o governo local.”
Nada melhor do que nos observar para entender como estamos de verdade lidando com tudo. Nosso corpo dá sinais de que está chegando ao limite. “É importante estar atento a alterações de humor, sono e alimentação”, avisa Ana Luiza.
“Se estão diferentes de seu padrão natural, se sente perda de energia ou desinteresse, isso pode ser um sinal que você precisa de apoio emocional. Se perceber um impacto significativo em seu funcionamento global – relações sociais, desempenho no trabalho, rotina de afazeres domésticos – é o momento de pedir ajuda.”
A pandemia nos traz insegurança, segundo Ana Luiza, porque abala tudo aquilo que conhecemos e sobre o que temos (ou imaginamos ter) algum controle. Incluem-se aí coisas como nossa rotina, nossas expectativas de futuro, nossos planejamentos e crenças.
“Isso mexe com a saúde emocional”, diz a especialista. “Porém, podemos enfrentar isso desenvolvendo a nossa habilidade mais interessante: resiliência.”
Mas, na prática, o que exatamente quer dizer isso? Ana Luiza responde: “Todos nós temos a capacidade interna de enfrentar momentos difíceis, apreender e tirar o melhor proveito dele. Essa adaptação muitas vezes demanda tempo, acolhimento e paciência. E cada um possui seu tempo de aceitar as mudanças, organizar seus sentimentos e adaptar suas ações para um novo mundo que está surgindo”.
A boa notícia é que há técnicas e práticas que nos ajudam nessa tarefa. Exercícios de meditação, de respiração e de visualização, explica a executiva da Optum, ajudam a manter a concentração no momento presente, diminuindo os níveis de ansiedade e estresse no corpo. “Criar uma rotina ajuda a organizar o dia a dia e mostra ao nosso cérebro que temos controle sobre algo, o que auxilia a diminuir o nível de ansiedade.”
Ana Luiza diz que é válido inserir na rotina atividades prazerosas como leitura, exercícios físicos, artes manuais, jardinagem etc. “Adicionalmente, para ajudar a superar o momento difícil, é importante prestar atenção na qualidade de nossos pensamentos.”
Ela ensina um exercício interessante: “Alterar pensamentos negativos para positivos, para que você possa mudar a maneira como experiencia o momento. Por exemplo: ‘Estou preso em casa’ para ‘estou seguro em casa’. Assim, você poderá substituir um sentimento de impotência por um de proteção”.
Atleta amadora de futebol americano, Denise Brito, gerente de comunicação interna da Sodexo, sentiu no corpo as consequências do isolamento social e do fechamento de academias. Dores no corpo, problemas para dormir e falta de disposição foram algumas das consequências imediatas. Ela fez então o que Ana Luiza sugere: organizou sua rotina.
“Com meu coach de treino, planilhei meus dias para conseguir organizar tarefas do dia a dia e não deixar de fazer exercício. Meu foco não era ganhar força, era só não deixar meu corpo parado”, diz. “Na planilha, defini quais eram os melhores horários para fazer exercício e para me alimentar.”
Seguindo a rotina que ela havia planejado, Denise notou, no entanto, que seu organismo não sofria apenas pelas necessidades físicas. “Eu estava ficando com a cabeça muito cheia, porque para mim o esporte sempre teve essa característica de aliviar o estresse e esvaziar a mente.”
Foi então que a executiva da Sodexo resolveu buscar alternativas. “Vi que uma amiga fazia lives de ioga de manhã e comecei a usar apps de saúde mental, já que a Sodexo tem parcerias com empresas que oferecem essa solução.” Hoje, ela mescla a atividade física diária com essas práticas mentais. Com um bônus: “A parte materna da minha família é bem religiosa e começou a se reunir por videoconferência uma vez por semana para fazer uma oração. Eu não sou tão religiosa, mas entrei nessa onda até para estar mais próxima deles e para fazer bem para minha cabeça.”
Esses novos hábitos, diz Denise, estão ajudando a “não enlouquecer tanto”, ela brinca. “Organização é a chave. Se eu puder dar uma dica é: planilhe tudo.” E conta que teve o cuidado de contemplar em sua planilha brechas para divertir-se. “Amo assistir seriado, jogar videogame. Isso me ajuda a manter corpo e mente em dia, com a certeza de que tudo isso vai passar e a gente vai sair dessa fortalecido.”
Esse otimismo de Denise é, para Ana Luiza Borges, da Optum, uma característica que nós todos podemos cultivar. Mas isso é de fato possível? “É possível quando temos em mente que todos nós estamos passando por isso juntos e essa situação é transitória. Chegará o dia em que tudo isso terá passado, nós estaremos emocionalmente mais fortes e teremos aprendido muitas lições.”
Ela acredita também que esse sentimento aflora quando olhamos para as coisas boas que estão acontecendo “Ver a sociedade se unindo em prol das pessoas que se encontram em maior vulnerabilidade e acompanhar os números de pessoas curadas são exemplos disso.”
Muito além de política pública, passou do tempo de equidade racial estar apenas na agenda de responsabilidade social de empresas no Brasil. Saiba o que grandes organizações, como a Sodexo, estão fazendo em prol dessa causa.