Ansiedade. Noites mal dormidas. Estresse. Sensação de nunca mais conseguir andar tranquilamente pela rua. Impaciência. Atire o primeiro frasquinho de álcool em gel quem não está com o humor e as emoções oscilando nesta pandemia.
A ciência vem demonstrando, no entanto, que indivíduos que contam com uma característica específica têm capacidade para enfrentar muito melhor este momento tão desafiador – e, por consequência, o futuro.
Sim, é a tal da resiliência, essa sujeita da qual ouvimos muito falar, mas não compreendemos assim tão profundamente.
Uma boa notícia: é possível – e relativamente pouco complicado – nos tornarmos pessoas mais resilientes. E, com base em evidências científicas, traçamos aqui um caminho para isso, que vai depender da maneira como você se conecta às outras pessoas e a si mesmo.
Primeiro, no entanto, ao conceito. A palavra “resiliência” tem sua origem no latim, resilire, que significa “voltar atrás”. Na física e na engenharia, o termo sempre foi aplicado para definir a capacidade de um material de retomar sua forma original depois de ter recebido uma pressão sobre si.
Em relação à capacidade humana, ser resiliente tem a ver com a habilidade que cada um de nós temos de lidar com nossos próprios problemas, de superar momentos difíceis e situações adversas – e, como o material resiliente da física, não ceder à pressão.
Quem é resiliente é capaz de entender a complexidade de uma situação e colocá-la sob perspectiva dentro do contexto atual e a longo prazo.
Um indivíduo com essa característica também consegue improvisar e adaptar-se a situações novas, mesmo que não sejam as que ele esperava.
Conforme explica um manual do Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade de Harvard, desenvolvido para ajudar a contornar os problemas provocados pela pandemia, a resiliência não é exatamente algo com que nascemos.
Ela é construída ao longo do tempo à medida em que as experiências que temos interagem com nossa composição genética individual e única.
“É por isso que todos reagimos ao estresse e às adversidades – como a da pandemia da Covid-19 – de maneira diferente”, explica o manual.
Espécie de elasticidade emocional, a resiliência tem a ver com autocompaixão, criatividade, otimismo e bem-estar. Mas como fortalecer essa habilidade?
1. Não se cobre
É importante entendermos que nos sentir tristes ou exaustos é absolutamente normal em tempos como os atuais. Seres humanos são sociáveis por natureza – em épocas de desafios como a que vivemos, essa necessidade de conexão é ainda maior.
Como mostra um artigo da Universidade Ludwigs-Maximilians de Munique, na Alemanha, nossa resposta natural frente à percepção de uma ameaça é buscar segurança em grupos e em nossa comunidade.
Com a exigência de isolamento social, estamos contrariando nossos próprios instintos. Natural nos sentirmos desconfortáveis.
Portanto, compreender nossos sentimentos e impressões é essencial. Faz parte nos permitir pensar sobre nossas tristezas, revoltas e frustrações – e, claro, sobre nossas expectativas e desejos porque, é sempre bom lembrar, em algum momento isso tudo vai passar.
2. Encontre amigos e parentes
Nossa rede social é uma importantíssima “sala de descompressão”. E não é porque não devemos nos aglomerar que isso não pode ser feito. Não é o momento (ainda) de marcar um churrasco com a turma toda, mas os aplicativos de videoconferência dão boa conta do recado – e já até nos acostumamos a eles, não?
Um paper publicado no International Journal of Nursing Studies mostrou que quando enfermeiros davam uma pausa no trabalho para socializar com os colegas seus níveis de estresse diminuíam e era mais provável que eles continuassem trabalhando.
Estudos da Coreia do Sul também provaram que bater papo e divertir-se com outras pessoas reduz as emoções negativas.
Cerque-se (mesmo que virtualmente) das pessoas que mais fazem bem a você. E veja o que elas são capazes de ensinar, como formas diferentes de enxergar determinadas situações. Além disso, os amigos em quem você mais confia e seus familiares vão ser as pessoas que vão apoiá-lo nos momentos mais difíceis.
3. Cultive otimismo e gargalhadas
De acordo com orientações do Benson-Herry Institute for Mind Body Medicine, afiliado à Universidade de Harvard, atitudes como cultivar o pensamento positivo e o otimismo fazem maravilhas para nossa mente – mesmo que, a princípio, tenhamos que nos forçar a isso.
O importante, dizem os especialistas, é encontrarmos motivos para nos sentirmos felizes e gratos diariamente.
Pode ser o simples fato de conseguir assistir à série preferida na TV ou ter um bate-papo agradável com alguém – isso, afinal, não é motivo suficiente?
Outra atitude importante: rir. Rir muito. A risada tem o poder de diminuir os hormônios que provocam estresse, de turbinar nosso sistema imunológico, melhorar o humor e reduzir a dor. E há mais benefícios: o humor nos conecta a outras pessoas e nos mantém concentrado e alerta, além de ajudar a liberar a raiva e perdoar mais cedo.
4. Doe – principalmente seu tempo
A pandemia afetou muito os rendimentos das famílias brasileiras. Quem perdeu o emprego ou o sustento não tem como colocar comida no prato de seus filhos. E quem tem condições pode – e deve – doar alimentos, cestas básicas ou dinheiro para ONGs.
Mas muita gente associa a doação a recursos financeiros. E há ainda algo tão valioso quanto (ou talvez mais) que podemos fazer: doar nosso tempo.
O benefício volta para a gente: há evidências científicas de que, quando ajudamos outras pessoas, ficamos mais felizes.
Atitudes altruístas também aumentam nossas redes de conexão e de suporte e nos encorajam a sermos mais ativos. Além disso, comportamentos generosos nos dão mais senso de propósito e significado em nossas vidas.
5. Mexa-se
Sabemos os vários benefícios que a atividade física regular faz para a saúde, como aliviar o estresse e trazer sensação de prazer e bem-estar – bastam poucos minutos por dia para sentirmos diferença.
Se a atividade física for em contato com a natureza, tanto melhor. Sim, ainda vivemos tempos estranhos e não devemos nos aglomerar em praias ou parques. Mas é possível frequentar locais outdoor sem colocar nossa saúde em risco.
Vários estudos mostram que nosso cérebro funciona melhor quando estamos em conexão com a natureza.
Um estudo da Universidade de Washington provou que a exposição a ela melhora nossa função cognitiva e nossa saúde mental.
Outra atividade que produz inúmeros benefícios físicos e mentais é a meditação. Ela relaxa, baixa nossa pressão arterial e nossa frequência cardíaca e respiratória, além de reduzir os hormônios do estresse. Tente uma meditação guiada, encontrada aos montes na internet, ou treinos de ioga, tai chi e exercícios de respiração profunda.
6. Aprenda a transformar limões em limonadas
Mesmo quem se considera um tanto pessimista (e, neste momento, somos vários) pode treinar o cérebro para criar novas sinapses. Sim: é possível aprender a habilidade de transformar limões em limonada.
Force-se a ver as vantagens de um acontecimento em vez de enxergar as desvantagens. Por exemplo: se você anda cansado de trabalhar em casa, pense que tem motivos para ficar feliz porque tem um trabalho. Se está exausto de ouvir as crianças gritarem pelo corredor, alegre-se por elas estarem saudáveis e divertindo-se.
Tente, diariamente, reconhecer um acontecimento positivo em sua vida. Escreva-o em um caderno – e leia toda vez que sentir necessidade de reforçar que há, sim, motivos para você ser grato.
Outras atitudes que nos ajudam a ser mais positivos é estabelecermos para nós mesmos metas possíveis. Assim, somos capazes de avaliar nosso progresso.
Sem esquecer, claro, as benesses de praticar pequenos gestos de bondade com as pessoas, quaisquer que sejam elas – dar um simples “bom dia” para quem cruzar seu caminho tem um poderoso efeito. Como dizia o poeta (ou o profeta), gentileza gera gentileza.
Muito além de política pública, passou do tempo de equidade racial estar apenas na agenda de responsabilidade social de empresas no Brasil. Saiba o que grandes organizações, como a Sodexo, estão fazendo em prol dessa causa.