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O preço dos alimentos disparou com a Covid-19. Hora de você colocar Plantas Alimentícias Não Convencionais em seu prato

Maisa Infante - 4 ago 2020
Beatriz Carvalho e Arthur Credo, o casal de empreendedores à frente da Mato.
Maisa Infante - 4 ago 2020
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Para a natureza não existem “ervas daninhas”. Esse nome pejorativo é um juízo de valor que os seres humanos fazem sobre as plantas que nascem espontaneamente e que são, aliás, ótimas indicadoras de qualidade do solo. Melhor ainda: muitas são comestíveis. 

Entender isso é uma epifania capaz de mudar a relação das pessoas com as plantas. Foi o que aconteceu com Beatriz Carvalho ao descobrir as PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais). Além de nunca mais arrancar “ervas daninhas”, ela transformou o “mato” em negócio. 

Beatriz e o marido, Arthur Credo, ambos de 32 anos, tocam a Mato, que usa a biodiversidade na alimentação como veículo para a preservação do meio ambiente. Eles fazem isso por meio de projetos educacionais, como oficinas e palestras, além de eventos e do fornecimento de PANC para empresas e restaurantes. Segundo a empreendedora:

“Nosso foco é a preservação ambiental. A alimentação é o veículo que usamos para demonstrar às pessoas que se não preservarem esses ambientes, a alimentação delas será cada vez mais limitada e monótona”

Se falamos tanto em diversidade humana, por que não estendemos esse cuidado às plantas? 

“Precisamos olhar para a natureza com esse mesmo carinho e falar de biodiversidade”, diz Beatriz. “Não é só em relação aos seres humanos que devemos ser respeitosos com o diferente. Com as plantas também.”

O chamado faz ainda mais sentido num momento em que o coronavírus impacta o bolso dos brasileiros. Em maio, por exemplo, uma pesquisa da Proteste em supermercados de São Paulo constatou aumento de até 106% no preço do feijão.

EX-MATO NO PRATO, A EMPRESA MUDOU DE NOME, MAS NÃO PERDEU O PROPÓSITO

A empresa nasceu em 2014 como Mato no Prato, nome que ainda existe e abarca os projetos educacionais que desenvolvem. O investimento inicial foi de 250 reais, usados para comprar um conjunto de montagem de mesa que viabilizou a primeira oficina no SESC Taubaté. 

Desde então, eles já levaram esse conhecimento para unidades do SESC em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná; para universidades como Univap (Universidade do Vale do Paraíba), Anhembi Morumbi e Anhanguera; programas de televisão como o reality Mestre do Sabor, da Rede Globo; além de escolas e empresas.

Em 2019 começou a transição para Mato — um nome curto que sintetiza, segundo Beatriz, a essência e o propósito do empreendimento e abarca o momento que vivem agora, de focar não apenas na educação, mas também na distribuição de PANC para empresas e restaurantes. 

“Já que vou trabalhar com alimentos, preciso lembrar para os clientes que o meu negócio é o mato. Não quero perder o propósito de preservar o meio ambiente”

O plano é que a marca Mato no Prato se transforme em um projeto social oferecido a escolas e instituições (por enquanto, ela continua operando com cursos e oficinas). 

O RECEIO DE SE MOSTRAR MUITO “COMERCIAL” E AFASTAR O CLIENTE

Colocar o nome que deu início a empresa como um braço de um negócio maior não tem sido uma tarefa fácil, ainda mais que existe paixão envolvida. Segundo Beatriz:

“Ainda tenho dificuldade de me apresentar como Mato em alguns momentos, pensando se vai interferir, por exemplo, em como o cliente nos vê. Porque às vezes você começa a se mostrar muito ‘comercial’ e as pessoas não se identificam” 

O Mato no Prato nasceu do interesse dela pela relação entre os seres humanos e a natureza. Natural de São José dos Campos, Beatriz é engajada em projetos de hortas e educação ambiental desde o Ensino Médio. Graduou-se em Geografia e durante a pós-graduação conheceu as PANC. Desde então, focou seus projetos nas plantas não convencionais.

Arthur, também geógrafo, conduziu a carreira para a área de geoprocessamento até ser envolvido pelo tema dos matos comestíveis e decidir largar tudo para se dedicar ao Mato no Prato como um projeto da família (o casal tem uma filha, Elisa, de 4 anos). 

A MATO VEM SENDO ACELERADA PELO RED BULL AMAPHIKO (E AGORA PELO FACEBOOK)

A participação no Red Bull Amaphiko, programa global para incentivar empreendedores sociais, vem ajudando na transição. Eles foram aprovados no processo seletivo em 2019 e seguem no projeto até 2021. Lá, têm participado de mentorias e eventos com a participação de outros empreendedores e especialistas de diversas áreas. 

“Já vínhamos pensando nessa mudança e a mentoria nos encorajou e deu confiança ao nos fazer entender melhor esse processo junto ao público”

Em julho, a Mato foi anunciada como um dos negócios sociais selecionados para a Aceleradora de Comunidades. O programa global, do Facebook, inclui seis meses de treinamento e mentorias, além capital para  ajudar empreendedores a intensificar o impacto junto às comunidades em que atuam.

DEPOIS DE EDUCAR O CONSUMIDOR, ELES QUEREM OFERECER ACESSO ÀS PANC

A ideia de focar não apenas em educação, mas também no fornecimento de PANC surgiu por causa da demanda de mercado e da vontade de escalar o negócio de forma a descentralizar um pouco o trabalho com a ajuda de colaboradores. 

Participando de eventos, eles começaram a perceber, há dois anos, um interesse das pessoas em saber onde poderiam encontrar as plantas. Beatriz afirma:

“Demorou para as pessoas se sentirem encorajadas a consumir e começar, de fato, a cozinhar com estas plantas. Mesmo restaurantes e nutricionistas tinham medo de oferecer aos clientes e não ter aceitação. O mais comum era usar só uma flor como enfeite. E o que a gente quer é que elas sejam o prato principal”

Percebendo essa demanda, eles começaram a oferecer o acesso às PANC atuando como produtores e, principalmente, distribuidores de produtos. 

Parte dos alimentos vêm do próprio quintal, onde cultivam mais de 30 espécies, como capuchinha, bertalha, maria-gorda, tanchagem, alfavaca, cará-moela, araruta e uva-do-mato.

Outros vêm de um sítio da família: espécies como hibiscos, feijão-espada, feijão-borboleta, peixinho, taioba, milhos crioulos, palma e mandacaru; lá, os sócios construíram uma estrutura para armazenar estes produtos.

A Mato trabalha ainda com ingredientes fornecidos por pequenos produtores da região de São José dos Campos e de lugares mais distantes, de biomas como o Cerrado e a Caatinga.

FORNECER A EMPRESAS E RESTAURANTES É UMA OPÇÃO PARA ESCALAR O NEGÓCIO

O faturamento em 2019 foi de 150 mil reais. Cerca de 20% vem do fornecimento de gêneros alimentícios para clientes como Sesc, Senac, Grupo Globo, Colégio Objetivo, além de estabelecimentos em São Paulo e São José dos Campos (como o Nibs Juice Bar).

Os empreendedores acreditam que dessa atuação pode vir a escala do negócio. Beatriz afirma:

“É difícil escalar com aulas, palestras e eventos, que são centralizadas na gente. A produção e distribuição nos permite colocar mais pessoas para trabalhar, tanto para produzir quanto para encontrar os produtores, vender esses produtos e, a partir daí, ganhar escala”

Para ajudar neste processo, desde janeiro a empresa está incubada no Nexus, o hub de inovação do Parque Tecnológico de São José dos Campos. O foco é o desenvolvimento de uma plataforma para gerenciar a logística de distribuição das PANC. 

“Lá temos suporte de quem já tem experiência com logística, gestão de dados, marketing e vendas”, conta Beatriz.

O plano é ter um sistema que possa agilizar o fornecimento de produtos de qualidade, fortalecer toda a cadeia e permitir que Arthur e Beatriz possam se dedicar a levar o conhecimento sobre PANC para outros lugares por meio da marca Mato no Prato e encontrar mais qualidade de vida e tempo para a família.

 “Falar de saúde para as pessoas, sair da oficina e ter que comer um pastel na esquina não faz sentido. E é para isso que estamos olhando. A ideia é fortalecer uma empresa e uma equipe que me dê tranquilidade para dar uma palestra por hobby para uma instituição que admiro sem pensar se vou conseguir pagar as contas do mês”.

 

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Mato
  • O que faz: Cursos e venda de PANC
  • Sócio(s): Beatriz Carvalho e Arthur Credo
  • Funcionários: 6 (parceiros)
  • Sede: São José dos Campos (SP)
  • Início das atividades: 2014
  • Investimento inicial: R$ 250
  • Faturamento: R$ 150 mil (2019)
  • Contato: [email protected]
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