Essa é uma daquelas perguntas fundamentais que a gente nunca se faz.
O recurso mais escasso que você tem na vida é a própria vida.
Ingressamos na vida adulta e o mais comum é aproveitarmos as oportunidades que vão passando pela nossa frente. Dificilmente decidimos de modo refletido no que vamos investir o escasso tempo que temos.
No começo da vida, o tempo não nos parece escasso. As oportunidades, sim. Então a gente se ocupa de dizer “sim” para as portas que vão se abrindo. E exercitamos pouco a arte de dizer “não”
Saber recusar os convites errados, com coragem, é tão importante quanto saber aceitar, sem medo, os convites certos.
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Comecei a reconhecer a escassez do tempo, e a tremenda importância de direcionar minha energia, que também é finita, para as coisas fundamentais, depois que passei da marca dos 45, em direção aos 50.
Acho que tive sorte. Tem gente que, premida pelas circunstâncias, não tem condições de tomar as melhores decisões. Ou que passa a vida inteira sem enxergar com a devida nitidez a importância de escolher bem entre itens do cardápio
(Sempre há um cardápio posto à nossa frente, mesmo nos momentos mais duros.)
Trata-se de uma lição de lenta aprendizagem. O tempo que você tem adiante e a energia que você tem dentro de si já não são os mesmos. Ou já não são como você imaginava que eram. Você começa a perceber que essas duas variáveis mudaram. E que elas alteram a lógica de toda a equação. Ainda assim, é difícil abandonar os velhos hábitos de aceitar convites. Como se o fato de haver convites fosse razão suficiente para aceitá-los.
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Por que você faz o que você faz?
Dinheiro? Dinheiro para quê? Para pagar suas despesas? Para acumular?
De quanto você precisa para viver? Trabalhar pelo dinheiro é suficiente para você? Você é feliz vivendo assim?
Qual é o mínimo que você precisa para viver com dignidade? A gente normalmente associa qualidade de vida à renda. E se, em nome justamente de ter mais qualidade de vida, você reduzisse suas despesas? Reduzindo, assim, a necessidade de ganhar a mesma quantidade de dinheiro que você ganha hoje? Você toparia?
Você abriria mão de parte dos seus ganhos financeiros em nome de ter mais momentos de alegria e felicidade, e taxas maiores de saúde física e mental?
Faça essa conta: quanto você ganha hoje. E quanto você de fato precisaria ganhar se simplificasse a sua vida, se não enxergasse como essenciais itens que na realidade são supérfluos.
Talvez você perceba que é possível, em muitos aspectos, ser mais feliz tendo menos. E que ganhar menos trabalhando menos — ou trabalhando melhor – vale a pena.
E que a gente, de modo geral, queima muito mais tempo e energia do que poderia na geração dos recursos que sustentam itens que, no fundo, não são tão importantes assim. Ou que simplesmente não valem o tanto que estamos pagando por eles – inclusive em termos de ansiedade, de autocobrança, de estresse por conquistá-los.
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Dito de outro modo: o que você faria se tivesse a subsistência garantida? Se estivesse no ponto da vida em que não é preciso ganhar nada além do que você já tem, como isso impactaria a sua existência?
Você continuaria fazendo aquilo que faz hoje? Você mudaria de emprego para finalmente se dedicar àquela atividade com que sempre sonhou? Você tiraria da gaveta aquela velha ideia de negócio? Ou quem sabe passaria adiante a empresa que fundou lá atrás e que hoje não lhe dá mais tanto prazer operar?
Você dedicaria mais tempo à sua família? Estaria mais disponível para os filhos? Voltaria a namorar, com paixão e romance, seu homem ou sua mulher? Cuidaria mais de si mesmo? Comeria melhor, dormiria mais, faria mais exercícios? Leria mais livros, veria mais filmes, tomaria mais vinhos, aprenderia uma nova língua, viajaria mais?
Qual é, para você, o valor disso tudo que você não está fazendo hoje?
Quanto você estaria disposto a pagar, na forma de uma redução em suas receitas, para ter mais desses elementos em sua vida hoje, sabendo que o amanhã é um vagão onde há cada vez menos espaço – e no qual, como sempre, sequer há garantias de que você chegue a embarcar?
Quanto tempo você ainda vai esperar para virar esse jogo e redefinir as prioridades em sua existência?
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No começo, todo mundo precisa ter um emprego, entrar no mercado de trabalho, ganhar dinheiro, pagar as contas.
Às vezes, isso vira uma acomodação conveniente. Uma bússola de algum modo confortável sem a qual você não conseguiria atravessar a semana, nem decidir o que fazer consigo mesmo ao sair da cama a cada manhã.
Outras vezes, a vida vira uma escravidão autoimposta. Uma rotina estéril (e não raro tóxica), com a qual você não rompe por medo ou inércia
(A questão aqui é: se é para ganhar um punhado de cruzeiros, por que não atuar em algo mais próximo daquilo que lhe faz feliz? Por que se acomodar numa realidade tão distante daquilo que você sonhou para si, ou de quem você no fundo gostaria de ser? Há vários jeitos de garantir um troco. Por que tantas vezes optamos pelos caminhos que nos são os mais ásperos?)
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E talvez você faça o que você faz porque isso lhe dá muito prazer. Porque aquela atividade já faz parte de você, e você já não consegue se imaginar sem ela
Porque ela lhe define, porque você se expressa através dela, porque ela lhe realiza. Porque ela embute propósito e significado. Porque ela lhe empresta a sensação de ser útil e relevante.
Nesse caso, parabéns. Você é uma pessoa feliz com seu trabalho – ainda que às vezes duvide disso.
Mesmo assim, chegará o dia, talvez mais cedo que você imagina, em que será preciso se perguntar também: será que quero continuar fazendo isso que eu faço?
Por mais clareza e satisfação que você tenha em relação ao que lhe trouxe até aqui. Por melhor e mais recompensador que tenha sido o caminho.
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Para os infelizes, esse questionamento é urgente. Em qualquer momento da carreira. Para os satisfeitos, a pergunta não é menos importante. É preciso ter essa resposta na ponta da língua. E quando ela falhar, será hora de chamar a si mesmo para uma boa conversa ao pé do ouvido.
Adriano Silva é fundador da The Factory e Publisher do Projeto Draft, Founder do Draft Inc. e Chief Creative Officer (CCO) do Draft Canada. É autor de nove livros, entre eles a série O Executivo Sincero, Treze Meses Dentro da TV e A República dos Editores.
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