O mercado de produtos sensuais e eróticos está pegando fogo na quarentena.
De março a maio, foram vendidos mais de 1 milhão de vibradores, segundo o Mercado Erótico, um aumento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. E a expectativa é que, até o fim de agosto esse número dobre.
Para além dos vibradores, as vendas no setor em geral cresceram 4,12% em comparação a 2019, quando o faturamento foi de 2 bilhões de reais.
Uma das empresas que vêm surfando esse momento é a Intt Cosméticos, que viu a venda de vibradores e masturbadores crescer 40% entre março a julho. A fabricante atua no B2B e fornece brinquedos eróticos e cosméticos sensuais para 20 distribuidores; uma rede de 33 mil lojistas e e-commerces revendem para o consumidor final.
Stephanie Seitz, diretora da Intt (criada em 2007), acredita que a Covid-19 tem relação direta com as vendas. O distanciamento social tira solteiros de circulação e induz a busca por produtos que propiciam o prazer solitário. Além disso, o uso dos brinquedos eróticos funciona como válvula de escape contra a tensão.
Desde 2019, a Intt vem se internacionalizando. Hoje, itens produzidos em Portugal são vendidos para Alemanha, Áustria, Espanha, França, Holanda, Itália, República Tcheca, Rússia e Suíça. Há distribuidores em Taiwan, no Chile e no Paraguai — e a empresa quer chegar à Argentina e aos Estados Unidos neste semestre.
A seguir, Stephanie conta como é trabalhar em família neste setor, como a pandemia vem afetando as demandas dos clientes e quais os desafios da indústria de produtos eróticos.
Por que sua família se interessou por esse mercado?
A minha família viajava com frequência para a Alemanha, para visitar parentes lá. Numa dessas viagens, meu avô e minha mãe notaram como esse mercado era forte na Europa, com pessoas circulando pelas ruas com sacolas de sex shop e lojas a cada esquina, mais parecidas com butiques — algo chique, nada daquilo de luzinhas piscantes chamando atenção.
Um dia, eles entraram numa das lojas e repararam que as embalagens eram simples, com identidade visual vulgar… Como os dois já atuavam no ramo de embalagens, voltaram ao Brasil com a ideia de criar uma linha de cosméticos sensuais com invólucros bonitos, higiênicos — e um bom produto dentro
Assim nasceu a Intt. A princípio com uma linha de géis para sexo oral que davam uma leve sensação de esquentar e tinham sabores típicos do Brasil, como coco, açaí, guaraná, além dos tradicionais: menta, morango etc.
Como é trabalhar em família no segmento de produtos sexuais?
É bom para desmistificar o mercado e mostrar que nosso setor vai muito além do que as pessoas pensam. Somos uma empresa como outra qualquer, com as mesmas regras, diretrizes e comportamentos.
A gente contradiz tudo aquilo que pensam sobre nosso mercado, a ideia de que é algo ligado à vulgaridade, à putaria… Não é nada disso. Quando as pessoas veem que eu trabalho com meu avô e minha mãe, passam a entender como nosso nicho pode ser uma empresa familiar
Acordo todo dia pensando em novos lançamentos e em como atender melhor meu público. O que mais me satisfaz é receber feedback de gente que conta como a Intt ajudou a salvar a relação ou a conseguir um orgasmo.
Você já sofreu preconceito por empreender nesse ramo?
Sim, isso sempre acontece: as pessoas relacionam o assunto com vulgaridades. No começo, eu tinha um pouco de vergonha de falar do meu trabalho por medo de como os outros iriam reagir.
Percebi que quando a gente tem vergonha, parece que as pessoas te julgam mais, porque o seu jeito de falar não é natural. Mas quando a gente incorpora aquilo na vida e entende que é um emprego como os outros, as pessoas passam a te respeitar.
Qual é o perfil do público da Intt?
Nosso público mudou bastante ao longo dos anos. Antigamente, eram mais homens que compravam esses produtos para as mulheres ou chegavam falando que era para a amante. O homem sempre foi mais aberto a comprar esses produtos.
Agora, vemos muitos casais entrando juntos em um sex shop, mulheres comprando por conta própria — algo que antes não acontecia, pois elas tinham um tabu muito grande de entrar em uma loja, achavam que aquilo não era necessário no relacionamento
Inclusive, nessa pandemia, o número de mulheres que compraram nossos vibradores e cosméticos aumentou em torno de 60%. É um público que a gente nunca conseguiria atingir, por toda essa questão de preconceito… Mas que se viu, diante de uma quarentena, sem poder sair de casa para encontrar parceiros. Então elas acabam buscando outras formas de obter prazer.
Entre outras segmentações, temos também bastante idosos interessados em produtos como lubrificantes, hidratantes vaginais e suplementos que ajudam na libido. Esse é um público que geralmente não compra online. Eles gostam de ir até uma loja física, experimentar, tirar dúvidas.
No caso do público LGBT, temos um time com uma comunicação muito boa com esses consumidores, mas não criamos uma linha específica para eles. Claro que temos brinquedos que são mais usados por casais gays, mas não quer dizer que uma mulher não possa comprar.
A gente não gosta de fazer essa distinção de linhas. No nosso blog nunca direcionamos nossas publicações. Nossos conteúdos servem tanto para homens como para mulheres.
Os clientes chegam às lojas com dúvidas? Ou sabem exatamente o que querem? E qual seria uma dica para quem está comprando um brinquedo pela primeira vez?
Pelo que os lojistas e revendedores contam, eles chegam com muita dúvidas. Isso acontece porque as pessoas não sabem a dimensão de produtos que existem no mercado. Mas, principalmente, porque não conhecem o próprio corpo.
Às vezes, um produto é indicado para ser aplicado no clitóris e a mulher não tem ideia de onde fica… Por isso, a gente busca participar de feiras para apresentar nossos produtos e produzir conteúdo em nossas redes que deem apoio nesse processo de educação sexual.
As pessoas precisam entender do que gostam e com o que sentem prazer antes de comprar um brinquedo sexual. Tem amigas que falam que querem determinado produto porque é “enorme”. Mas é o enorme que vai te satisfazer? Será que é isso que te dá prazer?
Nossa orientação nos treinamentos para os revendedores é sempre escutar o que o cliente tem para dizer — e não empurrar algo que ache que a pessoa vai gostar.
Agora, se a pessoa não sabe onde sente prazer, a proposta então é mostrar alguns brinquedos, para que ela possa pegar, sentir a textura e conhecer melhor [o produto] antes de levar.
Como é atuar nesse ramo de produtos eróticos em um país tão machista como o Brasil?
A maioria dos nossos concorrentes tem homens no comando. A Intt é uma empresa liderada por uma mulher — e que tem 90% do seu quadro formado por funcionárias.
Dar destaque à mulher é extremamente importante para nós. Já tivemos casos de clientes ligando para perguntar sobre produtos e achando que podiam tirar proveito das nossas funcionárias… Sabemos o quanto é difícil ser mulher no mercado de trabalho — não só no nosso, em qualquer um
Além de incentivar o empoderamento feminino, abrimos nossos canais de comunicação para ajudar mulheres que estejam passando por abuso ou sofrendo violência. Fazemos palestras com psicólogas, tentamos indicar apoio jurídico, dependendo da situação. Dessa forma, já impactamos 200 mulheres.
Que outras dificuldades existem nesse mercado?
A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] não tem uma regulamentação certa para os produtos do mercado erótico e sensual. Em muitas das nossas caixas, por exemplo, não conseguimos colocar a descrição exata do produto por não poder usar termos como “parte íntima”.
Muitas vezes, vai constar em nossas embalagens simplesmente: “Aplique no local desejado e espalhe suavemente”. Não podemos detalhar que é um gel excitante para a mulher… Por isso, colocamos um QR Code nas nossas caixas para a pessoa entender como utilizar o produto e como ele funciona
Por outro lado, a Intt é pioneira em conseguir lançar produtos correlatos, ou seja, que podem até ser vendidos em farmácias — por exemplo, lubrificantes íntimos. Ali, sim, escrevemos exatamente o que o produto faz.
Quais os produtos que têm maior demanda?
Um kit para sexo anal. Todo mundo fala que não faz, mas é o mais vendido da empresa. Também tem bastante saída nossos vibrador líquido — um gel excitante unissex que pulsa, vibra e esquenta quando colocado na parte íntima. Outro produto em alta são os brinquedos com sucção. A mulher coloca no clitóris e ele dá uma sugada, promovendo o estímulo.
Como a pandemia afetou a empresa?
No primeiro mês da quarentena, a gente tomou um susto. Todos os nossos clientes estavam fechados e só empresas com e-commerce conseguiam vender. Então nossas vendas caíram muito.
Como alternativa, começamos a produzir álcool em gel para vender e destinamos parte da produção para instituições beneficentes. Ao todo, doamos 4 mil unidades do frasco de 100 ml
Depois que essa fase passou, tivemos um aumento de cerca de 40% na venda de vibradores e masturbadores. Basta dizer que tivemos o melhor Dia dos Namorados em 13 anos.
A Intt tem produtos para casais que estão fazendo o isolamento separadamente?
Sim, temos um vibrador que funciona por aplicativo. O homem, por exemplo, pode comprar de presente para a mulher. Aí, ela vai precisar baixar o app, enviar um convite de acesso e, de onde o parceiro estiver, ele vai poder controlar o brinquedo, aumentando ou diminuindo a intensidade da vibração.
Como você imagina os produtos eróticos para um futuro numa economia de baixo contato?
Acredito que cada vez mais a indústria vai lançar produtos com o uso de realidade virtual, assim como bonecas e bonecos que imitam a realidade.
Já é febre lá fora o uso de bonecas realistas — de homens e de mulheres — em que a boca tem a mesma temperatura que a nossa para simular o sexo oral perfeito. Há também bonecas que soltam uma secreção, como se fosse o orgasmo
Essas bonecas são top de linha. O cliente escolhe tudo: da cor da unha, do cabelo e dos olhos ao tamanho do peito.
Como se deu o processo de internacionalização da Intt?
Nosso sonho sempre foi expandir para a Europa, os Estados Unidos e outros lugares da América Latina. Desde o ano retrasado, a gente vem participando de feiras na Alemanha com o objetivo de levar os produtos do Brasil para a Europa.
O problema é que a Intt não tinha preço para competir [na Europa] por conta de todas taxas de exportação. Então, decidimos ir atrás de uma fábrica em Portugal e compramos 20% da instalação para começar a produzir lá
Os principais ativos continuam sendo adquiridos no Brasil, para manter o nosso padrão de efeito e os sabores. Hoje, temos uma linha com mais de 20 produtos e vendemos para países como Alemanha, Rússia e Espanha.
Na Europa, vocês comercializam um lubrificante e um excitante de cannabis. Qual é o efeito desses produtos?
Existem diversos estudos mostrando que a cannabis ajuda na lubrificação e a dar a sensação de vibração, quando misturada com outros ativos. Isso não quer dizer, como algumas pessoas pensam, que se você colocar o produto na boca vai ficar “louca”.
A cannabis tem um efeito calmante. Quando o produto é aplicado na vulva, ele ajuda mulheres que ficam muito tensas a relaxarem a musculatura no sexo
Infelizmente, aqui no Brasil não podemos produzir por questões legais relacionadas a esse componente.
Qual é o seu produto preferido?
É um excitante feminino chamado Excitation. Para mim, a sensação que ele dá é uma coisa fora do normal… Como se fossem ondas dentro do canal vaginal. Tanto é que, quando estou numa feira expondo nossos produtos, faço questão de que as mulheres testem no banheiro [durante a feira] para saber na pele do que estou falando. É o produto que eu mais uso, seja sozinha ou acompanhada.
O Brasil é um país de leitores? Tainã Bispo acredita que sim. Ela migrou de carreira, criou duas editoras independentes (a Claraboia, que só publica mulheres, e a Paraquedas), um selo editorial e um serviço de apoio a escritores iniciantes.
Com uma longa carreira na indústria do cinema (ele é fundador da Downtown Filmes), Bruno Wainer fala sobre saúde mental e os bastidores da criação de Aquarius, sua plataforma de streaming que acaba de chegar ao catálogo da Amazon Prime Video.
Usada no tratamento de doenças crônicas, a cannabis medicinal pode ser uma aliada contra problemas mais cotidianos. Saiba como a Humora quer multiplicar o potencial do canabidiol e ganhar o mercado brasileiro com uma solução de bem-estar.