Sempre tive o sonho de ser empreendedora. E desde pequena fui incentivada pelo meu pai.
Ele passou grande parte da sua vida como empregado em uma metalúrgica e, só depois, se tornou empresário. Apesar de ter falecido cedo e empreendido por pouco tempo, conseguiu despertar em mim esse sonho.
Posso dizer com certeza: que se ele estivesse aqui hoje, teria muito orgulho de mim e do meu empreendimento, a Futuriste Drones.
Estudei em escola pública e não tinha condições de pagar um cursinho, então me esforcei bastante para passar no vestibular da Faculdade de Tecnologia de São Paulo, muito concorrida na época.
Comecei a estagiar em um banco já no segundo ano de faculdade. Rodava mais de 100 quilômetros por dia, distância entre a cidade de Mauá, na Grande São Paulo, onde estudava, até o estágio em Alphaville, também na Grande São Paulo.
DEPOIS DO DIVÓRCIO, DECIDI: ERA HORA DE COLOCAR MEU SONHO EM PRÁTICA
Quando me formei, fui contratada por esse banco. Me casei e engravidei. Tinha um bom emprego e uma família formada.
Após o nascimento da minha filha, no entanto, decidi alçar voo em outra empresa do o setor bancário, consolidando ainda mais a minha carreira naquele segmento.
Eu tinha um emprego excelente, um bom salário. Mesmo assim, profissionalmente eu não me sentia completa. Ainda não tinha realizado meu grande sonho de me tornar empreendedora
Passou algum tempo, e enfrentei um período difícil em minha vida pessoal: a separação. Com o divórcio, vieram outras grandes mudanças.
Foi aí que entendi que não havia mais que o esperar. Era hora de realizar meus sonhos. Era hora de empreender.
NUMA REPORTAGEM, DESCOBRI OS DRONES E UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO
Um tempo depois do divórcio, conheci o meu atual marido, Leonardo, que trabalhava na mesma empresa que eu. Desde o começo do nosso namoro, ele me apoiou nessa jornada empreendedora.
Nos finais de semana, além de namorar um pouquinho, fazíamos reunião de brainstorm do nosso negócio.
Em 2013, assistindo a um telejornal, vimos uma reportagem sobre drones e como eles estavam revolucionando o mercado fora do país. Aquilo fez os nossos olhos brilharem
Enxergamos ali uma oportunidade de atuar com algo diferente, inovador… E dentro da nossa expertise em tecnologia.
O NOSSO FOCO: A CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS NO MERCADO DE DRONES
Iniciamos as análises de mercado e passamos a estudar muito este setor.
Lembro que quase todos os materiais eram em inglês. Compramos diversos equipamentos e, entre tentativas e erros, fomos aprendendo.
Identificamos, então, um problema gravíssimo: a falta de qualidade na capacitação do segmento. Decidimos investir nessa área, contratando um profissional capacitado (um dos raros na época) e iniciamos nosso primeiro curso de formação de pilotos de drones, criando a Futuriste Drones
A demanda foi crescendo, o número de cursos aumentando… Hoje, somos um dos maiores centros de treinamento de drones do Brasil. Também me capacitei e me tornei a primeira instrutora do país.
DÚVIDA CRUEL: PERMANECER NO EMPREGO OU SER DONA DO PRÓPRIO NARIZ?
O início não foi fácil. Como, aliás, na maioria dos negócios.
Tivemos o agravante de iniciar em uma área totalmente nova, sem dados oficiais sobre comportamento dos clientes e com equipamentos ainda em fase de amadurecimento tecnológico.
Antes mesmo de comercializar os produtos e serviços, precisávamos fazer as pessoas entenderem de fato as utilidades de um drone.
Enquanto empreendia, eu continuava trabalhando, tinha um emprego estável em uma excelente empresa. Não foi fácil a decisão de jogar tudo para o alto, pedir demissão e começar algo do zero. Quando contei para a minha mãe, ela foi contra: “Raquel, como assim?! Você vai sair do emprego?! Você tem uma filha para criar!”
Entendo perfeitamente a reação. Ela estava preocupada com o meu futuro e o da minha filha, que na época tinha 4 anos.
Mas no fundo eu sabia que não tinha tempo a perder. Sabia que a hora de mergulhar de vez no meu negócio seria aquela.
Fui tentada por outras propostas de emprego nessa fase de planejamento do negócio. Mas estava decidida. E acredito que esse foco na realização do meu sonho foi fundamental para chegar até aqui.
OS DESAFIOS FORAM MUITOS, A COMEÇAR PELA QUESTÃO FINANCEIRA
Se tive medo? Claro! Principalmente em falhar e perder tudo o que tinha investido.
É interessante pensar, no entanto, que o medo pode trazer benefícios. Como, por exemplo, fazer com que as coisas sejam mais planejadas; os investimentos, mais prudentes.
No início da Futuriste, enquanto eu já atuava full-time, o Leonardo continuava trabalhando no banco. Decidimos seguir assim para ajudar a pagar as contas até faturar o suficiente.
Lembro dos muitos receios por conta dos rendimentos reduzidos e dos poucos clientes que apareciam na época. Hoje, vejo que essa fase de incerteza é comum. Até que a sua empresa se consolide e tenha um faturamento razoável, você terá que reduzir custos, e muitas vezes até o seu padrão de vida
Não vou negar que fiquei pensativa e preocupada com a situação inicial da empresa… Mas procurava não ligar para isso. Sabia que tinha a garra e a vontade para contribuir com a evolução do meu negócio.
MULHER E EMPREENDEDORA, LIDEI COM O MACHISMO SEM BAIXAR A CABEÇA
Fora essas adversidades, ainda tinha outra: o fato de ser uma mulher no segmento de drones e tecnologia, dominado por homens.
Já passei por situações em que pediram para chamar meu colega “homem” para tirar dúvidas, mesmo eu me propondo a ajudar.
Por eu ser mulher, algumas pessoas questionavam meu conhecimento técnico sobre os drones. Já passei por situações em que um parceiro estratégico só convidava meu sócio para os eventos, só respondia aos e-mails do meu sócio, só tratava de assuntos com ele…
Esse tipo de atitude me incomoda? Claro. Mas nunca me desanimou.
Sempre levei numa boa, tentando reverter a situação — e deixando bem claro o quanto eu entendo do assunto.
FUI A PRIMEIRA MULHER DA AMÉRICA LATINA A GANHAR UM PRÊMIO DO SETOR
Certa vez, uma empresa japonesa demonstrou interesse em fazer negócios conosco.
Organizamos uma reunião, e o presidente daquela companhia ficou espantado. Comentou que jamais iria imaginar que viria ao Brasil para conversar com uma mulher na minha posição, neste setor.
A Futuriste já me rendeu diversos prêmios. O mais recente deles foi o Women To Watch Global Awards, uma premiação que é referência na área de drones. No fim de setembro de 2020, me tornei a primeira mulher da América Latina a ser premiada!
Além de mulher, sou mãe, o que também gera desafios. Me sinto constantemente cobrada por viajar muito, por fazer reuniões fora do horário e ter que me ausentar algumas vezes.
Procuro equilibrar ao máximo o meu papel de mãe e o meu papel de empreendedora. E sou muito feliz de saber que a minha filha adora o que eu faço, entende e tem orgulho de mim por isso.
HOJE, EU COLHO OS RESULTADOS E ACONSELHO: FAÇA O MESMO, SE ARRISQUE!
Posso dizer que valeu a pena trabalhar para ver a Futuriste Drones crescer. Hoje somos a maior escola de drones do Brasil. Já formamos mais de 3 mil profissionais no mercado. Encabeçamos, até aqui, mais de 100 projetos em empresas nacionais e multinacionais.
Tive a oportunidade de participar do Shark Tank Brasil e também fui uma das finalistas do Prêmio Veja-se, da revista Veja. Participei de programas de inovação, como Sebrae, Itaú Mulher Empreendedora, entre outros.
Passei, sim, por dificuldades, desde a grana curta até o preconceito. Mas se fosse preciso, passaria por esses apertos novamente. Eu fui em frente e hoje colho os resultados do meu trabalho
Ver o seu negócio crescer é muito satisfatório. Se tivesse que dar uma dica a futuras empreendedoras, seria: não desista nunca!
Desafios virão. Mas os resultados serão proporcionais — ou até maiores — do que os problemas ao longo da jornada.
Raquel Molina, 35, é cofundadora e CEO da Futuriste Drones, palestrante sobre inovação e pioneira entre as instrutoras de drones do Brasil.
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Criado no interior gaúcho, Alsones Balestrin fez do seu doutorado na França um trampolim para voos mais altos. Foi secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS e hoje capacita empreendedores por meio da edtech Startup Academy.
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