Você já sentiu alguma vez que não pertence à sociedade? Seja pelo seu biótipo físico, pela cor do seu cabelo, sotaque ou suas cicatrizes?
Milhares de pessoas sofrem por conta da pressão imposta pela sociedade na busca de um padrão de beleza considerado como “correto”.
Deixe-me te perguntar: existe uma beleza certa ou errada? A resposta é: não. E é esse pensamento que a essência do Body Positive traz
O movimento Corpo Positivo não é uma “tendência”. Ou pode até ser também. Mas é, sobretudo, uma mudança de paradigma.
É uma mudança que vem ganhando cada vez mais força, e que não dá o menor sinal de ser passageira ou sazonal. Ela veio para ficar — e transformar nossas relações sociais.
O QUE TE VEM À CABEÇA AO OUVIR O TERMO BODY POSITIVE?
Antes de continuarmos esse papo, tenho uma pergunta: quando você ouve o termo Body Positive, qual é a primeira imagem que te vem à cabeça?
Posso apostar que te vem uma imagem de uma mulher gorda. E eu te respondo: Corpo Positivo é isso também — mas não apenas sobre isso.
Corpo Positivo também é sobre homens. Sobre mulheres que vestem 44. Sobre pessoas de nariz grande. Sobre gente e suas marcas. Sobre senhoras e senhores com suas rugas. Sobre cadeirantes. Sobre negros. Sobre ruivos. Sobre asiáticos
Body Positive é a ideia de ser positivo em relação ao seu corpo de forma completa.
É mostrar para o mundo que a gente pode — e deve — estar feliz nas nossas próprias peles. Seja ela do tamanho, da cor ou da condição que for.
EU TINHA DEIXADO DE ME RECONHECER NO ESPELHO E ME VALORIZAR COMO SOU
Eu conheci o movimento há três anos, em um momento delicado da minha vida. Tinha acabado de passar por um esgotamento físico e mental, e recebido pela segunda vez o diagnóstico de Burnout. Esse esgotamento veio acompanhado de uma compulsão alimentar (já falei sobre isso aqui no podcast do Draft, ouça!).
Vi o meu corpo mudar, interna e externamente. E a sensação de não conseguir me olhar no espelho era assustadora.
Eu não me reconhecia mais. Achava que aquela mudança era totalmente errada. Mas por que achava isso? Porque estava acostumada a ver somente mulheres magras e esbeltas nas capas de revistas e campanhas publicitárias
Pode parecer bobagem, mas as mídias sociais impõem esse padrão em nós.
A mulher mais bela das novelas e séries de televisão eram as que tinham um corpo aparentemente sem defeitos. Já as gordas sempre protagonizaram o personagem cômico — ou a transição entre o feio que era o gordo, para o bonito, que era magro.
Por isso, pessoas “se assustam” ao ver que celebridades como Anitta ou Kim Kardashian têm celulite. Esse espanto vem do fato de que a mídia e as redes sociais nos tornam reféns de uma realidade totalmente inexistente.
OS FILTROS DAS REDES SOCIAIS ESTÃO DESTRUINDO NOSSA AUTOIMAGEM
Os novos recursos presentes nas redes sociais têm forte influência nessa imposição estética, principalmente os chamados “filtros embelezadores”.
Eles são capazes de “afinar” o nosso nariz, “remover” manchas e acnes do rosto, “proporcionar” uma cintura mais fina, “mudar” a cor dos nossos cabelos… Entre outras alterações (virtuais) que acabam impulsionando a busca precoce por procedimentos estéticos.
Precisamos usar a nossa voz para mostrar à nova geração, conectada no mundo virtual, que a beleza vai além do que vemos nos stories das celebridades
É um processo de desconstrução lento, porém de extrema importância para o desenvolvimento social individual e coletivo.
TODO UMA GERAÇÃO ESTÁ APRENDENDO A SE ACEITAR COMO REALMENTE É
A revolução que o movimento vem causando na sociedade é muito maior do que imaginamos.
Hoje em dia, é bem mais comum vermos pessoas normais — e quando digo normais, são pessoas da comunidade LGBTQIA+, homens e mulheres negras, pessoas gordas e com necessidades especiais — protagonizando momentos em que antes não tinham espaço.
Essa exposição muda toda uma geração, que se sente incluída e se aceita como realmente é. As pessoas passam a aceitar seus corpos, cabelos, marcas e tudo o que as transforma em seres únicos.
Essa conscientização precisa partir também das marcas, que vêm voltando seu olhar para a inclusão. Quer um exemplo? Antes, no mercado da moda, vendiam-se produtos com dois ou três “tons de pele”. Hoje encontramos uma paleta extensa, que engloba, de fato, todos os tons
Precisamos deixar para trás aqueles “ensinamentos” que nos diziam que era preciso se enquadrar no padrão imposto pela moda, pelas tendências de consumo, pelo universo da beleza estética, pelos programas de TV, pelas campanhas de publicidade…
SÃO AS DIFERENÇAS QUE NOS FAZEM ÚNICOS — E SÃO ELAS QUE NOS UNEM
O Body Positive nos faz descobrir aspectos positivos do nosso corpo que por muito tempo foram considerados “fora do padrão”.
Cada vez mais, o padrão está relacionado a ser diferente. E o movimento mostrou que tais diferenças, ao contrário do que se pregou por muito tempo, são o que nos une e não o que nos separa
A visão do Corpo Positivo surgiu na minha vida como um respiro de paz em um momento em que me sentia sufocada. Eu precisava me encontrar e me conectar novamente comigo.
Hoje, uso minha influência para expandir esse movimento que tanto me faz bem e que permitiu que eu encontrasse a verdadeira Juliana Ferraz. Faço, ainda, o possível para expandi-lo para além da minha bolha.
Agora somos muitas vozes falando alto e fazendo com o que o nosso movimento seja cada vez mais ouvido, respeitado, e tenha cada vez mais força.
Seguimos em frente, sem a menor chance de dar passos para trás. Ninguém vai nos tirar do lugar que passamos a ocupar.
Juliana Ferraz é sócia, diretora de novos negócios e RP da Holding Clube. Ela se posiciona em suas redes sociais com textos sobre temas de impacto social, como empoderamento feminino e Body Positive.
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