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A fadiga pandêmica é real e afeta nossa saúde mental. Qual o papel das empresas para minimizar os danos?

Cláudia de Castro Lima - 29 jun 2021
Mônica Torquato, gerente de Treinamento, Desenvolvimento, Recrutamento e Seleção da Sodexo
Cláudia de Castro Lima - 29 jun 2021
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Você pode nunca ter ouvido (e sequer saber pronunciar) os recém-criados termos em alemão coronamüdigkeit e pandemüde. Mas é bastante possível que os conheça profundamente por já ter sentido isso.

As novas palavras, relacionadas à crise da Covid-19, foram uma das 1200 inventadas no ano passado pelos germânicos, segundo o Instituto Leibniz de Língua Alemã. Significam, respectivamente, “cansaço do corona” e “cansado da pandemia”.

A fadiga pandêmica é real. De acordo com uma estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) do fim do ano passado, ela atinge 60% da população mundial. E, de alguma forma, interfere em nossas relações pessoais e profissionais.

“São muitas as causas dessa fadiga”, afirma Mônica Torquato, gerente de Treinamento, Desenvolvimento, Recrutamento e Seleção da Sodexo Benefícios e Incentivos.

“Medo de contrair o vírus e de perder alguém, receio de ficar desempregado, excesso de tempo em isolamento social, afastamento dos amigos e parentes, esgotamento pelo acúmulo de tarefas com o trabalho que foi para dentro de casa e necessidade de dar conta de tudo são apenas algumas”, enumera.

Segundo Mônica, ao mesmo tempo em que o trabalho, com o excesso de reuniões e a carga horária mais extensa, nos deixa mais cansados, nossa exaustão com a incerteza do que acontece ao nosso redor nos faz estarmos cansados para o trabalho.

Uma espécie de círculo vicioso – em que nada está bom para ninguém.

A EMPRESA COMO AGENTE QUE PROPORCIONA QUALIDADE DE VIDA

A fadiga pandêmica afeta nossa saúde mental. Uma pesquisa global realizada recentemente pelo Ipsos e encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, mostra que 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano.

“Todas as organizações sentiram o impacto da fadiga em seus colaboradores”, diz a especialista. A Sodexo vem constantemente medindo a qualidade de vida deles desde que a pandemia e o home office começaram.

Em maio do ano passado, a companhia percebeu que a segurança psicológica era um ponto que merecia atenção. E então começou a traçar estratégias para minimizar os danos.

“Precisamos ter um lugar para conversar sobre nosso esgotamento, e é fundamental que a empresa seja esse agente”, acredita Mônica.

Uma série de programas foram criados para que a empresa ampliasse a oferta de ferramentas e suporte, como trazer psiquiatras e psicólogos para falar com os colaboradores e disponibilizar, além da solução de terapia online que já existia, outras duas.

“Na Sodexo, promovemos treinamentos com gestores e lideranças para identificar nas equipes quem pode estar precisando de ajuda – e que tipo de ajuda precisa”, diz.

A empresa também criou ou fortaleceu iniciativas internas para promover a interação entre os colaboradores, como o “Conectados” (encontro virtual para todos da empresa, inclusive de diretores e o CEO) e o “Sextou” (em que os colaboradores são motivados a mostrar talentos, como artes marciais ou culinária).

“Somos uma empresa de qualidade de vida. Se isso não for vivido internamente, não faz sentido”, acredita.

Os resultados podem ser medidos com alguns indicadores positivos, como a baixa taxa de absenteísmo e a produtividade inabalada. “A maior resposta, no entanto, foi 60% de nossos colaboradores dizerem em uma pesquisa recente que pretendem continuar em sistema de home-office no pós-pandemia. Sinal de que estão sendo atendidos.”

ESTRATÉGIAS QUE TODAS AS EMPRESAS PODEM ADOTAR

Segundo a gerente, a Sodexo, assim como as demais companhias, está ainda aprendendo a lidar com essa situação. “Apesar disso, ou por isso mesmo, vejo várias iniciativas surgindo para evitar que o trabalho deixe os colaboradores ainda mais fadigados”, diz Mônica.

Um exemplo vem da própria Sodexo, onde os gestores foram instruídos a não estimular reuniões de horários cheios. Ela diz que a estratégia de marcar reuniões mais curtas, entre meia hora e 45 minutos, deixa espaço para que nós possamos fazer coisas essenciais, como nos levantar um pouco da cadeira, beber água, ir ao banheiro ou até responder e-mails.

“Com o home-office, muita coisa que antes era resolvida em pequenos bate-papos ou naquele encontro fortuito no café hoje tem que ser resolvida com horário marcado por videochamada”, conta Mônica. “Por isso esse excesso de reuniões.”

Flexibilizar horários também é uma iniciativa que traz resultados. “Cada pessoa sente esse momento de uma forma e teve sua rotina impactada de maneira distinta”, afirma a gerente.

“Se trabalhar à noite, por exemplo, for melhor para um determinado colaborador, por que não permitir isso, desde que não afete os processos da empresa?”, questiona-se.

“Criar fóruns para discussão, ser fonte de informação confiável, promover um ambiente seguro, trazer especialistas para conversar, tudo isso pode ser feito pelas companhias.”

Para Mônica, é essencial que as empresas também disponibilizem neste momento a possibilidade de terapias ou atendimento de profissionais de saúde que possam dar algum suporte aos colaboradores.

ESTRATÉGIAS QUE OS COLABORADORES DEVEM ADOTAR

Formada em psicologia, a gerente da Sodexo afirma que criar soluções para que a fadiga pandêmica não atrapalhe nossa produtividade – e também para que nosso trabalho não piore nossa saúde mental – cabe também aos colaboradores.

Embora não acredite em receita de bolo, Mônica afirma que algumas atitudes são essenciais para manter nossa qualidade de vida. Ela dá abaixo sete dicas:

1. Aceite o sofrimento
“Primeiro é preciso que ele tenha um entendimento e uma aceitação da situação e saiba que tudo o que sente é real”, diz. “Estamos todos passando por isso, portanto não devemos minimizar o sentimento.”

2. Coma – e coma direito
“Temos que parar tudo em nossa hora do almoço e ter refeições saudáveis”, diz. “Bloqueie a agenda para garantir isso.”

3. Bloqueie sua agenda para trabalhar
Reservar horário na sua própria agenda para fazer algumas tarefas também é uma boa ideia. “Na minha, o período da tarde de sexta-feira é um desses horários bloqueados. É o momento em que, por exemplo, leio artigos que são essenciais para meu trabalho.”

4. Pratique atividade física
Mexer-se também é importante – e vale qualquer atividade. “Movimentar o corpo ativa seu organismo para a produção de hormônios que dão sensação de prazer e bem-estar. Corpo e mente não são entidades separadas.”

5. Tome doses diárias de vitamina D
Não é suplemento que ela recomenda, e sim exposição ao sol. Abra a cortina, vá para a varanda ou o quintal, desça para alguma área aberta de seu prédio ou caminhe na rua. Mas tome sol.

6. Diga alguns nãos
“É preciso reconhecer que temos limites”, afirma Mônica. “Aprenda a negociar prazos de entrega, fale alguns nãos. Tudo é importante, mas o que é de fato essencial? O combinado não sai caro nunca.”

7. Faça algo que dê prazer
Pode ser assistir a uma série na TV, ler, ouvir música, fazer tricô, mexer nas plantas, brincar com o cachorro ou com os filhos. Ou, por que não?, praticar de vez em quando um abstandsbier – o novo termo alemão que significa beber uma cerveja com os amigos a distância.

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