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Que tal uma roupa que não suja nem amassa? Ela existe, mas só no ambiente virtual. Conheça o Studio Acci, de moda digital 3D

Dani Rosolen - 21 jul 2021
Henrique Assis e Letícia Acciarito, fundadores do Studio Acci.
Dani Rosolen - 21 jul 2021
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Pode apostar: vai chegar um dia em que, como um personagem de videogame, você terá um segundo guarda-roupa, digital, com peças e acessórios que só existem na tela do seu smartphone ou computador.

Aí, você se pergunta: roupa digital? Para que eu vou querer uma blusa ou jaqueta impossível de ser usada na rua, no mundo físico? Bom, uma das razões é simples: incrementar seu look para as redes sociais com peças muito mais em conta. 

“A Gucci lançou um tênis virtual por 12 dólares”, diz a empreendedora Letícia Motta. “É uma saída interessante para a pessoa ter o calçado do momento, quando uma versão física custaria a partir de 400 euros.”

Letícia, 23, é cofundadora, com Henrique Assis, 24, do Studio Acci, uma das startups brasileiras pioneiras em moda digital. Fundada em junho de 2020, a empresa se inspira em players internacionais, como a escandinava Carlings e a holandesa The Fabricant

O Studio Acci opera no B2B, abastecendo marcas do setor com peças virtuais que podem ser usadas em propagandas e editoriais de moda — e trazendo uma economia em gastos com peças-piloto, tecidos, deslocamentos etc. 

O carro-chefe são as roupas, calçados e acessórios digitais, mas a dupla já criou cenários em realidade aumentada e manequins virtuais ultrarrealistas.

AMIGOS DE INFÂNCIA, OS SÓCIOS TINHAM NA MODA UM INTERESSE EM COMUM

Letícia é designer de moda, mas desde a faculdade já sabia que não queria seguir uma carreira tradicional como estilista. Durante o curso, começou a se interessar por projetos 3D. 

“Eu era rata de laboratório, ficava direto no fablab e tinha muito contato com o pessoal de arquitetura e design de produto”, diz.

Ela se formou em 2018 e foi morar em Milão, onde hoje trabalha como designer de moda 3D.

Posso dizer que avisei há três anos sobre as roupas digitais, mas todo mundo me chamava de louca, e dizia que isso só funcionava para vídeo game… Os estúdios, empresas e marcas de fora já trabalhavam com moda digital. Alguns, mesmo que ainda não tivessem aplicado, pesquisavam o assunto”

Henrique, seu amigo de infância, chegou a cogitar a faculdade de moda, sua paixão, mas acabou optando por publicidade. No começo da pandemia, porém, ele conta que foi demitido da empresa onde trabalhava, em meio a um corte de funcionários.

Foi daí que, trocando figurinhas pela internet (ela, na Itália; ele, em São Bernardo do Campo, onde vive), e já de olho nas tendências da moda, a dupla decidiu investir 25 mil reais para empreender o Studio Acci, lançado em junho de 2020. 

NO PORTFÓLIO, UMA COLEÇÃO-CÁPSULA E UM EDITORIAL COM GRIFES FAMOSAS

Em um ano, a empresa afirma ter realizado projetos para cerca de 50 clientes, com apoio de duas dezenas de designers e artistas digitais freelancers.

Os jobs variam desde colaborações pontuais para estudantes (o Studio Acci recriou digitalmente roupas dos séculos 18 e 19 para o projeto de uma mestranda de moda da USP, em maio deste ano) até campanhas publicitárias, como uma desenvolvida para uma coleção-cápsula da Cartel 011 em parceria com a D-Aura. Henrique lembra:

Tricô, calça, brincos, bolsa e sapatos, tudo Chanel. (Foto: The Diigitals e Studio Acci)

A modelo virtual Shudu com um look da Chanel criado digitalmente pelo Studio Acci.

“A campanha foi criada num momento em que estava tudo fechado, não tinha previsão de vacina e muitas marcas estavam apresentando seus produtos de forma digital. Enquanto a gente estava fazendo as camisetas, as calças e as bolsas por meio do digital, para colocar na comunicação, eles cuidavam da produção física, vendida pelo site”

Em abril deste ano, os cofundadores contam que criaram em dez dias um editorial para a Glamour. Os cinco looks desfilados por uma modelo virtual, a Shudu, do estúdio londrino The Diigitals, eram da Adidas, Chanel, Mayara Bozatto, Gucci e Verkko. Segundo Letícia:

“A gente não teve contato físico com nenhuma peça, elas tinham acabado de ser desfiladas lá fora”, diz Letícia. “Criamos tudo com base em fotos de passarela, reproduzimos fielmente cada detalhe de bordado e pedraria.”

A PRODUÇÃO PODE PARTIR DE UMA PEÇA FÍSICA — OU SER 100% VIRTUAL

Criar uma roupa virtual pode parecer supersimples, mas não é bem assim. 

“Muita gente vem com uma fantasia de que o digital é só clicar em um grande botão vermelho e está tudo pronto”, diz Letícia.

O processo varia conforme a demanda, explica Henrique. Em casos como esses da coleção-cápsula e do editorial de moda, o cliente já tem a peça física e quer apenas digitalizá-la e incorporá-la em alguma experiência imersiva, de realidade aumentada ou virtual. 

“Em outros casos, o cliente tem [apenas] o desenho ou a ideia, e a partir dessas informações começamos a desenvolver em 3D para que ele consiga visualizar e ir editando de forma conjunta com a gente, até chegarmos em um resultado final”

Tecido, texturas, recortes: tudo tem que ser considerado e trabalhado por meio de softwares, para produzir uma roupa 100% digital, que pode ilustrar um e-commerce, por exemplo, ou ser usada em ações interativas de marca ou como filtros em redes sociais.

É PRECISO EVANGELIZAR O CLIENTE SOBRE O VALOR DO TRABALHO

Entender a necessidade do cliente, portanto, é o primeiro passo. 

“O Studio Acci poderia sair ‘empurrando’ um produto digital para todo mundo…”, diz Letícia. “Em vez disso, vemos o que a marca precisa, o que se adequa melhor ao seu público… Não é por que outras marcas estão trabalhando com o digital que essa será a sua resposta.”

Por outro lado, é preciso evangelizar essa clientela acerca da dificuldade — e do valor — do trabalho da moda 3D. Afinal, não se trata apenas de “apertar um botão”, como diz Letícia: 

“A indústria de moda, principalmente a brasileira, é muito exploradora. Um exemplo é o trabalho escravo, muitas vezes denunciado nas confecções. A gente não cobra horrores, é o valor justo — mas precisamos ensinar o cliente sobre o preço”

A demanda e as necessidades de customização determinam o preço. “A partir de 120 reais já conseguimos atender estudantes”, diz Henrique. “Ter um valor baixo, nesses casos, é uma forma de incentivo, porque alguns anos atrás era a gente ali, pesquisando alternativas, e não sentíamos boa vontade do mercado em ajudar.”

Projetos maiores, com muitas peças, detalhes, além de animações e experiências imersivas, podem custar 200 mil reais — ou mais.

A MODA DIGITAL PROMETE TORNAR O SETOR MAIS SUSTENTÁVEL

A indústria da moda é uma das mais poluentes do planeta. A tecnologia digital pode tornar o setor mais sustentável, evitando por exemplo o desperdício na produção de protótipos de roupas. 

O digital, porém, “não vai roubar o emprego de todas as modelistas e costureiras do mundo”, diz Letícia: “A tecnologia vem trazer sustentabilidade e facilitar o trabalho de quem atua nessa cadeia.”

Num mundo de gente fissurada pela própria imagem, compartilhada em selfies por meio de redes sociais, as roupas digitais seriam ainda uma alternativa ao consumo de fast fashion (sabe aquelas peças que você compra, usa uma ou duas vezes e descarta porque “saiu de moda”?), diz Letícia: 

“As pessoas começaram a se questionar se é mesmo necessário comprar aquela blusinha só para aparecer numa foto do Instagram. As marcas também passaram a adotar uma postura mais sustentável — e isso deve permanecer após a pandemia”

Continuaremos comprando roupas de verdade, claro. Afinal, ninguém sai à rua usando calças virtuais. Mas os sócios creem que a moda digital veio para ficar.

“Nossa forma de agir e de comprar não será a mesma de antes”, diz Henrique. “O Brasil já entendeu que as empresas precisam continuar no digital, mesmo com o fim da pandemia e da necessidade de distanciamento social.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Studio Acci
  • O que faz: Criação de moda digital
  • Sócio(s): Henrique Assis
  • Funcionários: apenas os sócios fixos e 20 colaboradores freelancers
  • Sede: São Bernardo do Campo (SP)
  • Início das atividades: 2020
  • Investimento inicial: R$ 25 mil
  • Faturamento: Não informado
  • Contato: [email protected]
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