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Quer óculos que se ajustam perfeitamente ao seu rosto? A Yoface customiza armações com realidade aumentada e impressão 3D

Alex Xavier - 2 ago 2021
Ivan Cavilha, fundador da Yoface.
Alex Xavier - 2 ago 2021
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Que tal um par de óculos que se ajusta perfeitamente ao seu rosto? Essa é a promessa da Yoface, que customiza armações produzidas sob demanda, num processo que envolve impressão 3D, machine learning e realidade aumentada.

A startup já apareceu aqui no Draft, em janeiro de 2020, na seção Acelerados. À época, Ivan Cavilha, o sócio-fundador, tinha investido 500 mil reais do próprio bolso para lançar sua primeira linha de óculos de sol.

Porém, antes que seu e-commerce ganhasse impulso, a pandemia chegou ao Brasil. O empreendedor decidiu então suspender o site e repensar o produto.

“Era um cenário muito difícil de prever, nem sabíamos quanto tempo ia durar. Mantive a empresa funcionando com nosso capital e centralizei os recursos e a energia na preparação para atingir um estágio realmente competitivo.”

Nesse período, em meio ao isolamento social, Ivan se dedicou a trabalhar a experiência de compra, buscando uma tecnologia que permitisse ao cliente provar os modelos sem sair de casa. 

“As pessoas perderam o medo de comprar pela internet, o que movimentou também o segmento óptico. Mas não se compra óculos — ainda mais de grau — sem experimentar. Então, tínhamos que oferecer uma experiência mais completa”

Um ano e meio depois, a empresa se prepara para relançar seu produto na segunda quinzena de agosto — e agora com uma proposta de customização mais completa.

ELE CONHECEU AS CARÊNCIAS DO MERCADO ÓPTICO COMO CONSULTOR

Ivan tem 48 anos. Sua trajetória no mercado de óculos começou há quase 20.

Em 2002, após trocar Floripa pelo Rio e se graduar em marketing na Universidade Estácio de Sá, ele trabalhava em uma consultoria, pela qual desenvolveu uma marca esportiva de óculos para a Optisol — então uma das maiores fabricantes do setor na América Latina.

Nesse processo, conheceu carências do mercado e acabou contratado pelo cliente para estruturar a área de marketing e tocar novos projetos.

“Além de fazer a comunicação, dentro da fábrica, conhecia profundamente os processos de produção, desde a compra da matéria-prima, passando pela criação e o desenvolvimento até a ferramentaria e distribuição”

O ciclo na Optisol se encerrou em 2009, depois do lançamento de três marcas. Mas Ivan nunca mais deixaria de trabalhar com óculos. Em seguida, migrou para ser gestor na JR Adamver, que tem a licença da Colcci e da Mormaii — e dava os primeiros passos para uma marca própria, a Absurda.

“Achava bem legal como eles estavam comunicando a marca, ressaltando life style e branding, algo raro na área óptica naquele momento.” 

Ele estreou no cargo em 2011, durante a Expo Abióptica, importante feira do setor, em São Paulo, com um estande modesto da Absurda. O burburinho gerado no Instagram e no Facebook, porém, já começava a atrair atenção. 

BATENDO O RAY-BAN EM VENDAS DE ÓCULOS DE SOL NA MAIOR FEIRA DO SETOR

Esse interesse do público foi vitaminado a partir do lançamento do Calixto, modelo grande e quadrado que tinha como atrativo as lentes espelhadas coloridas. Mas o mercado, diz Ivan, ainda era muito conservador.

“Os representantes de lojas não acreditavam que a Absurda estava ‘fervendo’ nos blogs… Usei até a estratégia de dar prazo estendido [aos revendedores] para pagar a primeira parcela, porque sabia que ela comprovaria o sucesso.”

No ano seguinte, 2012, uma campanha no YouTube chamada “Qual é a cor do seu estilo?” mobilizou duas dúzias de celebridades, como a chef Helena Rizzo e o ator Paulo Vilhena, usando óculos espelhados no seu dia a dia.

A campanha viralizou. De volta à Abióptica, o estande da Absurda cresceu e incorporou até um DJ.

“Vendemos mais solares [óculos de sol] do que a Ray-Ban Brasil dentro da feira — algo que nunca acontecia” 

Segundo Ivan, a Absurda fechou 2012 com cerca de 300 mil óculos vendidos e 32 milhões de reais de faturamento. Porém, acostumada a lidar com licenças, a JR Adamver teve problemas na gestão de sua marca própria. 

“A pirataria foi forte em cima da gente e não conseguimos reverter o desgaste. Mas a Absurda deixou um legado, hoje todas as marcas têm lentes coloridas espelhadas.” 

EM SEGUIDA, ELE CRIOU UM PROJETO PARA A REDE CHILLI BEANS

Em 2015, Ivan foi apresentado a Caito Maia, criador da Chilli Beans. Famosa pelos óculos de sol, a marca queria reforçar sua linha de óculos de grau.

“Eu tinha esse conhecimento todo, me mudei para São Paulo e fui contratado como coordenador de novos projetos, para abrir o canal óptico do zero”

No primeiro ano, ele consolidou a Chilli Grau com faturamento de 6,6 milhões de reais (o valor se refere apenas ao resultado da marca de óculos de grau). No ano seguinte, esse montante já tinha saltado para uns 10 milhões de reais. 

Até que o executivo pediu para sair. “Estava exaurido, tão absorvido por um projeto que nem tinha mais vida, vinha sacrificando várias coisas…” 

Quando deixou a empresa, em 2017, a Chilli Grau estava presente em 1 400 pontos de venda, entre lojas Chilli Beans, quiosques em shoppings e outras óticas revendedoras.

DURANTE O DESCANSO, BATEU A VONTADE DE EMPREENDER

Ivan tirou um tempo para descansar e viajar. Mas o trabalho, de certa forma, foi junto. 

Enquanto passava o fim de ano em Búzios, no litoral fluminense, encontrou um amigo que soltou casualmente a ideia: 

“Ele disse: ‘Com toda sua vivência e conhecimento nessa área, está na cara que você vai lançar uma marca própria, né?’ E na verdade eu nem tinha pensado nisso”

Depois, passeando com a esposa em Nova York, Ivan deparou por acaso com um telão gigante em uma megaloja de calçados esportivos. Era o anúncio de uma promoção, onde se lia “In Your Face” (“na sua cara”). 

Belo nome para uma marca de óculos, pensou. 

“Na minha cabeça, imaginei ‘Yoface’, como uma gíria… Cheguei ao Brasil e parti logo para o registro no INPI, para garantir a marca.”

ATRÁS DE SUSTENTABILIDADE, IVAN SE VOLTOU PARA A IMPRESSÃO 3D

Os meses seguintes foram de muita pesquisa. “Eu não queria repetir aquilo que vi não funcionar — principalmente em relação à produção”, diz Ivan. 

As armações dos óculos de sol, segundo o empreendedor, são todas made in China. E ele se incomodava com o enorme desperdício dessa cadeia, em que estoques inteiros são descartados porque saíram de moda… Um processo poluente e que explora mão-de-obra barata. 

Debruçado em leituras, ele conheceu mais sobre a impressão 3D. E comprou a ideia de usar manufatura aditiva na produção de óculos. 

“Com uma planta fabril de injeção ou metal, não haveria maneira de produzirmos itens personalizados.”

Ele contratou uma empresa especializada em impressão 3D para desenvolver um processo específico para seus produtos; enquanto isso, prototipava os óculos testando cores, durabilidade, flexibilidade e resistência.

“Testamos os modelos com familiares, amigos próximos, atletas, skatistas, um conhecido meu que pratica snowboard… Até termos uma coleção.”

A REALIDADE AUMENTADA COMO FERRAMENTA DE CUSTOMIZAÇÃO

No fim de 2019, a Yoface fez um pré-lançamento com influencers e jornalistas e chegou a abrir o site para vendas.

Ele planejava vender também por meio de revendedores em lojas físicas, mas confessa que tinha receio de abrir mão do controle sobre a distribuição e ficar “disputando espaço no mostruário com centenas de outras marcas”.

Então, em 2020, a pandemia veio com um tudo, forçando a pausa que viria a se revelar estratégica.  “Tirei o site do ar e aproveitei essa parada para reconstruir o projeto, voltado agora para a experiência de comprar óculos.”

Nessa época, Ivan conheceu a xGB, que trabalha com realidade aumentada. Logo, vislumbrou que a tecnologia poderia ser aplicada para projetar óculos virtuais no rosto do comprador — e permitir a customização de cada modelo.

“Vi [o uso de realidade aumentada] como ferramenta de acessibilidade, ajudando quem, por exemplo, tem algum problema médico — como septo acidentado, um nariz muito estreito ou muito largo — a encontrar o ajuste perfeito”

Os desenvolvedores da xGB propuseram a criação de uma rede neural capaz de escanear o rosto e identificar os “pontos críticos”, principalmente em torno do nariz, que pudessem impactar o ajuste de uma armação.

O SISTEMA USA A CÂMERA DO SMARTPHONE PARA LER O SEU ROSTO

A tecnologia da xGB se utiliza de um banco de dados aberto com milhões de rostos para ensinar o sistema, por machine learning, a identificar faces de diferentes tipos.

A partir do mês que vem, agosto de 2021, o cliente que entrar na loja online da Yoface poderá ter rosto escaneado e realizar uma prova virtual de óculos de sol ou de grau (neste caso, fazendo o upload, no site, da receita do oftalmo).

Vai funcionar assim: primeiro, você escolhe o modelo que deseja, no site da Yoface. Depois, com os cabelos presos e em um ambiente iluminado, é hora de clicar no botão “Iniciar a experimentação”

O sistema então usará a câmera do celular ou computador para ler o seu rosto de frente e de perfil, conforme você move a cabeça para os lados, lentamente, mantendo a sua face alinhada a uma “máscara” virtual que é projetada na tela.

Essa brincadeira deve durar alguns segundos e serve para registrar as medidas entre as pupilas dos seus olhos e o seu nariz (o nome técnico é Distância Naso-Pupilar). 

A “máscara virtual” com esses dados é exportada num arquivo com o modelo escolhido. De posse das informações, um operador cria um molde digital do rosto do cliente, indicando ajustes sutis para a armação a ser impressa.

A PRODUÇÃO SERÁ REALIZADA PELO SENAI CIMATEC, NA BAHIA

Após a criação do molde digital, o arquivo vai para a “fábrica 3D”. É aí que entra em cena outra parceria, que vai permitir à Yoface viabilizar sua produção. 

Em Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador, o SENAI Cimatec, a HP Brasil e a SKA estão instalando um Bureau de Serviços de Impressão 3D. Esse ambiente vai funcionar como uma incubadora de startups sem “bala na agulha” para bancar uma impressora 3D de porte industrial. 

“Fomos convidados por eles a participar do ecossistema e, em agosto, vamos migrar a nossa operação para a Bahia”

Com a impressão 3D, a produção é sob demanda, dispensando a necessidade de estoque. A Yoface manterá na Bahia um único funcionário, responsável pela montagem do estojo final. Uma vez recebidos os pedidos (enviados por meio de um arquivo digital), é hora de fabricar os óculos.

Na cuba da impressora cabem 80 pares, impressos com um material chamado poliamida 12. Esse processo dura 13 horas; em seguida, os óculos ficam por mais quatro horas em um tambor de limpeza, que remove impurezas antes da pintura por tingimento e da aplicação do verniz. 

A PARCERIA DEVE PERMITIR O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS

A chegada ao Bureau de Serviços de Impressão 3D deve descortinar novas possibilidades para a startup. Uma delas é investir em óculos de alta performance com foco em esporte ou segurança laboral. 

“Dentro do ecossistema de Salvador está a Petrobras, por exemplo, que precisa de equipamentos de proteção individual, óculos sob medida, com ajuste perfeito e superleves, para dar um conforto ao funcionário”, diz Ivan.

O empreendedor já sonha com inovações futurísticas, tipo instalar um chip dentro dos óculos para estabelecer redes de contato diretamente com o rosto do usuário. Por enquanto, pura especulação. 

“Lá [no Bureau] é uma ‘Disneylândia’ para nós, eles têm uma área desenvolvendo inteligência artificial que vai trazer ainda mais evolução à nossa tecnologia… Também vão abrir um centro de computação quântica que será uma espécie de aceleração turbo para Yoface” 

Ivan se refere ao Latin America Quantum Computer Center (LAQCC), anunciado como o primeiro centro dedicado à tecnologia de computação quântica aplicada ao setor empresarial do Brasil. 

ELE TAMBÉM QUER VENDER ÓCULOS POR MEIO DE CONVÊNIOS

Os óculos custarão em torno de 600 reais, cada; do pedido à entrega, Ivan estima um prazo de 10 dias. Sua expectativa é produzir 6 mil unidades ao longo dos próximos 12 meses, e atingir um faturamento de 1 milhão de reais.

Hoje, além do empreendedor e do funcionário que atuará na unidade fabril baiana, a Yoface tem apenas mais dois colaboradores, um tocando finanças e o outro, mídias digitais. Fica claro que as parcerias com a xGB e o SENAI foram cruciais para viabilizar o produto.

“Se pudesse, teria antecipado a entrada de parceiros. Quanto antes a gente se cerca de pessoas com visões diferentes, melhor… Isso traz uma aceleração e um aprimoramento ao projeto — e economiza tempo e dinheiro”

O empreendedor agora já mira a internacionalização. “A partir da manufatura, podemos estabelecer sede em qualquer país que detenha tecnologia para impressão”, diz. 

Em paralelo, a Yoface quer vender um serviço de convênio óptico, permitindo a empresas estender aos seus funcionários o benefício na aquisição de óculos.

“Teremos três modelos e podemos oferecer descontos muito agressivos, porque não teremos intermediários”, diz. “Ainda queremos propor às empresas um trabalho social para levar isso a escolas públicas, onde muitos alunos têm dificuldade de aprendizado apenas por não terem acesso a óculos.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Yoface
  • O que faz: Óculos customizados produzidos com impressão 3D e uso de realidade aumentada
  • Sócio(s): Ivan Cavilha
  • Funcionários: 4
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2019
  • Investimento inicial: R$ 500 mil
  • Faturamento: R$ 1 milhão (previsão para agosto de 2022)
  • Contato: [email protected]
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