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O Brasil tem muitos lugares que os serviços de distribuição não alcançam. Esse é o desafio logístico que a Loggi quer solucionar

Marina Audi - 9 ago 2021
Gregoire Balasko, COO da Loggi.
Marina Audi - 9 ago 2021
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Em 2020, 3 milhões de encomendas foram entregues diariamente no Brasil.

Esse número, porém, poderia ser bem maior. 

Para os executivos da Loggi, scale-up de logística que engaja parceiros e uma rede de entregadores autônomos, o mercado potencial é de 30 milhões a 40 milhões de entregas diárias. E o gargalo tem a ver com as disparidades regionais.

Segundo Gregoire Balasko, 38, COO da Loggi, a média nacional de entregas é de 3 pacotes por habitante. Em São Paulo, esse número quase triplica, chegando perto de 9; no interior das regiões Norte e Nordeste, porém, a média despenca para menos de 0,1 pacote por habitante.

“É uma desigualdade gigantesca. O papel da Loggi é permitir que quem está no interior do Amazonas ou de Pernambuco possa comprar ou vender para o Brasil todo — tão facilmente quanto quem está nos grandes centros” 

Para Gregoire, a falta de uma boa malha logística reflete a baixa integração social do país. Então, o mantra repetido internamente pela Loggi é conectar o Brasil no mundo físico. 

“A visão vem com um papel social muito forte de integrar efetivamente o país, conectar comunidades aonde ninguém chega”, diz Gregoire. “Fazer isso é um enorme enabler [potencializador] econômico.” 

UM MARKETPLACE DE ENTREGAS COM ATIVOS PRÓPRIOS E PARCEIROS

Viabilizar entregas e uma logística eficiente em custo significa empoderar pequenos negócios. “Os chineses fizeram isso há 15 anos”, diz Gregoire. “Hoje, qualquer pequeno empreendedor chinês vende para o mundo inteiro, pela internet.”

Esse exemplo chinês inspirou a Loggi na construção do seu modelo de marketplace de entregas, misturando ativos próprios e parceiros. A empresa foi fundada em 2013 por dois empreendedores, o francês Fabien Mendez e o brasileiro Arthur Debert.

A ideia sempre foi conectar qualquer pessoa que precisasse enviar ou receber um pacote a uma rede de entregadores autônomos, a um custo competitivo, por meio de tecnologia.

Hoje, ao redor do país, são mais de 40 mil motofretistas, cerca de 380 transportadores parceiros, via programa Leve, e mais de 120 bases urbanas próprias para cross docking – armazéns ou galpões de onde saem as entregas para os consumidores (o termo técnico é “entrega de última milha”). 

Essa estrutura atende 1 791 municípios, com um tempo médio de entrega de dois dias. A scale-up emprega algoritmos de inteligência artificial para otimizar rotas, identificar a melhor modalidade de entrega e equilibrar os três modais independentes: entregador autônomo, o pequeno empresário/franqueado e às vezes um funcionário. 

“A forma como a gente cresceu foi com modelo próprio nas capitais e, a partir de 2018, via parceiros: os ‘Leves’. Na nossa visão, é quase impossível conectar 5 500 municípios brasileiros só com modelo próprio” 

As parcerias têm como base a contratação de transportadoras pequenas e médias para que a Loggi use a estrutura física delas – armazéns e veículos – enquanto os Leves passam a ter acesso às lógicas de negócio e à tecnologia da Loggi.

Assim, pequenos empreendedores usam a plataforma integrada, baseada na nuvem, pela qual acompanham via desktop ou aplicativo, em tempo real, as encomendas em transporte, bem como as pendentes. Desses parceiros, a Loggi exige uma estrutura básica: computador com acesso a internet, smartphones com sinal 3G para os entregadores e pelo menos 60 metros quadrados de espaço para armazenamento. 

“A ideia do nome Leve é que precise de pouco espaço e investimento para se tornar parceiro. Conhecimento local em logística é algo que faz diferença enorme, tanto na qualidade da entrega quanto em custo. Queremos alavancar isso.”

A CONJUNÇÃO DE TRÊS FATORES INSPIROU A CRIAÇÃO DA STARTUP

A gênese da Loggi data de 2013, quando Fabien, o francês que adotara São Paulo como lar, viu uma conjunção de três fatores. 

O primeiro era uma dor do mercado: a burocracia brasileira exigia intensa circulação de documentos pela cidade, o trânsito estava sempre saturado — e a solução era usar motoboys. O segundo fator foi uma mudança regulatória: entre 2009 e 2013, foram aprovadas novas leis formalizando a atuação dos motoboys. E, por fim, havia um terceiro aspecto: a janela tecnológica, com a proliferação dos smartphones.

Assim, naquele ano a startup deu partida com foco e entregas locais, ponto a ponto, feitas com motofretistas, dentro das áreas extremamente densas da capital paulista, em bairros como Jardins, Pinheiros, Itaim Bibi e a região da Avenida Faria Lima.

Era o início do 4G. Rapidamente, a Loggi criou e alavancou um produto de intermediação entre motofretistas e consumidores, com uma boa experiência de solicitação de pedido via aplicativo.

Ao conectar essas duas pontas com eficiência, a empresa expandiu de forma veloz. Gregoire (ele próprio francês radicado no Brasil, assim como Fabien) lembra:

“O grande desafio de qualquer operação desta natureza é criar densidade: você tem que ter uma base de entregadores robusta na região para servir muito bem a sua base de clientes. À medida que você cria esta base, alguns entregadores vão fazer entregas nas regiões adjacentes — e isso cria a massa crítica” 

Logo, o logotipo do coelho correndo, presente nos baús azuis das motos, parecia onipresente na cidade, conforme a Loggi ampliava seu raio de atuação.

ATENDER GRANDES E-COMMERCES DEMANDOU UM “EIXO FÍSICO”

Ao longo de 2015, segundo a empresa, a rapidez da Loggi foi atraindo atenção de grandes e-commerces brasileiros, que demoravam de 3 a 4 dias em suas entregas. 

Esses grandes varejistas queriam usar os serviços rápidos da scale-up para acelerar sua operação.

“Só que o grande e-commerce é diferente de coletar um pacote em uma portaria ou em uma lojinha de rua. Você tem de coletar dezenas ou centenas de pacotes nos galpões logísticos desses e-commerces. Aí você precisa ter cadastro, grades de coleta, doca… É uma operação bastante diferente, de escala muito maior, na qual você começa a ter um eixo físico”

No fim de 2015, para viabilizar esse novo serviço de coleta de muitos pacotes e entregas em endereços diferentes, a Loggi inaugurou sua primeira base física. 

“A partir do momento que você tem um galpão, tem de aprender a operá-lo: tem de ter processos, pessoas, saber como usar equipamento de automação para separar os pacotes, criar rotas boas, otimizadas – rápidas e de baixo custo”, diz Gregoire.

DEPOIS DE QUASE FICAR SEM CAIXA, A OPERAÇÃO ATINGIU O BREAKEVEN

O ano de 2016 foi de aprendizado desse novo modelo de operação, com investimentos para criar esses ativos físicos e também em tecnologia. A empresa quase chegou a ficar sem caixa.

No começo de 2017, um investimento série C melhorou a situação. A Loggi fechou parcerias de entrega de alimentos com iFood e Rappi, já havia expandido para os municípios da Grande São Paulo e, no fim daquele ano, atingiu o breakeven

“Fizemos um trabalho muito forte de sustentabilidade e, em paralelo, criamos a visão de conectar o Brasil. Uma vez que estávamos integrados com os e-commerces, criar uma base de entrega no Rio, BH, Curitiba e conectar essa base a uma malha em SP era mais fácil”

Em 2018, com a implantação do programa Leve, a scale-up chegava a 25 capitais, impulsionada pelo modelo de parcerias. 

Estava resolvido assim o “problema do ovo e da galinha”. Ou seja, o dilema entre o que deveria vir primeiro: esperar a demanda se fortalecer ou montar (já) uma base de operação física.

NOS ÚLTIMOS ANOS, A SCALE-UP TURBINOU DE VEZ SUA OPERAÇÃO

Traçando uma breve linha do tempo dos anos mais recentes, dá para ver como a Loggi turbinou sua operação, impulsionada por aportes externos, investimentos em tecnologia e o modelo de parcerias.

No começo de 2019, a empresa alcançava 36 cidades, com 100 mil entregas por dia. Naquele ano, captou 150 milhões de dólares e virou unicórnio, catapultando seu valor de mercado para o patamar de 1 bilhão de dólares. Seis meses depois do aporte, a abrangência própria já cobria 67 municípios. 

Em 2020, a scale-up decolou de vez, alcançando 475 novos municípios., investindo 150 milhões de reais em automação e tecnologia para aumentar sua capacidade em 150%.

O volume de entregas no ano passado aumentou 360%. Esse percentual é uma média: houve localidades que cresceram apenas 20% — e outras explodiram, com 20 000 % de crescimento.

O aporte mais recente foi captado em março de 2021, numa rodada Série F liderada pela CapSur Capital com a participação de outros fundos. O valor chegou a 212 milhões de dólares — mais de 1 bilhão de reais. 

Impulsionada por essa injeção financeira, a Loggi agora quer fechar 2021 abrangendo 3 mil municípios do país.

A PANDEMIA ALAVANCOU SUBITAMENTE A DEMANDA E EXIGIU ADAPTAÇÕES

Sem detalhar números, Gregoire afirma que as entregas nacionais vêm dobrando ano a ano. 

A pandemia trouxe um aumento repentino de demanda — bagunçando o planejamento de uma empresa que chega a se preparar para a Black Friday com um ano de antecedência.

O cenário de incerteza despertou a Loggi para a necessidade de ter estruturas de gerenciamento cada vez mais locais e regionalizadas — tanto para alavancar os parceiros “Leves” quanto as estruturas regionais da empresa, nas áreas de supervisão de cidades. 

O objetivo é reforçar a autonomia na ponta, para manter a operação nos trilhos sempre que houver picos de demanda.

“Evoluímos nossa estrutura ao longo do ano para gerar esse conhecimento e ter mais flexibilidade e capacidade de ação. Essa é uma das nossas grandes forças, além da tecnologia”

Para reforçar essa estratégia, em 2021 os parceiros Leve (que operam as agências “franqueadas” da Loggi e já entregavam qualquer pacote que estivesse dentro da malha da empresa) começaram a fazer coletas de pequenos embarcadores — por exemplo, um microempreendedor que vende em site próprio ou via marketplace.

O perfil desses microempreendedores varia: há desde iniciantes até aqueles que embalam e etiquetam os pacotes de forma superprofissional.

“Parte do nosso desafio é fornecer os mecanismos para eles atenderem mais rápido, trazendo informações e ferramentas para que eles se profissionalizem.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Loggi
  • O que faz: Conecta clientes e mensageiros por meio de uma plataforma digital
  • Sócio(s): Arthur Debert, Fabien Mendez e os fundos CapSur Capital, Dragoneer, GGV Capital, IFC, Iporanga Ventures, Fundo Verde, Kaszek, Microsoft, Monashees, Qualcomm Ventures, SoftBank, Sunley House, entre outros
  • Funcionários: 2 500
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2013
  • Investimento inicial: US$ 1 milhão de rodada Seed
  • Faturamento: NI
  • Contato: https://ajuda.loggi.com/hc/pt-br/requests/new
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