A parentsIN.co foi gestada antes de finalizar minha licença-maternidade. Mesmo com barrigão de 20 kg no final da gravidez, eu era a última a sair do escritório e uma das primeiras a chegar.
Acreditava firmemente que a chegada de meu filho não iria impactar na minha carreira. Afinal, conseguiria voltar da licença trabalhando de casa, em jornada flexível.
Após o nascimento, a realidade foi bem diferente. Mesmo com um plano elaborado, a realidade é que o nascimento do bebê nos transforma, não só fisiologicamente, mas totalmente
Nossas prioridades e valores mudam. De repente, estamos sozinhas o dia inteiro com um bebê totalmente dependente de nós, full time, dia e noite.
Mesmo com o pai participando ativamente — dentro do possível nos poucos dias de licença-paternidade e as poucas flexibilidades dadas aos pais para exercer seu papel –, é jornada completa.
A MATERNIDADE ME FEZ “VIRAR ESTATÍSTICA” DUAS VEZES
Decidi emendar as férias para planejar a volta com mais calma. Olhava para meu bebê e me perguntava: contrato babá e volto a trabalhar ou fico para cuidar dele?
Oito meses depois, decidi pedir demissão. Foi assim que entrei na estatística da FGV das 52% das mulheres que pausam a carreira até 12 meses após a licença-maternidade.
Nasceu meu segundo filho e, após uma pausa de três anos e meio, na volta, me encontrei em outra estatística: aquela de que 7 em 10 mulheres empreendem após a maternidade.
No momento, como mentora da B2Mamy e participando de grupos de empreendedorismo na Argentina, Estados Unidos e Europa, percebi que profissionais talentosíssimas, com uma super trajetória, voltavam da pausa maternidade e compartilhavam a mesma fala: “Não tive escolha, decidi empreender por não conseguir me recolocar depois da pausa maternidade”.
CUIDAR DOS FILHOS É UM INVESTIMENTO EM CAPITAL HUMANO — E DEVERIA SER MAIS VALORIZADO
A pausa maternidade, que pode variar em número de anos, representa hoje uma lacuna profissional no currículo que penaliza a renda da mulher em torno de 52% (OIT) em países como Brasil, e dificulta sua recolocação.
Nesse momento veio o “clique”: empreender não é para todo mundo. Para muitas mulheres, é um caminho que beira a informalidade. E a grande maioria ainda depende do apoio financeiro de parceiros e maridos, além de ter poucas probabilidades de escalar o negócio, devido à dificuldade de acessar créditos e financiamentos.
Foi aí que pensei: precisa haver um caminho de volta às empresas.
Cuidar dos filhos é um investimento em capital humano, estratégico para o futuro e que fortalece as competências sociais e emocionais mais relevantes em um mercado de trabalho altamente tecnológico. Por isso, deveria ser considerado um investimento coletivo e não uma barreira na carreira da mulher
As mães, principais responsáveis por este cuidado, são responsáveis por 90% das decisões de compra nas famílias. Elas diariamente escolhem as empresas nas quais investir como consumidoras. Mas não como profissionais: são 80% menos propensas de serem contratadas pelas empresas das quais compram.
Com a motivação de valorizá-las no mercado profissional, decidi fundar, em 2019, a parentsIN.co, para que elas possam escolher onde, quando e como voltar da licença-maternidade — ou dar seu próximo passo profissional.
A PRIMEIRA MEDIDA FOI CRIAR UM SELO DE AUTENTICAÇÃO DE EMPRESAS PARENTS-FRIENDLY
Começamos criando o GPS parentsIN, baseado nas diretrizes dos Princípios de Empoderamento Feminino, da ONU Mulheres e Pacto Global, na qual a parentsIN é signatária.
Com esse sistema, avaliamos o nível de cultura Parents-Friendly das empresas, comparando o que a marca empregadora e a liderança comunicam, como é a experiência oferecida nos processos seletivos, os benefícios e políticas corporativas
Em seguida, validamos toda esta informação por meio de reviews anônimos de mães, pais e cuidadores que fizeram parte destas empresas.
O GPS parentsIN é um autodiagnóstico gratuito desenhado para que qualquer pessoa da empresa possa participar, conhecer como a organização está posicionada e obter recursos para levar adiante o diálogo e promover a cultura Parents-Friendly.
Trabalhamos de forma muito próxima com as empresas no direcionamento de ações de equidade de gênero para tornar o cuidado um investimento coletivo, reconhecendo as empresas comprometidas com o selo #SouParentsFriendly.
Algumas das empresas com as quais já trabalhamos são Banco Modal, Beta Learning e Melhor Taxa, entre outras.
CONCILIAR FAMÍLIA E CARREIRA DEPENDE MAIS DAS EMPRESAS DO QUE DAS MÃES
Com o GPS parentsIN, empoderamos mães com informação para que escolham onde dar seu próximo passo profissional, conhecendo como a empresa vive a integração entre carreira e família bem antes de se aplicarem para uma vaga.
Mas para haver uma transformação real e quebrar a penalidade da maternidade, além de poder escolher, elas precisam ser contratadas.
Com uma meta ambiciosa de trazer mil mães de volta para o mercado de trabalho nos próximos três anos, lançamos o MOMsIN.
O programa conecta mães a vagas em empresas com o selo #SouParentsFriendly por meio de um processo seletivo que busca quebrar os vieses cognitivos que tanto penalizam mães e profissionais voltando da pausa maternidade
Não somos recrutadores, nem fazemos recrutamento tradicional. Com o MOMsIN.co, promovemos diálogos sensíveis à penalidade da maternidade e conectamos pessoas que compartilham o valor da integração carreira e família. Também acompanhamos as empresas e as profissionais com mentoria durante a jornada completa antes e depois para que elas entrem, fiquem e decolem com as empresas.
Fechamos as primeiras contratações e estamos acompanhando as jornadas para que este match seja sustentável a longo prazo. Desejamos que elas fortaleçam o funil de lideranças femininas e, como líderes, quebrem o muro da maternidade dentro das empresas.
O MOMsPOWER É ESTRATÉGICO PARA A SOCIEDADE E PARA OS NEGÓCIOS
Com pouca atividade nas redes sociais, começamos atuando no nicho de mulheres latinas em São Paulo e fomos crescendo a partir de uma forte relação de confiança com cada uma das profissionais. Hoje são mais de 3 500 pessoas que nos acompanham na meta #1000MOMsBack.
Em nossa base de profissionais cadastradas, encontramos um perfil multicultural, diverso e experiente. A maioria estava em posições de gerência ou está atualmente no mercado de trabalho, mas busca transicionar para empresas com uma cultura que entenda a importância de integrar carreira e família
Estamos crescendo a uma taxa de 145% por mês, somente por marketing boca a boca. Mães que experimentaram e nos recomendam.
O MOMsIN.co é 100% financiado pelas empresas engajadas e totalmente gratuito para as profissionais. Recentemente fechamos uma parceria por três meses com a AmbevTech e abriremos mais três vagas exclusivas para mães.
Estamos dando nossos primeiros passos, mas com uma meta de impacto social ambiciosa. Ter empresas como a AmbevTech investindo na parentsIN.co é um sinal de que estamos no caminho certo para que profissionais talentosíssimas — que investem diariamente no capital humano do futuro — voltem ao mercado
E mais do que isso: para que elas fortaleçam o funil de lideranças feminina com todo o potencial MOMsPower (estratégico para a sociedade e também para os negócios).
Hoje, nosso foco é 100% em empregabilidade de mães e na meta #1000MOMsBack, mas estamos desenvolvendo um piloto para as empresas que já contrataram essas mulheres.
O objetivo é ofertar soluções para diminuir a fricção entre carreira e família, permitindo que as profissionais que voltaram ao trabalho tenham uma melhor qualidade de vida nesta integração.
Daniela Scalco é nordestina, com sotaque portenho, e mãe de dois pequenos. Ex-Microsoft, é profissional multidisciplinar com foco em desenvolvimento de negócios e inteligência de mercado. Especialista em Inteligência de Gênero pela ONU Mulheres, acredita que a equidade de gênero nasce em casa. E, com a parentsIN.co, quer levar a equidade de gênero das casas para as empresas e o mercado de trabalho.
Lettycia Vidal empreendeu a Gestar para combater a violência obstétrica, mas esbarrou na escassez de investimentos em negócios fundados por mulheres. Ela conta o que aprendeu nessa jornada — e fala sobre sua nova etapa profissional.
Na infância, Marina Amaral teve de mudar a alimentação e se exercitar para lidar com o ganho de peso devido ao hipotireoidismo. Adulta, ela deu uma guinada na carreira e desenvolveu o Lia, uma plataforma para fortalecer o bem-estar feminino.
Grávida no começo da pandemia, Thais Lopes resolveu ajudar a construir um país melhor para a sua filha. Deixou a carreira corporativa e fundou a Mães Negras do Brasil, negócio de impacto com foco no desenvolvimento desse grupo de mulheres.