“As tecnologias digitais têm gerado oportunidades de negócio e de melhoria na vida das pessoas, impulsionando mudanças em empresas estabelecidas e criação de startups. Mas também têm trazido aflição para quem se acha consolidado e se vê no risco de perder seu posto ou até se tornar obsoleto. O mais estonteante, e assustador, é que tais mudanças têm ocorrido em velocidade exponencial.”
O texto de Geber Ramalho, professor da UFPE e da CESAR School, pode ser lido no prefácio do livro Transformação Digital: uma jornada possível. O pesquisador apresenta ali o tom da obra, organizada por Eduardo Peixoto, Chief Design Officer do CESAR. A publicação apresenta as dimensões em que a transformação digital pode e deve ocorrer dentro das organizações.
Por mais desafiador que seja esse processo, cases de empresas brasileiras – que são detalhados no passar das páginas – mostram não só que a transformação digital é viável, com resultados incríveis, mas como ela tem sido estruturada na prática no contexto nacional. Assim, existem exemplos positivos de grandes instituições como Banco do Brasil, Globoplay, Neoenergia e Mercedes-Benz, além de startups já nascidas digitais, como Joy Street, FindUp, In Loco e Pickcells.
“Desde a fundação do CESAR, em 96, a gente pensava em transformação digital, mas ainda com um foco muito estreito, em soluções inovadoras ou nas plataformas de tecnologia. Foi só 20 anos depois que começamos a entender que essas tecnologias estavam provocando mudanças nos modelos de negócios das organizações”, conta Eduardo Peixoto.
Ele explica que a transformação digital vai muito além de comprar ou desenvolver soluções baseadas em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs); ela traz impactos muito mais profundos e complexos às organizações. Todo esse processo vem acompanhado de uma série de desafios, principalmente para empresas tradicionais.
Para Eduardo, enquanto startups que já nasceram na era digital não têm compromisso com o passado, instituições tradicionais precisam ser ambidestras.
“Você não vai jogar sua operação atual fora, mas precisa se preparar para uma nova curva de crescimento, fazendo outra coisa. E o que vemos é que, muitas vezes, pela falta de flexibilidade, pela estrutura hierarquizada e pela cultura arraigada, a liderança não está preparada para isso, não é ambidestra; a cultura da organização não é ambidestra”, diz.
Ele lembra do Banco do Brasil, instituição fundada há mais de 200 anos e que hoje tem um elevado número de consumidores que ainda dependem de atendimento presencial em agências.
“Muitos clientes não querem ou não podem usar um aparelho smartphone. Mas a instituição, mesmo mantendo um link com o passado, começou a construir o futuro”, diz.
Em 2010, o banco se lançou no universo mobile, com o app BB. Cinco anos depois, já tinha 7 milhões de clientes com acesso ao aplicativo. De 2019 para 2020, o número de pessoas que usam o app foi de 14 para 18 milhões.
O crescimento recente tem relação com a pandemia, mas já era previsto pela diretoria de negócios digitais do BB, com uma estratégia desenhada a partir de análise de dados em relação às mudanças de comportamento do consumidor.
“Foi um crescimento explosivo, e seria natural que envolvesse uma perda de qualidade, mas não foi o caso”, diz Eduardo.
O aplicativo é o mais bem avaliado por usuários na categoria mobile banking ao longo do tempo. Isso não significa que o BB tenha deixado de lado o atendimento presencial: o banco trabalha com um modelo híbrido, em que o cliente escolhe como deseja acessar os serviços.
A partir da metodologia desenvolvida pelo centro de inovação pernambucano para treinar lideranças, foi desenvolvido o Índice CESAR de Transformação Digital (ICTD), ferramenta que ajuda a mapear o nível de maturidade digital das empresas brasileiras.
“E o que nossas pesquisas têm mostrado é, primeiro, um despreparo. A liderança precisa entender melhor como conectar o processo de transformação digital à estratégia da organização, eventualmente a revendo”, diz Eduardo.
Com o objetivo de melhor transitar por um cenário de transformações, em 2018, o CESAR mudou sua estrutura executiva e passou a contar com um time de C-Level formado por três pessoas com perfis complementares, que vinham escrevendo longas trajetórias no centro. Fred Arruda é CEO, responsável por pensar a cultura organizacional; Eduardo é CDO e, como ele mesmo diz, uma figura mais ligada ao futuro e às mudanças; e Karla Godoy, COO, trabalha com foco no operacional e no dia a dia do CESAR.
“São três pessoas com o mesmo grau de autonomia e que reportam diretamente ao conselho, e tem dado muito certo. Acredito que nosso caso mostra como é importante, em um momento de transição, ter na liderança pessoas com perfis diferentes”, explica Eduardo.
Fred Arruda conta que quando os três divergem, um acaba trazendo o contraponto.
“Eu gosto de gente e de mostrar caminhos. Karla é analítica e ponderada. Eduardo tem a capacidade criativa, de ver além. Somos totalmente complementares”, diz o CEO do centro.
Em uma jornada de inovação, o CESAR trabalha cultura, métodos e processos, governança e aceleração de inovação.
Um grande desafio para as lideranças no cenário nacional é relacionado a pessoas: a evasão de talentos e a escassez de pessoas qualificadas no mercado de tecnologia são grandes obstáculos a empresas que vivem processos de transformação digital. Karla Godoy explica que o CESAR atravessa esse cenário e, internamente, tem entre suas missões cuidar da contínua formação das equipes.
“A gente acredita que as pessoas são o principal agente de mudança em um processo de transformação digital. E, para ter na minha equipe pessoas que pensam de forma diferente, eu tenho que trabalhar constantemente a capacitação. A gente vem fazendo isso por meio de programas e de planejamento estratégico, criando ambientes que propiciem a nossa jornada”, conta Karla.
Dentro de casa, o CESAR tem trabalhado os mesmos aspectos que identifica e trabalha com clientes em processo de transformação digital. Por exemplo, criar entre os colaboradores mindset e habilidades que façam do centro uma organização orientada a dados, ao design e a metodologias ágeis.
“Precisamos olhar para todas as áreas e ver como o engenheiro, a minha secretária, meu RH, e os demais setores, têm mentalidade digital. Tudo isso passa por processo de capacitação, e é uma jornada que de fato a gente vem fazendo”, diz Karla.
Para ela, ter ferramentas tecnológicas e capacitação adequadas passa por ter uma cultura que construa um ambiente propício para esse processo, o que está intimamente ligado à forma de fazer gestão.
“Nós entendemos que nosso modelo C-Level não funciona de forma isolada e precisa ser disseminado na empresa. Ele passa pelas premissas básicas para um processo de transformação digital: precisamos incentivar a experimentação, dar autonomia e criar um ambiente de colaboração. Precisamos preparar as pessoas para o futuro”, afirma.
Com histórias de empresas brasileiras que conseguiram se adaptar às novas tecnologias e à conectividade nos negócios, o livro Transformação Digital: uma jornada possível foi elaborado a partir de pesquisas e de artigos de professores da CESAR School. O resultado é um diagnóstico que leva a um passo a passo de como realizar essa mudança.
Sete etapas da jornada delineiam os capítulos do livro: cultura e pessoas; consumidores; modelos de negócio e concorrência; processos organizacionais; tecnologias habilitadoras; dados e ambiente regulatório; inovação e liderança. As etapas descritas na obra são baseadas na metodologia do CESAR e em artigos e estudos sobre os temas.
“Nós entendemos que tudo começa com cultura e pessoas, porque depois que você resolve gente, tudo fica muito mais fácil. Mas resolver gente não é simples, e a empresa vai ter que lidar com isso em paralelo com outras coisas. Por isso, eu digo que essa jornada se repete, ela é cíclica”, diz Eduardo.
Veja o vídeo manifesto sobre o livro Transformação Digital: uma jornada possível: