Em 17 anos de existência, apenas uma coisa é certa para a Box1824: a capacidade de se reinventar constantemente. Isso tem a ver com a matéria-prima da empresa, que parte da pesquisa de tendências para ajudar clientes a implementar transformações visando o futuro.
“Ter paciência de esperar o futuro chegar é uma fórmula que a gente aplica a nós mesmos”, diz Paula Englert, CEO, 42, traduzindo a filosofia da empresa.
Apresentamos a Box1824 aqui no Draft em 2015. De lá para cá, a empresa passou por alterações no quadro societário, abriu e fechou um escritório em Nova York, criou novos produtos e migrou para outro modelo de negócio.
Integrante da equipe desde 2008, Paula foi alçada a CEO em 2016. A gaúcha vem liderando essa metamorfose da Box1824, inclusive sua consolidação não mais como uma empresa de pesquisa de tendências, e sim como uma consultoria estratégica.
“Queremos ampliar nosso espectro em três grandes universos: o mergulho no comportamento dos consumidores, o olhar para o futuro e a capacidade de transformar isso em implementações para nossos clientes”
Desse olhar vieram as duas mudanças mais recentes. A primeira foi a criação da Futures Unit em 2020, uma unidade de negócios focada exclusivamente no estudo de cenários futuros para antecipar produtos, serviços e soluções de negócios para o mercado.
A segunda novidade, de agosto de 2021, é uma parceria institucional com a The Future Lab, consultoria britânica de tendências de consumo, da qual a Box1824 será representante na América Latina.
“O que a Box1824 faz normalmente? A gente diz quais são as oportunidades de futuro. E, entendendo isso, criamos estratégias para conectar esse futuro possível com o presente do cliente”, explica a CEO.
Fundada em 2004 por quatro jovens universitários de Porto Alegre, a Box1824 rapidamente conquistou o mercado com uma metodologia inovadora de desenvolver e apresentar pesquisas de tendências de consumo.
Baseada na premissa de que a faixa dos 18 aos 24 anos (daí o nome da empresa) dita o comportamento do consumo global, os sócios subverteram os métodos tradicionais de pesquisa, invadindo os cenários de seus clientes, participando do dia a dia dos entrevistados, analisando seus hábitos, e indo a campo para entender o comportamento dos jovens.
Com a empresa montada, os sócios foram para São Paulo, conquistaram grandes clientes, formaram um grupo empresarial e expandiram a atuação para fora do país.
A trajetória de Paula na Box1824 começou quando a empresa já estava na capital paulista. À época, ela trabalhava em uma produtora de vídeo de Porto Alegre, mas conhecia muita gente da Box, inclusive o fundador Rony Rodrigues. Depois de alguns meses de conversas, topou se mudar para São Paulo para trabalhar em uma espécie de setor híbrido de atendimento e novos negócios.
“A Box1824 era um lugar muito aspiracional para se trabalhar. E eu sempre fui muito conectada com o novo, com o que está por vir, gostava de ser portadora de provocação. A Box estava conectada com o que eu acredito”
A partir daí, trilhou seu caminho na empresa. Tornou-se diretora de atendimento, depois diretora comercial. Ao mesmo tempo, os sócios originais estavam se distribuindo no comando das outras empresas do grupo, como a LiveAd e a Talk.
O ponto de virada ocorreu em 2016, quando uma oportunidade com um cliente permitiu que a Box1824 abrisse um escritório em Nova York, nos Estados Unidos, que ficaria sob o comando de Rony. Coube então à Paula assumir a presidência da empresa e, posteriormente, a sociedade.
Desde a fundação, parte da filosofia da Box1824 era não delimitar a oferta de seus produtos e serviços. Tanto que, no site institucional da empresa, eles perguntam aos seus visitantes: “Você tem alguma pergunta que não sabe responder? Talvez a gente consiga te ajudar.”
Paula reforça:
“Gosto de trabalhar com o que dói no momento. Estar sempre aberta ao pedido inusitado do cliente”
Um dos cases mais famosos da empresa demonstra essa maleabilidade e, já naquela época, a capacidade de entregar soluções (e não apenas uma pesquisa de tendência).
Em um projeto que durou quatro anos e foi apresentado em 2010, a Box1824 ajudou a Fiat a fazer uma pesquisa de tendências a respeito do primeiro carro desenhado pela companhia no Brasil — que viria a ser o Novo Uno. A ideia era identificar as oportunidades para um carro de entrada voltado para o público jovem.
“O primeiro passo foi delimitar, a partir do olhar e do entendimento do brasileiro, qual era o carro dos sonhos. Então a Fiat desenhou o carro e nós voltamos a essas pessoas para refinar o desenho por fora e por dentro. Isso demorou quatro anos até termos um plano de lançamento.”
Dentro da metodologia da empresa, há sempre o estudo profundo de três grandes aspectos: as pessoas, a cultura e as tecnologias. As tendências de mercado surgem da fusão de dois universos, o das tendências de comportamento e o das tendências tecnológicas.
Mas é o olhar para o comportamento que move a Box1824, diz Paula.
“A gente acredita que os futuros são determinados pelas demandas e oportunidades de comportamento, pelo entendimento dos gaps que existem na cultura e nas demandas das pessoas. As tecnologias são só ferramentas para ajudar a dar escala para essas soluções”
Em outras palavras, nem sempre uma tecnologia disponível encontra uma demanda de comportamento. “Se não encontrar, ela fica reduzida a um nicho.”
Para a CEO, o olhar para o público jovem habilita a Box1824 a lidar, o tempo todo, com o novo. É uma empresa sempre disposta a se adaptar, se renovar, e que valoriza a diversidade. “Acreditamos que essa grande mistura traz uma pluralidade de visões.”
Em 2020, a empresa faturou 15 milhões de reais. Nos últimos dois anos, o crescimento foi da ordem de 50%. A Covid-19 de alguma forma ajudou a impulsionar esse desempenho.
“Em momento de crise, a gente cresce bastante porque as pessoas não sabem o que fazer. A gente não previu a pandemia, mas tudo foi acelerado por causa dela. A volta à valorização da natureza, a tendência de saúde by design, a economia regenerativa”
Hoje, a Box conta com 28 funcionários fixos e mais 30 colaboradores, que formam uma rede de especialistas multidisciplinares acionados conforme as necessidades do trabalho. Das 300 a 350 propostas feitas aos possíveis clientes por ano, a empresa assume 60 projetos, que duram entre dois e três meses.
Com essa estrutura, a empresa começa a encarar seus próximos desafios. Na lista de metas, a primeira é crescer mais no modelo de consultoria estratégica, aumentando a capacidade e o compromisso de implementação de soluções.
A segunda prioridade é voltar a crescer globalmente. Apesar de a iniciativa do escritório em Nova York ter se mostrado bem-sucedida, o local físico foi aposentado durante a pandemia, e os funcionários se espalharam pelo Brasil e pelo mundo de forma remota.
“Temos aprendido e sofisticado nossas ferramentas de aplicação de metodologia no contexto digital. Podemos fazer tudo de qualquer lugar do mundo para qualquer lugar do mundo”
O terceiro objetivo é impulsionar a Futures Unit como uma unidade de negócios relevante para os clientes. E o quarto é expandir a oferta de novos produtos, como estudos feitos de forma não customizada e que possam ser consumidos por diversos clientes.
“Ano passado tivemos uma experiência que chamamos de ‘projetos colaborativos’. Fizemos um estudo envolvendo mais de 30 clientes não concorrentes, em que abordamos oito temas distintos, e conseguimos ofertá-lo para o mercado”, conta.
E, claro, há o desafio que permeia toda a trajetória do Box1824: construir tudo isso se mantendo relevante. Na visão da CEO, o segredo disso está na própria natureza do trabalho que fazem. “Ao estudar o futuro, a gente muda os outros, mas também se muda para os outros.”
Às vezes, mastigar dados com tecnologia não basta para conhecer o seu público. Julia Ades e Helena Dias estão à frente da Apoema, uma empresa de pesquisa low-tech que busca conexões nas entrelinhas e atende marcas como Nike e Natura.
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Alguns anos atrás, Andrea Janér resolveu compartilhar suas sacadas durante o festival de inovação SXSW. Dessa experiência nasceu a Oxygen, dedicada à curadoria de conteúdos para consolidar o pensamento crítico estratégico.