O mercado transformou a maternidade num enorme obstáculo para o desenvolvimento profissional das mulheres.
De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, quase metade das mães sai ou é “saída do emprego” com a chegada de um filho. Daquelas que permanecem, quase a totalidade tem dificuldade em equacionar as demandas da vida familiar e da vida profissional.
Segundo a McKinsey, uma em cada três mulheres planeja pausar ou abandonar sua carreira devido à sobrecarga de tarefas que a pandemia trouxe. Em um estudo da Deloitte, quase 60% disseram que planejam trocar de emprego tendo em vista a falta de apoio de seus atuais empregadores para o equilíbrio saudável entre vida familiar e profissional
Esses são só alguns dados alarmantes que pintam o cenário. Infelizmente, existem muitos outros.
E eles são combustível para nós na Bloom Care, femtech que tem como missão revolucionar a forma como empresas cuidam da jornada de saúde reprodutiva e familiar das pessoas colaboradoras.
Desde o planejamento familiar, no apoio a questões ligadas à fertilidade e adoção, passando pela gestação, pós-parto, perda gestacional, volta ao trabalho e os primeiros dez anos de vida da criança, a Bloom é o primeiro benefício familiar que acolhe, orienta e oferece, em um só lugar, o cuidado necessário para uma rotina mais tranquila e saudável.
As empresas mais inovadoras já perceberam que é preciso evoluir em direção a uma cultura verdadeiramente family-friendly.
Há um provérbio africano bastante conhecido que diz que é preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança. Na Bloom, acrescentamos que muitas vezes é preciso uma empresa também.
Motivadas a estimular cada vez mais esse debate, lançamos em agosto deste ano a campanha #ContrateGrávidas chamamos toda a sociedade, principalmente gestores e lideranças, para refletir sobre uma das maiores barreiras ainda existentes para as mulheres que querem ingressar no mercado: a gravidez.
Apoiadas por instituições como Great Place to Work, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Bernard Van Leer Foundation e Instituto Ethos, convidamos empresas a fazerem o pequeno, porém extremamente potente movimento de sinalizar nos seus processos seletivos que gestantes são bem-vindas a se candidatarem às vagas.
Essa pequena alteração não só é uma segurança para gestantes, que serão vistas e respeitadas durante a seleção, como também sinaliza para o mercado que a empresa tem a real compreensão de que esse período tão fundamental na vida pessoal de uma mulher não é — e não pode ser — empecilho para seu desenvolvimento profissional.
O gestar e o educar uma criança são uma experiência sem igual em riqueza na jornada humana. Assim sendo, por que os empregadores não a enxergam com bons olhos?
Como podemos tornar possível a inclusão dessas gestantes em empresas, de maneira que seja uma situação de ganha-ganha para todos?
Muitas mulheres sequer respondem a oportunidades de trabalho quando estão gestantes ou mesmo quando estão tentando engravidar.
Essa mentalidade prejudica tanto as profissionais quanto as empresas, que perdem a chance de contratar um talento. Mas uma simples frase no texto do anúncio muda tudo e é o primeiro passo para um relacionamento duradouro.
A campanha tem feito com que muitas mulheres falem sobre um tema que elas calaram por muito tempo. Compartilhamos aqui alguns desses depoimentos:
“Eu estava recém-casada e fui orientada a esperar uns anos para engravidar. Quando engravidei, não consegui retornar ao trabalho após a licença e, no ato da demissão, o supervisor falou que ‘não gosta de trabalhar com mulheres porque elas engravidam'”.
“Em algumas entrevistas, antes da barriga começar a crescer, não mencionei que estava grávida por medo de ser desclassificada.”
“Fui dispensada grávida. Até hoje não me reencontrei.”
“Ao descobrir a gravidez, perguntei se queriam que eu continuasse. Falaram que sim, mas um mês depois veio a demissão. A gestora justificou que eu, gestante, estava numa situação delicada e, por isso, ela não ficaria confortável de chamar minha atenção.”
É importante frisar: por esta conversa, não passa a sugestão de quotas ou obrigatoriedade de contratação de grávidas. O que recomendamos é a institucionalização de um processo seletivo justo e transparente, que acolha gestantes e olhe para as mulheres que serão mães como as profissionais que elas de fato são
Essa visão também é extremamente estratégica, porque contribui para a criação de uma cultura empresarial family-friendly.
A campanha nasce como parte essencial da missão da Bloom. Mas ganha força com a nossa experiência própria na contratação de uma grávida.
Em julho deste ano, Juliana de Faria juntou-se ao nosso time de mulheres talentosas e apaixonadas com quase 7 meses de gestação para liderar nossa área de mobilização e engajamento social.
Juliana é uma das principais vozes brasileiras na área de diversidade, inclusão e equidade de gênero, e cofundadora das organizações Think Olga e Think Eva.
Com a campanha, temos conseguido humanizar o problema e gerar uma mudança que beneficia a todos.
Um efeito colateral tem sido jogar luz no tabu do rombo financeiro. Muitas empresas estão se conscientizando, a partir da iniciativa, de que gestante não significa um “custo a mais” para o empregador
(Embora a empresa arque com o custo da licença-maternidade, esse valor é reembolsado pelo INSS.)
Já são quase uma dezena de companhias participando da iniciativa, como Olist, 99, Raízs, Grupo Astra e FCB Brasil. Empresas que corajosamente resolveram colocar esse tema sobre a mesa e já estão alterando suas vagas, convidando oficialmente gestantes a participarem de seus processos seletivos.
Garantir que uma empresa cuide de toda a jornada de maternidade e paternidade dos seus colaboradores não é só a coisa certa a se fazer, mas sim um investimento corporativos significativos com resultados de curto prazo para as próprias empresas.
Estudos mostram que o cuidado com colaboradores com filhos têm impacto direto na produtividade dos funcionários e nos negócios. Mães e pais que têm apoio para exercer este papel se concentram melhor e faltam menos ao trabalho.
Há ainda outros efeitos positivos: melhora na imagem interna e externa da companhia, maior atração de clientes, retenção de talentos e a criação de um ambiente de trabalho mais acolhedor
Um estudo do Boston College Center for Work and Family indica que apenas 20% dos millennials estão dispostos a sacrificar a vida pessoal e familiar para avançar na carreira.
Acreditamos que a contratação de grávidas e mães é essencial para a diversidade do setor privado – mas, também, só o começo de uma longa conversa de diversidade, inclusão e equidade.
É preciso cuidar dessas mulheres. Contratar gestantes é o pico de um imenso iceberg. Estamos falando sobre o setor privado assumir seu papel como rede de apoio das famílias e promover um olhar holístico para o recebimento, retenção e promoção dessas mães no mercado de trabalho.
A base dos relacionamentos familiares saudáveis, principalmente quando falamos de crianças, está na formação de vínculos sólidos — a ciência é categórica em relação a isso.
Essa é uma lição que a Bloom também leva para o ambiente de trabalho: vínculos.
A pandemia trouxe profundas mudanças e uma delas é como as pessoas se relacionam com o trabalho — a atual ‘Grande Resignação’ já é um sinal desses novos tempos.
A forma como empresas se relacionam com pessoas colaboradoras também precisa evoluir na direção da construção de um vínculo forte e saudável
Contratar uma mulher grávida e cuidar das famílias da empresa é criar esse vínculo — desde o início.
Antonia Teixeira é formada em Administração pela FGV e iniciou sua carreira como trainee na indústria farmacêutica e trabalhou por cinco anos desenvolvendo campanhas de mídias interativas e projetos de inovação para grandes empresas como Grupo Havas e Abril Educação. É mãe da Maria (8), do Henrique (6) e está grávida de 6 meses. É cofundadora e COO da Bloom.
A advogada Melina Girardi Fachin explica por que o projeto de lei que pretende equiparar aborto e homicídio, atacando gravemente os direitos reprodutivos das mulheres, é uma ameaça a todos os brasileiros — incluindo os homens.
Desde março, o combate ao assédio moral e sexual é uma obrigação de todas as empresas do país, mas a maioria das denúncias ainda fica sem punição. Entenda como as lideranças devem enfrentar este problema endêmico nas organizações.