Existem duas maneiras de se enfrentar o desafio associado à agenda ESG.
A primeira parte do princípio de que o que fazemos tem de parecer suficiente e se concentra na pergunta: como divulgar melhor nossas ações? O problema aí é do marketing e da comunicação, que precisarão acertar a mão no que os americanos chamam de spin, aquela turbinada na história, para terminar com final feliz.
É o ESG que se traduz em “Enganação Sem Ganho”. Sem ganho real para a sociedade. Sem ganho reputacional duradouro que vá além do aplauso protocolar nos fóruns corporativos amistosos
A outra maneira é mais complexa — não raro dolorosa. Parte do princípio de que podemos, sim, fazer melhor, nas dimensões ambiental, social e de governança. A pergunta é: como podemos fazer diferente? O problema é da organização inteira. E o método é o das conversas difíceis.
Pouca gente nota que é importante aprender a gerir conflitos antes de adotar políticas de ESG. O tema nem sequer aparece na pesquisa da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) para identificar os principais problemas na implementação de projetos relacionados ao conceito – a saber, limitação de fundos (apontada por 35% das empresas brasileiras consultadas), falta de uniformidade na compreensão dos termos de sustentabilidade (28%) e dificuldade em mensurar o desempenho e quantificar os benefícios das iniciativas (27%).
No campo da gestão de relacionamentos e resolução de conflitos, porém, entendemos que de nada adianta querer adotar políticas sem antes mapear as reais necessidades e interesses da comunidade.
Para nós, ESG é um processo, e não uma mágica capaz de transformar organizações da noite para o dia.
A chave está em compreender que, em vez de divulgar com brilho políticas vazias, é preciso entender como atingir objetivos de ESG da empresa na prática.
Isso exige estimular uma mudança de comportamento em todos os níveis da companhia e adotar uma gestão baseada em valores.
Para isso, precisamos de uma comunicação interna clara, transparente e inclusiva. De lideranças e gestores abertos a escutar as necessidades e os interesses dos profissionais e das equipes que constituem a organização.
Defendemos que, antes de se desenhar uma política de ESG, é preciso identificar pensamentos, sentimentos e necessidades das pessoas envolvidas. Ou seja, trazer o contexto socioemocional para a mesa de discussão.
Quando uma política ou um código de conduta é elaborado sem que tenha ocorrido um diálogo prévio, seus conceitos são lastreados somente nos pressupostos e nas suposições daqueles que redigem o documento
Dessa forma, inevitavelmente, a iniciativa encontrará obstáculos na hora de ser posta em prática, já que não estará de fato identificada com a realidade da(s) comunidade(s) a que se aplica e para quem pretende gerar benefícios.
Ao realizar nossa atividade de gerenciar conflitos e promover uma comunicação ampla e transparente, temos o desafio de entender de forma detalhada, por exemplo, as causas reais dos ruídos de comunicação.
É por meio de conversas, da compreensão das narrativas, que captamos as informações relevantes para a identificação dos problemas a resolver e interesses a considerar, para que todos os envolvidos estejam alinhados em relação às questões de ESG.
Funcionários e acionistas, fornecedores e clientes, comunidades no nosso entorno e autoridades, todos devem sentir-se capacitados a conversar sobre temas desafiadores, de difícil abordagem.
Na prática, porém, em nossa atuação nas empresas, o que os colaboradores mais relatam é ausência de cultura de aprendizagem, intolerância com erros e falta de espaço para o diálogo.
Como consequência, predomina o receio de expor opiniões divergentes e impõe-se um clima organizacional carente de confiança. A convivência baseia-se em manter as aparências
Como escrevemos em Conversando se Entende: Aprendizados, técnicas e práticas para transformar conflitos em possibilidades:
Quando falamos de uma conduta que enaltece a inclusão das pessoas e suas respectivas narrativas, falamos também de um grande desafio que envolve escutar essas histórias e promover diálogos entre as diferentes visões.
Diálogos surgem da curiosidade genuína a respeito dessas visões distintas, por vezes antagônicas. Investigar o porquê de uma determinada opinião ou de um comportamento pode levar a lugares desconhecidos, mas cheios de oportunidades.
No livro, o leitor encontra estratégias de comunicação que podem ser utilizadas em processos de mediação e negociação.
Nosso objetivo é que pessoas não especializadas com o tema aprendam a lidar com questões delicadas da forma correta e possam converter os conflitos em inovação, engajamento e melhor desempenho entre as equipes.
Pela lógica da comunicação de dentro para fora, isso significa “pôr a casa em ordem” (leia-se “governança corporativa”), de maneira a gerar impactos positivos para a sociedade e o planeta.
Conversar é o skill de governança mais importante para promover alinhamento de stakeholders.
Conversas difíceis — inclusive dentro do conselho de administração e também entre conselho e direção executiva — são condição sine qua non para o ESG autêntico em empresas de todo tipo.
Da separação mais clara e funcional entre famílias empresárias e empresas familiares até as conversas para organizar o caos que é típico de uma startup, mas atrapalha quando ela se torna uma scale-up e precisa de uma estrutura de governança corporativa consistente.
Por isso, a gestão de relacionamentos é ferramenta de ESG. Não colocar conflitos debaixo do tapete é uma forma de criar diversidade, inclusão e liberdade de expressão dentro e fora da empresa
Só assim o ESG será gerador de ganho real para a sociedade e ganho reputacional duradouro.
Carina Abud Alvarenga é advogada formada pela PUC-SP e pós-graduada em Direito Tributário. Mediadora de conflitos pelo Instituto Mediativa e certificada pelo Programa de Negociação (PON) de Harvard. Sócia da BURITHI — Transformando Conflitos desde 2018, é professora do MBA de Gestão Exponencial da XPeed School by XP Inc., em parceria com o Ibmec.
Cinthya Soares Okawa é economista, advogada e pós-graduada em Direito Tributário pela PUC-SP. Tornou-se mediadora de conflitos pelo Instituto Mediativa e é certificada pelo Programa de Negociação (PON) de Harvard. Trabalhou na PwC e foi sócia em um grande escritório de advocacia. É professora do MBA de Gestão Exponencial da XPeed School by XP Inc., em parceria com o Ibmec.
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