Numa tarde de 2015, o administrador paulistano Nathan Janovich voltava do trabalho quando foi surpreendido pela chuva ao descer na estação de metrô Fradique Coutinho, no bairro de Pinheiros. Até sua casa seriam mais 15 minutos a pé – e sem guarda-chuva.
Em meio à aglomeração de gente hesitando em encarar o aguaceiro, Nathan viu algumas bicicletas compartilhadas do Itaú. Teve então o seu “momento eureka”, e ligou para o amigo Freddy Marcos: “Cara, vamos fazer um compartilhamento de guarda-chuva!”. Do outro lado da linha veio um balde de água fria: “Melhor você ir tomando chuva para ver se refresca as ideias, porque essa é uma porcaria…”.
Quem refrescou de fato a cabeça foi o próprio Freddy. Assim que chegou em casa, encharcado, Nathan atendeu o amigo, que estava desesperado ao telefone: “Pensei aqui, esse negócio é genial! Vamos fazer”.
Esse “negócio genial” atende por Rentbrella. Desde 2016, a startup pioneira de compartilhamento de guarda-chuvas já arrecadou 6 milhões de dólares em três rodadas de investimento e internacionalizou a sua operação, chegando a Nova York e, mais recentemente, Londres.
Nathan, 31, CEO da startup, afirma:
“A ideia, em si, de fato é ‘uma porcaria’, o que muda é a forma como a gente executa – nas parcerias, na construção de um ecossistema… Aí está a genialidade do negócio”
Nascido e criado em São Paulo, numa família de imigrantes judeus fugidos da Segunda Guerra Mundial, Nathan cresceu no carpete da avó, tomando achocolatado.
Foi por pressão do pai que começou a trabalhar cedo, aos 17, como estagiário em um banco. De lá, ingressou no ramo das consultorias, sempre com foco na área de tecnologia. O próximo passo seria no universo das startups.
A partir daí foi um caminho sem volta no mundo do empreendedorismo. Nathan ficou nove meses na Loggi e, ao sair, começou a submeter ideias para fundos de investimento. Um deles o convidou para conhecer uma nova startup de logística, a 99 Motos.
“Apresentei para eles a estratégia comercial que eu adotaria e acabei assumindo como diretor comercial da 99 Motos… Era uma empresa muito menor do que a Loggi, a gente se virava com o que dava. Mesmo com pouco recurso, tivemos um resultado forte. Foi uma super escola, aprendi muito”
Na 99 Motos, a mentalidade empreendedora era incentivada entre os funcionários. Enquanto trabalhou lá, Nathan pôde experimentar e submeter ideias – uma delas era criar uma rede social nos moldes do LinkedIn, mas aplicado para relações entre empresas.
Foi justamente quando voltava para casa depois de uma reunião comercial da 99 Motos que Nathan teve a sacada de criar a Rentbrella.
“Eu sou o cara das ideias e ele é o da execução.” Nathan resume assim a dinâmica da sua parceria com Freddy Marcos, cofundador da Rentbrella.
Os dois amigos se conheceram no Espaço K. O projeto da comunidade jovem judaica de São Paulo desenvolve atividades como uma confraria de negócios, que convida empresários para conversar com os futuros profissionais. Nathan foi presidente da instituição; Freddy, seu vice.
“A parceria na entidade funcionava bem, então já tínhamos vontade de fazer algo juntos”, diz Nathan. “O Freddy é um crânio, com certeza é um dos melhores alunos de administração da Fundação Getúlio Vargas.”
Nathan divide a história da Rentbrella até aqui em três fases, nas quais a empresa se desenvolveu tanto tecnicamente quanto no modelo de negócios.
A primeira fase foi a da descoberta: após a sacada original, os sócios confirmaram que o “umbrella sharing” era um conceito inédito – não havia referência em relação a cobrança, usabilidade e tecnologia.
“A gente tinha clareza de que, para escalar, tudo tinha que ser automático. Máquinas para pegar e devolver o guarda-chuva, um sistema de gestão de compartilhamento autônomo”
Juntos, eles trabalharam quase um ano em um turno extra na madrugada para dar forma à empresa. E lidaram com uma parte crítica: a captação de recursos.
Na primeira rodada, receberam 1 milhão de reais de um investidor-anjo, para lançar a startup oficialmente em 2016. Mas depois penaram até entender melhor o perfil do investidor que queriam para a Rentbrella.
“Demorou para descobrirmos quem eram os caras que valorizavam o nosso negócio… Quando entendemos quem somos e para quem a gente faz sentido, passamos a ter investidores que são parceiros, correm com a gente lado a lado. E isso foi uma virada de chave”
Os sócios então fizeram uma parceria com a empresa júnior de engenharia da Universidade de São Paulo (USP), campus São Carlos, em que desenvolveram os protótipos das estações de compartilhamento.
Paralelamente, eles entraram em contato com as fábricas, de forma a escalar a produção e viabilizar o alcance do serviço da Rentbrella pela capital.
A segunda fase da empresa foi a da expansão. Depois de chegarem a um modelo de máquina ideal, começaram a espalhá-las pela cidade.
Em 2016, eles distribuíram as primeiras 50 estações de compartilhamento, ao longo da Avenida Paulista. Os usuários poderiam alugar o guarda-chuva diretamente das máquinas, pagando 1 real por hora e devolvendo-o em outros pontos.
A cobrança, diz Nathan, era mais um teste de viabilidade do que uma forma de monetizar o negócio – saber que havia pessoas dispostas a pagar pelo serviço era a maior prova de que ele era desejado.
“Uma das nossas teses é a concentração de máquinas. Nosso objetivo, ao implementar um novo ecossistema, é que aonde quer que você esteja indo vai ter uma máquina à sua disposição”
Daquelas 50 máquinas, eles foram ganhando tração e conquistando os primeiros investimentos e pequenas parcerias comerciais — em 2018 fizeram, por exemplo, uma campanha pontual para o filme Mary Poppins, da Disney.
Ao contrário da personagem-título, porém, os empreendedores não fazem mágica. Para seguir escalando seria preciso conquistar de vez grandes marcas – e pivotar o modelo de negócio.
No ano seguinte, 2017, a Rentbrella fechou um contrato com a Unimed, gigante da saúde suplementar.
Clichê à parte, esse acordo representou um divisor de águas no negócio: de um serviço cobrado do usuário, a Rentbrella se reinventou como um espaço de mídia para patrocinadores.
Hoje a marca da Unimed estampa os guarda-chuvas. Com o tempo, outros patrocínios foram aparecendo: a varejista de moda online Amaro, o banco Néon e a plataforma de recursos humanos Kenoby.
“Somos motivados pelo desejo de levar conforto e liberdade às pessoas enquanto, simultaneamente, proporcionamos às marcas a oportunidade de anunciar em espaços que solucionam problemas de rotina e possuem foco em experiência”
Nathan evita dar uma ideia do custo para as marcas. “Existem várias variáveis como localização e tamanho da ação, mas atualmente temos um dos menores CPM [o custo que o anunciante paga por cada mil visualizações] do mercado”, diz.
Segundo ele, há uma fila de espera de empresas aguardando o lançamento de novas estações e a oportunidade de anunciar.
As máquinas de compartilhamento hoje são produzidas em uma fábrica própria, de mil metros quadrados. Os guarda-chuvas – feitos a partir de garrafas pet recicladas e estrutura de fibra de vidro – são adquiridos de “fornecedores internacionais”, segundo a empresa.
Antes de fazer uso do serviço, o usuário precisa baixar o aplicativo da Rentbrella e criar uma conta, inserindo inclusive os dados do cartão de crédito.
Um mapa no app exibe as estações de compartilhamento nos arredores — só em São Paulo, são 415 estações, totalizando mais de 40 mil guarda-chuvas.
“O uso do nosso ecossistema é bem descentralizado. Costumamos ter todas as nossas estações esvaziadas em períodos de necessidade”
Para desbloquear um guarda-chuva, é necessário ler um QR Code (disponível na estação) com a câmera do celular e digitar o token que aparece no app.
O cliente final não paga nada pelas primeiras 24 horas de uso. Se exceder esse período, paga dois reais, e mais dois reais pelas 24 horas seguintes.
Após um total de 72 horas do empréstimo, a startup cobra uma multa de 34 reais – e o usuário pode ficar com o guarda-chuva.
Atualmente, a Rentbrella vivencia a sua terceira fase, focada em ampliar seu raio de ação dentro e fora do Brasil.
De São Paulo, a startup chegou ao Rio de Janeiro. “Estamos no início do ecossistema, com sete estações e mais de 700 guarda-chuvas”, diz Nathan.
O grande impulso, porém, está ocorrendo no exterior. A Rentbrella já está presente em Nova York, com 50 estações e mais de 5 mil guarda-chuvas.
“A vontade de ampliar nossa cobertura para as cidades que mais chovem e valorizam mídia OOH no mundo é um sentimento presente na Rentbrella desde a sua fundação”
Internacionalizar exigiu “um forte trabalho de pesquisa sobre a legislação e certificações exigidas pelos EUA”.
“Todas as máquinas e guarda-chuvas passaram por um processo de adequação às exigências dos órgãos regulatórios”, diz Nathan.
Mal chegou a NY e a startup se dispôs a dar um passo além e cruzar o Atlântico.
“Logo que começamos em Nova York, chamamos atenção do mundo inteiro. Fomos muito questionados: por que não Londres?”
O objetivo, diz Nathan, é instalar 18 máquinas na capital britânica até o fim de abril. E a expansão não deve parar por aí.
“Onde houver mercado publicitário, chuva e pessoas precisando usar guarda-chuva, tem um business.”
Criar um chatbot contra a prescrição indevida de antibióticos. Essa é a próxima missão da Munai, que aposta em inteligência artificial para ajudar hospitais a evitar erros médicos e reduzir o tempo (e o custo) de internação.
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Imagine um sistema para monitorar o risco de deslizamento em encostas e evitar mortes durante um temporal. Pois essa tecnologia já existe e é só uma das soluções da iNeeds, startup com foco em mobilidade e cidades inteligentes.