Às vésperas do Carnaval, a jornalista Barbara Soalheiro, 41, tinha um problema para resolver.
Ela precisava criar, de última hora, uma fantasia para seu filho mais novo. A tarefa possuía três variáveis: ser feita com materiais que ela já tinha em casa; com pouco esforço (uma vez que Barbara, modesta, afirma não ter habilidades manuais); e causar um ótimo impacto na memória da criança.
Aos risos, ela explica a solução:
“Vesti ele com uma regata verde cintilante e desenhei escamas em tons de musgo no seu rosto… Pronto, havia um dragão na sala de casa. Ele se jogou na diversão, bem feliz por eu tê-lo transformado num réptil mitológico, e soltou vários ‘rawr’”
Resolver problemas é uma especialidade de Barbara. Em 2011, ela fundou a Mesa, empresa que desenvolveu um método de trabalho em equipe, simples e eficiente, que ajuda profissionais do mercado a solucionar dilemas complexos e estratégicos de seus negócios.
O Draft contou, em 2014, a história dessa butique de inovação. Na época, a Mesa já causava alvoroço ao ofertar workshops de cinco dias em que executivos e artistas se sentavam à mesa para trabalhar num briefing real, ao lado de profissionais excelentes e diversos, inclusive de outras organizações.
A missão da Mesa era – e é – fazer, errar, fazer melhor e errar diferente. Ao final da bateria, emergem aprendizados coletivos e a solução mais adequada para o problema inicial, comemorada com estouro de champanhe e happy hour.
E qual é a maior novidade no negócio desde 2014, Barbara?
“A grande mudança foi ter criado uma operação robusta fora do Brasil. Hoje, além de São Paulo, estamos em Nova York e Los Angeles, onde atendemos as big techs americanas, como Facebook, Google e Netflix”
A operação internacional foi um feito de Ligia Giatti, que, até então, era líder de processos e metodologias da Mesa. Em 2014, ela viajou para os Estados Unidos e, logo de cara, fechou um projeto com a Nestlé para a marca centenária de papinhas Gerber.
Posteriormente, Ligia se tornou sócia da Mesa. Hoje, ela está à frente de projetos grandiosos, entre eles um com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, organização com sede em Washington que promove integração comercial na América Latina e Caribe.
Embora o projeto tenha alto nível de confidencialidade, Barbara cita que a missão é fazer com que cidades de médio e pequeno porte ganhem eficiência em segurança pública. “Estamos sempre em busca de problemas e soluções mais complexas”, diz ela.
Falando em funcionárias que se destacaram, há o caso de Giuliana Tatini. Como Barbara, ela é jornalista, e trabalhou por mais de dez anos em redações, com passagens pelas editoras Abril e Globo. Ela desembarcou na Mesa em 2017. Hoje, Giuliana é diretora de operações para o Brasil e sócia da empresa.
Fundadores da FlagCX (que também foi pauta aqui no Draft), Matheus Barros, Roberto Martini e Luisa Martini já eram sócios lá em 2014 e permanecem até hoje, mas sem atuação direta na operação da Mesa. Barbara, por sua vez, virou sócia da FlagCX em novembro de 2020.
Em seus primeiros anos, a Mesa realizava um único formato de sprint, que consistia em entregar a cabeceira da mesa a um profissional brilhante do mundo das artes e criatividade. Por sua vez, os demais convidados pagavam para participar do encontro.
Para se ter ideia da grandiosidade, em 2014 rolou um sprint para a Kobe Bryant Foundation, organização de impacto social criada pelo lendário jogador de basquete do Los Angeles Lakers (falecido em 2020 num acidente de helicóptero com a filha, Gianna, e mais sete pessoas).
Feita em parceria com a consultoria Mandalah e a FlagCX, a mesa, liderada pelo próprio Kobe, reuniu 12 profissionais do mundo do jornalismo, cinema, mobilização comunitária, esportes radicais, urbanismo, artes, interface de usuário e design.
A missão ali era criar uma solução que combinasse esportes e tecnologia com foco no público infantil. Após 96 horas, a equipe prototipou uma plataforma digital que reunia atletas de alto nível, adultos com interesse em treinar crianças de 6 a 10 anos, apoiadores para subsidiar os novos treinadores e as próprias crianças.
Outra figura relevante que liderou uma mesa foi Dario Calmese, artista, urbanista e consultor da gigante de cosméticos Estée Lauder. Em 2020, Dario fez história como o primeiro negro a fotografar uma capa da Vanity Fair em seus 106 anos de história, com seu retrato da atriz Viola Davis.
Realizada em junho do ano passado, a mesa com Dario tinha a missão de criar um canal online robusto para o Institute of Black Imagination, organização de design thinking voltada à cultura negra fundada pelo artista em 2018.
A solução prototipada foi uma plataforma interativa e gamificada, em que o usuário usa a criatividade e imaginação para acessar os conteúdos, que incluem desde biblioteca virtual a podcasts.
Hoje, o maior volume do negócio são sprints para corporações, com pegada de ferramenta para conceber, desenvolver e materializar decisões. Nesse caso, os líderes são colaboradores da Mesa.
Desde 2014 foram realizadas cerca de 200 edições, que reuniram mais de 1 200 profissionais. Entre os clientes estão Gerdau, Natura e Coca-Cola. O valor de cada mesa gira em torno de 450 mil reais. As imersões, que vão do briefing e ideação até prototipagem da solução, duram 60 horas, ainda divididas em cinco dias.
Até 2020, os participantes ficavam todos juntos num hotel. O cuidado em manter o foco no trabalho se estendia ao cardápio: em vez de pratos chiques, enfeitados, as refeições traziam comida gostosa, daquela que você serviria aos amigos na sua casa.
Havia também uma sintonia entre o que era servido e o “clima” da mesa. No terceiro dia, que costuma ser o mais tenso por ser o de tomada de decisão, havia doces para confortar os participantes. Já nos dias 4 e 5, que demandavam mais rigor físico, eram servidos sucos energéticos, como beterraba e maçã, e açaí com guaraná.
Tudo ia muito bem até que, sem pedir licença, a Covid-19 se convidou à mesa. Num sprint realizado em 13 de março de 2020, 20 participantes foram infectados, de uma única vez. Entre eles estava um executivo de 60 anos.
“Quando sentimos o baque da pandemia, falei: ‘fudeu, não vai dar para continuar o trabalho’. O nosso negócio era reunir pessoas, comer e tomar café até resolver o problema”
Na sequência, todas as mesas já contratadas foram suspensas por tempo indeterminado, até que houvesse uma vacina para a doença. No primeiro momento, Barbara achava que demoraria cinco anos para criarem um bom imunizante.
Em casa, a empreendedora se lembrou do primeiro documento que escreveu sobre sua criação, que estava prestes a completar dez anos. No arquivo, havia a frase “um líder + um time muito diverso + uma missão”. Ela, então, se voltou à essência – e partiu para o digital.
“Sentar-se numa mesa é um ato de comunhão. O que vale é o encontro e a atenção plena àqueles que estão ao seu lado. Se não dá para ser presencial, que seja uma mesa online”
Assim nasceram as mesas remotas, que se mantêm como padrão até hoje. Um dos primeiros clientes, ainda em 2020, foi a Liberty Seguros. O encontro teve a presença de Patrícia Chacon, que, no ano seguinte, assumiu o cargo de presidente-executiva da empresa.
No mesmo dia da posse de Patrícia, a Liberty lançou um produto de seguro automotivo, que usa como base de cálculo uma taxa fixa e cobra por quilômetro rodado. Em relação a um seguro tradicional, a nova solução pode ser até 50% mais barata para os usuários.
Entre 2017 e 2018, Barbara viveu dias de angústia. Ao mesmo tempo que via a demanda por projetos da Mesa crescer, percebia que outras empresas estavam oferecendo serviços baseados em missões concretas, times multidisciplinares e integração com profissionais de diferentes negócios.
“A sensação era que tinha gente nos imitando. Mas isso também mostrava que tínhamos influência no mercado”
Nessa época, surgiu a ideia de abrir o método da Mesa e vendê-lo para quem estava interessado em usá-lo em suas empresas e comunidades.
Dois anos depois, no auge da pandemia, foi lançada a Mesa School, uma plataforma de curso online com 18 aulas em que os alunos aprendem todos os princípios e ferramentas para criar sua própria mesa.
São 145 minutos de aulas gravadas, ministradas pela própria Barbara em inglês, com legendas em português. O curso, que custa 756 reais (ou 180 dólares), já foi comprado por cerca de 30 mil pessoas, de 25 países.
O programa de formação, inclusive, é uma oportunidade para donos de pequenas empresas que desejam liberar o potencial humano para processar mais e executar mais rápido, mas podem ter dificuldades para custear um sprint dedicado com a Mesa.
O curso tem ajudado no crescimento da Mesa. Após retração em 2020, o faturamento do ano passado ficou parecido com o de 2019. Agora, a meta é ter um crescimento robusto até dezembro.
Enquanto o balanço de 2022 não chega, Barbara vive um dia de cada vez. Apaixonada pelo sol, acorda sempre às 6 da manhã. O abrir dos olhos é como se fosse a “hora 1” para um novo período cheio de possibilidades. O que não falta no mundo são problemas para se resolver – e, com as pessoas certas, ela saberá como.
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