Após entrar em queda no início da pandemia, o setor de seguros no Brasil vem se recuperando desde 2021, com tendência de crescimento nas vendas.
Porém, segundo Mauro Levi D’Ancona, CEO e cofundador da 180º Seguros, o mercado brasileiro, que ele estima em 270 bilhões de reais, ainda está “muito aquém do seu potencial”:
“Hoje esse mercado é metade do que deveria ser, dado nosso nível de desenvolvimento socioeconômico. Só 11% das casas possuem seguro residencial e 20% dos carros têm seguro de automóvel…”
Uma das dificuldades é alcançar o consumidor de forma direta, afirma Mauro. “Diferentemente de outros produtos financeiros, que todo mundo usa e sabe o que é, [no setor de seguros] é muito difícil chegar no direct to consumer.”
A 180º quer transformar esse mercado tomando um “atalho”. A estratégia é aproveitar o relacionamento que outras companhias já mantêm com seus próprios consumidores para, por meio de parcerias, atingir esse usuário final.
A startup atua como uma corretora, operando no modelo B2B2C, em que a venda de seguros passa pela estrutura das empresas clientes.
“A gente não está aqui para acabar com o mercado atual, mas para coexistir. Ajudamos tanto as seguradoras quanto as empresas [de outros setores] que querem vender seguros.”
Quando firma parcerias com outras companhias, a 180º oferece know-how na venda de seguros para quem ou não é do ramo, ou já comercializa seguros, mas sem dar muita atenção a métricas.
“Temos um time com experiência em seguros, com consumer insights que vão ajudar, fazer pesquisas na sua base e identificar as oportunidades.”
Assim, a empresa aponta quais produtos têm mais apelo com aquele grupo de consumidores, se um seguro de vida coletivo, por exemplo, ou um empresarial.
“Aí a gente fala com mais de 30 seguradoras, vai ao mercado e traz o melhor preço e o melhor player para aquele seu produto.”
Além disso, a startup auxilia parceiros na frente de marketing, assume o atendimento pós-venda e oferece opções de cobranding das linhas de seguros, para que o consumidor sinta que aquela experiência foi criada pela empresa com a qual interage:
“O que a gente faz é o insurance-as-a-service. Ajudamos a identificar a oportunidade e o produto, auxiliamos com a parte técnica, de marketing, com inteligência de mercado e venda, e você faz a oferta sem ser uma seguradora ou ter um time gigantesco de seguros na empresa”
A meta da 180º é terminar o ano com pelo menos 1 milhão de seguros vendidos — a conta até o momento está em torno de 200 mil. Entre as empresas clientes estão Loft e Buser (que também foi pauta aqui no Draft).
Em 2019, Mauro trabalhava como gerente na área de investimentos do Nubank quando começou a prestar uma atenção mais detalhada no setor de seguros.
O empreendedor previa que as transformações do setor financeiro — de uma regulação rígida e conservadora para um contexto pautado pela inovação — impactariam o mercado de seguros, até então ainda dominado por players grandes, e sem agilidade.
“Quanto mais olhava [para o setor de seguros], mais via muitas das mesmas mudanças regulatórias que aconteceram em 2013 e 2014 no setor financeiro e resultaram nesse mercado atual super fértil de fintechs”
De olho nesse boom potencial de insurtechs, Mauro se uniu a Franco Lamping, que trabalhava como engenheiro de software no Nubank, e Alex Körner, um amigo que atuava como diretor de seguros no Santander. Juntos, os cofundadores desenvolveram a proposta da 180º, no modelo B2B2C.
Franco, hoje, é o Chief Technology Officer da startup, e Alex, o Chief Insurance Officer. Com a startup começando a tomar forma, o trio aproveitou 2020 para desenvolver tecnologias e montar o time.
Logo, deixaram seus empregos para se dedicar integralmente ao novo negócio.
A 180º atende dois tipos de clientes: empresas de tecnologia sem know-how na venda de seguros e varejistas com experiência no setor, mas que vinham ficando para trás em inovação e nas vendas online.
O foco é em seguros residenciais, de vida e nos ligados ao varejo, como a garantia estendida.
“Hoje é muito travado para o varejista, tem pouca flexibilidade de oferta… Trazemos toda a habilidade e sofisticação que já existem no e-commerce para a parte de seguros, que ainda não chegou nesse patamar”
Mediante uma assinatura mensal (de valor não divulgado) e uma comissão variável sobre as vendas, a plataforma integra as empresas parceiras com as seguradoras e o e-commerce em que os seguros são comercializados. Por lá, elas também têm acesso ao seu desempenho e aos números das vendas.
No caso da Loft, por exemplo, a 180º optou por oferecer um ano de seguro residencial gratuitamente como forma de fidelizar os clientes.
Outro case seria o de um varejista do Centro-Oeste, que precisou ampliar suas vendas online durante a pandemia, percebeu que tinha pouca flexibilidade e uma oferta restritiva na parte dos seguros online.
Nesse caso, a seguradora responsável pela varejista contratou os serviços da 180º para gerir melhor a oferta e aprimorar o produto que chegava aos clientes pelo digital.
Em maio de 2021, a 180º captou 8 milhões de dólares (44 milhões de reais, na época) em um investimento seed liderado pelos fundos Canary, Dragoneer e Rainfall.
No início de 2022, recebeu mais 31,4 milhões de dólares (cerca de 177 milhões de reais) numa rodada liderada pela gestora 8VC, com participação da Dragoneer, Quartz e Norte. Segundo Mauro, foi um dos maiores aportes já recebidos por uma insurtech na América Latina.
Desde o começo do ano, o time saltou de 40 para 62 pessoas — metade nas áreas de produtos e tecnologia. Boa parte se divide entre o background no setor de seguros e em passagens por gigantes tecnológicas, como iFood e Nubank.
“Um diferencial nosso é ter pessoas que conhecem de seguros, mas com a cabeça de uma empresa tech… Uma seguradora tradicional leva um ano para lançar um megaprojeto, enquanto uma tech pode lançar uma nova linha de seguros no trimestre seguinte”
A ideia é usar os recursos recém-captados para dobrar esse time de tamanho até o fim de 2022, com ênfase na atração de talentos para tecnologia.
“Estamos capitalizados, com um time muito bom e queremos usar esse momento, em que tanta gente hesita em crescer, para aproveitar as oportunidades”, diz Mauro. “Esse é um mercado gigantesco, em que as regras do jogo estão começando a mudar.”
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