O paraibano Mateus Dantas, 26, é aficionado por futebol. Diariamente, ele acompanha os resultados dos principais campeonatos do mundo, do Brasileirão às ligas europeias.
Seu jogador preferido é Vinicius Júnior, o ponta-esquerda brasileiro que hoje brilha no Real Madrid, atual campeão espanhol e finalista da Champions League.
Porém, quando questionado sobre qual time torce, Mateus se esquiva como um atacante que foge da marcação. “Não posso revelar”, ele diz, rindo. “Se as pessoas ficarem sabendo, podem falar que concedo privilégios ao meu time na hora de fazer negócios.”
Mateus é cofundador e CEO do Rei do Pitaco, startup de fantasy game diário de futebol. Criada em 2019, a sportech criou uma plataforma na qual os usuários montam escalações com jogadores das ligas profissionais e, num jogo online, pontuam de acordo com o desempenho estatístico dos atletas em partidas da vida real. Gols, roubadas de bola e defesas somam pontos. Cartões e gols contra diminuem o aproveitamento.
“O Rei do Pitaco é uma plataforma de entretenimento para os fãs de futebol. Fortalecemos o cenário esportivo com a tecnologia e possibilitamos que a relação dos torcedores com os jogos seja mais emocionante”
Para participar das ligas fictícias do Rei do Pitaco, os usuários desembolsam entre zero e 200 reais, e competem entre si digitalmente. Ao término da partida, aqueles que somaram mais pontos recebem prêmios em dinheiro.
Geralmente, o valor é baseado no montante que foi arrecadado em cada liga online. Quanto mais usuários competindo, maior o prêmio. A startup fatura cobrando uma porcentagem do valor transacionado.
Entre os diferenciais do Rei do Pitaco estão a grande quantidade de ligas e torneios dentro da plataforma. Foram mais de 22 mil em 2021. A duração das ligas também é mais curta, há opções baseadas em apenas um jogo, o que permite ao usuário receber o prêmio logo após o apito final no gramado.
Com cerca de 300 mil usuários cadastrados, o Rei do Pitaco já distribuiu 50 milhões de reais em prêmios. Em 2021, a startup criou a Liga do Milhão, baseada nas duas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, com prêmio de 1 milhão de reais. Em 2022, o esquema foi repetido com prêmio de 1,5 milhão de reais.
De acordo com um recente estudo da empresa inglesa The Business Research Company, o mercado global de fantasy games movimentou 22,3 bilhões de dólares em 2021, e deve atingir 38,6 bilhões em 2025. Já as cifras brasileiras são bem menores. É estimado que o mercado nacional fature entre 55 e 66 milhões de reais anualmente.
Em janeiro de 2020, a startup recebeu um aporte anjo de 200 mil dólares de Marcelo Franco (fundador do e-commerce de perfumes e cosméticos Sacks, vendido para a holding LVMH Moët Hennessy em 2010). Um ano depois, houve um investimento seed de 28 milhões de reais. Há poucos meses, mais um aporte: 128 milhões de reais, numa rodada Série A.
Mateus afirma que cada investimento foi uma consequência dos resultados que o Rei do Pitaco entregou nas rodadas anteriores.
“Em 2020, o que mais atraiu os investidores foi a equipe da startup. Com os recursos, crescemos 600% em 2021. As entregas e resultados acima da média atraíram novos investidores quase que naturalmente”
Falando em equipe, o Rei do Pitaco tem mais de 100 funcionários. As principais áreas são engenharia, sucesso do cliente e suporte, tecnologia da informação, desenvolvimento de negócios, arte e design, marketing e financeiro. A empresa tem escritório em São Paulo, mas a maior parte dos colaboradores trabalha de forma remota, metade deles fora da capital paulista.
Com o caixa cheio e o time em crescimento, o Rei do Pitaco tem focado em produto, atendimento e marketing. A meta é aquisição de clientes. Entre os esforços promocionais estão premiações subsidiadas pela própria empresa.
Há também investimento em patrocínios. Hoje é possível ver a marca do Rei do Pitaco em partidas da Copa do Brasil, assim como aconteceu no Campeonato Paulista e Campeonato Carioca, finalizados há poucas semanas.
De olho nos novos influenciadores do futebol, o Rei do Pitaco firmou parceria com o streamer Casimiro Miguel, um dos produtores de conteúdo de maior relevância na internet quando o assunto é lives. O streamer tem o maior número de subs (inscritos) no serviço de vídeo ao vivo Twitch. Com patrocínio do Rei do Pitaco, Casimiro vai transmitir e comentar 19 jogos do Campeonato Brasileiro no seu canal.
Vale lembrar que, até pouco tempo atrás, a transmissão de jogos profissionais via internet era difícil de acontecer. A situação mudou com a Lei Federal 14205/21, conhecida como Lei do Mandante, sancionada em setembro passado.
Hoje, a lei determina que as emissoras de TV, rádio ou plataformas de streaming precisam negociar apenas com o clube mandante, aquele que joga em seu próprio estádio. Ao mesmo tempo, o mandante pode transmitir o evento em seus próprios canais online.
Falando em regulamentação, o mercado brasileiro de fantasy games ainda não tem uma para chamar de sua. As leis mais próximas são anteriores à popularização da internet e tratam mais de concursos.
Até o fim de 2021, os fantasy games estavam incluídos no projeto de lei do Marco Legal dos Jogos. O pacote de medidas autoriza e regula os chamados “jogos de azar”, como cassinos e bingo. Porém, entre debates acalorados, os fantasy games – e modalidades de apostas esportivas – foram retirados do texto.
Sobre o tema, Mateus defende que fantasy games diários são jogos de habilidade, e não baseados no acaso; logo, não caberia uma regulamentação para o segmento.
“O mercado brasileiro de fantasy game está começando. As discussões ainda são incipientes. Para se consolidar e crescer, é necessário educar o mercado, os parceiros e os usuários. O primeiro ponto é explicar que é um jogo de habilidade”
Em 2018, um estudo do MIT apontou que, de fato, há habilidade real nos fantasy games. Usuários com mais conhecimento sobre estatísticas, regras do jogo e perfil dos jogadores, entre outros fatores, tendem a ter um melhor desempenho nas competições digitais.
Habilidade é um atributo que Mateus demonstra possuir. Aos 13, ele começou a programar. Aos 17, ingressou na graduação de Ciência da Computação na Universidade Federal de Campina Grande, sua cidade natal.
Antes de concluir o curso, fez estágios no Google, Facebook (duas vezes) e na brasileira WildLife, uma das maiores desenvolvedoras de jogos mobile do mundo.
Em 2015, durante um estágio de três meses no Google em Varsóvia, na Polônia, Mateus conheceu Kiko Augusto, também estudante da Universidade Federal de Campina Grande. Na época, Kiko fazia iniciação científica em engenharia de sistemas de áudio na Universidade de Londres.
Embora morassem em países diferentes, a amizade dos dois cresceu. Entre 2017 e 2018, Kiko foi estagiário da Intel na Alemanha. Enquanto isso, Mateus trabalhou na empresa americana de tecnologia para recursos humanos Betterworks e no Snapchat.
No ano seguinte, os dois uniram o conhecimento adquirido nessas empresas de tecnologia para aproveitar lacunas no mercado de fantasy game brasileiro, até então dominado apenas por uma grande companhia.
Detalhe: Kiko é extremamente ligado em futebol (muito mais do que Mateus, inclusive). Nascia assim o Rei do Pitaco, com Kiko assumindo a diretoria de operações.
Hoje, já são três anos de startup, sete de amizade entre os sócios – e vinte desde a última conquista de uma Copa do Mundo. Mateus tinha apenas 6 anos quando o Brasil bateu a Alemanha por 2 a 0 em Yokohama, no Japão, mas ainda guarda aquele título na memória.
“A Copa de 2002 é a primeira de que tenho lembranças, e uma das que mais me marcou. Assisti à final na casa do meu avô, no Piauí. Foi a maior festa”
Agora, o empreendedor acredita que a mobilização em torno da Copa de 2022 deve ajudar a engrossar o engajamento na plataforma.
A expectativa é a de que os sócios do Rei do Pitaco – e todos os brasileiros – tenham bastante motivo para festa no dia 18 de dezembro, quando a bola vai rolar na final da Copa do Catar.
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