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A casa fica mais aconchegante quando tem a sua cara. Em poucos cliques, a Movêu ajuda você a personalizar seus próprios móveis

Marília Marasciulo - 4 out 2022
Guilherme Kodja, cofundador da Movêu.
Marília Marasciulo - 4 out 2022
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Aos 18 anos, Guilherme Kodja se mudou de Santos para São Paulo levando na bagagem uma experiência frustrada como empreendedor. Na hora de mobiliar seu novo apartamento, ele se viu em outro tipo de apuro. A maioria dos móveis ou era cara demais, ou tinha qualidade duvidosa; e as lojas ou atrasavam a entrega, ou pecavam no atendimento. 

Cerca de dois anos depois, a insatisfação pessoal de Guilherme se transformou na Movêu, uma marca de móveis personalizados em que o cliente consegue ser o seu próprio designer.

Com um sistema virtual de representação 3D e operação 100% digital, na plataforma da Movêu o cliente cria o móvel de acordo com a altura, largura, profundidade e cor que desejar. A customização também é adaptável ao bolso, pois à medida que avança, o orçamento do produto é atualizado em tempo real.

Guilherme, hoje com 23 anos, toca a empresa junto ao seu cofundador e sócio, Rodrigo Palandi, 26. E explica:

“A gente consegue entregar um produto sob medida e satisfazer um dos maiores desejos das pessoas atualmente, que é o de ter uma casa que tenha a cara delas” 

Com uma tecnologia exclusiva, o código 3D do projeto pode ser lido diretamente pelas máquinas fabris. O resultado são peças avulsas, com dispositivos de encaixe que dispensam pregos, parafusos ou qualquer ferramenta na hora da montagem. 

A STARTUP COMEÇOU COM 20 MIL EMPRESTADOS PELA AVÓ DO FUNDADOR (E ACABA DE CAPTAR 1,1 MILHÃO DE REAIS)

Segundo Guilherme, o foco é na experiência do cliente, desde o design intuitivo até o pós-venda. Além de permitir a montagem dos móveis sem ajuda externa, o fato de as peças serem separadas permite a resolução rápida de eventuais problemas, visto que podem ser substituídas individualmente.

A startup que começou com 20 mil reais emprestados pela avó de Guilherme captou recentemente 1,145 milhão de reais. A verba foi injetada por associações de investidores, como a GVAngels e a Poli Angels, e por empresários ligados a grandes empresas, como o Banco Neon, o iFood, o Spin Pay e a Hypera Pharma.

No momento, a Movêu oferece quatro tipos de móveis: estantes, racks, aparadores e sapateiras. Mas já está no horizonte a ampliação do portfólio para incluir mesas de cabeceira, escrivaninhas, camas e armários.

O preço de cada produto varia entre 1,5 mil e 4 mil reais, que os sócios consideram um meio termo entre as grandes varejistas de móveis padronizados e as especialistas em móveis planejados.

Com foco em um público-alvo das classes A2, A3 e B1, com idades entre 30 a 50 anos, a startup vende hoje de dez a 15 móveis por mês, com margem de lucro de até 30%. A expectativa é de que o faturamento deste ano bata 300 mil reais, quase o triplo de 2021. 

A VONTADE DE EMPREENDER VEIO DE BERÇO. MAS A JORNADA TEVE SOLAVANCOS PELO CAMINHO

O DNA empreendedor de Guilherme vem de família. O jovem de 23 anos sempre se inspirou no avô, dono de uma firma de transporte. O patriarca não foi exatamente um case de sucesso (a empresa, inclusive, faliu), mas isso não diminuiu a admiração do neto. “Ele me ensinou que se você trabalhar duro e com constância, fazendo o que precisa ser feito, você vai atingir seus sonhos”, orgulha-se

O caminho nem sempre foi fácil. Aos 15 anos, Kodja decidiu empreender pela primeira vez. Abriu uma empresa de microcrédito. Das 20 famílias que atendeu, porém, nenhuma pagou de volta.

“Foi 100% de inadimplência. Deu tudo errado. E foi aí que eu aprendi que, se eu quisesse ser melhor, eu precisava estudar. Até então, nunca tinha sido bom aluno”

Ainda adolescente, foi trabalhar no terceiro setor. Na rotina das organizações não-governamentais, o setor de habitação e de moradia social virou paixão. Com 18 anos, decidiu cursar administração de empresas na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo. “Já no segundo semestre na Liga de Empreendedorismo e foi ali que meu mundo mudou”, relembra.

Durante a experiência, o então estudante teve contato com diversos ícones do empresariado brasileiro, como Abílio Diniz, Jorge Paulo Lemann e Luiza Trajano. Sempre que tinha oportunidade, perguntava a eles qual era o segredo do sucesso.

“Todos respondiam a mesma coisa: trabalhar com o que gosta, acordar cedo e dormir tarde. E isso eu sabia que conseguiria fazer”

Diante da dificuldade de mobiliar o apartamento na capital paulista, o jovem foi atrás de informações sobre o setor moveleiro. “Fiquei perplexo com o que descobri”, conta, referindo-se ao índice de descontentamento dos consumidores de móveis no Brasil, que é quase 40%, segundo Guilherme. 

Descendente de uma família árabe, Guilherme cresceu ouvindo que a casa era um ambiente sagrado e que cuidar da casa era o mesmo que cuidar de si próprio. Por isso, parecia difícil acreditar que esse mercado, cuja vocação deveria ser a de promover bem-estar, fosse considerado tão insatisfatório.

Foi quando entendeu que ali haveria um nicho a ser explorado.

CONTATOS CERTOS E PARCERIAS AJUDARAM A ALAVANCAR A MOVÊU

Para pensar em formas de inovar no setor, já dominado por redes de móveis padronizados, empresas de planejados e serviços de marcenaria, Guilherme continuou pensando nos ensinamentos da mãe. “Ela sempre disse que a maior riqueza de um ser humano é a sua singularidade”, explica.

Foi quando teve um insight de que isso também poderia ser aplicado às casas. E a personalização virou o ponto de partida.

“Em um prédio em que todos os apartamentos têm plantas iguais, o que vai diferenciar é a mobília”

A ideia era contemplar um tipo específico de consumidor: aquele que não quer preencher sua casa com móveis banais, encontrados em qualquer grande loja, mas também não está disposto a desembolsar 20 mil reais por uma única peça de design autoral.

Pesquisando a concorrência, Guilherme localizou benchmarks na Europa e em países como Estados Unidos, Índia e China. Algumas tinham como ponto forte a operação; outras, a experiência online do usuário; outras ainda, a qualidade do móvel. Para criar a Movêu, ele diz ter feito um compilado entre o que havia de melhor em cada uma.

Na aceleradora de startups da FGV, Guilherme conheceu Rodrigo. Ambos foram apresentados por um mentor em comum e decidiram tocar o negócio juntos.

“Foi conexão à primeira vista, porque o Rodrigo é uma pessoa extremamente complementar a mim”, conta. “Aliás, eu nunca estive sozinho nessa jornada.”

PARA SAIR DO PAPEL, A STARTUP PRECISOU CONTAR COM A BOA VONTADE DE GENTE DISPOSTA A TRABALHAR DE GRAÇA

O empreendedor se orgulha de dizer que a Movêu foi construída “a muitas mãos”. E também a pouco custo. Até janeiro, parte dos colaboradores era voluntária. O empresário tem um nome bonito para isso: “trabalhar pelo sonho”.

Mas como convenceu as pessoas a doarem seu tempo à empresa?

“Eu chegava vendendo o sonho, dizia ‘eu, Guilherme, vou fazer isso acontecer com ou sem você. Vamos ser uma das maiores empresas desse país. Você quer ajudar a gente a chegar lá antes ou você quer assistir?’”

O mesmo discurso foi direcionado aos fornecedores e profissionais de tecnologia, que toparam a empreitada “pro-bono”. Dos sete protótipos iniciais dos móveis, cinco foram financiados pelos próprios fornecedores, que doaram as placas de MDF. A plataforma 3D e o site também foram inaugurados a custo zero.

Quando constatou que a aceitação seria boa, Guilherme pediu ajuda à avó. No início deste ano, o investimento milionário impulsionou de vez a empresa.

“Estamos nos primeiros momentos de uma história centenária, temos muito chão ainda”, diz.

SEM PRESSA PARA CRESCER (POR ENQUANTO), A MOVÊU QUER FOCAR NA EXPERIÊNCIA DO CLIENTE

Guilherme explica que a parte mais complicada de uma empresa é nascer. Depois, basta ir superando os desafios. A pandemia de Covid-19 teria sido um deles, mas a verdade é que acabou alavancando os negócios da Movêu.

“As pessoas ficaram mais acostumadas a comprar online. Em segundo lugar, ninguém queria estranhos dentro de casa, e nós tínhamos a facilidade da montagem DIY [faça você mesmo]. E em terceiro, o interior das casas ganhou mais atenção. Todo mundo queria se sentir bem dentro de casa. A mobília ajuda nisso, principalmente se planejada pelo próprio cliente”

A parte mais difícil da crise sanitária, segundo o empreendedor, foi gerir o time à distância. Atualmente, os nove colaboradores (todos devidamente pagos) trabalham presencialmente.

Segundo Guilherme, criar um bom ambiente laboral, com “liberdade, mas responsabilidade”, é fundamental para a consolidação da empresa nos próximos anos.

Os planos incluem o aprimoramento da tecnologia (com aposta em sistemas de realidade aumentada) e recálculo da estratégia de marketing. A Movêu pretende ampliar sua presença nas redes sociais, mas esse é um movimento que exige cautela. 

“A gente ainda tem muito apego em ser pequeno. E na hora de virar a chave, vai escalar muito rápido, e a gente ainda não quer isso. É uma escolha. Neste momento inicial a prioridade é a satisfação do cliente, e não o tamanho da empresa”

Por isso, por ora, a empresa está apenas em São Paulo. Mas o cronograma de expansão prevê os demais estados do sudeste em 2023, o Brasil inteiro em 2024 e o mercado internacional em 2025.

“O sonho é sermos a Ikea do século 21”, projeta Guilherme, que não esconde a ousadia: “Queremos ser a maior marca de móveis do mundo”.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Movêu
  • O que faz: Móveis personalizados pelo próprio cliente
  • Sócio(s): Guilherme Kodja e Rodrigo Palandi
  • Funcionários: 9
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2021
  • Investimento inicial: R$ 20 mil
  • Faturamento: R$ 300 mil (previsão para 2022)
  • Contato: [email protected]
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