A primeira edição do Torneira Lab, programa de inovação aberta do Grupo Águas do Brasil, uma das principais empresas do setor privado de prestação de serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos do país, está com inscrições abertas até sexta-feira, 4 de novembro.
“Nossa grande expectativa é fortalecer o ecossistema de inovação brasileiro, incrementando a relação que já temos com as startups de forma mais estruturada e fortificando o diálogo”, explica Luciana Parente, superintendente de Inovação do Grupo.
Para ela, as techs brasileiras ainda exploram pouco as possibilidades do setor, que segue aquecido especialmente após o marco regulatório de saneamento básico:
“Já existem startups que estão se especializando na área de saneamento, mas ainda são poucas. A demanda tende a crescer cada vez mais e temos estrutura para ajudar nisso e mostrar o potencial desse mercado”
São sete os desafios elencados para a estreia do Torneira Lab, que respondem às verticais estratégicas definidas pela empresa.
Luciana ressalta, ainda, que muitos deles estão ligados à pauta ESG, na qual o Grupo tem investido. “Estamos em busca da redução do consumo de energia e da perda de água, em destinar de maneira mais nobre nossos resíduos, especialmente o lodo, além de nos preocuparmos com a frente de impacto social, presente na nossa atuação junto às comunidades”.
Após a seleção inicial, primeira etapa, as startups escolhidas vão participar da fase de imersão e terão a oportunidade de aplicar sua solução junto à organização. Em maio de 2023, data prevista para o Torneira Lab finalizar seu primeiro ciclo, será realizado um DemoDay com as finalistas para definir a consolidação da parceria com o Grupo.
“Nosso plano é trabalhar com um piloto em todos esses desafios e, tendo bons resultados, expandir para outras operações do Grupo”, relata Luciana. O programa conta com a Innoscience, especializada em consultoria de inovação corporativa, como parceira.
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O primeiro desafio envolve uma das maiores despesas de uma concessionária: o consumo de energia. Ele representa cerca de 24% dos custos da operação, de acordo com Luciana.
“Esperamos que as startups apresentem um software que nos ajude no acompanhamento desse consumo para conseguirmos tomar decisões embasadas”, afirma, destacando que soluções customizáveis, com raciocínio de Machine Learning, são bem-vindas.
Ela ressalta que a gestão é complexa porque o consumo é disperso — especialmente considerando que o Grupo conta com 14 concessionárias e 2 sociedades operacionais. “Temos vários pontos de consumo, uma série de equipamentos e bombas. Estamos falando de energia para movimentar a água que abastece cidades inteiras”, explica.
Analisando o funcionamento operacional dos sistemas de distribuição e coleta sob o ponto de vista da eficiência energética, o Grupo pode encontrar caminhos para otimizar e reduzir o consumo de energia, como redimensionamento de conjunto motor, bombas e redes, reposicionamento de unidades e transposição de bacias.
O Grupo Águas do Brasil, em suas operações, distribui cerca de 550 milhões de litros de água por dia, o equivalente a 291 piscinas olímpicas. A gestão dessa distribuição gera um grande volume de dados importantes para o negócio, mas eles ainda estão pouco integrados.
“Nós temos softwares que fazem várias análises, mas precisamos fazer isso de maneira mais entrecruzada. Além disso, ainda dependemos muito de intervenção humana ao longo do caminho e queremos previsões mais proativas e assertivas”
Uma ferramenta capaz de integrar dados operacionais de campo e, com inteligência de engenharia hidráulica embarcada, entender o sistema de distribuição e gerar informações e insights em tempo real: é o que o Grupo está buscando. Para isso, convoca startups que trabalhem com soluções neste sentido, envolvendo Inteligência Artificial e Machine Learning.
“Tirando melhor proveito desses dados, conseguimos entender melhor os indicadores de performance e projetar cenários para otimizar nossa distribuição de água e evitar perdas”, detalha Luciana.
Ela explica que a perda de água no Brasil é uma dor de todo o setor de saneamento e que a média nacional é alta, em torno de 40%. “O nosso percentual já é abaixo disso, cerca de 31%, mas buscamos chegar a 25%. Quanto mais perto da meta se chega, mais difícil é reduzir a perda e, por isso, esperamos novas propostas por parte das startups”.
O Grupo conta com uma base atual de cerca de 630 mil clientes ativos e a leitura do consumo é feita presencialmente por um leiturista, que consulta o hidrômetro e, no mesmo instante, gera a conta mensal a ser paga.
Luciana diz que, além dos medidores individuais, as concessionárias contam com medidores regionais, mas as informações geradas ainda ficam em silos, não chegando da melhor maneira a todas as áreas do negócio.
“Queremos integrar essas informações de forma que a gente atenda não só a área Comercial e de Faturamento, mas também a parte de distribuição, medição de volumes e perdas. A ideia é termos uma correlação entre esses dados para alimentar diversas áreas da empresa”
O Grupo espera soluções de Sensoriamento, IoT e até mesmo com Telemetria embarcada para este desafio. “Precisamos de uma plataforma unificada para centralizar e disponibilizar esses dados de uma maneira uniformizada. Assim, podemos tratá-los de forma inteligente e, por exemplo, detectar que algo está errado, como um vazamento em uma residência, em maior escala”.
“Com esse desafio, buscamos startups com solução para que o Grupo possa oferecer serviços financeiros com alto valor agregado para a base de clientes”, explica Luciana. Entre as possibilidades, estão linhas de crédito, especialmente para pessoas físicas e pessoas jurídicas de menor porte. Que venham as fintechs.
“Assim, podemos ajudar nossos clientes na gestão financeira, oferecendo mais valor em nossas atividades e reduzindo a inadimplência, por exemplo”, adiciona. Ela frisa que a prioridade é dar acesso ao crédito a quem ainda não tem.
A superintendente de Inovação conta que o Grupo Águas do Brasil tem, atualmente, cerca de 45 mil produtos cadastrados nos processos de compras e uma base composta por 3 mil fornecedores. Só por esses dois números já é possível dimensionar o trabalho que a área tem na companhia.
“São muitos itens, 14 concessionárias com CNPJs distintos e diferentes centros de custo, ocasionando um trabalho excessivo e repetitivo. Queremos tornar o fluxo mais estruturado para viabilizar compras integradas”, afirma.
O Grupo busca, neste desafio, soluções com Inteligência Artificial que permitam a previsibilidade da demanda, monitoramento das variações de preço dos itens comprados, identificação do perfil de consumo dos clientes e mapeamento do lote mínimo dos fornecedores.
“Queremos otimizar o processo de compras como um todo, o que pode gerar, inclusive, redução de custos a partir da previsibilidade e o manejo de um estoque mínimo. São possibilidades muito estratégicas para a área de Suprimentos”, pontua.
O GAB está presente em diversas regiões do estado do Rio de Janeiro. O Torneira Lab não poderia deixar de ter um desafio voltado para as pessoas que compõem parte importante da base de clientes do Grupo: as cerca de 50 mil pessoas que estão localizadas nas muitas comunidades, cada uma com suas características próprias e cultura. Luciana pontua:
“Queremos nos aproximar mais da realidade das comunidades, entender os problemas, possíveis soluções e qual a melhor maneira de nos relacionarmos, não só para fazermos nosso trabalho, mas de forma mais produtiva. Buscamos melhorar o fluxo de comunicação, principalmente”
Ela relata que as comunidades precisam ser entendidas para além do censo e do que o Grupo já possui de base de informações, mas também para que a empresa identifique e mapeie oportunidades para alinhá-las com as expectativas nos aspectos ESG.
“Com a entrada da Rio+ Saneamento nas nossas operações, essa dor se intensifica. Assim, encontrando um bom caminho nesta primeira edição do Torneira Lab, vamos escalar também para esse projeto”, explica, fazendo referência à nova concessionária de água e esgoto de 18 municípios do estado do Rio de Janeiro, sendo 24 bairros da Zona Oeste carioca.
O último desafio da lista está relacionado ao resíduo resultante do processo de tratamento de esgoto: o lodo. Ao passar por um beneficiamento, ele pode se tornar biossólido Classe A e ser utilizado na produção agrícola como adubo. Luciana explica:
“Hoje, o lodo é um custo para a operação e queremos pensar em soluções para esse resíduo além do curto prazo, porque ele também é uma importante fonte de matéria orgânica que pode ser melhor aproveitada. O fertilizante é uma das possibilidades e o desafio está muito focado nisso”
Ela destaca que o Grupo busca startups que ajudem a mapear um mercado em construção. Hoje, o Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo. Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), 85% dos fertilizantes usados no país em 2021 eram importados.
“O potencial é enorme, temos como encontrar uma solução sustentável que ainda pode nos gerar receita e movimentar a economia. Precisamos acessar a inteligência a respeito das culturas brasileiras para compreender qual adubo mais adequado para cada região agro mapeada”, explica a superintendente. Grande oportunidade para as agritechs.
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Com alta taxa de sucesso dos pilotos e de contratação, o ciclo de estreia do programa de open innovation do Grupo Águas do Brasil mostra que os desafios do setor são grandes oportunidades para o ecossistema de inovação brasileiro